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Estado de Minas

Arquitetura do medo


postado em 20/02/2013 11:55

José Alfredo reforçou  a segurança para tranquilizar a família(foto: Léo Araújo, Paulo Márcio)
José Alfredo reforçou a segurança para tranquilizar a família (foto: Léo Araújo, Paulo Márcio)

Uma boa surpresa: o número de assaltos a residências em Belo Horizonte teve queda em 2012. De acordo com a Polícia Militar, houve 335 ocorrências no ano passado, contra 425 em 2011. Os arrombamentos também diminuíram: de 3.049 em 2011 para 2.887 em 2012. A má notícia, porém, é que os índices continuam elevados – por dia, são quase nove casos de assaltos e arrombamentos somente na capital. E mais: cresceu a sensação de insegurança e medo, e aumentou a procura por equipamentos de segurança para as casas.

 

A realidade é que, em BH, os moradores estão transformando as casas em verdadeiras fortalezas, na tentativa de resgatar a sensação de segurança. Afinal, os bandidos ficam de olho na fragilidade de casas e apartamentos e observam a rotina de moradores de áreas nobres da cidade para, em qualquer descuido, atacar. Numa espécie de big brother da criminalidade, famílias são monitoradas 24 horas dentro de suas casas, antes da ação dos assaltantes.

 

Câmera de vigilância externa: equipamento permite visualizar  movimento na entrada das casas
 
 

Câmeras, guarita blindada, concertina eletrificada, alarme, sensor de presença, sistema infravermelho, cão pastor treinado e até curso de tiro amador. Depois de se mudar de um apartamento para uma casa no Mangabeiras, o dentista José Alfredo Mendonça transformou o imóvel em uma fortaleza para garantir a segurança da família. As proteções aumentaram ainda mais depois que um vizinho teve a residência invadida e, enquanto os assaltantes procuravam objetos de valor, ameaçavam atear fogo no corpo do filho. “A própria casa é um pouco mais agressiva. Não imaginava que o bairro tivesse esse nível de violência”, diz, lembrando que, além dos equipamentos de segurança, é preciso ter cautela nas atitudes. Um exemplo é o fato de sempre estacionar o carro de ré na garagem, em ponto de fuga caso seja abordado por criminosos.

 

Acostumada com uma vida diferente e em um bairro com características bem semelhantes, o Santa Lúcia, Cláudia Bizzotto lembra que ela e a família tinham o hábito de deixar a porta da casa sempre aberta quando estavam por lá. Mas o trágico assassinato da filha, a atriz Cecília Bizzotto, morta por um dos três criminosos que invadiram a casa em uma noite de outubro do ano passado, resultou em uma mudança de comportamento. Além de não conseguir viver mais no imóvel por ter sido o local do crime, Cláudia preferiu buscar mais segurança em um apartamento com porteiro 24 horas e senhas para acionamento do elevador. “Fiz questão de me resguardar mais”, diz.

 

Mas os criminosos não pararam. Não satisfeitos com a atrocidade, voltaram a atuar depois do assassinato de Cecília. Segundo a investigação da Polícia Civil, três dos quatro envolvidos na morte da atriz teriam cometido assaltos novamente, dessa vez nos bairros Cidade Jardim e Nova Granada.

 

 
 

Sociólogo e especialista em segurança pública, Luiz Flávio Sapori avalia que o trabalho feito pela polícia para identificar os suspeitos deveria ter sempre como base a investigação. Por se tratar de um número reduzido de grupos de criminosos especializados nessas modalidades, segundo ele, é preciso, para neutralizá-los, acompanhar aqueles que já são conhecidos e trabalhar em uma ação mais focalizada. “As ações de combate hoje ainda são falhas, por serem focadas apenas na participação da Polícia Militar, por meio do patrulhamento ostensivo. Só que a polícia não tem como ficar em todas as esquinas, ela tem capacidade limitada. Por isso, a investigação criminal é fundamental nesse combate. Localizar os grupos, saber sua forma de atuação e evitar mais crimes”, diz Sapori, que critica o fato de o aprofundamento da investigação se dar somente em casos de maior comoção, como o da atriz, por envolver uma pessoa conhecida: “Isso não deve ser exceção. Deve ser algo constante.”

 

Considerando apenas os casos de roubo a residências (quando os moradores estão presentes e há emprego de violência), no ano passado os moradores dos bairros atendidos pelo 22º Batalhão foram os principais alvos das quadrilhas. Não por acaso, o batalhão é responsável pela patrulha nos bairros mais nobres da cidade, incluindo parte da região Centro-Sul. Essa modalidade de crime representa pouco mais de 10% dos casos de invasões a residências (soma de assaltos e arrombamentos); no entanto, trata-se de um crime mais cruel. Durante o tempo do roubo, os moradores são feitos reféns, ficando sob ameaça de armas de fogo e sofrendo tortura psicológica. “A sensação de insegurança dos moradores é um dos reflexos desse tipo de estatística”, resume Sapori.

 

Cláudia Bizzotto, mãe da atriz Cecília Bizzotto: depois do assassinato da filha em um assalto, ela trocou a casa por um apartamento com porteiro e senhas para acionar o elevador
 
 

Diante do medo, a primeira opção da população é se estruturar da forma mais viável, para ter de volta um pouco de segurança. Cercas elétricas, carros blindados e câmeras estão entre os itens mais adotados. Mas não são todos que dispõem da verba necessária para o investimento, como aparelhos eletrônicos, câmeras e sensores de presença. Tais equipamentos podem ser até 100 vezes mais baratos que a segurança pessoal 24 horas, que, por mês, pode custar entre R$ 25 mil e R$ 30 mil. “Mas uma não atua de forma eficaz sem a outra. Quando você tem a câmera e não tem o segurança, existe a falha”, diz o presidente do Sindicato das Empresas de Segurança e Vigilância do Estado de Minas Gerais, Edson Pinto Neto.

 

Especialista em segurança privada, ele avalia que a opção vai de acordo com o bolso de cada um, mas considera necessário tomar medidas básicas, como mudar a rotina e observar a movimentação da rua, para evitar surpresas. No mês que vem, deve chegar ao mercado de vigilância um novo equipamento: o porteiro virtual, que simula atividades pontuais sem a presença de moradores. O aparelho atende interfone, acende as luzes e abre as cortinas, simulando haver alguém em casa. Somente no passado, os casos de arrombamento somaram quase 3 mil ocorrências em BH.

 

Balanço/BH (2012)

 

Roubo a residências: 335

 

Arrombamentos: 2.887

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