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Estado de Minas NEGÓCIOS

Clemente de Faria Jr., CEO da Bamaq, prevê faturar R$ 4 bi em 2024

Ex-piloto campeão assumiu a empresa da família há pouco mais de uma década, diversificou os negócios e aposta na expansão


postado em 12/03/2024 13:02 / atualizado em 12/03/2024 13:39

Clemente Faria Jr., de 36 anos, diz que da experiência de esportista vieram três conceitos que norteiam sua vida profissional: humildade para observar, ouvir e aprender, inclusive com os adversários e concorrentes; bom relacionamento com equipe e mercado; e ambição para sempre correr atrás das vitórias e não se acomodar(foto: Paulo Márcio/Encontro)
Clemente Faria Jr., de 36 anos, diz que da experiência de esportista vieram três conceitos que norteiam sua vida profissional: humildade para observar, ouvir e aprender, inclusive com os adversários e concorrentes; bom relacionamento com equipe e mercado; e ambição para sempre correr atrás das vitórias e não se acomodar (foto: Paulo Márcio/Encontro)
Em 1987, o fundador do Grupo Bamaq, Clemente de Faria, tinha muitos motivos para comemorar. Naquele ano, além de o empresário mineiro ter levantado a taça do Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos, ele celebrou a chegada de seu único filho homem, Clemente Faria Jr.. Os anos se passaram e, de tanto acompanhar o pai em treinos e provas, o garoto também se apaixonou por velocidade. Aos 7 anos, entrou na categoria cadete de kart e, um ano depois, participou de sua primeira competição, no Campeonato Brasileiro, realizado em Salvador. "Eu me lembro que fiquei impressionado com a quantidade de pilotos no local", diz. Um pouco depois, em 1997, o pai decidiu parar de se dedicar ao esporte, o que acabou impulsionando Clementinho (como era e ainda é chamado pelos mais próximos) a levar o hobby mais a sério. Bem mais.

Com as máquinas pesadas que estão desde o início da Bamaq: em 2017, Clemente enfrentou a maior crise do setor, com venda de apenas 20% do registrado pelo mercado em 2023(foto: Grupo Bamaq/Divulgação)
Com as máquinas pesadas que estão desde o início da Bamaq: em 2017, Clemente enfrentou a maior crise do setor, com venda de apenas 20% do registrado pelo mercado em 2023 (foto: Grupo Bamaq/Divulgação)
Ciente das intenções do filho, Clemente escalou o piloto e instrutor Roberto Mourão para ser seu chefe de equipe. "Eu fazia dupla com o pai, que me pediu para acompanhá-lo nas corridas", afirma. "Estivemos juntos de 1997 a 2007 e ele sempre foi muito disciplinado e aplicado." Determinado, Clemente Jr. logo conseguiu patrocínio e acabou campeão brasileiro de kart por quatro vezes consecutivas, de 2002 a 2005. Era um recorde, que só seria batido anos depois. Ayrton Senna, por exemplo, foi campeão brasileiro três vezes consecutivas. "Nessa época, eu estava certo de que seria piloto profissional", diz Clemente Jr. Em 2007, ele ganhou o campeonato de Fórmula 3 Sul-Americana, categoria mais rápida da América do Sul, quebrando o recorde do Autódromo Internacional de Tarumã, em Porto Alegre. Sempre acelerando, um ano depois tentou carreira na Inglaterra. Mas nem tudo saiu como planejado. "Foi um período de crise no Brasil e tivemos dificuldade para mantermos os patrocinadores. Como sempre dependemos desses recursos, comecei a pensar nas incertezas da profissão." Ter tido sucesso no Brasil não significava nada - ou quase nada - lá fora. Um agravante, diz Clemente Jr., é que naquela época ainda não existiam incentivos fiscais para que as empresas investissem em modalidades esportivas.

Casado desde 2015 com a empresária Raquel Mattar, herdeira da Localiza, o CEO tem três filhos e, sempre que possível, gosta de se reunir com a família e os amigos em sua fazenda localizada próximo à capital mineira(foto: Arquivo pessoal)
Casado desde 2015 com a empresária Raquel Mattar, herdeira da Localiza, o CEO tem três filhos e, sempre que possível, gosta de se reunir com a família e os amigos em sua fazenda localizada próximo à capital mineira (foto: Arquivo pessoal)
Optou, então, por aproveitar o momento de baixa no automobilismo para se inteirar sobre os negócios da família. Entrou na Bamaq como trainee e percorreu vários departamentos para entender a engrenagem do grupo, que na primeira década dos anos 2000 trabalhava com máquinas de construção e veículos de luxo Mercedes-Benz. Já não restava dúvidas: o piloto iria se dedicar agora ao mundo dos negócios. Em 2009, com a cabeça fervilhando, se arriscou a empreender sozinho. "O meu pai não queria, então fizemos o combinado de eu estar na empresa pelo menos uma vez por semana, para participar de reuniões." Clemente Jr. estava entusiasmado com o mercado financeiro e apostou na antecipação de recebíveis - ele oferecia às empresas uma linha de crédito para que recebessem antes do vencimento os valores de suas vendas. "Com 21 anos de idade eu batia na porta dessas companhias para falar que eles tinham que antecipar seus recebíveis comigo e muitos empresários me olhavam com desconfiança. Tive de suar muito para ganhar respeito nesse mercado." Tudo ia bem, até que um revés do destino mudou novamente sua trajetória.

No último dia 12 de fevereiro, aniversário de seu pai, Clemente Jr. postou em seu Instagram esta foto:
No último dia 12 de fevereiro, aniversário de seu pai, Clemente Jr. postou em seu Instagram esta foto: "Quanta falta você faz. Hoje é seu dia! Dia que bate uma saudade grande", escreveu (foto: Arquivo pessoal)
Em 12 de julho de 2012, a notícia da queda do táxi aéreo Embraer modelo EMB-121 Xingu, que caiu no mar a 500 metros da costa da Ilha de Cataguases, no estado do Rio de Janeiro, no caminho para a casa de praia da família em Angra dos Reis, foi um divisor de águas em sua vida. Seu pai estava no avião e morreu na queda, junto com o piloto e o co-piloto. Com a cabeça cheia de planos próprios da juventude, Clemente Jr., hoje com 36 anos, se viu obrigado a ter novas prioridades. "De um dia para o outro, tudo mudou. Eu gostava de arriscar, investir na bolsa de valores, por exemplo, e na semana seguinte minha cabeça já era completamente diferente." Com pós-graduação em finanças pelo Ibmec e MBA na Fundação Dom Cabral, o amadurecimento foi compulsório e com ele vieram obrigações e responsabilidades. O jovem assumiria a empresa e tinha a missão não só de levar os negócios adiante como cativar a confiança de seus colaboradores. "Meu pai era a referência de todos e tudo foi um grande desafio. Com a ajuda de profissionais que já atuavam no grupo consegui superar essa fase difícil e dar continuidade ao que já era feito." A experiência adquirida como piloto de corrida, diz ele, é de grande valia. De lá vieram três conceitos que norteiam sua vida profissional: humildade para observar, ouvir e aprender, inclusive com os adversários e concorrentes; bom relacionamento com equipe e mercado; e ambição para sempre correr atrás das vitórias e não se acomodar. "No grid de largada tem 34 pilotos. Destes, alguns se contentam em estar ali, outros em estar entre os dez primeiros, outros entre os cinco… Alguns, só com a vitória", diz. Ele não se contentava com menos. "É uma ambição boa e vejo que muitos esportistas têm sucesso em seus negócios seguindo essas mesmas diretrizes."

Em dois momentos com o companheiro de equipe de seu pai, o piloto e instrutor Roberto Mourão, que virou seu chefe de equipe.
Em dois momentos com o companheiro de equipe de seu pai, o piloto e instrutor Roberto Mourão, que virou seu chefe de equipe. "Estivemos juntos de 1997 a 2007 e ele sempre foi muito disciplinado e aplicado", conta Roberto (foto: Arquivo pessoal)
Cinco anos depois da tragédia com o pai, Clemente Jr. enfrentou a maior crise do setor de máquinas pesadas, que até então representava o principal ramo de atuação da Bamaq. O volume de vendas caiu drasticamente. Para se ter ideia, a quantidade de máquinas comercializadas naquele ano corresponde a apenas 20% do volume de vendas registrado em 2023. "Tivemos de cortar gastos e investir em tecnologia para otimizar os processos e ter uma estrutura mais leve." Com a crise, vieram novos aprendizados. Clemente Jr. viu a necessidade de profissionalizar ainda mais a empresa familiar. Em 2020, assumiu como CEO. Para isso, contou com a ajuda do primo Pedro Faria que, simultaneamente, assumiu como presidente do Conselho de Administração e o ajudou a implementar a liderança corporativa e estratégica da empresa. "Compartilhamos uma visão clara de fortalecer ainda mais o nosso legado empresarial, sonhando alto, mas com os pés firmes no chão", escreveu Pedro em uma de suas redes sociais, à época. Foi nesse período que foi implementado o Comitê de Auditoria de Governança e Finanças, assim como um canal de denúncia independente. "Antes, a empresa não tinha esse cargo de CEO, achávamos que não era necessário", diz Clemente Jr. "Mas minha indicação não foi automática. Fizemos uma avaliação externa para verificar quem estaria mais apto para exercer a função."

Em seu escritório, na sede da Bamaq: ele assumiu como CEO da empresa em 2020(foto: Paulo Márcio/Encontro)
Em seu escritório, na sede da Bamaq: ele assumiu como CEO da empresa em 2020 (foto: Paulo Márcio/Encontro)
Bisneto de Clemente Faria, fundador do Banco da Lavoura de Minas Gerais, que depois originou os bancos Real e Bandeirantes, o CEO da Bamaq tem três irmãs. Do primeiro casamento de Clemente, com a empresária e colecionadora de arte Ângela Gutierrez, nasceu Ana Gutierrez. Já da união com Maria Victoria, Nathalia e Luíza, que são sócias na empresa Nobz (especializada em venda de roupas e acessórios de grife de segunda mão) da mulher de Clementinho, a influencer Raquel Mattar, filha de um dos donos da Localiza, Eugênio Mattar. Os dois são casados desde 2015 e têm três filhos. Apesar de a vida de piloto ter sido deixada para trás - segundo Clemente, nas horas vagas ele gosta é de curtir a natureza na fazenda da família, localizada próximo à capital mineira -, a paixão por carros continua. "Adoro experimentar os novos modelos, entender o que oferecem e como funcionam."

Para Clemente Jr., os elétricos são o futuro: o Ora, modelo da GWM que custa a partir de 150 mil reais(foto: Divulgação)
Para Clemente Jr., os elétricos são o futuro: o Ora, modelo da GWM que custa a partir de 150 mil reais (foto: Divulgação)
Com atuação em 17 estados do Brasil (além de Minas, a marca está espalhada pelo Centro-Oeste, Norte e Nordeste), a Bamaq foi estruturada em três unidades de negócios, que têm peso parecido no faturamento total da empresa, de forma a se blindar de oscilações do mercado. A unidade de pesados, com distribuição das máquinas de construção da New Holland e dos caminhões da Iveco, corresponde a 40% do faturamento total; a parte financeira, que engloba consórcio, seguros e financiamentos para clientes, 35%; e automóveis novos e seminovos das marcas Mercedes-Benz, Porsche e GWM respondem pelos 25% restantes. "Hoje, nosso negócio está bem balanceado com faturamento expressivo em todas as unidades.", diz Clemente. Em 2023, o grupo faturou 3 bilhões de reais e as expectativas para 2024 são animadoras: chegar aos 4 bilhões de faturamento - um aumento de 33%. "Com a perspectiva de queda de juros, a situação do país tende a melhorar." Para crescer, a Bamaq deve investir 700 milhões de reais até 2025. No final do ano passado, foi inaugurada a primeira loja da Porsche em Salvador. Também foram abertas a concessionária Iveco em Macapá (AP) e as lojas da chinesa GWM em Belo Horizonte e em Campo Grande (MS).

A loja da Porsche recém inaugurada em Salvador: previsão de 700 milhões de reais em investimentos até 2025(foto: Divulgação)
A loja da Porsche recém inaugurada em Salvador: previsão de 700 milhões de reais em investimentos até 2025 (foto: Divulgação)
O investimento em representar os elétricos da GWM é uma aposta no futuro. Mas que já vem se mostrando um acerto presente. No ano passado, a Bamaq vendeu 550 veículos da marca (em praticamente seis meses), contra 600 porsches e 300 mercedes - duas marcas com valor agregado muito maior, diga-se, com modelos que podem custar até 2 milhões de reais. A montadora chinesa trouxe para o Brasil modelos entre 150 e 320 mil reais. "A GWM tem uma estratégia muito agressiva, com planos de crescimento a longo prazo", diz Clemente. Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (Abve), em 2023 foram vendidas 93.927 unidades de veículos elétricos, 91% a mais em relação ao ano anterior. Os carros do tipo plug-in, com recarga externa, foram 56% dos modelos adquiridos, o equivalente a 52.359 unidades. Com 41.568 automóveis vendidos, os híbridos convencionais HEV e HEV Flex, que lideraram a categoria em 2022, perderam o posto para a concorrência. No ranking das marcas, se destacaram a japonesa Toyota (21.042) e as chinesas BYD (17.943) e Caoa Chery (11.835). "Os elétricos são, de fato, o futuro. E as marcas chinesas vieram para ficar." Ele conta que esteve na China e se espantou. "Nas ruas, você quase nem ouve barulho dos carros, já que a frota elétrica é enorme." Atento ao mercado, Clemente firmou parceria com a plataforma de transporte por aplicativo Uber, disponibilizando aos motoristas que pretendem trocar de carro um produto financeiro do grupo. Outra parceria foi feita com o Banco Inter. Todo consórcio vendido pela instituição financeira é da Bamaq. "Estamos sempre atrás de novos serviços para criar um diferencial competitivo em cada braço do nosso negócio", diz Clemente. As pistas ficaram para trás, mas, como se vê, ele continua acelerando - seguindo o exemplo do pai.

De volta às pistas: a vida de piloto ficou para trás, mas a paixão por velocidade continua. No ano passado, ele voltou a acelerar em Interlagos, depois de 11 anos(foto: Arquivo pessoal)
De volta às pistas: a vida de piloto ficou para trás, mas a paixão por velocidade continua. No ano passado, ele voltou a acelerar em Interlagos, depois de 11 anos (foto: Arquivo pessoal)
Alguns números do Grupo Bamaq

  • Colaboradores:  950 em todo o Brasil (400 em Minas)

  • Previsão de investimentos: R$ 700 milhões até 2025

  • Presença: 17 estados brasileiros (além de MInas, está no Centro-Oeste, Norte e Nordeste)

Evolução do faturamento

  • 2021: R$ 1,5 bilhão
  • 2022: R$ 2,3 bilhões
  • 2023: R$ 3 bilhões
  • 2024: 4 bilhões (previsão)

Como se divide o orçamento do grupo:

  • 40% unidade de pesados (distribuição de máquinas de construção da New Holland e caminhões da Iveco)

  • 35% financeiro (consórcio, seguros e financiamento para os clientes)

  • 25% automóveis novos e seminovos (marcas Mercedes-Benz, Porsche e GWM)

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