Publicidade

Estado de Minas

Madeira de lei


postado em 06/07/2011 09:54

Ricardo Caus, da Madecaus: “Crescemos 11% em 2010 e esperamos pelo menos 10% este ano”(foto: Geraldo Goulart)
Ricardo Caus, da Madecaus: “Crescemos 11% em 2010 e esperamos pelo menos 10% este ano” (foto: Geraldo Goulart)

Os novos hábitos dos brasileiros quando o assunto é a construção da casa própria têm deixado animados os empresários do setor madeireiro. O sócio-proprietário da Palowa, Edgard Cançado Filho, é um deles. A projeção é de que a sua empresa, que tem lojas em Belo Horizonte, Contagem, Ipatinga e Salvador, e é hoje a maior de Minas, cresça de 10% a 15% em 2011, seguindo o otimismo predominante desde o fim de 2008. “O consumidor quer conforto, qualidade. Hoje a dona de casa faz questão de acompanhar o processo que vai deixar a casa do jeito que ela se sente mais à vontade, e não é empecilho ter de pagar mais por isso. Ela procura decoradores, arquitetos e não quer que o marido tome as decisões sozinho”, acredita.

 

Para não perder o ritmo de ascensão do faturamento, Edgard e seu cunhado, João Bosco Tavares Lanna, sócios desde 1989, têm planejado os investimentos anuais com o máximo de antecedência. “É um desafio constante conquistar o cliente”, diz. Aos poucos, eles foram adaptando a empresa, que começou com os conhecimentos de carpintaria de Edgar Cançado (pai), vendendo diretamente para o consumidor final, e hoje atende principalmente a marceneiros, que trabalham como “parceiros” da Palowa e compram de lá a matéria-prima para construir armários.

 

Os sócios Edgard Cançado Filho e João Bosco, da Palowa, hoje a maior do estado: investimento de R$ 2 milhões em maquinário e expectativa de crescimento de 10% a 15% este ano
 

 

O MDF é atualmente o carro-chefe das lojas, e os diferenciais, segundo os proprietários, são a qualidade e o estoque, que “não deixam o freguês na mão”. Há 11 anos, desde que começaram a focar nesse público-alvo, já foram investidos mais de R$ 2 milhões só em máquinas de corte e filetamento de compensados. “Fazemos o possível para facilitar o trabalho do marceneiro. A maior parte do material sai daqui já pronta para montar”, conta Edgard Cançado Filho.

 

De acordo com Ricardo Caus, presidente da Acomac, braço da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) em Minas Gerais e dono da Madecaus, ainda não dá para saber como o mercado vai reagir à eventual saída da Macal do setor, mas o otimismo predomina: “O momento é bom para as madeireiras. A Acomac tem 1.200 associados e a gente percebe que muitos deles querem investir, porque sabem que o retorno será bom”. Segundo ele, a restrição ao crédito, uma das medidas adotadas pelo governo federal no ano passado para conter a inflação, tem influenciado as vendas, “mas nada que desanime o brasileiro de comprar móveis”. Ele relata que a Madecaus cresceu 11% em 2010, e tem projeção de, no mínimo, outros 10% para 2011.

 

Mauro José Sá Moreira, da Paranaense: “Aquela imagem de madeireiras empoeiradas é passado”
 

 

Belo Horizonte é a capital que proporcionalmente mais comercializa móveis no Brasil. Números apurados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) indicam que 60% deles são oriundos de marcenaria. Não é por acaso que o setor madeireiro em Minas é tido como referência para especialistas e empresários.

 

O consultor Ari Bruno Lorandi, da Intelligence Group – empresa com sede em Curitiba que promove palestras e cursos em várias regiões do país, por meio do Sebrae – explica que só no ano passado foram financiadas mais de 1,2 milhão de moradias no Brasil. E o reflexo nos lucros das madeireiras é direto porque, segundo ele, a cada R$ 100 gastos na construção, outros R$ 10 são posteriormente investidos em mobiliário. “A perspectiva continua boa em três, quatro ou cinco anos depois que já se comprou madeira para levantar a casa. As pessoas vão comprando móveis novos ou trocando os antigos, e fazem isso também em longo prazo”, comenta.

 

Ainda segundo Lorandi, as madeireiras de Belo Horizonte têm o perfil de acompanhar tendências de consumo, apesar de serem tradicionalistas e muitas delas geridas por grupos familiares. “A marcenaria mineira é forte e a gente vê como é interessante que, cada dia mais, as pessoas optam por móveis personalizados. O aumento do PIB per capta tem permitido que as casas tenham ‘a cara do dono'”, disse.

 

Mauro José Sá Moreira, dono da Paranaense, explica que existem diferentes segmentos na venda de madeiras. Os fregueses que optam pelo material maciço são os que procuram móveis exclusivos, geralmente mais caros, principalmente as mesas e as cadeiras. Mas os armários, responsáveis pelo maior volume de vendas na marcenaria, são fabricados principalmente a partir de compensados.

 

Os negócios da Paranaense são mais direcionados à carpintaria, com venda de portas e janelas, e suas perspectivas não são muito diferentes das de outras empresas, inclusive de parentes seus (incluindo a Madepal e a Paraná). “Ano passado, a Paranaense cresceu 20% e este ano estamos focando mais em investimentos. Quero aumentar meu mix de produtos e focar tanto em carpintaria quanto em marcenaria. Pretendo abrir mais uma loja”, disse. Assim como a Palowa, a Paranaense também recebeu investimentos em máquinas novas. Mais de R$ 1 milhão já foi aplicado e mais que o dobro disso deve ser investido até o final do ano.

 

Moreira conta que desde que os compensados começaram a vir do Chile, em 1995, e se popularizaram no Brasil, o mercado madeireiro vem se adaptando para responder aos anseios de um consumidor cada vez mais exigente. “Aquela imagem de madeireiras empoeiradas, cheias de quinquilharias e trabalhadores com uniformes sujos, é passado. Qualidade, bom atendimento e serviços de ponta são cada dia mais essenciais para se manter no mercado”, complementou.

 

O marceneiro mudou

 

Não é mais um “artesão” o marceneiro que, hoje em dia, é contratado para fazer um armário com as características específicas para o quarto ou a cozinha. Assim como a madeira maciça está cada vez mais sendo substituída pelos práticos compensados, em especial o MDF, o marceneiro tem se tornado um prestador de serviços e não mais aquele fabricante de móveis, tarefa hoje exercida pelas madeireiras. “Os marceneiros de agora têm mais que saber montar peças e organizar cronogramas de entrega do que qualquer outra coisa. O trabalho deles mudou. As madeireiras estão investindo em maquinários, e eles nem precisam mais ter aquelas oficinas”, comenta o consultor Ari Bruno Lorandi.

 

Para Sérgio Andrade Ramos, prestar um bom serviço ao medir, montar e entregar nas datas combinadas é o grande desafio dos marceneiros
 

 

Com quase 30 anos de profissão, Sérgio Andrade Ramos concorda que se comprometer em prestar um bom serviço ao medir e montar, e, principalmente, entregar nas datas combinadas, é hoje o grande desafio dos marceneiros. “Marcenaria não é fácil; sou da época que a gente tinha que pegar madeira bruta, cortar, levar na casa, medir, voltar e ajustar muitas vezes. Hoje o MDF é um material mais fácil de lidar, permite que a gente trabalhe com mais eficiência. Mas a prática ainda exige segredos”, comenta.

 

É fato que faltam no mercado jovens que se interessam por conhecer tais “segredos”. Sérgio acredita que a média dos salários iniciais (cerca de R$ 800) tem afastado interessados. “Mas quando se tem uma boa rede de indicação, a remuneração é muito boa. Chego a recusar serviços quando vejo que vou demorar muito mais que 60 dias para entregar”. Ele garante que chega a faturar R$ 12 mil em um mês.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade