Quatro minutos ou 240 segundos. Este é o espaço de tempo que pode separar vida e morte em condições clínicas extremas. Nessas circunstâncias, ao longo dos últimos três anos, 79 pessoas se recuperaram s após darem entrada, em estado gravíssimo (in extremis) na sala de emergência, mais conhecida como Onda Vermelha, do maior hospital de trauma da América Latina, o João XXIII (HJXXIII), da Rede Fhemig.
A taxa de sobrevida dos casos de risco iminente de morte atendidos pelo HJXXIII fica em torno de 36%, número significativamente maior que o percentual apresentado pelos melhores hospitais de trauma do mundo, cujos pacientes in extremis têm uma sobrevida em torno de 20%.
Um exemplo aconteceu em agosto de 2012, quando o estudante Guilherme Abras Frauche foi um dos seis pacientes atendidos pela Onda Vermelha. Baleado no coração e pulmão direito após uma tentativa de assalto, o jovem, de 22 anos de idade, deu entrada no hospital em estado de quase morte. Em menos de um minuto, Frauche já se encontrava no Centro Cirúrgico para uma cirurgia de emergência. No dia seguinte, o estudante dava sinais de que iria se recuperar, o que de fato aconteceu 20 dias depois.
Ao se recordar do período em que ficou internado no João XXIII, Guilherme faz questão de exaltar a equipe da sala de emergência e como eles foram essenciais para a manutenção de sua vida. “Tenho uma gratidão enorme pelos médicos e por toda a equipe do hospital que me atendeu naquela noite. Penso no João XXIII com muita frequência. Já retornei algumas vezes, para rever as pessoas que me ajudaram”, diz.

Leonardo Porto atua no pronto socorro desde 1997, quando ainda era médico residente. Para ele, o grande diferencial do HJXXIII está no fato de a maioria dos cirurgiões ter sido residente do hospital. “O amor que temos pelo hospital faz com que permaneçamos após concluir a residência. Sentimos como se fossemos uma grande família. Há uma identificação profunda com a instituição”, revela.
Atendimento
No ranking das causas de entrada em situação de “Onda Vermelha”, ocupa o primeiro lugar os politraumatismos decorrentes de colisões automobilísticas que respondem por metade dos casos, seguidos pelos ferimentos por arma de fogo (30%) e por arma branca (15%).
O Protocolo Onda Vermelha, que neste ano completa 10 anos de implantação, foi criado como resultado da experiência adquirida, ao longo dos anos, pelos profissionais do João XXIII que atuam na assistência aos pacientes vítimas de traumas muito graves e que se inquietavam com a alta mortalidade apresentada por estes pacientes atendidos na unidade hospitalar. Além disso, a Onda também visa garantir condições adequadas de trabalho e segurança para a equipe envolvida nesta modalidade de assistência (cirurgiões, residentes, anestesistas, profissionais da enfermagem e do banco de sangue).
Histórico
Originalmente, a Onda Vermelha deveria ser usada apenas para traumas (ou ferimentos) penetrantes. No entanto, com o passar do tempo ela foi adotada também para alguns casos de trauma contuso ou fechado (resultante do impacto do corpo contra uma superfície), como forma de agilizar a intervenção cirúrgica nesses pacientes.
“Hoje em dia, os pacientes são cada vez mais graves, principalmente em razão de acidentes motociclísticos”, afirma Domingos André Fernandes Drumond, coordenador da Cirurgia do Trauma do Hospital João XXIII e um dos responsáveis pela elaboração dos protocolos em trauma do hospital.