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Estado de Minas

O museu que não para


postado em 14/09/2012 12:22

Em Ttéia, Lygia Pape cria uma ilusão de colunas de luz 
que se movem junto 
com o espect(foto: Geraldo Goulart; Divulgação)
Em Ttéia, Lygia Pape cria uma ilusão de colunas de luz 
que se movem junto 
com o espect (foto: Geraldo Goulart; Divulgação)

A natureza como principal instalação de arte. Essa é a imagem que o Inhotim, Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico, situado em Brumadinho (MG), a 60 quilômetros de Belo Horizonte, quer passar ao público em seus 97 hectares para visitação pública: jardins inspirados pelo grande paisagista Burle Marx e mais de 450 obras, permanentes e temporárias, em exposição. Esse grande acervo, que conta com importantes artistas nacionais e internacionais, como Hélio Oiticica, Chris Burden e Vik Muniz, ganha, a partir deste mês, quatro novas galerias e instalações, com destaque para as peças de Lygia Pape, Tunga, Cristina Iglesias e Carlos Garaicoa.

 

“São artistas com os quais já trabalhamos há algum tempo. Chegamos, então, ao momento em que os projetos estão prontos para vir a público. E são obras que têm a ver com o contexto do Instituto”, explica Júnia Rebouças, curadora das novas exposições. Um exemplo dessa integração com o Inhotim é a nova galeria dedicada ao artista pernambucano Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, mais conhecido como Tunga, com 2,6 mil metros quadrados com paredes de vidro e quatro níveis que se comunicam espacial e visualmente. O espaço deve receber cerca de 30 obras montadas para serem lidas em conjunto. “Ele (Tunga) é muito importante para nossa coleção. É um dos primeiros nomes a fazer parte de nosso acervo de arte contemporânea e o responsável por mudar a mentalidade do Bernardo Paz (presidente do instituto), que até então era apenas um colecionador”, diz Júnia. O artista pernambucano, desde 2004, já tinha uma importante obra permanente exposta no Inhotim: o pavilhão True Rouge, instalação de 1997 que valoriza o vermelho-sangue e é composta por redes penduradas no teto, como marionetes.

 

O pernambucano Tunga ganha espaço de quatro pavimentos interligados: “O passeio pelo pavilhão representa uma obra só, que abrange pelo menos 30 anos de trabalho”
 
 

A nova galeria do Tunga, como explica o artista, foi pensada para ser uma espécie de acelerador de partículas – em referência ao Grande Colisor de Hádrons, na Suíça, que tem 27 quilômetros de extensão: a partir de um núcleo central, no pavimento subterrâneo, onde está a videoinstalação chamada Ão, de 1980, o espectador entra num túnel circular, sem começo e fim, e cada volta que dá gera um novo choque com a obra e, assim uma nova experiência. “Em torno dele acontecem as obras, que já vinham sendo colecionadas pelo Inhotim. E para não ficarem como objetos independentes, achei interessante mostrar a interação entre elas”, explica Tunga.

 

Segundo ele, conforme o público passeia por cada pavimento, são formadas “sinapses” entre as instalações, como as que ocorrem entre os neurônios, no cérebro. Ou seja, são obras feitas para se comunicarem: “O passeio pelo pavilhão representa uma obra só, que abrange pelo menos 30 anos de trabalho”. Além da arquitetura, que favorece a interligação entre os elementos expostos, a varanda que circunda o prédio também é importante para o artista. Ela é composta por redes de descanso, criadas por Tunga e ligadas às árvores nativas da região – muitas foram plantadas especialmente para isso. Assim, o espectador que estiver descansando numa dessas redes também fará parte da composição artística: “Ele ficará meditando sobre o movimento interno. São conexões entre a vegetação e o pavilhão”, diz.

 

A artista plástica espanhola Cristina Iglesias e sua obra Vegetation Room Inhotim: em meio à mata, a instalação reserva uma surpresa ao público
 
 

Além do pernambucano, quem também ganha uma galeria própria é a artista fluminense Lygia Pape. Em sua estreia no Inhotim, Pape, que morreu em 2004, é homenageada com a obra Ttéia nº 1 C, que começou a ser pensada nos anos 1970, e finalizada apenas em 2002. Instalada dentro de uma construção que parece emergir do solo – projeto arquitetônico do escritório Rizoma de Belo Horizonte –, a obra traz mais de 5 mil metros de fios dourados presos do teto ao chão, em forma de colunas quadradas que dão a ilusão de fachos de luz. Conforme a pessoa se movimenta ao redor das colunas, como o ambiente é totalmente escuro – a iluminação só existe sobre os fios –, é possível ter novas leituras, perceber novos contornos.

 

Um dos quatro novos pavilhões do centro de cultura: o de Lygia Pape parece brotar do chão
 
 

Outro destaque entre as novidades expostas no instituto é Vegetation Room Inhotim, de Cristina Iglesias, escultora e artista gráfica espanhola que escolheu uma pequena clareira na mata nativa para a construção dessa obra. O espectador se defronta com uma grande estrutura quadrada, coberta em aço inox, que reflete o entorno e possui quatro entradas. Mas apenas uma delas revela o verdadeiro segredo do som que se escuta em seu interior. “Esse trabalho é um espelho da natureza, que está representada pelo bronze pintado de verde. É uma escultura muito delicada e ao mesmo tempo imponente. Em seu interior existe um movimento na água que lembra uma maré”, diz Júnia Rebouças.

 

É difícil não se deixar cativar pela integração do jardim botânico, com seu paisagismo e vegetação nativa, com as galerias e obras de arte no Inhotim. E as expansões não param. Além dos 11 novos artistas, o público poderá visitar, a partir de 2014, a grande galeria, que está sendo construída para ser totalmente integrada ao ambiente e deve receber exposições temporárias. Entre os artistas a serem expostos, alguns nomes estão sendo sondados, como o de Monika Sosnowska, pintora polonesa que trabalha na tela o jogo de duas e três dimensões, e Hélio Oiticica, que já integra o acervo do instituto.

 

Saiba mais

 

Inhotim, Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico


Endereço: rua B, 20, Inhotim, Brumadinho (MG)
Acessos: BR-381, saída para São Paulo, pela estrada que leva a Brumadinho e Mário Campos; ou BR-040, saída para o Rio de Janeiro, passando pela Serra da Moeda (depois 
do trevo de Ouro Preto)
Funcionamento: terça a sexta, das 9h30 
às 16h30; sábado, domingo e feriado, 
das 9h30 às 17h30
Ingresso: terça – entrada gratuita; 
quarta e quinta, R$ 20; sexta, sábado, 
domingo e feriados, R$ 28
Informações: (31) 3571-9700 
ou info@inhotim.org.br

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