Estado de Minas TECNOLOGIA

Robótica médica avança e eleva padrão de procedimentos no país

Robôs vêm revolucionando a forma de realizar cirurgias de alta complexidade no país, oferecendo mais precisão, segurança e rápida recuperação


postado em 18/12/2025 08:18 / atualizado em 18/12/2025 08:29

O Da Vinci X, no Biocor, que custa em torno de R$ 16 milhões: braços robóticos reproduzem, com fidelidade e estabilidade, cada gesto do especialista, proporcionando articulações finas, ampla liberdade de movimento e eliminação de tremores(foto: Geraldo Goulart)
O Da Vinci X, no Biocor, que custa em torno de R$ 16 milhões: braços robóticos reproduzem, com fidelidade e estabilidade, cada gesto do especialista, proporcionando articulações finas, ampla liberdade de movimento e eliminação de tremores (foto: Geraldo Goulart)
Em uma era marcada por avanços constantes da medicina, técnicas menos invasivas e mais precisas conquistam cada vez mais espaço. Entre as protagonistas dessa transformação está a plataforma robótica Da Vinci, adotada por alguns dos principais hospitais do país. A tecnologia vem revolucionando as cirurgias de alta complexidade, oferecendo maior precisão, segurança e uma recuperação significativamente mais rápida para os pacientes. A cirurgia robótica, realizada por meio da plataforma, já é aplicada em diversas especialidades, como urologia, ginecologia, cirurgia torácica, oncológica, geral e do aparelho digestivo, e representa um novo patamar de eficiência e conforto no ambiente cirúrgico. No Brasil, o método começou a ser utilizado em 2008, com a instalação das primeiras plataformas Da Vinci em hospitais paulistas.
 
Desde então, o crescimento tem sido constante, acompanhando o avanço das tecnologias médicas e a confiança cada vez maior de profissionais e pacientes. A cirurgia robótica permite que o cirurgião conduza o procedimento por meio de um console equipado com joysticks e visão tridimensional, oferecendo uma imagem ampliada e em alta definição do interior do corpo do paciente, o que garante movimentos extremamente precisos. Os braços robóticos reproduzem, com fidelidade e estabilidade, cada gesto do especialista, proporcionando articulações finas, ampla liberdade de movimento e eliminação de tremores. “Entre os principais benefícios estão o menor tempo de internação, a recuperação mais rápida, maior segurança e a redução do risco de infecção”, explica Aline Campos Magalhães, diretora-geral do Instituto Biocor, hospital da Rede D’Or.

Desde maio deste ano, a instituição passou a contar com o auxílio do Robô Da Vinci X e, em apenas cinco meses de uso, mais de 200 procedimentos já foram realizados com o equipamento, número que continua crescendo a cada mês. “Hoje, já estamos fazendo cerca de 50 cirurgias mensais. Apesar do pouco tempo desde a implantação, temos um volume muito bom e resultados muito positivos”, destaca a diretora. Em pouco mais de 15 anos, o uso da cirurgia robótica consolidou-se e o Brasil passou a ser o maior mercado da América Latina nessa área, segundo o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC). Hoje, o país conta com cerca de 200 plataformas instaladas, em uma expansão que ultrapassa o eixo Rio–São Paulo e alcança centros hospitalares de diferentes regiões.

Para Aline Campos Magalhães, diretora-geral do Instituto Biocor, o investimento em robótica vai muito além do retorno financeiro:
Para Aline Campos Magalhães, diretora-geral do Instituto Biocor, o investimento em robótica vai muito além do retorno financeiro: "Quando otimizamos o tempo de internação, conseguimos aumentar a rotatividade, atender mais pacientes e salvar mais vidas" (foto: Geraldo Goulart)
Essa revolução tecnológica, porém, ainda enfrenta desafios econômicos, regulatórios e logísticos. O investimento é alto: um robô cirúrgico pode custar em torno de R$ 16 milhões, e cada procedimento pode acrescentar mais de R$ 10 mil aos custos hospitalares. Mesmo assim, o avanço é inegável e sinaliza uma nova era para a medicina brasileira. 

Para os especialistas, os benefícios superam os obstáculos. A cirurgia robótica pode ser aplicada tanto no tratamento de doenças benignas quanto malignas, abrangendo diferentes níveis de complexidade. Embora as áreas de urologia e oncologia ainda liderem o uso da tecnologia, ela já vem sendo incorporada também em procedimentos ginecológicos e até em cirurgias de cabeça e pescoço. “A urologia é a área com mais experiência no uso da robótica, mas outras especialidades estão se beneficiando cada vez mais da precisão que ela oferece”, ressalta  o urologista  Lucas Nogueira. O especialista relata que quando um paciente recebe um diagnóstico urológico que exige cirurgia, como câncer de próstata, rim ou bexiga, o medo e a incerteza são naturais. “Uma das minhas maiores satisfações como urologista é poder explicar que a cirurgia robótica mudou esse cenário.” Isso porque a robótica, de fato, proporciona mais precisão e menores índices de complicações.
 
“Testemunhei muitas evoluções na urologia ao longo da minha vida profissional, mas acredito que nenhuma foi tão transformadora quanto a cirurgia robótica. Hoje, não imagino minha prática cirúrgica sem ela”, diz o urologista.
 
Para operar um robô cirúrgico, é necessário passar por uma formação especializada. “Não é simplesmente o médico querer e começar a operar. É preciso realizar um treinamento completo, aprender a manusear o equipamento, cumprir um número mínimo de cirurgias sob supervisão de um preceptor e, só então, estar apto a atuar de forma independente”, explica a diretora Aline Campos Magalhães. O processo de capacitação leva cerca de seis meses. A Rede D’Or, por exemplo, oferece essa formação por meio do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. O investimento em robótica, segundo a diretora, vai muito além do retorno
financeiro. “Esse é um investimento que se paga de várias formas.
 
O urologista Lucas Nogueira não imagina mais a prática cirúrgica sem o uso da tecnologia:
O urologista Lucas Nogueira não imagina mais a prática cirúrgica sem o uso da tecnologia: "Testemunhei muitas evoluções na urologia ao longo da minha vida profissional, mas acredito que nenhuma foi tão transformadora quanto a cirurgia robótica" (foto: Geraldo Goulart)
Quando otimizamos o tempo de internação, conseguimos aumentar a rotatividade, atender mais pacientes e salvar mais vidas. Além disso, reduzimos custos com infecção e complicações, atraímos bons profissionais e oferecemos tecnologia de ponta para os nossos médicos e pacientes”. 
 
A executiva destaca ainda que, atualmente, dos equipamentos robóticos no Brasil, mais de 30 pertencem à Rede D’Or. “Sem dúvidas, a tecnologia nos permite vislumbrar um futuro da saúde mais humanizado, eficiente e acessível.” 

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