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Estado de Minas

O rock venceu


postado em 18/05/2012 12:07

O cantor Joe Cocker no Chevrolet Hall, em março: casa cheia e fãs apaixonados(foto: Gualter Naves/divulgação, João Carlos Martins)
O cantor Joe Cocker no Chevrolet Hall, em março: casa cheia e fãs apaixonados (foto: Gualter Naves/divulgação, João Carlos Martins)

"Cara, parece até sonho. Mas é verdade: mesmo com grande atraso, entramos finalmente no circuito do rock”, comemorava Adriano Falabella, o mais popular dos cabeludos da cidade, enquanto esperava o show de Morrisey começar, no Chevrolet Hall, em março. Conhecido como a “Enciclopédia do Rock”, Adriano é capaz de se lembrar de datas, nomes completos e detalhes de todos os roqueiros de maneira impressionante. E agora ele tem, todo mês, o programa predileto garantido. “Este ano estou com a agenda cheia. Bob Dylan e Joe Cocker no mesmo semestre. É bom demais. Estou muito feliz: o rock and roll venceu”, diz o roqueiro.

 

Inserida no calendário internacional dos grandes shows, a capital das alterosas tem sido visitada até mesmo por gente de fora, que vem até aqui especialmente para assistir aos shows. Caso, por exemplo, do jornalista gaúcho Eduardo Bueno, que viajou de Porto Alegre para ver o espetáculo de Bob Dylan junto com o amigo mineiro, o artista plástico Fernando Vignoli. “Adorei o show de BH. Para milhares de pessoas foi uma noite histórica e que será lembrada por anos. Vi uma meninada de 13, 14 anos, e vários deles sabiam as letras de cor. O rock está vivo, vivíssimo. Creio que não se pode duvidar que a tocha foi passada para frente”, diz o escritor, fã incondicional de Dylan, de quem já viu mais de 70 shows.

 

As amigas Mariana Albertine, Elisa Lages e Letícia Naves: elas não perderam as apresentações de Morrisey e de Bob Dylan em BH
 

 

Bueno tem razão. As novas gerações parecem mesmo inteiradas com o rock. Caso das amigas Mariana Albertine, 18 anos, Elisa Lages, 19, e Letícia Naves, 18. Estudantes da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), as três não perdem um show. As amigas estiveram presentes tanto no concerto de Morrisey quanto no de Bob Dylan. “Quando é rock a gente sempre vai”, conta Mariana.

 

O jornalista e crítico musical Adriano Falabella: “Este ano estou com a agenda cheia. Bob Dylan e Joe Cocker no mesmo semestre é bom demais"
 

 

Tanto interesse pelo velho e bom rock and roll também pode ser comprovado nas ondas do rádio. É o que garante o gerente de programação da Rádio Guarani, Kiko Ferreira. Segundo ele, o programa Kacophonia, do produtor musical Marcos Karcowicz, é uma das maiores audiências da emissora. “O programa toca várias correntes do rock e tem um ibope excelente”, diz Ferreira.

 

Mas como explicar o aumento de shows, sobretudo os de rock, na capital? Seria este um fenômeno passageiro, de moda? Para o poeta e pesquisador musical Marcelo Dolabela, com o crescimento e fortalecimento da nossa economia, o Brasil entrou para o chamado circuito latino da excursão mundial dos grandes artistas. E em Belo Horizonte não foi diferente. “Desde os anos 1980, todos os nomes importantes do rock sempre se apresentaram no chamado circuito latino, que engloba Argentina, México, Chile, Venezuela e Colômbia. Nos últimos tempos, com a moeda forte, o Brasil passou a ser um lugar viável e muito interessante para estes grandes astros se apresentarem”, diz.

 

O jornalista gaúcho Eduardo Bueno,que viajou de Porto Alegre só para ver Bob Dylan: “Adorei o show de BH. O rock está vivo, vivíssimo"
 

 

Ainda segundo Dolabela, se o dólar baixo ajuda a explicar, em parte, o grande número de shows, a crise na venda de CDs não é menos importante para entendermos o fenômeno. “Todo mundo sabe, mas sempre é bom a gente lembrar: hoje ninguém mais vende disco. Se o cara não fizer show, ele simplesmente não sobrevive”, analisa Dolabela, que recentemente organizou a exposição A História do Rock Brasileiro em 1000 discos, no Centro Cultural UFMG.

 

Para o produtor musical Aluizer Malab, os motivos apontados por Dolabela são fundamentais para ajudar a explicar o aumento do número de shows no Brasil, e em Minas, a grande profissionalização experimentada pelo setor de entretenimento também não é menos relevante. “Se você comparar a realidade do show business de 20 anos atrás, hoje somos muito mais profissionais. E pode ter certeza: BH está definitivamente na rota dos grandes shows internacionais”, diz Malab, que nas últimas semanas começou a negociação para tentar trazer o show de comemorações dos 50 anos do Rolling Stones a Minas Gerais. “A turnê da banda só deve acontecer no ano que vem, mas posso garantir que nossa cidade está na briga”, diz.

 

Fila na porta de show de rock na capital mineira: programa atrai gerações diferentes, ávidas por concertos de artistas do primeiro time mundial
 

 

Também otimista com o futuro, o produtor Gegê Lara, da Nó de Rosa, faz uma ressalva nesse cenário próspero: BH tem  perdido alguns importantes shows por falta de um espaço apropriado. E cita como exemplo a não vinda do show de Paul McCartney para a capital. “No final do ano passado, dois produtores do Paul estiveram aqui. As conversas avançaram muito e até pensei que finalmente íamos conseguir trazer o show. A negociação financeira já estava pronta, mas emperramos no problema do espaço”, diz Lara.

 

 

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