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Estado de Minas

Se eles falassem...


postado em 26/04/2012 12:33

A empresária Mirella Galvão e a Fila Bisteca:
A empresária Mirella Galvão e a Fila Bisteca:"Tinha medo que ela agredisse pessoas e outros animais" (foto: Geraldo Goulart, Maíra Vieira, João Carlos Martins)

Ele era tímido

 

Para a empresária Mirella Vieira Galvão, vencer a agressividade da Bisteca, Fila de três anos e meio, sempre foi um desafio. O temperamento instável da cadela lhe causava grandes problemas. “Tinha medo que ela agredisse outras pessoas e animais”. A solução foi buscar ajuda de um profissional qualificado. “Há cerca de um ano ela está sendo tratada por um terapeuta, e foi ele que nos mostrou que sua reação era por timidez e medo. Assim, ficou mais fácil lidar com a situação”.

 

 

Eles não sabem falar, mas sabem bem como se comunicar. Compartilhando os mesmos espaços que seus donos, ou até mesmo tomando conta do pedaço, os bichinhos de estimação expressam alegria, raiva, medo e outros sentimentos por meio de atitudes curiosas e mesmo engraçadas. Tudo para estar sempre em evidência e fazer o que mais gostam: chamar a atenção.

 

Como tática de conquista, alguns pulam freneticamente em seus donos em busca de carinho e não tem bronca que os faça parar. O segredo neste e em outros casos é fingir que nada está acontecendo e não atendê-los naquele momento. “Em cada caso, é necessário avaliar o comportamento do bichinho no ambiente em que ele vive e descobrir a forma como ele se relaciona com as pessoas”, orienta Tatiane Ichitani, especialista em comportamento animal da Cão Cidadão, clínica do adestrador Alexandre Rossi, de São Paulo (SP).

 

A especialista trabalha atendendo animais que apresentam algum distúrbio de comportamento que, em maior ou menor grau, incomodam seus donos e a convivência com outras pessoas e animais. O primeiro passo é avaliar o animal e criar uma estratégia para solucionar o problema, todos com base em mudanças comportamentais do pet e de seu proprietário. E garante: “Os resultados alcançados são sempre muito satisfatórios, inclusive com os gatos, que são mais ariscos e individualistas”.

 

Bicho ciumento, por exemplo, é dor de cabeça na certa e demonstra a falta de liderança do dono. “O animal entende que é o dominante da relação”, explica o terapeuta canino Humberto Araújo. Tratar o bichinho como se fosse gente também pode gerar várias distorções em seu comportamento. Isso faz com que ele tenha, por exemplo, dificuldade de conviver com outros animais da sua própria espécie.

 

Ansiedade é coisa que bicho não gosta, e para extravasar este sentimento eles simplesmente destroem tudo que veem pela frente - atitude comum na ausência de seus proprietários – ou se entregam à tristeza e à apatia. Para resolver o problema, é necessário diminuir a expectativa dos animais e não fazer festa ao sair ou chegar em casa, para que o gesto não seja associado a partidas e chegadas. Deixar alguma roupa ou objeto de uso pessoal junto ao bichinho controla o estresse, dando-lhe a ideia de que o seu dono está presente.

 

 

 

A prática de exercícios físicos também ajuda, já que queimando energias os pets ficam bem mais tranquilos.Outra queixa constante dos proprietários é nunca conseguir comer em paz. A solução é não ceder à chantagem emocional e jamais dar pedaços de comida ao bichinho, mesmo que ele insista muito. Se o coração amolecer, coloque-o em outro local até terminar a refeição. Assim, ele aprende que latir, chorar ou pular não vai dar resultado.

 

Os pequenos animais que adoram marcar território em lugar errado também devem ser corrigidos; afinal, ninguém aguenta encontrar xixi por todo o lado. Para incentivá-los a usar o local certo para as necessidades fisiológicas, a dica é dar uma recompensa nos momentos de acerto e bronca só quando for pego no flagra; caso contrário, ele não vai entender. 

 

E o medo também faz parte do dia a dia animal. Quando estoura aquele foguete, não há bicho que não se esconda. O motivo é simples: eles ouvem o barulho como uma intensidade quatro vezes maior do que o ser humano, e para que se acostumem com os ruídos é bom deixá-los ouvir música e outros tipos de sons desde pequenos.

 

Segundo o terapeuta canino Jean Cloude, entender algumas manias do mundo pet é essencial para que os donos não se assustem com suas preferências, mesmo aquelas mais estranhas. “Já vi casos em que os donos desistiram de seus animais por estes terem atitudes que não lhes agradavam”, afirma.  A mais comum delas é cheirar o traseiro de outros cães, assim como suas fezes. O que nos parece bem incomum, para eles é apenas a necessidade de investigar informações sobre seus companheiros de espécie – como o sexo, por exemplo.

 

Já aqueles acometidos pela coprofagia – ato de comer fezes –, geralmente são filhotes que sentem o cheiro da própria ração nos dejetos, ou repetem o ato do dono ao vê-lo catá-los. “Tudo é questão de aprendizado. Mas os proprietários têm de ter paciência para ensinar. Eu sempre digo que o animal é como uma criança que deve ser educada desde pequena, senão com certeza vai dar trabalho”, diz o adestrador Germano Soths.

 

Medo de gente

 

Basta ouvir vozes diferentes dentro de casa para
que a gatinha Kate, de 1 ano, corra e se esconda entre
os lençóis da cama de sua dona, a técnica em segurança
Érika Moreira Miranda. “Ela chega a ficar o dia todo
escondida, sem fazer suas necessidades ou se alimentar”,
diz Érika. Ao consultar um profissional, descobriu
que tanto medo se deve a um trauma que teve quando
recém-nascida. “Ela foi muito mal tratada na rua,
e quando a adotamos, já veio com este pavor de gente.
Mas aos poucos está se adaptando”.

 

Xixi por toda a casa

 

De três anos para cá Luck – yasa apso de 6 anos –
começou a fazer xixi em cada canto da casa. O pior é
que de tanto ser reprovado, entendeu que não podia
fazer suas necessidades na frente das pessoas, passando
a fazê-las somente escondido. “Com isso, ele ficava
horas segurando”, conta a empresária Rosana Castro
Lima. Com a ajuda de um terapeuta, Rosana descobriu
que Luck precisa ser incentivado quando acerta o local
e reprovado apenas quando fosse pego no flagra.
“Ao corrigi-lo daquela maneira, estávamos agravando
o problema”.

 

Crise de ansiedade

 

Após a mudança de sua família dos Estados Unidos para
o Brasil, em outubro de 2011, o Governador – um cão
Golden Retriever de 1 ano e meio – passou a ter crises
de ansiedade toda vez que ficava sozinho em casa.
“Ele incomodava muito os vizinhos com seu choro
quando saíamos. Era uma agonia para ele e para nós”,
conta a gerente de operações Jennifer Keefer, sua dona.
A solução que ela e o marido, o gerente de produção
Scott Keefer, encontraram foi buscar ajuda profissional.
“Hoje ele já não chora mais”.

 

Latido incessante

 

A pequena Pipa, West Highland de oito meses de idade, latia desesperadamente ao avistar outros cães na rua quando ia passear.  Sua dona, a professora universitária Ana Hortência Castro, chegou a evitar os passeios por conta dos transtornos. “Com isso, nosso outro cão, Halph, um West de três anos, também foi prejudicado porque estava impossível sair com eles, porque incomodavam
a todos”. O que parecia agressividade não era nada
mais que excesso de euforia ao encontrar um amiguinho. Diagnóstico que só o terapeuta conseguiu identificar. “Agora ela está bem mais tranquilo”.
 

 

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