Estado de Minas ESPECIAL

Mineiros do Ano 2021 | Guilherme Emrich

BH despediu-se, em novembro, do empreendedor, investidor, consultor e pioneiro do setor de biotecnologia no país, um dos fundadores da empresa que chegou a ser a quarta maior produtora de insulina do mundo


postado em 24/01/2022 23:11

Guilherme Emrich, sócio-fundador da Biobrás, que morreu em novembro de 2021: pioneiro no setor de biotecnologia farmacêutica e incentivador, como poucos, da inovação e do empreendedorismo no país(foto: Adriano Stanley/Divulgação)
Guilherme Emrich, sócio-fundador da Biobrás, que morreu em novembro de 2021: pioneiro no setor de biotecnologia farmacêutica e incentivador, como poucos, da inovação e do empreendedorismo no país (foto: Adriano Stanley/Divulgação)
Perfil:

  • Guilherme Caldas Emrich
  • Barão de Cocais (MG)
  • Morreu aos 78 anos, no dia 9 de novembro
  • Deixa a viúva Carmen Bethonico e dois filhos, André e Deborah
  • Graduado em engenharia mecânica pela UFMG, possuía vários cursos de especialização em gestão de negócios, entre eles, pela Wharton School/Universidade da Pennsylvania, Universidade de Columbia e INSEAD.Foi fundador da Biobrás, da FIR Capital e da Biomm. Tinha investimentos e era presidente de conselhos de administração de várias empresas de biotecnologia e de tecnologia de informação no Brasil e nos Estados Unidos. Foi membro de vários conselhos, entre eles o conselho curador da Fundação Dom Cabral; conselho internacional do INSEAD; e do Conselho Científico Consultivo sobre Cooperação Internacional, criado no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi membro, durante quatro gestões presidenciais seguidas, do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia

Teria sido mais fácil ter tido uma carreira tradicional, crescer no mundo corporativo, ter mais estabilidade na vida profissional. Após se formar em engenharia mecânica pela UFMG em 1966, o mineiro Guilherme Emrich conseguiu um bom emprego na empresa Magnesita e poderia ter iniciado ali um caminho de executivo de sucesso. Contudo, ainda que talvez não soubesse exatamente o motivo - o espírito inovador e empreendedor, aliado ao tino afiado para os negócios, que iriam se demonstrar de diferentes formas ao longo de sua vida -, e contra o conselho de muita gente, decidiu largar o cargo e fazer um MBA nos Estados Unidos. De volta ao país, imbuído de muita energia e bagagem teórica, uniu-se a dois amigos, os irmãos Walfrido e Marcos Mares Guia, na fundação de uma empresa pioneira em biotecnologia farmacêutica no país.

Fundada na década de 1970, a Biobrás atuava em um ramo que era pouquíssimo explorado e, pela população geral, pouquíssimo conhecido. Aliás, ainda pouco compreendido até hoje, 50 anos depois. No início, a empresa trabalhava com extração de enzimas de células do pâncreas de bois e de porcos e, naquela época, precisava até importar material do Uruguai e da Argentina. Até na logística para possibilitar o negócio, ajudou a abrir caminhos, quando, como se diz, "era tudo mato". Depois, Marcos Mares Guia desenvolveu uma tecnologia de produção por engenharia genética, em que a insulina poderia ser feita em laboratório (insulina humana recombinante), mudando completamente a lógica de produção. A empresa, que se tornou mundialmente renomada, exportava para dezenas de países - foi, por exemplo, a primeira companhia brasileira a exportar para a Rússia, motivo pelo qual Emrich foi cônsul honorário do país por mais de 20 anos - e chegou a ser a quarta potência mundial na produção de insulina. Em 2001, foi vendida para a dinamarquesa Novo Nordisk com uma cláusula de non compete. O combinado? Um período de dez anos sem atuar no segmento.

Emrich já tinha deixado sua marca na inovação brasileira, mas sua paixão pela área seguia firme. Além do mais, ficar parado não era com ele. Por isso, não desistiu da tecnologia ou do empreendedorismo. Ao contrário. De perfil arrojado, foi pioneiro novamente, desta vez como sócio-fundador de uma venture capital, uma das primeiras gestoras de fundos de capital do país focada em inovação. A FIR Capital já investiu até hoje em mais de 50 empresas, muitas delas de saúde e de tecnologia. "Isso estava no DNA dele", diz o filho, André Emrich. "Uma vontade de vencer na vida, criar coisas próprias."

Quando o período da não competição se encerrou, Emerich decidiu voltar ao setor que mais o inspirava, a biotecnologia, com a Biomm, uma das poucas empresas de biotecnologia listadas na B3. O foco da companhia são medicamentos biotecnológicos para doenças crônicas, como diabetes e câncer. "Guilherme aliou seu conhecimento sobre biotecnologia com o business, onde também foi pioneiro, ao ver que o capital aberto é a modalidade que mais atrai os investidores voltados para a alta tecnologia", diz Heraldo Marchezini, diretor-presidente da Biomm.

Emrich morreu no dia 9 de novembro, de insuficiência cardíaca. Foi pai amoroso, líder nato e entusiasta do empreendedorismo como poucos. "Meu pai liderou pelo exemplo e incentivou todo mundo a sonhar alto", diz André. Suas contribuições demonstram que isso é possível. 

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