Como arquitetos e decoradores usam as redes sociais

Em tempos em que uma foto vale mais do que mil palavras, profissionais de todas as áreas se desdobram para divulgar seu trabalho por meio das redes sociais. Quando o assunto é o mercado de arquitetura, essa demanda é ainda maior. Mostrar seus projetos, seu modo de trabalho e até seu estilo de vida é uma das ferramentas usadas por arquitetos e designers de interiores para captar clientes. "Antes das redes sociais, a divulgação do nosso trabalho era feita por meio de uma assessoria de imprensa, que enviava materiais para revistas e jornais e também por meio da participação em mostras de decoração", lembra a arquiteta Estela Netto, referência quando se fala em produção de conteúdo para Instagram. Com o advento desta rede, houve uma mudança radical no modo de divulgação. A possibilidade de falar diretamente sobre seu trabalho para um público que não conhece fronteiras, sem o filtro ou exigência de um jornal ou revista, por exemplo, vem atraindo cada vez mais profissionais, que se desdobram não só na criação de projetos de arquitetura, mas também na produção de conteúdo.

Mas se engana quem acha que a imprensa e as mostras de decoração ainda não desempenham papel importante na divulgação do trabalho dos arquitetos e designers de interiores. Ana Horta, proprietária da Mão Dupla Comunicação, agência especializada na divulgação de profissionais da área, explica que falar só de si mesmo não basta e uma validação de um bom veículo de comunicação ainda é de suma importância."É crucial ressaltar que a divulgação por meio de portais, revistas e jornais ainda desempenha um papel importante no branding. Afinal, embora seja significativo falar de si mesmo, a credibilidade é muito maior quando se tem um terceiro recomendando seus serviços", explica.

Essa validação também fala mais alto quando o assunto são mostras de decoração como um meio de divulgação. Por mais que redes como o Instagram e o Youtube consigam alcançar um número muito maior de pessoas, nada substitui a experiência física de visitar um ambiente. Eduardo Faleiro, diretor da CASACOR Minas, acredita que o papel da mostra não muda com a popularização das redes sociais e que elas também a auxiliam a alcançar mais pessoas, tornando a mostra mais democrática. "Eu acredito que as plataformas on-line são ferramentas poderosas para a divulgação do trabalho dos profissionais, mas não substituem a experiência de visitar uma mostra de arquitetura e decoração. Essa experiência sensorial é única", afirma.

Para investigar mais sobre o tema, conversamos com cinco profissionais, que são referência na área de Arquitetura e Design de Interiores, sobre a forma como utilizam suas redes sociais. Com perfis bem diferentes, eles compartilham seu modo de produção de conteúdo e ainda dão dicas para quem quer começar a sua.

"Bom dia!"...  A arquiteta Estela Netto vira e mexe toma um cafezinho em sua casa e compartilha no Instagram seus projetos, suas ideias, seus sentimentos e suas expectativas para o dia que começa. A conversa assim, tão íntima e transparente, agrada em cheio seus 98,4 mil seguidores, que querem saber não só detalhes técnicos e estéticos da sua arquitetura, mas também da sua vida pessoal. Quais seus segredos de beleza? Qual será sua próxima viagem? O que costuma fazer no fim de semana? Tamanho sucesso de seu perfil no Instagram a arquiteta atribui a essa proximidade. "Eu percebo que os conteúdos que as pessoas mais gostam se referem à minha vida, minha trajetória, como eu construí minha carreira, ou até coisas pessoais mesmo, como a minha família, meu estilo de vida", explica. "É claríssimo como as pessoas querem conversar com pessoas. Tanto que os conteúdos que mais engajam são de uma pessoa para outra, de uma vida para a outra", completa. Não à toa, um dos seus conteúdos de mais sucesso atualmente é o "De carona com Estela Netto", em que ela conversa com um convidado enquanto dirige seu carro.

Em um mercado como o de arquitetura, em que o objetivo principal é atingir a beleza sem abrir mão da funcionalidade, Estela parece estar no lugar certo. Além da sua beleza física, atrai também pela sua oratória. Didática, consegue conversar tanto com arquitetos quanto com o público leigo. Essa versatilidade faz com que seu escritório não pare de crescer. "Em 2023, o percentual de contratos que a gente fechou via Instagram corresponde a 30% do total de contratos do escritório", afirma. Com projetos não só em Minas Gerais, mas também em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia e Rio Grande do Sul, Estela, que produz ela mesma todo o seu conteúdo, diz que não se cansa de postar. "Eu sei que hoje isso é uma questão, as pessoas sofrem com o uso contínuo das redes sociais, mas eu não sofro não."

A oportunidade de falar com um público amplo, sobre o que quiser e da maneira que quiser é o que atrai Estela. "Antes, nossa divulgação se restringia a revistas impressas e mostras. Com o Instagram, eu tenho autonomia para falar diretamente com o meu público", diz.

"Tudo bem #puraí? #puraqui tudo bem!" Quem segue a arquiteta Regina Padilha no Instagram e no YouTube conhece bem essas frases com que começa seus vídeos. Inspiradas no nome do seu escritório, Pura Arquitetura, elas refletem bem seu estilo leve e bem-humorado de ser. Criado em 2012, seu perfil no Instagram foi uma forma que a arquiteta encontrou para falar sobre sustentabilidade, tema em que é mestre e que não era muito abordado pelo mercado na época. De início mais corporativo, o perfil foi ganhando toques mais pessoais com o passar do tempo. Um bom exemplo é o #yoganaobra, hashtag criada a partir de fotos que a retratam praticando yoga em meio às obras que acompanha. "No começo eu tive receio de que isso fizesse com que as pessoas não me levassem muito a sério, mas assim que recebi um convite da Atex (grande indústria de laje nervurada nacional), para participar de uma mesa redonda com grandes construtoras do Brasil, percebi que minha credibilidade não seria afetada", afirma.

Ao contrário de outros profissionais, que usam o Instagram como rede social principal, atualmente Regina tem seu foco no Youtube, onde possui cerca de 96 mil seguidores. No Instagram, são cerca de 56 mil. "Percebo que a taxa de conversão dos clientes no Youtube é bem maior do que no Instagram, mas as duas redes se complementam. Enquanto no Youtube o conteúdo é mais técnico, no Instagram falo também do meu estilo de vida", diz. Regina começou seu canal na rede de vídeos em 2018, a convite de uma videomaker que a acompanhava no Instagram e notou sua didática e facilidade em se comunicar. Em pouco tempo, foi procurada por um cliente em Goiânia, que a contratou para a criação de um projeto de um edifício com mais de 100 apartamentos. A parceria com marcas nacionais, como Arcellor Mittal, Tarket, Flexform e Operis, demonstra bem o perfil do seu público, totalmente nacional. "Hoje, apenas 10% dos meus seguidores são de Belo Horizonte", revela. Tanto que, em 2022, ficou entre os três finalistas nacionais no prêmio Micro Influenciadores Digitais, na categoria Arquitetura e Decoração, realizado pelo Cecom (Centro de Estudos da Comunicação).

Quanto aos clientes captados, Regina afirma que 70% vêm do Youtube e Instagram. "Mesmo que seja indicação de uma pessoa, eu noto que os clientes chegam aqui já conhecendo os meus projetos. Percebo que as redes ajudam a validar o meu trabalho", explica.

Já os posts são produzidos de forma totalmente aleatória. "Eu não tenho método nem planejamento, é na hora que dá, infelizmente", completa. Ela mesma grava seus vídeos com o celular, e um profissional da sua equipe é responsável por editá-lo. E aconselha quem está pensando em começar: "Esqueçam as regras e simplesmente façam da forma mais natural e confortável".

Discreta, a arquiteta e designer Marina Dubal acredita em passar uma imagem mais séria e corporativa da Dubal Arquitetura, seu escritório. Por isso, usa o Instagram com o objetivo de posicionar a sua marca no universo digital. "Reforçamos no nosso posicionamento de marca a questão da busca pela autenticidade, de acordo com o perfil do cliente", diz Marina. "A maioria dos nossos projetos são de high ticket, o que faz com que cheguem ao nosso escritório por meio de indicações. Já tivemos alguns clientes que chegaram pelo Instagram, mas cujo perfil não estava alinhado com o nosso", explica. Assim, seu conteúdo é trabalhado de modo a ser um portfólio do seu trabalho. Mas nada impede a produção de conteúdos mais práticos, que mostrem a rotina do escritório, as medidas ideais para os armários e bancadas da cozinha ou o famoso "Antes e Depois", garantia de um ótimo engajamento no perfil, que hoje possui cerca de 31,8 mil seguidores.

A arquiteta é a responsável pela produção do conteúdo do seu perfil, mas algumas pautas são compartilhadas e criadas junto com sua equipe. "Eu entendo que as redes sociais são um trabalho essencial de marketing, mas eu não as monetizo. Nosso core businness realmente é um projeto de qualidade, portanto, o conteúdo é produzido quando dá. Vemos ele como uma atividade complementar. Nossa prioridade é sempre o cliente", afima. Por isso, Marina conduz seu Instagram de forma leve e prática. "Tenho a consciência tranquila. Nosso foco é mesmo uma boa arquitetura e um bom atendimento, muito mais do que uma rede social perfeita".

A experiência de mais de 20 anos na área acadêmica garante à arquiteta Fernanda Villefort um aprofundamento pouco encontrado no Instagram quando se fala em conteúdo. Detalhista, ela explica com grande preciosismo todas as etapas dos projetos criados pelo seu escritório, além de esclarecer dúvidas de seguidores e dar dicas de temas pouco explorados pelos cursos de Arquitetura e Urbanismo, como a gestão de um escritório da área. Com 18 mil seguidores no Instagram, ela também se destaca pelo Fernanda Villefort Academy, projeto de mentoria e cursos on-line e presencial. "Eu venho de uma área que ama ensinar, que acredita no ensino e na importância do profissional se capacitar. Tive mais de 2 mil alunos e tudo começou com a demanda deles por temas que não são ensinados na faculdade, como a gestão de um escritório de arquitetura", afirma. De olho nessas demandas, Fernanda criou um curso que visa acordar o empreendedor que existe dentro de cada arquiteto, já que a maioria acaba por montar seu próprio escritório depois do início de sua jornada profissional.

Além do conteúdo técnico, Fernanda também trabalha temas como moda e viagens em seu perfil. "Isso aconteceu naturalmente. Conforme mostramos nosso trabalho e as pessoas percebem que por trás dele existe uma pessoa, isso gera uma conexão e uma curiosidade sobre sua vida pessoal", explica. Para Fernanda, tudo começou por meio das viagens internacionais que realizava como professora, em parceria com uma faculdade de Londres. A moda veio um pouco depois. Apesar disso, ela tenta dividir o conteúdo de forma que 80% seja direcionado à Arquitetura e 20% ao seu lifestyle. Quanto aos clientes captados pelo Instagram, ela não possui dados estatísticos, mas percebe que a rede é uma forma que os clientes encontram para validar o seu trabalho. "É nessa pesquisa realizada pelo cliente que ele valida o que já gostou em seu trabalho", diz.

Questões que levam à reflexão do morar, das cidades e da nossa relação com o espaço que nos rodeia. O Instagram da arquiteta Gisele Borges, conhecida por sua arquitetura que valoriza não só o empreendimento em si, mas a cidade como um todo, reflete bem suas crenças. "Não posto com intuito de agradar, de polemizar ou de atrair pessoas. É claro que cada post gera determinados resultados, mas meu objetivo é que mais pessoas possam entender melhor o meu trabalho e que isso gere mais negócios por convergência de interesse", explica. Mostrar a arquitetura que cria e acredita serve também como uma pré-seleção no que se refere à captação de clientes. "Isso evita que um incorporador que não valoriza a arquitetura me procure e abre portas para aqueles que acreditam que a arquitetura pode melhorar os lugares. Admiro o incorporador que deseja vender uma unidade para um cliente, mas se preocupa com a integração do edifício na rua, no bairro", diz.

No caso de Gisele, seu perfil do Instagram serve mais como uma vitrine do seu trabalho do que como um meio direto de captar clientes. "O Instagram nunca me trouxe um cliente diretamente e acredito que nunca trará. Empresa séria não procura um bom arquiteto assim. Acredito no poder da comunicação em várias frentes e o Insta é uma delas. Muito importante por sinal", afirma. A produção de seu conteúdo é feita junto a uma assessoria e Gisele faz questão que o resultado final reflita sua identidade. Nada é superficial ou aleatório. O conteúdo é decidido de acordo com o momento do escritório e com o que ele experiencia de fato.

"Respondo pelas ideias, indico sites de pesquisa para o conteúdo não ficar superficial, escrevo um pouco. Depois disso, o material segue para a consultoria melhorar a redação e definir quais imagens irão ancorar minhas ideias." E a obrigatoriedade de postar ou de gerar determinado resultado também não influencia a arquiteta. "Minha régua é postar um bom conteúdo, se não tenho nada para falar, não irei postar. Vai cair o alcance? Vai. Mas o importante é ter conteúdo de qualidade. Meus seguidores sabem que tenho cuidado e critério e que não farei um trabalho para cumprir tabela. Sou extremamente exigente com a qualidade de tudo que sai do escritório. É meu cartão de visitas", afirma.