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Estado de Minas

Portugal e Minas


postado em 24/02/2012 11:22

Muitas coisas ligam de maneira impressionante Minas Gerais a Portugal, além dos voos diretos da TAP. Relendo Saint-Hilaire, em seu livro Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, traduzido por Vivaldi Moreira, encontra-se a alusão à semelhança das igrejas e capelas mineiras com as portuguesas, e a presença de artistas portugueses que formaram esta excelente mão de obra brasileira.

 

E, agora, fazendo um passeio pelo interior de Portugal, chega a emocionar a semelhança de pequenas vilas com as nossas. Pena que as nossas não tenham a conservação e preservação tão apurada como as lusitanas, com a caiação instituída por Salazar e mantida até hoje ‒ base da presença de encantados turistas de toda a Europa nas regiões interioranas.

 

A arquitetura dos sobrados, dos casarios, calçadas de pedra, a apresentação de armazéns de secos e molhados, como se dizia ‒ tudo é muito parecido. Em dez dias de estradas secundárias, mas corretas, fixei bem muitas identidades. E, à medida que comentava com amigos locais, chegavam recordações e depoimentos, dados com a maior naturalidade e intimidade com Minas.

 

Na gastronomia, certamente é a cozinha mineira a que mais se aproxima da herança portuguesa. São as linguiças, o leitão, os queijos, mesmo os doces como ambrosia e canjica. E o pão de queijo é hoje presença comum nas casas, supermercados e lanchonetes. Curioso o conhecimento, entre as pessoas do povo com identidades regionais, de como os alentejanos se apresentam a brasileiros como “os mineiros de Portugal”.

 

Nos cerca de 150 mil brasileiros que trabalham em Portugal – antes da crise eram 165 mil, e hoje retornam ao Brasil cerca de mil por mês –, a maior presença é a mineira. E, nota-se, a mais bem acolhida.

 

O mais importante investimento de um único acionista controlador português no Brasil é a Soeicom, maior unidade da indústria cimenteira nacional. Foi construída pelo lendário Antônio Champalimaud, que montou casa em Vespasiano, onde viveu boa parte de seu exílio pós-25 de abril. Algumas empresas mineiras estão presentes em Portugal, como a Andrade Gutierrez, que fez boa parte de seu metropolitano; e outras empresas de turismo e varejo.

 

Minas e mineiros estão no imaginário português até na lembrança dos grandes embaixadores que lá tivemos, desde Francisco Negrão de Lima a José Aparecido de Oliveira. Além de Itamar Franco, lembrado como o “presidente-embaixador”.

 

JK, no exílio, também foi acolhido em Portugal, local que escolheu para o casamento de sua filha Márcia. O atual embaixador de Portugal na Unesco, o poeta Filipe de Castro Mendes, quando cônsul-geral no Rio de Janeiro, elegeu Tiradentes como seu destino de descanso habitual, sendo raro o mês em que não dava as caras no Traga-Luz, levando amigos de passagem. E sem esquecer que a CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa – se tornou realidade graças a dois mineiros, José Aparecido e Itamar Franco, e a um português, Mário Soares.

 

Uma olhada nas boas livrarias mostra logo a presença certa de autores mineiros. Carlos Drummond, Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Ziraldo Alves Pinto, e até as biografias de Chico Xavier. E aqui um escritor mineiro, Ricardo Malheiros Fiúza, em mais de um livro, exalta a terra pela qual assume sincera paixão.

 

Em momento de crise, como o que se vive em Portugal e na Europa em geral, o sentimento de simpatia pelo Brasil e por Minas em particular, e a boa acolhida aos mineiros por lá, podem servir de base para a consolidação de projetos de cooperação e integração na economia.

 

Mais do que observações e considerações, fica a mensagem de que, com crise ou sem crise, passar umas semanas em Portugal é encontrar nossas origens, nossa formação cultural, religiosa, ética e moral. A história em comum só pode fazer bem.

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