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Estado de Minas

Nordeste revisitado


postado em 19/07/2012 13:53

Artista plástico Rogério Fernandes em seu ateliê(foto: Eugênio Gurgel, Divulgação)
Artista plástico Rogério Fernandes em seu ateliê (foto: Eugênio Gurgel, Divulgação)

Imagine Kurt Cobain e Carmen Miranda juntos. Ou, quem sabe, Clarice Lispector e John Travolta. Talvez Lampião e Coco Chanel? Misturas como estas, cheias de cores e traços que lembram cartoons, são apenas alguns exemplos do que resulta quando o artista Rogério Fernandes decide pôr a mão na massa – quer dizer, na caneta esferográfica, no pincel atômico ou mesmo em tinta virtual.

 

Os visitantes de seu ateliê conhecem um mundo animado por imagens que tomam diversas formas (quadros, vasos, caixas de bombom, copos,  sketchbooks) e remontam o universo fantástico do nordeste brasileiro. Nascido no Piauí, Rogério diz sempre ter convivido com o imaginário e os costumes dos pais, que são do Maranhão. “Nordestino é um povo que valoriza a própria cultura, a culinária, a arte, a música. Isso é muito característico deles”, diz.

 

Formado em design gráfico pela UEMG, Rogério trilhou seus próprios caminhos para conseguir, hoje, se sustentar exclusivamente de sua arte. “Não acredito no sonho romântico de Van Gogh, passar a vida inteira pintando e vender um, dois ou às vezes nenhum quadro. Acho que um artista tem de viver de seu trabalho e viver bem para poder produzir mais e melhor”. O uso da internet na divulgação, o caráter popular das obras e uma mente aberta para a questão da acessibilidade foram fatores essenciais para o sucesso da carreira – metas traçadas e alcançadas, tudo que precisava fazer era criar. Para isso, Rogério foi fundo nas origens. “Gosto muito daquela frase do Paulo Leminski que diz: ‘Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além’. O artista é muito isso. Você não compra apenas uma forma dele, compra sua identidade. É um conjunto de coisas”.

 

 

 

Comprometido com a questão do alcance da arte, Rogério tenta adaptar seu talento a suportes que cabem no bolso de todos. Em sua loja virtual, é possível encontrar produtos com preços que variam de R$ 35 a R$ 11.900. “Eu tenho peças que são únicas, exclusivas, para quem pode pagar por elas. E também tenho peças para quem não tem muitos recursos”, diz. Reclusão artística é algo que nem passa pela cabeça: o contato com o público (que visita seu ateliê enquanto uma pintura está sendo feita ou que está simplesmente caminhando pela rua durante a produção de um grafite) é parte de seu estilo. “Sempre pensei minhas estratégias de divulgação extrapolando a arte dentro de galeria, dentro de museu. Para mim, a exposição no mundo moderno transcende qualquer meio que se diz próprio para aquilo. O que vende trabalho é o dia a dia. E o grafite é legal porque é uma galeria a céu aberto”.

 

Com tanta popularidade, não fica difícil imaginar que trabalhos por encomenda cheguem. Quanto a isso, Rogério não vê problemas, desde que sua liberdade seja respeitada. “Aviso aos clientes: para gostar de um produto meu, tem de gostar do meu estilo. Não adianta me pedir para desenhar uma gaivota, porque vou fazer algo totalmente diferente”. Apaixonado por natureza, o designer respinga, aqui e ali, pequenas críticas ambientais. “Não é nada panfletário, é muito subjetivo, uma coisa bem minha. Coloco bichos com asas, seres mitológicos, ursos polares, coisas que chamam a atenção para a questão ecológica”.

 

Pai de terceira viagem, é na família que são recarregadas as forças para trabalhar por quase 12 horas consecutivas. “Uma amiga me disse que criança é energia criadora pura, e que por isso acabo produzindo muito. Quem tem filho tem alegria em casa, e, para criar, você deve estar feliz”, diz.

 

“Ter filho é como fazer tatuagem: primeiro você fica em dúvida se vai gostar, mas, depois, não quer parar”. Aos observadores de seus desenhos não faltam motivos para acreditar que, seja qual for, a fonte que inspira Rogério é, decididamente, um achado.

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