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Estado de Minas

Santa é sua arte


postado em 21/05/2012 11:12

Quem vê a pintura de Santa – quadros com imagens de crianças, (muitos) anjos, montanhas e igrejas, todos desenhados com cores claras e alegres –, imagina que por trás dos traços encontra-se, talvez, uma pessoa serena, sensível e feliz. E não tem nada de errado nessa imagem: a autora do universo das figuras angelicais e genuinamente mineiras possui simplicidade e calma, hoje raras. Seu ateliê, situado no segundo andar de uma charmosa casa no bairro do Carmo, região centro-sul de Belo Horizonte, é o retrato da tranquilidade. “Meus lugares de moradia são todos bastante agradáveis, silenciosos e com várias plantas. Eu sempre fui muito tímida, mas quando pinto, sozinha, com minhas coisas, me sinto completamente livre”, diz.

 

As primeiras tentativas de desenho começaram na infância, quando Santa ainda era a pequena Maria Júlia de Almeida e vivia em Contagem das Abóboras. O apelido, que acabou tornando-se sua assinatura, foi dado pela avó, que a considerava uma criança quieta demais. “’Essa menina é uma santa!’, dizia minha avó”. Já então não era difícil fazer as apostas artísticas: o pai, Antônio Licurgo de Almeida, era poeta. “Eu sempre dizia a ele: 'Você vai escrever um livro e eu vou ilustrar'. Infelizmente, esse dia não chegou”. A temática dos anjos – que, ela ressalta, não abandona nem quando pinta casais – também surgiu muito cedo, devido a um contato forte com a religião católica. “Achava lindo, na imaginação de menina, as roupas brancas e as asas”, diz a artista.

 

Em 1951, Santa passou a ser aluna do pintor Alberto da Veiga Guignard, na escola fundada pelo mesmo em Belo Horizonte. Segundo as lembranças da convivência com ele, o mestre não somente a ensinou a arte, como também a serenidade. “Guignard era uma pessoa muito simples. Pintava próximo a nós, mas nunca interferia, deixava os alunos bem soltos”, lembra.

 

Na obra da pintora, a figura marcante dos anjos, crianças e bichos: “Achava lindo, na imaginação de menina, as roupas brancas e as asas”, diz Santa
 

 

Santa conta que, na época, o acesso ao trabalho do artista era escasso, limitado a pequenos grupos de interessados. “Fizemos uma exposição, certa vez, no centro da cidade, onde só compareceram jornalistas e colecionadores”. O panorama, hoje, tende a ser diferente: recentemente a Editora UFMG lançou o livro Pesquisa Guignard, fruto de quase 10 anos de trabalho e, além disso, o Museu Casa Guignard, de Ouro Preto, mantém página na internet para divulgação de acervo sobre a obra do pintor.

 

A separação entre professor e aluna deu-se dois anos depois, quando Santa casou-se e Guignard mudou-se para Ouro Preto, cidade que ele adotou como musa para maior parte de seus trabalhos. “Mas nós continuamos a nos comunicar. Ele mandava quadros para mim e essas coisas”, conta. Após uma temporada no Rio de Janeiro, onde manteve um ateliê aberto ao público no Largo do Boticário, Santa resolveu seguir os passos de seu mentor e foi morar na cidade histórica mineira.

 

Lá, conta, viveu seu período de maior atividade artística. “Tenho muita vontade de voltar para Ouro Preto. Minas Gerais é um quadro, não é? Você olha aqui, vê uma coisa. Olha ali, vê outra”, diz.
Enquanto pinta, geralmente à noite, Santa gosta de deixar a TV ligada, com o som bem baixinho, sintonizada no noticiário ou em canais com obras antigas do cinema. “Não gosto nada de filmes de violência”, decreta. Como segunda companheira para as horas de inspiração, a artista escolheu a música – clássica e MPB, diz, sem titubear. O resultado dessa mistura são pinturas que parecem mesmo ter saído de uma madrugada de seresta mineira. Santa está, atualmente, organizando, junto à escola de arte Maison, uma exposição com obras inéditas. A artista faz suspense sobre o evento: “Não sei o que o público deve esperar. Vamos ver”. O jeito é ficar na expectativa.

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