Estado de Minas PET

Transplante de células-tronco tem ajudado animais a se recuperarem

Saiba como a biotecnologia está sendo utilizada a favor dos pets em casos de doenças graves, como a cinomose


postado em 24/11/2023 01:58 / atualizado em 24/11/2023 01:58

Vítima da cinomose, o cãozinho Caramelo passou pela primeira sessão de transplante de células-tronco:
Vítima da cinomose, o cãozinho Caramelo passou pela primeira sessão de transplante de células-tronco: "As células utilizadas são extraídas do tecido adiposo removido durante cirurgias de castração de fêmeas jovens e saudáveis", explica o médico-veterinário Bruno Machado Bertassoli (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Já é notório que os avanços tecnológicos na medicina veterinária auxiliam na melhoria da saúde e garantia de bem-estar de animais domésticos, silvestres e exóticos. Uma das inovações é o uso da biotecnologia para reduzir sintomas como dores, recuperar movimentos e dar longevidade aos animais de estimação. A técnica consiste na manipulação de organismos vivos para fabricar ou modificar produtos. Dessa forma, desde a antiguidade, quando já se utilizava microrganismos para fermentar pães, bebidas e outros alimentos, a biotecnologia já estava sendo praticada. O uso de células-tronco para tratamento de algumas patologias segue a mesma lógica. No Brasil, a aprovação do primeiro produto na área  junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) ocorreu em 2019. E o primeiro registro da utilização de células-tronco foi para curar lesões de uma fêmea de lobo-guará, atropelada por um caminhão, em 2010. Surpreendentemente, o tratamento previsto para mais de oito meses se encerrou apenas quatro meses após a aplicação.

Contudo, junto com os avanços também vieram as polêmicas. "Ao contrário do que muitos acreditam, as células utilizadas nestes tratamentos não vem de embriões. Na verdade, são extraídas do tecido adiposo removido durante cirurgias de castração de fêmeas jovens e saudáveis", explica Bruno Machado Bertassoli, do Centro Clínico e Cirúrgico Montreal Vet.  Professor, biólogo e médico-veterinário especialista na área, Bruno tem observado resultados promissores no uso de células-tronco em pets com sequelas neurológicas, doenças articulares, lesões de nervo perifèrico, fraturas, insuficiência hepática e renal, úlcera de córnea, entre outras disfunções. A aplicação consiste em um transplante de células-tronco para um animal doente. Com capacidade de se transformarem em qualquer célula do corpo, elas se replicam e auxiliam no processo de regeneração do organismo em casos de doenças degenerativas e crônicas, traumas e recuperação de tecidos danificados. "Lembrando que as células-tronco de uma espécie só podem ser utilizadas na mesma espécie", ressalta.

Resgatado pelo Projeto Auquemia de Proteção Animal, em Nova Lima, com diagnóstico de cinomose, o cãozinho Caramelo (SRD) passou pela primeira aplicação de células-tronco em setembro deste ano. A doença, que acomete animais não vacinados, provoca a perda da cognição, alterações de equilíbrio e locomoção, mioclonias (contração muscular involuntária), paralisia, paraplegia, tetraplegia e convulsões. Voluntária do projeto, a empresária Luiza Fonseca está esperançosa. "Já havia tratado outro animal com essa técnica e, após três aplicações, ele voltou a andar. Agora é torcer para conseguir os recursos, por meio de doações, para realizar pelo menos mais uma aplicação no Caramelo", diz ela.  O pet já apresenta redução das mioclonias, mais firmeza no corpo  e agilidade ao se movimentar. Em Belo Horizonte,  cada aplicação custa em média 2 mil reais.

Em seres humanos, a Lei de Biossegurança 11.105, de 24 de março de 2005, autoriza, com restrições, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro. Pesquisadores de todo o país, inclusive da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dedicam-se a pesquisas que buscam melhorar a qualidade de vida de pacientes acometidos pelas mais diversas doenças. "O uso de células-tronco adultas não geram polêmica, pois elas são retiradas de tecidos como placenta, medula óssea e cordão umbilical", explica Bruno Bertassoli.

Saiba mais sobre a terapia com células-tronco

  • O que é biotecnologia?
    Consiste na manipulação de organismos vivos para fabricar ou modificar produtos

  • De onde vêm as células-tronco?
    São retiradas de tecidos adultos, como placenta, medula óssea e cordão umbilical

  • Como funciona?
    Com capacidade de se transformarem em qualquer célula do corpo, as células-tronco se replicam e auxiliam no processo de regeneração do organismo

  • Para quais doenças a técnica é indicada?
    Em casos de doenças degenerativas e crônicas, traumas e na recuperação de tecidos danificados

  • Há contra-indicação?
    Animais com neoplasias não podem utilizar

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