A inspiração e a motivação vêm do treinamento militar. À primeira vista, assusta quem vai acompanhar pela primeira vez um treino de CrossFit, ainda mais se for um sedentário. Levantamento de sacos com pesos, pulos de caixas de madeiras e escalada de cordas penduradas no teto são algumas das características marcantes da atividade física que está ganhando mercado na cidade. Desde a primeira academia especializada inaugurada no país, em 2011, já surgiram 120 unidades no Brasil, pelo menos dez apenas na capital mineira, segundo dados da matriz da empresa que criou a modalidade. No site oficial, é possível ver em um mapa todas as localidades do mundo onde há academias licenciadas para dar aulas da atividade.
Criado nos Estados Unidos, em 2000, pelo ex-treinador da polícia de Santa Cruz, na Califórnia, Greg Glassman, o Crossfit mistura exercícios da ginástica olímpica, levantamento de peso e exercício aeróbico. Quem conversa com a jornalista Fernanda Lassi, de 37 anos, praticante do esporte, percebe por que a modalidade vem crescendo em números de adeptos e em popularidade. "Não saio desse esporte nunca mais. Não consigo nem me imaginar na academia convencional novamente", conta ela, que pratica a modalidade há um ano e três meses e já emagreceu 10 kg.
O diferencial oferecido pelas academias é um treinamento diversificado a cada dia e adaptado ao aluno em intensidade e carga. O treino começa com 15 minutos de aquecimento, depois são mais 30 de técnica que trabalha equilíbrio, força e flexibilidade. Por último, vem o Work out of the day (WOD), o treino considerado a missão do dia, feito em 15 minutos.
As aulas são em grupo e cada resultado de desempenho do dia é anotado em um quadro na academia. Ao lado do nome do aluno tem a data e o tempo dos exercícios, e esse método é usado como forma de motivação.
"Ninguém quer ficar com o resultado feio no quadro", afirma Cadu Vidal, um dos sócios da academia CrossFit BH, unidade São Bento. Formado em educação física e nutrição, o empresário abriu o negócio na região Centro-Sul de BH, em janeiro deste ano, e logo no primeiro mês já havia 160 alunos matriculados. Na primeira unidade, inaugurada há três anos, localizada na região central da capital, há cerca de 350 "crossfiteiros" – termo com que eles se denominam. Outra curiosidade dessa modalidade é a ausência de espelhos no ambiente, o que ajuda os praticantes a se concentrarem nos exercícios. "Estamos indo na contramão das academias convencionais. Queremos resgatar a consciência corporal. A estética é uma consequência, não o foco", afirma Vidal.
Confrontando a rotina das fichas de exercícios montadas nas academias convencionais – que muitas vezes podem ser monótonas –, a proposta do CrossFit é acabar com o tédio e oferecer uma aula tão concentrada de exercícios que não permite moleza para o aluno. Para a relações-públicas Mariana Couto, de 32 anos, a estratégia deu certo. Dois anos antes de aderir ao esporte, ela malhava em academia com personal trainer, mas a adrenalina do "treinamento militar" e o condicionamento que está obtendo agora a conquistaram de vez, transformando a prática em um verdadeiro vício. "Em seis meses perdi 5 kg de gordura. Mesmo fazendo reeducação alimentar, anteriormente eu não obtinha um décimo desse resultado", conta ela, que treina cinco dias por semana. Além de uma barriga chapada, para Mariana, o melhor é sentir a motivação dada pelos colegas de aula e o sentimento de superação diária. Mesmo no recesso de carnaval, a turma se reuniu na rua para treinar. "Já estou providenciando uma barra para instalar em casa para treinar no fim de semana. Quero começar a participar de competições", conta Mariana, que viajou para Guarulhos, em São Paulo, no último campeonato nacional apenas para dar apoio.
Responsável pelas avaliações físicas dos candidatos a "crossfiteiros" da The Box, o fisioterapeuta afirma que o CrossFit quebra qualquer barreira das impossibilidades, seja por idade, por sexo ou talvez por alguma fragilidade ou limitação física. "É necessário apenas ter boa vontade, disposição e uma garrafinha de água", afirma. Porém, antes de começar a praticar o esporte, os alunos devem ser submetidos a avaliação fisioterápica e análise de composição corporal, além de apresentar atestado cardiológico. É o que aconselha o fisioterapeuta.
O CrossFit também tem atraído atletas e adeptos da malhação pesada. O ex-nadador do Minas Tênis Clube e atual fisioterapeuta da academia especializada na modalidade The Box, Filipe Galdino, de 29 anos, foi outro que se rendeu à prática. Depois que largou as piscinas para fazer faculdade, após 20 anos de dedicação, Filipe ganhou uns quilinhos e quis recuperar o tempo que ficou parado. "Depois de uma viagem aos Estados Unidos, descobri esse esporte e voltei para o Brasil louco para praticá-lo. Logo depois, um amigo me chamou para trabalhar em sua nova academia", diz. O amigo em questão é o nadador Nicolas Oliveira, da seleção brasileira de natação, que inaugurou a The Box CrossFit. "Desde então, fui picado por esse mosquitinho", brinca Filipe Galdino, que já recuperou a forma física dos tempos de atleta.