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Estado de Minas CIDADE

Academia Mineira de Letras se reinventa para renovar seu público

A programação cultural oferecida pela casa segue intensa, mesmo com o atropelo causado pela pandemia. Todos os cursos e palestras presenciais foram transferidos para as redes sociais


postado em 05/04/2022 08:55 / atualizado em 05/04/2022 12:30

(foto: Uarlen Valério/Encontro)
(foto: Uarlen Valério/Encontro)
Ao entrar no imponente palacete da rua da Bahia, 1466, no bairro de Lourdes, você será recepcionado por um baú. Talvez seja difícil identificá-lo de pronto, pois a tendência é a de ser sobressaltado pelo clima histórico do imóvel. Contudo, ele estará ali, no canto esquerdo de uma pequena sala que antecede um dos maiores cômodos do casarão, concluído nos anos de 1920. A tal caixa de madeira está identificada como "Archivo da AML 1925". Dez anos antes, a instituição privada criada por intelectuais em Juiz de Fora havia chegado à então recém-criada capital mineira. Ainda sem sede própria, coube ao baú de madeira a tarefa de abrigar os primeiros documentos, atas e outros escritos da Academia Mineira de Letras. "Ela era itinerante. Não tinha pouso. Ela se reunia na casa de um, na casa de outro. E o baú ia junto!", como revela o presidente da Academia, Rogério Faria Tavares. Ao lado do imóvel histórico, foi erguido em 1994 o auditório Vivaldi Moreira, desenhado pelo premiado arquiteto Gustavo Penna. A fachada atual da Academia, portanto, é a síntese perfeita de como o antigo pode muito bem conviver com o contemporâneo, e continuar se reinventando.

O presidente Rogério Faria Tavares, que está em seu segundo mandato:
O presidente Rogério Faria Tavares, que está em seu segundo mandato: "Em primeiro lugar, a AML é um repositório de patrimônio histórico. Essa casa tem uma história. É também uma confraria. É um dos mais antigos coletivos de cultura. Um espaço de sociabilidade. Os seus integrantes são o nosso capital simbólico" (foto: Uarlen Valério/Encontro)
"Em primeiro lugar, a AML é um repositório de patrimônio histórico. Essa casa tem uma história. É também uma confraria. É um dos mais antigos coletivos de cultura. Um espaço de sociabilidade. Os seus integrantes são o nosso capital simbólico", afirma Rogério. Conforme o presidente, a Casa se diferencia pelas pessoas que a ocupam. "Não há outra instituição que tenha sem seus quadros nomes como Silviano Santiago, Humberto Werneck, Maria Esther Maciel, Wander Melo Miranda, Jacyntho Lins Brandão, Carlos Bracher, Luís Giffoni, Olavo Romano e muitos outros", afirma. A programação cultural oferecida ao público segue intensa, mesmo com o atropelo causado pela pandemia. Todos os cursos e palestras presenciais foram transferidos para as redes sociais. Desde março de 2020, quando a crise sanitária mundial chegou ao país, é disponibilizada uma aula ou entrevista por semana no canal do Youtube. "Saltamos de 200 para 3.200 seguidores", destaca Rogério. Em sua gestão foi criada uma plataforma de cursos on-line, a AML Cursos, que oferece de forma paga aulas sobre temas do universo literário, cultural, educacional e histórico.

O presidente Rogério Faria Tavares o vice Caio Boschi, Luciana Pereira Pimenta, Elmas Vital, JD Vital e Dom Walmor Oliveira de Azevedo: evento no final de 2021 reuniu acadêmicos e convidados depois de meses sem encontros presenciais(foto: Guto Côrtes/Divulgação)
O presidente Rogério Faria Tavares o vice Caio Boschi, Luciana Pereira Pimenta, Elmas Vital, JD Vital e Dom Walmor Oliveira de Azevedo: evento no final de 2021 reuniu acadêmicos e convidados depois de meses sem encontros presenciais (foto: Guto Côrtes/Divulgação)
No segundo semestre, está previsto o oferecimento de novos cursos como de oratória e a leitura de obras clássicas. "Estamos sempre atentos ao contemporâneo. A Academia só faz sentido, se ela fizer sentido para a sociedade em que está inserida", afirma. As 80 edições da tradicional Revista da AML, criada em 1922, foram digitalizadas e disponibilizadas no site.

Com 40 cadeiras - o mesmo número da Academia Brasileira de Letras (ABL), sediada no Rio de Janeiro -, a AML reúne de escritores a juristas e políticos que têm uma reconhecida obra literária. Sempre que um dos membros morrer, abre-se uma eleição para escolher quem o substituirá. Participam da votação os próprios colegas e o lobby costuma ser aguerrido. Uma atividade tradicional ficou suspensa durante a pandemia: o chá das 5. Uma vez por mês, durante um lanche, os integrantes se reúnem para discutir temas ligados à literatura. depois de um longo tempo distantes (ou se encontrando por meio de plataformas digitais), os imortais se reuniram no final de 2021. Foi uma festa. Ao contrário do que ocorre na ABL, aqui nenhum imortal recebe jeton para participar dos eventos.

O baú de madeira que tinha a tarefa de abrigar os primeiros documentos, atas e outros escritos da AML: em lugar de destaque na entrada da sede da rua Bahia(foto: Uarlen Valério/Encontro)
O baú de madeira que tinha a tarefa de abrigar os primeiros documentos, atas e outros escritos da AML: em lugar de destaque na entrada da sede da rua Bahia (foto: Uarlen Valério/Encontro)
A AML, que já abrigou personalidades como o ex-presidente Juscelino Kubistchek (1902 - 1976), o jurista Afonso Arinos (1905 - 1990) e o pintor Aníbal Mattos (1889 - 1969), está antenada às discussões e questões atuais. Hoje, o fenômeno literário, como lembra Rogério Tavares, que ocupa a cadeira de número 8, não acontece mais como no início do século XX ou no meio dele. "A literatura não é produzida só pela universidade, pelos gabinetes ou por gente rica, beneficiada pela renda ou pela sorte. Ela é diversa e surpreendente", destaca. Rogério diz, com razão, que a literatura acontece também nas aldeias indígenas, nos quilombos e nas periferias. "A academia precisa estar atenta a tudo isso." Na edição 81 da Revista da Academia estão previstos dois dossiês: um que contempla textos das literaturas africanas em língua portuguesa e outro sobre Poesia e Narrativa Indígena.

A AML mantém um acervo de mais de 30 mil itens entre livros e documentos, que pode ser consultado publicamente. Há ainda uma galeria virtual e um catálogo também on-line intitulado "Escritos de Minas", com recortes curatoriais sobre os acadêmicos e o acervo da Instituição. Sem dúvida, seria impossível caber tudo em um baú.

Um palacete recheado de história

(foto: Uarlen Valério/Encontro)
(foto: Uarlen Valério/Encontro)
Finalizado na década de 1920, o atual edifício abriga a AML desde 1940. Mas o imóvel foi construído para outro fim. Com projeto do arquiteto Luís Signorelli, responsável também por símbolos da cidade como o Automóvel Clube, a sede da prefeitura e o Teatro Francisco Nunes, ele foi o consultório e residência do médico carioca Eduardo Borges da Costa. Inicialmente, a construção abrigou a clínica particular de seu pai. Havia, além da clínica, uma recepção, consultórios, dois quartos para internação de pacientes, um laboratório, uma biblioteca e um banheiro. Em 1987, o casarão foi passado em comodato para a Academia Mineira de Letras. Hoje, seus cômodos são ocupados por estantes de livros, documentos e mobiliários de época. Ele, é claro, exala história.

Confira quem são os atuais acadêmicos da Academia Mineira de Letras (ordenados pelo número da cadeira):

01 - Danilo Gomes
02 - Benito Barreto
03 - Angelo Oswaldo de Araújo Santos
04 - Amilcar Vianna Martins Filho
05 - Humberto Werneck
06 - Yeda Prates Bernis
07 - Wander Melo Miranda
08 - Rogério Faria Tavares
09 - Antonieta Cunha
10 - J.D. Vital
11 - Dom Walmor Oliveira de Azevedo
12 - Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
13 - Silviano Santiago
14 - Antenor Pimenta
15 - Maria Esther Maciel
16 - Ronaldo Costa Couto
17 - Ibrahim Abi-Ackel
18 - José Henrique Santos
19 - Pe. José Carlos Brandi Aleixo
20 - Hindemburgo Chateaubriand Pereira Diniz
21 - Elisabeth Rennó
22- Fábio Lucas
23 - Manoel Hygino dos Santos
24 - Vaga após a morte do escritor Eduardo Almeida Reis, no dia 15 de março
25 - Jacyntho Lins Brandão
26 - Jota Dangelo
27 - Afonso Henriques de Guimaraens Neto
28 - Márcio Sampaio
29 - José Fernandes Filho
30 - Caio Boschi
31 - Rui Mourão
32 - Carlos Bracher
33 - Luís Ângelo da Silva Giffoni
34 - Orlando de Oliveira Vaz Filho
35 - Carlos Mário da Silva Velloso
36 - Aloísio Teixeira Garcia
37 - Olavo Celso Romano
38 - Pedro Rogério Couto Moreira
39 - Patrus Ananias de Sousa
40 - Maria José de Queiroz

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