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Estado de Minas CAPA | COMPORTAMENTO

Meninas superpoderosas

Seguidas e admiradas nas redes sociais por fãs de todo o Brasil e até do exterior, as it girls mineiras ditam moda, beleza e estilo de vida para milhares de pessoas


postado em 10/09/2013 15:18 / atualizado em 10/09/2013 15:48

(foto: Leo Horta)
(foto: Leo Horta)
 
Há quase 80 anos, o filme mudo It, sobre uma vendedora que se apaixona pelo chefe da loja de departamento onde trabalha, popularizou o termo it girl nos Estados Unidos. Assim como a personagem, que acaba conquistando o chefe na película, uma garota it é aquela que tem "aquilo", um "quê" a mais, algo que as outras não têm — e por isso exerce atração ou influência sobre outras pessoas.
 
(foto: Fotos: Leo Horta)
(foto: Fotos: Leo Horta)
 
 
Nos dias de hoje, o termo se tornou ainda mais conhecido e se modernizou. Esse “quê” a mais, atualmente, é associado a estilo e atitude: as it girls são fashion, inovadoras e inspiradoras, tanto no modo de se vestir como no comportamento e no lifestyle. Além disso, na era da internet, tornam-se facilmente conhecidas, por meio de redes sociais e de blogs, onde divulgam seus looks, lugares preferidos, comprinhas e viagens, e por onde são seguidas por centenas, milhares e até milhões de internautas. 
 
"As it girls são produtos do fenômeno de disseminação da moda na internet, por meio de pessoas anônimas (ou nem tão anônimas) que usam critérios subjetivos para propor uma editoria de moda e justificar a escolha por determinados designers ou modelos", explica Ana Paola dos Reis, professora do curso de design de moda da UFMG. 
 
(foto: Cláudio Cunha)
(foto: Cláudio Cunha)
(foto: Fotos: Cláudio Cunha)
(foto: Fotos: Cláudio Cunha)
 
 
Para a pesquisadora, mesmo não sendo especialistas em moda, essas meninas atraem o público geral pelo tino que têm para se vestir e ousar. "Apesar de nem sempre terem uma educação formal em moda, elas sabem como vestir adequadamente seu próprio corpo e têm um senso estético apurado. Além disso, dispõem de recursos para consumir produtos de qualidade e propor tendências. Esses diferenciais, aliados à beleza, fazem sua imagem se destacar e ser admirada por outras pessoas", diz.

Todas essas fashionistas são extremamente conectadas e estão presentes em diversas redes sociais, especialmente Facebook e Instagram. Mas a maioria delas ficou conhecida pelos blogs, que criaram como hobby e, de tão acessados e populares, se tornaram sua profissão.
 
Nesse sentido, a indústria da moda teve grande influência, pois identificou, nas blogueiras, um bom canal de divulgação de marcas. Assim, as empresas, além de anunciarem nas páginas, pagam posts patrocinados, os "publieditoriais".  "A opinião dessas mulheres tem um impacto grande sobre suas leitoras e seguidoras. O desejo que se cria em torno do que elas consomem – as roupas que vestem, os restaurantes que frequentam, os destinos para onde viajam, os filmes a que assistem – faz com  que as marcas que elas indicam, vestem e usam sejam rapidamente assimiladas também pelo seu público", explica Ana Paola.
 
Entre as principais blogueiras e it girls do país está a mineira de Uberlândia Thássia Naves, um fenômeno da rede. Há quatro anos, ela criou, de forma despretensiosa, o Blog da Thássia, onde posta looks, dicas e tendências de moda. A ideia foi tomando forma, atraindo leitores e, hoje, o endereço tem 5 milhões de acessos por mês e cerca de 760 mil visitantes (em torno de 150 mil pessoas a mais do que a população da sua cidade natal). Com o sucesso, ela passou a se dedicar profissionalmente ao projeto, que já envolve uma equipe de relações públicas, assessoria de imprensa e fotografia. "Sempre busquei me divertir e compartilhar com minhas leitoras as experiências do universo que me cerca. O que mudou, com o tempo, foi a qualidade das informações e das fotos", diz ela, que não nega o título de it girl. "Como minhas produções influenciam as leitoras, é impossível fugir desse título. Mas acabo encarando essa responsabilidade com muita satisfação", afirma.
 
Outra celebridade internacional do mundo it, mais conhecida pelas dicas de maquiagem, é Camila Coelho, única mineira integrante da rede de blogs F Hits, que reúne algumas das mais conhecidas blogueiras do país. Os números não deixam mentir: só no Instagram, ela tem 1,2 milhão de seguidores – para se ter uma ideia, a cantora Claudia Leitte tem pouco mais de 660 mil. Em seus dois canais no Youtube (um em inglês e outro em português) há cerca de 1 milhão de cadastrados e em seu blog em português, o Super Vaidosa, são quase 7 milhões de visualizações ao mês.
 
(foto: Cláudio Cunha)
(foto: Cláudio Cunha)

(foto: Fotos: Cláudio Cunha)
(foto: Fotos: Cláudio Cunha)
  
 
Apaixonada por pincéis, sombras, batons e todas as novidades do mundo da maquiagem e da moda, tudo começou depois que a mineira de Virginópolis fez cursos de maquiagem com a Dior, nos Estados Unidos, onde mora, e iniciou trabalhos esporádicos em amigas e noivas. Na mesma época, inspirada pelas "gurus americanas" da beleza, teve a ideia de ensinar na internet as técnicas que aprendeu. O sucesso foi imediato, e foram as próprias espectadoras dos vídeos que sugeriram que ela fizesse um blog, ideia que pôs em prática em 2011. 
 
Morando atualmente em Boston (EUA), sua agenda, cada vez mais lotada, é disputada para lançamentos de produtos de beleza e moda, alguns trabalhos como modelo e garota-propaganda. "Durante minha semana, um dia é sagrado para que eu possa gravar os tutoriais para o site. Eles são postados duas vezes por semana e gasto uma média de três a quatro horas para preparar tudo, gravar e acompanhar a edição. Muita gente acha que essa vida é fácil, mas esse processo é cansativo", conta.

A vida corrida é comum a essas fashionistas, e se engana quem pensa que vida de it girl é tranquila. Fora o trabalho das postagens diárias nos blogs e redes sociais, as rotinas das meninas são atribuladíssimas por causa de viagens e compromissos dos mais variados, como lançamentos de coleções, cobertura de fashion weeks, presença em eventos de marcas, sessão de fotos para catálogos, visitas a fábricas e novas lojas, etc. 

Autora do blog Chata de Galocha, Luísa Ferreira viaja pelo menos uma vez a cada 15 dias para esse tipo de compromisso e faz ao menos um post diário no blog. "Antes eu ia a muito mais eventos, ficava muito mais tempo fora. Hoje, aprendi a selecionar melhor", explica a designer de formação, que tem o Chata desde 2007, quando a proposta era fazer resenhas de restaurantes e de lugares aonde ia. Com o tempo, ele foi mudando de cara e, hoje, Lu posta looks do dia, dicas de beleza, viagem, entre outros temas — e o endereço tem cerca de 1,5 milhão de acessos mensais.
 
Para ela, a popularidade do blog vem da autenticidade com que fala dos assuntos do estilo de postagem: "Não é o blog de menina rica usando apenas roupas de marca. Tem blogueira que é muito montada, brinca de boneca consigo mesma. As leitoras dizem que pareço uma pessoa normal", afirma, em tom de brincadeira.

Ao sucesso do blog se seguem, inevitavelmente, comentários das leitoras, que podem elogiar ou criticar, mas sempre querem saber de tudo. Segundo Lu, os posts sobre seu casamento — que aconteceu em maio — estão entre os mais acessados. "O que elas querem ver é o dia a dia, senão iriam só a revistas de moda, procurariam apenas informações jornalísticas. O que acho apropriado dividir, eu coloco lá, porque sei que elas se interessam", conta.
 
(foto: Paulo Márcio)
(foto: Paulo Márcio)
(foto: Fotos: Paulo Márcio)
(foto: Fotos: Paulo Márcio)
 

Dividir a intimidade também é um pedido muito comum para Carol Rache, blogueira mãe de gêmeos de 2 anos. "Coloquei fotos da decoração do aniversário dos meninos e até posto uma ou outra foto deles, mas com limites. Acho que o blog expõe muito a vida da pessoa, e o que sai nele já é suficiente", afirma ela, que é formada em administração, mas fala de moda, gastronomia, beleza, maternidade e viagens em seu blog What About. 
Atenta ao fato de que os leitores estão cada vez mais bem informados e exigentes, ela fez cursos de design e marketing de moda, além de personal styling, em Londres e Paris. "Fiquei mais segura para falar de moda. Tenho mais noção de proporções, mais conhecimento para fazer as produções. Dá até mais segurança para postar as fotos de looks do dia e inspirar as leitoras", afirma.
 
Outra preocupação da blogueira é em ampliar o conteúdo e envolver colaboradores no blog, para diferenciá-lo de outros do mesmo estilo. Assim, ela tem parcerias com uma escritora, que posta uma crônica a cada quinta-feira, e com uma empresa de gastronomia, que posta receitas de fácil preparo toda sexta-feira. "Gosto de escrever, me empenho na produção de cada post e na qualidade das fotos. Além disso, eu me preocupo em incluir outros conteúdos, e não só os looks do dia", conta ela, que planeja abrir um escritório para o blog neste semestre e expandir o material, até com produção de pequenas matérias em vídeo.

No momento atual, em que blogs de moda e comportamento são ocupações profissionais e que dependem de publicidade e de contratos com marcas, a credibilidade é outro fator importante a ser levado em conta. Se a blogueira fotografa com todas as peças que recebe de presente — mesmo que não sejam seu estilo — ou não deixa claro que um post é pago, elas perdem em autenticidade, algo essencial para uma it girl. "Mesmo que o blog vá virando empresa, não pode deixar de ser pessoal, de ter o meu estilo ou a minha curadoria", explica Deborah Zandonna, criadora do Onça de Tule, de moda e beleza. "Não é porque a loja me enviou um presente que ele vai aparecer lá", continua ela, que faz questão de conhecer pessoalmente todas as marcas interessadas em fazer publicidade no Onça.
 
(foto: Hick Duarte)
(foto: Hick Duarte)
(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)
 

O conhecimento do que está rolando no mundo fashion, em todos os cantos do planeta e a todo instante, é essencial para essas meninas, que já fazem parte da dinâmica da moda. Elas não só traduzem as tendências de passarelas e do exterior para o dia a dia, mostrando como usar e onde achar as novidades, como interferem no processo. "A fashionista traz muito rápido o que está sendo usado fora, o que é tendência. Isso até obriga as marcas a serem mais ágeis e saber tudo o que está sendo lançado. Se na Europa a tendência é moletom com a estampa de cara de animal, aqui, ela vira t-shirt com cara de animal; adapta-se a ideia para ser usada mais rápido", explica Deborah.

Com essa percepção, a empresária Angélica Duarte, dona da loja multimarcas Badu, está totalmente ligada ao mundo das it girls. "É uma proposta que tem a ver com o novo delinear da moda, que se renova sempre. É preciso estar constantemente por dentro dos blogs e redes sociais", explica ela, que faz reuniões frequentes e acompanha perfis das principais fashionistas. "Essas meninas fazem a ponte entre a sociedade e o mundo da moda. As clientes veem as it girls ousando, e isso desmitifica a questão de achar que não vai ficar bom, que é diferente demais", afirma.

Mas nem só de blogs são feitas as it girls. É preciso ter estilo e atitude também na vida real — coisa que a personal stylist e designer de acessórios Ana Dapieve tem de sobra. Desde usar chapéus de abas largas em festas até raspar apenas um lado da cabeça, ela é uma das meninas mais ousadas de BH. Interessada em moda desde pequena, Ana começou a cursar graduação no tema, mas não chegou a se formar. Em vez disso, foi para a Austrália, onde descobriu seu estilo. "Lá, tive acesso a muita informação de moda. O pessoal é irreverente, despojado e muito ousado", explica ela, que trabalhou como personal shopper na primeira unidade da loja britânica Top Shop em São Paulo, antes de decidir abrir a própria marca de acessórios e t-shirts em BH. 
 
(foto: Vitor Fernandes)
(foto: Vitor Fernandes)
(foto: Fotos: Divulgação)
(foto: Fotos: Divulgação)
 

Ana divulga seus looks e fotos do que gosta, em termos de tendência, apenas pelo Instagram. Mesmo assim, já foi descoberta por algumas pessoas que, interessadas em seu estilo, quiseram contratar seu serviço de personal stylist. "Não tinha pensado na dimensão disso tudo. Elas falaram que viram meu estilo no Instagram e gostaram", diz ela, que vê a capital mineira como uma cidade ainda pouco ousada em termos de moda. "Acho que sou ousada para BH, mas, na Austrália, ninguém se impressionaria com meu cabelo raspado ou meu sapato estampado e de tachas. Eu só não deixo a opinião dos outros influenciar no que quero usar", afirma.

Focada no lançamento de sua marca, para qual fez um blog, ela vê a internet como ferramenta para ajudar a guiar as pessoas pela moda. "Hoje, a moda está muito acessível, e é fácil encontrar as peças que quiser. As meninas conseguem ter as coisas, só não sabem por onde ir, qual caminho seguir." It girls, ao resgate!

(Colaborou Guilherme Torres) 

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