Estado de Minas ESPECIAL

Mineiros do Ano 2022 - Gabriel Martins

O roteirista e diretor teve um ano repleto de prêmios e de reconhecimento nacional e internacional com seu filme Marte Um


postado em 01/02/2023 21:26 / atualizado em 02/02/2023 11:55

Gabriel Martins, diretor de Marte Um: se Deivinho vai para o espaço, o filme não conta (olha o spoiler aí, gente!), mas o cineasta já voou longe(foto: Divulgação)
Gabriel Martins, diretor de Marte Um: se Deivinho vai para o espaço, o filme não conta (olha o spoiler aí, gente!), mas o cineasta já voou longe (foto: Divulgação)
Um desenho de um set de filmagem com câmeras, dois atores se beijando em uma cena, um técnico de som, holofotes, além de um homem de boné, com um megafone na mão, sentado em uma cadeira onde está escrito "director". Um balão de diálogo de história em quadrinhos, daqueles que revelam pensamentos, mostra o que pensa o homem: "realizei meu sonho". Aos 9 anos de idade, o mineiro Gabriel Martins desenhou o que queria para sua vida em uma folha de papel. No programa Conversa com Bial, do qual participou em novembro passado, o diretor, nascido em Contagem, comentou sobre o desenho que fez na infância. Disse que o escrito em inglês indicava o que ele imaginava ser "virar cineasta": ir para Hollywood. "Mas descobri que poderia realizar o meu sonho na porta da minha casa", afirmou, na ocasião.

Perfil:

  • Gabriel Martins, 35 anos
  • Casado, uma filha
  • Nascido em Contagem (MG)
  • Graduado em Cinema pela Una. É diretor, ator, roteirista, produtor, diretor de fotografia, montador. Seu primeiro trabalho solo na direção de um longa, Marte Um, conquistou, no Festival de Cinema de Gramado, os Kikitos de melhor filme pelo júri popular, roteiro, trilha musical e o prêmio especial do júri. Conquistou prêmios, ainda, nos festivais de cinema Out on Film, Nashville Film Festival, BlackStar Film Festival e San Francisco Film Festival.

Foi frequentando a Mostra de Cinema de Tiradentes, além de oficinas e cursos, que Gabriel descobriu um cinema brasileiro, independente e de qualidade. Lembra, por exemplo, de ficar impactado ao ver, em Tiradentes, o filme Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky. Ele se deu conta também de que suas histórias poderiam muito bem ser universais, mas partindo do universo de pessoas e espaços próximos àqueles de sua convivência. Esse é o caso de outras obras da Filmes de Plástico, produtora que fundou em 2009 com três amigos e cujos filmes já rodaram centenas de festivais e ganharam dezenas de filmes, e de Marte Um, primeiro trabalho de direção solo em longa de Gabriel.

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Rodado em 2018 e lançado em 2022, o filme conta a história da família Martins, negra e de classe média baixa, moradora da região metropolitana de BH, a partir da vida de Deivinho, o filho caçula. O pré-adolescente treina futebol - o sonho de seu pai é que seja jogador profissional do Cruzeiro -, mas deseja, na verdade, ser astrofísico e participar de uma missão colonizadora no planeta vermelho. A crítica de cinema Isabela Boscov afirmou que o filme é uma combinação de "delicadeza com contundência" e elogiou a direção de Gabriel. Cacá Diegues, um dos principais cineastas brasileiros, escreveu em coluna no jornal O Globo que Marte Um é "ao mesmo tempo um filme exemplar e que irradia afeto".

Em 2005, Gabito, como é conhecido, conta que fez um filme durante um curso técnico na Escola Livre de Cinema. Foi quando confirmou que era isso que queria fazer da vida. No mesmo ano prestou vestibular e passou em primeiro lugar geral na UNA. Ganhou uma bolsa integral, com a qual se graduou em cinema. Daí em diante, foi trabalho duro e muita dedicação. "Eu gasto boa parte do meu tempo estudando a sétima arte, escrevendo, planejando os projetos e gerenciando com meus sócios a Filmes de Plástico", explica.

Além de diversos prêmios nacionais e internacionais, Marte Um foi selecionado como o filme brasileiro a disputar uma vaga no Oscar, apesar de não ter avançado na seleção dos concorrentes. "Essa escolha significa um rompimento com padrões anteriores ligados a região, tipo de protagonista, tipo de narrativa, tamanho da produtora contemplada e também identidade do diretor", afirma. "Em tudo isso, Marte Um quebrou padrões, e isso envia um sinal de que o cinema brasileiro considerado para essa premiação é mais amplo do que o visto anteriormente." A atenção que o filme recebeu ao ser escolhido o representante brasileiro (desbancando, entre outros, um longa da própria Laís Bodanzky) gerou mais visibilidade à obra, bem como mais possibilidades para a Filmes de Plástico. Se Gabito ainda não chegou a Hollywood, demonstrou como, de fato, isso não é necessário para se produzir cinema de muita qualidade. 

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