
Em Belo Horizonte, construtoras apontam como a digitalização e a industrialização dos processos estão reconfigurando o canteiro de obra em um fenômeno que passa tanto por uma nova forma de gestão quanto por tecnologias que permitem planejar, prever e controlar cada etapa da execução. Mas não só. Segundo as empresas ouvidas pela reportagem, a eficiência de hoje não é fruto apenas de máquinas ou softwares sofisticados, mas de uma reorganização profunda da cultura de produção – algo que envolve engenharia, suprimentos, fornecedores e equipes de campo trabalhando sob um mesmo fluxo de informações.
Os números falam por si. Nos últimos dois anos, por exemplo, a Patrimar Engenharia passou por uma reformulação de processos e reduziu em até 50% as reemissões de projetos, alcançando 95% de aderência ao planejamento executivo e diminuindo compras emergenciais para menos de 4% do total – um indicador direto de maturidade na gestão de obras. Os bons resultados se desdobram em outros indicadores, com 80% das unidades aprovadas já na primeira vistoria. Além disso, o índice de performance de execução (IPE) da companhia se mantém acima de 0,90, um dos mais altos do setor. Para a empresa, esse conjunto de dados representa um retrato de boa organização, e prova como decisões tomadas ainda na etapa de projeto reduzem riscos e criam um caminho mais seguro até a entrega final.
Para alcançar tais padrões, a otimização é buscada já no projeto, tendo como “pilar estratégico” o uso da metodologia BIM – uma sigla para Building Information Modeling. Trata-se de uma espécie de modelo virtual que reúne, em um só ambiente, todas as informações da obra, permitindo prever problemas, ajustar decisões e conectar equipes. “Ele aumentou a previsibilidade da obra, permitiu simulações antecipadas e reduziu conflitos. Hoje, todos os projetos já são desenvolvidos em BIM”, explica o diretor-geral de obras Rodrigo Valente, sobre o recurso que permite que, antes mesmo de colocar um tijolo no lugar, a obra já exista digitalmente, com cada detalhe testado e aprovado. Esse modelo antecipado ainda facilita o diálogo com fornecedores, que recebem especificações mais claras e podem ajustar sua linha de entrega de acordo com o ritmo real da obra.
Felipe Ribeiro Motta, gestor de produção da MRV, conta que a construtora também atravessa uma “nova jornada de produção”, baseada em soluções digitais, inteligência artificial e, igualmente, no uso da metodologia BIM. “A adoção de tecnologias avançadas contribui expressivamente para o aumento da produtividade e a redução de desperdícios”, garante. Segundo ele, a digitalização permitiu um controle mais rigoroso de medições, do uso de materiais e do avanço físico das obras, evitando paradas desnecessárias e garantindo que cada tarefa seja realizada no momento mais adequado.

A Patrimar também opera com sistemas que conectam setores e reduzem falhas. A empresa usa o SAP, um dos ERPs mais utilizados no mundo, integrado ao Oracle Unifier, plataforma que organiza as transações internas da engenharia. De maneira simples: cada etapa da obra, cada compra e cada uso de material são rastreados, planejados e alinhados. “As requisições já nascem com alocação de uso definida, garantindo apropriação correta. Isso facilita o controle de custo e consumo”, informa Valente. O grupo também testa softwares de planejamento que trabalham com curvas de produção e linhas de balanço – recursos que permitem não só medir o que está acontecendo, mas prever gargalos e ajustar rotas. Com isso, a empresa reduz o improviso e ganha uma previsibilidade que seria impensável sem esse nível de análise cruzada.
Com a mão na massa

Já a Patrimar aposta em soluções como drywall, shafts padronizados, kits hidráulicos e elétricos e sistemas de montagem mais racionalizados. “Nosso foco é construir canteiros mais enxutos, seguros, eficientes e sustentáveis, com equipes alinhadas à cultura da melhoria contínua”, situa Rodrigo Valente. Essa racionalização também melhora o ambiente de trabalho: menos improviso significa menos retrabalho, menos descarte, menos risco e mais condições de executar tarefas com qualidade desde a primeira vez.

Futuro
Se hoje as construtoras já usam dados, automação e modelagem digital, os próximos anos devem ampliar ainda mais o uso de inteligência artificial, sensores, análise preditiva e até robótica. Felipe Motta enxerga a próxima fase como uma ampliação do que já está em curso: “A inteligência artificial e a análise de dados vão desempenhar papel ainda mais central, prevendo cenários e automatizando decisões”. Ele cita ainda a construção modular e o uso crescente de robôs como tendências promissoras, sobretudo para etapas repetitivas e de alto impacto na produtividade.
