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Estado de Minas

Sobre férias e reencontros


postado em 23/07/2012 13:59

Existem frases e versos que nos acompanham vida afora, nem sempre pela densidade do conteúdo ou pela força poética. Simplesmente nos marcaram em determinado momento da existência. Muitas vezes o autor cai no esquecimento, mas aquele conjuntinho de palavras ganha lugar definitivo na memória. Julho nos repõe, entre outras coisas, o tempo bom das férias. Com elas, retorna uma frase que li ou ouvi na infância: “Estava feliz como um colegial na antevisão das férias”.

 

No passado, os jovens do interior que podiam estudar o faziam quase sempre em colégios internos nas cidades maiores ou iam morar na casa de avós ou tios. As férias eram o tempo de voltar para casa, reencontrar os pais, irmãos, amigos de infância. Para muitos, era o caminho da roça. Hoje, a maioria dos pais que moram em apartamentos nas grandes cidades, como Belo Horizonte, queima as pestanas para encontrar alternativas de atividades lúdicas, culturais e esportivas para as crianças no período das férias. A meninada perdeu – e, com ela, todos nós – os espaços da cidade.

 

Mas, ainda assim, em que pesem os limites impostos pelo ritmo intenso dos aparelhos que nos condicionam – aviões, carros, celulares –, as férias são sempre bem-vindas. Mais do que um direito para todos, elas são um dever: dever de cada um em relação a si mesmo e aos outros. Precisamos de um tempo para revisitar as nossas raízes, pensar os caminhos da vida e refletir sobre o nosso destino individual e coletivo.

 

Sempre atual o conselho do velho Sócrates, no sentido de buscarmos o autoconhecimento, acolhendo igualmente os ensinamentos que atravessam séculos e milênios instando o ser humano a buscar formas superiores de convívio com os seus semelhantes. Já que resgatamos um dos fundadores da filosofia, fiquemos nesse campo instigante do saber com as perguntas que lhe são próprias: como devo viver? O que posso saber? O que me é dado esperar? Quem sou eu, quem somos nós? A que viemos?

 

Caetano Veloso atualizou e unificou essas questões: “Existirmos, a que será que se destina?” A sabedoria popular também traduziu as grandes interrogações filosóficas: Onde estou? De onde vim? Para onde vou? Não há vento favorável para quem não tem um rumo na vida!

 

Não raro, as férias se tornam fatores de estresse e tensão: as filas e engarrafamentos intermináveis nas estradas – sem falar dos acidentes – e aeroportos; os preços abusivos que sobem na proporção em que aumenta a demanda; a cerveja quente e a comida fria dos restaurantes lotados.

 

As férias não exigem obrigatoriamente longas e cansativas viagens. Já diziam os antigos que boa romaria faz quem em sua casa fica em paz. As férias podem ser curtidas em casa ou próximo a ela, em excursões afetivas e familiares, ou descobrindo novos e instigantes lugares ao redor de nós.

 

Férias são para repor as fontes da vida e irrigar as relações familiares e profissionais. Podem também ser um tempo de aprendizado. Tantos livros bons que aguardam a visita dos nossos olhos e inteligência; tantos filmes esplêndidos para serem vistos; músicas para acalentar os nossos ouvidos; tantas pinturas, esculturas, fotografias, paisagens para serem bem vistas! E as cachoeiras, as obras de Aleijadinho e de Mestre Ataíde nas cidades históricas, capitaneadas por Ouro Preto, tão próximas de Belo Horizonte?

 

E as vesperatas de Diamantina? Na capital dos mineiros, tantos bares e bairros a promover o encontro do interior e da província com a grande metrópole, que José Maria Cançado chamou de “A capital do século”. E a Praça da Liberdade, a Pampulha, Santa Teresa, a Serra, as serras tão machucadas?

 

Mais importante do que viajarmos para fora, é voltarmos a nós mesmos, percorrermos os nossos territórios interiores e descobrir novos horizontes e possibilidades na vida. Boas férias!

 

*Patrus Ananias é advogado e professor. Foi prefeito de BH e ministro do Desenvolvimento Social. Escreve mensalmente na Encontro

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