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Estado de Minas CIDADE | INFRAESTRUTURA

Viadutos ou armadilhas?

Tragédia da Pedro I liga sinal de alerta. Afinal, qual a situação dos demais viadutos de BH? Estudo técnico feito a pedido da Encontro mostra que as seis principais e mais antigas vias suspensas da capital sofrem com a falta crônica de manutenção. Embora não corram o risco de ruir, parte do concreto pode se soltar e atingir pessoas e carros


postado em 14/07/2014 18:28 / atualizado em 15/07/2014 12:29

Vista geral do complexo da Lagoinha: estudo identificou vários tipos de anomalias(foto: Cláudio Cunha)
Vista geral do complexo da Lagoinha: estudo identificou vários tipos de anomalias (foto: Cláudio Cunha)


Viaduto Santa Tereza (av. Assis Chateaubriand, no Floresta)(foto: Eugênio Gurgel)
Viaduto Santa Tereza (av. Assis Chateaubriand, no Floresta) (foto: Eugênio Gurgel)


Um alarme soou para a população e autoridades governamentais depois que uma das alças do viaduto que liga a avenida Olímpio Mourão Filho à Pedro I, no bairro Planalto, região Norte de Belo Horizonte, veio ao chão no início deste mês, causando ferimentos, mortes, dor e preocupação. E poderia ter sido ainda pior, caso a estrutura já tivesse sido inaugurada. Diante dessa tragédia, uma pergunta veio à tona: como está a saúde dos nossos viadutos? A pedido de Encontro, engenheiros do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG) foram às ruas e visitaram seis dos principais e mais antigos viadutos da capital mineira: Santa Tereza e  Floresta, na região Central; Helena Greco (antigo Castelo Branco), no Barro Preto;  Pedro Aguinaldo Fulgêncio, no Santa Efigênia; Complexo da Lagoinha, na Lagoinha, e Engenheiro Andrade Pinto, que fica no Barreiro, próximo à siderúrgica V&M.

O estudo não constatou nenhum problema estrutural, entretanto, traz um alerta: todos os elevados sofrem com a falta de manutenção. "Isso acarreta diminuição de vida útil e aumento dos custos de reformas", diz o engenheiro civil Frederico Correia Lima Coelho, presidente do Ibape-MG. E o mais grave: parte do concreto pode soltar e cair sobre pessoas e carros que estiverem embaixo.

A vistoria apontou 11 tipos do que os engenheiros civis chamam de anomalias. O que preocupa é que os viadutos avaliados são os campeões de fluxo de veículos. A BHTrans, empresa que gerencia o tráfego em BH, informou apenas o movimento do complexo da Lagoinha, que recebe, em média, 125 mil veículos por dia. No entanto, a capital mineira contabiliza mais de 1,5 milhão de veículos nas ruas, bem diferente do movimento registrado nas décadas de 1920 e 1940, época de construção de alguns viadutos avaliados. A frota da capital mineira saltou 105% de 2002 a 2012.

O Ibape-MG solicitou à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) os planos de manutenção dos viadutos, mas não obteve resposta. O mesmo aconteceu com a reportagem de Encontro, que não teve retorno da administração municipal sobre o resultado do estudo. "Não há um programa de manutenção preventiva desses viadutos. Há casos de vegetação crescendo dentro das estruturas, e não se trata de uma plantinha, mas de uma árvore. Se há algum tipo de  manutenção, ela não é feita de maneira concreta e contínua", diz Frederico.

Viaduto Engenheiro Andrade Pinto (av. Olinto Meireles, no Barreiro)(foto: Eugênio Gurgel)
Viaduto Engenheiro Andrade Pinto (av. Olinto Meireles, no Barreiro) (foto: Eugênio Gurgel)


Viaduto Helena Greco - antigo elevado Castelo Branco (av. Bias Fortes, no Barro Preto)(foto: Paulo Márcio)
Viaduto Helena Greco - antigo elevado Castelo Branco (av. Bias Fortes, no Barro Preto) (foto: Paulo Márcio)


Cada viaduto precisa ter um plano de manutenção específico, informa o engenheiro civil, mas uma vistoria, mesmo que genérica, deve ser feita a cada seis meses. Dentre as estruturas avaliadas, os viadutos Pedro Aguinaldo Fulgêncio, no Santa Efigênia, e o Engenheiro Andrade Pinto, no Barreiro, são os que mais carecem de atenção. "Nas laterais, foram registrados desprendimentos de partes do guarda-corpo, que podem se soltar e atingir usuários que estejam passando embaixo", explica Frederico Coelho.

Uma curiosidade: as estruturas mais novas são as que necessitam de reformas urgentes. Sintomas como vigas à mostra revelam a ausência de manutenção, há anos. Até uma espécie de estalactites foi encontrada nas estruturas, o que ocorre quando a água carrega parte do cimento e forma pequenas estruturas de cima para baixo. "Nota-se que as melhorias que ocorrem são executadas apenas por demanda, quando algum cidadão liga e reclama, por exemplo. Não há ações periódicas", diz o engenheiro civil Kleber José Berlando, um dos integrantes do grupo do estudo.

O viaduto de Santa Tereza, na região Leste de BH, o mais antigo entre os pesquisados – foi construído na década de 1920 –, também necessita de melhorias, mas obras de revitalização – que não incluem reforço estrutural – estão em andamento e, segundo os engenheiros do Ibape-MG, devem resolver grande parte dos problemas mostrados, sobretudo, referente ao guarda-corpo (confira informações nos infográficos).

Viaduto da Floresta (av. do Contorno, no Floresta)(foto: Maíra Vieira)
Viaduto da Floresta (av. do Contorno, no Floresta) (foto: Maíra Vieira)


Viaduto Pedro Aguinaldo Fulgêncio (av. Francisco Sales, no Santa Efigênia)(foto: Paulo Márcio)
Viaduto Pedro Aguinaldo Fulgêncio (av. Francisco Sales, no Santa Efigênia) (foto: Paulo Márcio)


A ocupação desordenada da cidade também é considerada entrave para a conservação dos viadutos. Como constatou o estudo, não é raro se deparar com sujeira acumulada nos sistemas de drenagem dessas estruturas, fato recorrente no viaduto Helena Greco, que liga a avenida Bias Fortes à Pedro II e à rua Padre Eustáquio. Tal situação pode passar despercebida, mas não tanto no período das chuvas, pois a consequência são alagamentos.

Além disso, os engenheiros do Ibape-MG notaram marcas de fogo, urina e fezes deixadas por pessoas que fazem de moradia a parte de baixo dos viadutos. A longo prazo, isso pode comprometer as vigas de sustentação, explicam os engenheiros. "Fiquei impressionado com a situação desses viadutos", diz o engenheiro civil Clemenceau Chiabi Saliba Júnior, que também participou do levantamento. Segundo ele, o concurso lançado pela PBH, recentemente, para revitalizar os baixios dos viadutos é importante, mas tal estratégia deve vir de mãos dadas com políticas sociais.

Complexo da Lagoinha (região compreendida entre Rodoviária, av. do Contorno, Via Expressa, av. Antônio Carlos, av. D.Pedro II e túnel de acesso à av. Cristiano Machado)(foto: Cláudio Cunha)
Complexo da Lagoinha (região compreendida entre Rodoviária, av. do Contorno, Via Expressa, av. Antônio Carlos, av. D.Pedro II e túnel de acesso à av. Cristiano Machado) (foto: Cláudio Cunha)


A iniciativa da PBH prevê a requalificação dessas áreas, com a construção de espaços para lazer, esporte e de convivência. São elas: o Helena Greco; o Cinquenta e Dois, na avenida Silva Lobo; o Engenheiro Andrade Pinto, no Barreiro; e o Pedro Aguinaldo Fulgêncio, no Santa Efigênia. Os projetos vencedores já foram divulgados, contudo, ainda não há previsão para executá-los.

Sobre a queda da alça do viaduto da avenida Pedro I, Clemenceau Chiabi recomenda que a perícia não fique restrita apenas ao ocorrido, já que outra estrutura na mesma via foi interditada no início do ano, depois de constatado um deslocamento de aproximadamente 30 cm. "É importante que uma vistoria mais ampla seja feita em todos os outros viadutos recém-construídos", diz.

 

Clique para ampliar e conferir os problemas dos principais viadutos de BH
Clique para ampliar e conferir os problemas dos principais viadutos de BH

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