Publicidade

Estado de Minas

O homem do diálogo


postado em 06/07/2012 12:22

Miguel Corrêa Jr., que  vai compor a chapa para  a reeleição de Marcio Lacerda à PBH(foto: Geraldo Goulart, Cláudio Cunha, Cristina Horta EM/DA Press, Divulgação, Leo Araújo)
Miguel Corrêa Jr., que vai compor a chapa para a reeleição de Marcio Lacerda à PBH (foto: Geraldo Goulart, Cláudio Cunha, Cristina Horta EM/DA Press, Divulgação, Leo Araújo)

“A ação política é cruel, baseia-se numa competição animal. É preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo”. A frase do jornalista mineiro Otto Lara Resende resume bem a perversa lógica que rege a política brasileira. Ambiente extremamente competitivo, onde não existem amigos, apenas aliados, ganha aquele que for mais agressivo. E que sabe se colocar na berlinda. Mas, como toda regra tem sempre sua exceção, com a lei de Otto não é diferente. E a indicação do deputado federal petista Miguel Corrêa Júnior, 34 anos, como vice na chapa que tentará a reeleição do atual prefeito Marcio Lacerda, é prova cabal disso.

 

Discreto, sem fazer alarde, ele conseguiu vencer a disputadíssima convenção interna do PT no mês passado e desbancar velhos caciques do seu partido. De forma serena e sem nenhuma agressividade, ele vai, mineiramente, transformando-se numa das mais importantes lideranças políticas do seu partido. Modesto, Miguelzinho, como é conhecido entre os colegas de militância, é comedido quando relembra sua trajetória. Falando sempre baixo, parece ter o dom de não perder nunca a calma. Nem mesmo quando o assunto é a estressante reedição da aliança do PT e PSDB para as eleições deste ano na capital mineira. “Sou de outro tempo. Não tenho, na minha origem, o enfrentamento aguerrido como virtude política. Nunca acreditei nisto”, explica sem alterar a voz.  “Posso ter adversários. Não inimigos”, afirma.

 

Falar de maneira direta, sempre às claras, parece ser mesmo o estilo deste jovem político, que teve uma trajetória impressionantemente rápida. Em 2004 foi eleito, com 9.055 votos, o vereador mais jovem da capital mineira. Tinha apenas 26 anos. Antes de concluir seu mandato de vereador, se transformaria deputado federal com mais de 80 mil votos. Em 2010, foi reeleito com ainda mais votos: 113 mil.

 

O ministro Fernando Pimentel, o “descobridor” do deputado: o então prefeito ficou impressionado com o líder estudantil quando o conheceu, em 2003
 

 

Para se entender a ascensão de um político do estilo de Miguel Corrêa Jr., que prioriza a conciliação e o diálogo, é preciso estar atento a uma importante mudança da política brasileira nos últimos anos: a chegada de uma nova geração ao poder, mais objetiva e prática. E pouco apegada a discursos ideológicos raivosos. “Ele é o principal representante da nova geração da política nacional”, elogia o vereador petista Silvinho Rezende. “Uma geração que tem outra lógica política. Sua atuação transcende as fronteiras dos partidos por meio da conciliação”, afirma Rezende.

 

Outro que não poupa elogios a Miguel é o prefeito Marcio Lacerda. Ainda traumatizado com a desastrosa experiência que teve com o seu vice atual, o petista histórico Roberto de Carvalho, Lacerda ficou satisfeito (e aliviado) com a escolha do jovem líder. “Conheço o Miguel desde 2008. Ele é um companheiro de primeira viagem. Agora, como candidato a vice, tenho certeza de que terá um papel fundamental na nossa campanha”, diz Lacerda.

 

O deputado federal tucano Marcus Pestana, um dos articuladores da aliança pela reeleição de Lacerda: “Miguel é um fiel aliado”
 

 

O mesmo alívio, aliás, do deputado federal Marcus Pestana, presidente do PSDB-MG, um dos melhores interlocutores de Miguel na oposição e dos principais responsáveis para a reedição da aliança entre tucanos e petistas este ano. Para Pestana, o bom senso e a coerência acabaram prevalecendo na escolha de Miguel para vice. “Ele é um fiel aliado e um bom nome”, conta. “Até porque não teria muito sentido escolher um vice que fosse contrário à manutenção da aliança”, alfineta o tucano.

 

Pragmático sem deixar de ser idealista, o deputado Miguel Corrêa Jr. admite estar mais interessado na política que apresente resultados. Para ele, o mais importante é construir uma aliança que seja o melhor para BH: “Minha ideologia não pode atrapalhar a administração da cidade. Sou diplomático”, resume.

 

E foi exatamente este espírito diplomático que acabou levando Corrêa para o mundo da política. Muito cedo, ainda no segundo grau, ele já militava no movimento estudantil. De 2000 a 2006, exerceria a presidência da ONG Mudança Já. A organização não-governamental fundada por ele até hoje ajuda no desenvolvimento de sua região de origem, Venda Nova, em Belo Horizonte. “A política serve para isto: melhorar a vida das pessoas mais necessitadas. Senão, não tem sentido”, explica.

 

Na campanha de 2010, quando Corrêa foi reeleito com 113 mil votos: estilo discreto e firme na atuação política
 

 

Mas de onde vem a inegável vocação política de Miguel e que acabou transformando-o numa importante liderança de sua geração? Os amigos mais próximos não têm dúvidas: a vocação veio mesmo do pai do deputado federal, o oficial da Polícia Militar Miguel Corrêa da Silva, que acabaria se afastando da corporação durante a ditadura militar por não concordar com os métodos truculentos, tão comuns durante aquele período. Miguel se emociona ao falar do pai, que morreu em 2005, aos 66 anos: “Ele era uma pessoa muito solidária, um homem muito humano. Apesar de nunca ter participado diretamente da vida pública, me inspiro muito nele, sim. Lembro sempre dele me dizendo: na vida pública, a gente tem de ter muita coragem. Resistir sempre”, conta.

 

Mas seria mesmo a amizade com Fernando Pimentel, atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e ex-prefeito da capital mineira por dois mandatos, que acabaria jogando Miguel Corrêa Jr. definitivamente no mundo da política. Um dia, Pimentel, então candidato à reeleição para a prefeitura, foi até a faculdade onde Miguel era estudante. Durante o debate, o experiente político ficaria impressionado com o talento do jovem líder do DCE. E, ali mesmo, Pimentel convidou Miguel para se lançar candidato a vereador.

 

Mais de 10 anos depois, o deputado se diverte ao se lembrar da história: “O Pimentel é mesmo um grande amigo. E temos este ponto em comum: acreditamos no diálogo”, conta. Para em seguida confessar. “Todos sabem, inclusive o prefeito Marcio Lacerda, que caso o Fernando [Pimentel] seja candidato em 2014, ele será meu candidato”.

 

Colega de Câmara Federal, o deputado Luís Tibé, do PT do B, diz sobre Miguel Corrêa: “Ele é mesmo um batalhador”
 

 

Segundo o deputado federal Luís Tibé, do PT do B, a trajetória vitoriosa de Miguel não é mera obra do acaso, mas o resultado de um trabalho que começou ainda nos anos 1990. “A juventude e o espírito de grupo fizeram o Miguelzinho chegar onde chegou com sua pouca idade”, afirma o amigo. “Ele é mesmo um batalhador”, completa.

 

Casado com a advogada Renata Corrêa há cinco anos e pai da pequena Mila, que no mês passado completou 1 ano, Miguel faz questão de não abandonar as suas origens. É o que garante seu amigo de mais de uma década Christiano Carneiro, diretor da Rádio Extra: “Conheço o Miguel há muito tempo. Ele é um cara de uma coerência impressionante. Apesar da grande correria que virou sua vida nos últimos anos, sempre que ele pode nos encontramos”. 

 

E Miguel Corrêa Jr. como se definiria? O deputado para um instante, pensa e diz, com a calma que lhe é peculiar, mas muito seguro de si: “Sou bem mineiro. Um mineiro pé-no-chão”.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade