Estado de Minas PLURALIDADDE

Festival Acessa BH celebra diversidade a partir desta quinta-feira (5)

Espetáculos, filmes, música e oficinas marcam a 5ª edição do maior evento de cultura de pessoas com deficiência do país, realizado em Belo Horizonte


postado em 01/09/2025 10:22 / atualizado em 01/09/2025 10:28

A paulistana Estela Lapponi apresenta, em 18 de setembro, o espetáculo
A paulistana Estela Lapponi apresenta, em 18 de setembro, o espetáculo"CAPENGÁ!" (foto: Ligia Jardim/Divulgação)
Maior evento dedicado à cultura de pessoas com deficiência no país, o Festival Acessa BH realiza sua 5ª edição entre esta quinta-feira (5) e 28 de setembro. A programação gratuita reúne mais de 30 atrações, entre espetáculos, filmes, videoclipes, oficinas, bate-papos e o lançamento de um livro, distribuídas em diferentes espaços culturais da cidade: Sesc Palladium, Palácio das Artes, Funarte MG e Centro Cultural Unimed-BH Minas.

 

Com artistas vindos de nove estados brasileiros e do Reino Unido, o festival reafirma a força, a criatividade e a pluralidade da produção cultural de pessoas com deficiência. 

 

A abertura acontece nesta quinta-feira, às 20h, no Sesc Palladium, com o espetáculo “Monga”, da atriz e diretora cearense Jéssica Teixeira, vencedora do 35º Prêmio Shell de melhor direção. A montagem evoca a artista mexicana Julia Pastrana, conhecida como “Monga”, e discute a marginalização de corpos dissidentes. Ao tensionar o que é visto como natural ou monstruoso, o espetáculo mistura terror psicológico e doses de humor, ressignificando memórias e afetos. No dia domingo (7), também no Sesc Palladium, será lançado o livro com a dramaturgia da peça.

 

A programação se divide em 14 apresentações de teatro, dança, música e performance; quatro oficinas; cinco filmes; três videoclipes; quatro bate-papos pós-espetáculos; uma roda de conversa e um lançamento de livro. “Mais do que uma seleção de espetáculos, a curadoria propõe um campo de encontro e troca, onde diferentes modos de criação possam conviver e provocar o público a refletir, sentir e imaginar futuros possíveis. Um convite à escuta atenta e ao deslocamento dos olhares, que valoriza tanto a expressão poética quanto o engajamento político da cena contemporânea,” afirmam Daniel e Lais Vitral, coordenadores e curadores do festival.

 

Entre os destaques da programação está “Os Irmãos Karamázov”, adaptação do clássico de Dostoiévski estrelada e dirigida por Caio Blat ao lado de Marina Vianna, no dia 12 de setembro, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. No dia seguinte, o mesmo palco recebe Hermeto Pascoal & Grupo, com show repleto de improvisações e experimentações sonoras.

 

Na Funarte MG, a paulistana Estela Lapponi apresenta, em 18 de setembro, “CAPENGÁ!”, solo híbrido que transforma a instabilidade em linguagem estética ao articular som, corpo e tecnologia sob uma perspectiva política sobre a deficiência. No dia 25, a britânica Dora Colquhoun traz “That’s Why Deers Run”, resultado de parceria com a organização DaDa e a companhia ZU-UK. Encerrando a programação, em 28 de setembro, às 19h, o coletivo Aquilombamento Ficha Preta (SP) apresenta “OZ”, espetáculo bilíngue em Libras e português que discute amor, negritude e resistência afetiva.

 

Outras criações ampliam o alcance artístico do festival. O ator e cineasta Victor Di Marco (RS) apresenta o solo “Azul Marítimo”, seguido de bate-papo, em que explora os movimentos involuntários do corpo como ondas persistentes entre o íntimo e o erótico. O artista também dirige o curta “Zagêro”, exibido na mostra audiovisual. Céu Vasconcelos (CE) traz a performance “O corpo, o peso, o descanso”, na qual percorre o espaço com uma prótese de quatro metros para reivindicar memória e presença de corpos marginalizados.

 

A programação também inclui os espetáculos “Pequeno tratado sobre a leveza das pedras” (PA), de Rô Colares, que cruza performance, escrita e ancestralidade indígena, e “Hereditária”, de Moira Braga (RJ), primeira criação autobiográfica da artista, que parte da descoberta de uma condição genética rara para discutir heranças e escolhas.

 

No campo infantil, o festival apresenta “Maria quer ser rio”, da Coletiva de Palhaças do Amazonas, que narra a história de uma menina com baixa visão que vive em uma casa flutuante e descobre sua ancestralidade amazônica. O grupo mineiro Sapos e Afogados, criado em centros de saúde mental, encena “Biruta”, montagem que explora saúde mental na infância com elementos da palhaçaria. Já “Spectrum”, criado por artistas de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, oferece experiência cênica sensorial com plateia reduzida e adaptação de luz e som, reforçando a ideia de que cada corpo sente e percebe de forma única.

 

A música ganha espaço com Hermeto Pascoal, mas também com o grupo mineiro Trem Tan Tan, que apresenta “Trem Negreiro” com participação de Fran Januário e Júlia Rocha. Formado por usuários do sistema de saúde mental, o coletivo ressignifica termos pejorativos em um show de resistência e luta antimanicomial.

 

O cinema traz longas de peso. “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025, será exibido pela primeira vez em Belo Horizonte com acessibilidade em Libras, legendas e audiodescrição. Outro destaque é “Nem Toda História de Amor Acaba em Morte”, de Bruno Costa, realizado por elenco e equipe com pessoas negras, trans e com deficiência auditiva.

 

A mostra de curtas inclui “Nunca Me Viram Gritar” (SP), “Depois Vem o Silêncio” (PR) e “Zagêro” (RS). Cada sessão será aberta com videoclipes do projeto Atelier de Criação, de Belo Horizonte, que promove a composição coletiva com artistas com e sem deficiência.

 

O caráter formativo aparece nas quatro oficinas: “Cultura e Acesso: A Acessibilidade como Criação no Cinema e na Arte”, com Ademar Alves Jr. e Sara Paoliello; “Veja com outros olhos”, com Dudu Melo e Junior Dias; “DanceAbility”, com Estela Lapponi; e “Ponto(s) de Encontro(s)”, com Oscar Capucho e Bruno Aguiar. Haverá ainda uma roda de conversa no dia 10 de setembro, na Funarte MG, sobre soluções práticas de acessibilidade cultural, além de bate-papos após espetáculos como “Azul Marítimo”, “Biruta”, “That’s Why Deers Run” e “Spectrum”.

 

Acessibilidade

 

A acessibilidade é um compromisso central do evento. Todos os espaços contam com estrutura física adequada, cadeiras de rodas para empréstimo e permitem o trânsito de cães-guia. Filmes e espetáculos terão legendas descritivas, janelas de Libras e audiodescrição. Também haverá intérpretes de Libras/Português em oficinas e bate-papos, além de abafadores de ruído e pranchas de comunicação alternativa. A Funarte ainda terá uma sala de regulação sensorial. “A coordenação de Acessibilidade procura pensar esse quesito de forma integral, com a participação ativa da equipe de consultores, desde o planejamento do Festival. Esse trabalho conjunto inclui visitas técnicas aos espaços de apresentação, proposição de pautas e estratégias de comunicação, e análise de diversos recursos de acessibilidade para cada atividade do evento. Para além do conhecimento teórico, as vivências com a equipe, artistas e público do Acessa sempre provocam novas reflexões, e motivam nossa busca constante de fazer um Festival cada vez mais diverso, acolhedor e potente”, explica Anita Rezende, coordenadora de Acessibilidade do Acessa BH.

 

Festival Acessa BH 2025

 

Período: 5 a 28 de setembro de 2025

Abertura dia 5 de setembro, às 20h, no Sesc Palladium (Grande Teatro, plateia reduzida), com o espetáculo “Monga”, de Jéssica Teixeira

 

Entrada gratuita - Programação completa disponível em www.acessabh.com.br

 

 

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação