

Por isso, embora surpreendente, o relato de perda de dentes não é raro no consultório de dentistas. Segundo Eduardo Mascarenhas, muitas vezes é apenas quando precisam extrair os dentes (porque já levam trincas até as raízes) que os pacientes se dão conta do bruxismo. Ele quase poderia ser considerado um "mal moderno": com altíssima incidência entre adultos e crianças. Fatores como estresse, tensão e ansiedade são apontados como as principais causas. Mas basta voltar atrás na história para perceber que essa parafunção (quando se excedem as funções normais da boca, como mastigar e deglutir) é comum ao homem há bastante tempo. O termo "bruxismo" vem do grego brýkhmós, que significa ranger os dentes. Na Bíblia, a a expressão ‘ranger os dentes’ aparece várias vezes com o sentido de sofrimento, aflição e tormento.
"No consultório, observamos que pacientes com bruxismo apresentam o que chamamos de perfil "responsável". São muito ansiosos, detalhistas, perfeccionistas e sofrem por antecipação. Mas isso não pode ser confirmado como regra geral nem utilizado para realizar um diagnóstico", diz o dentista Victor Guimarães. Por esses motivos, além do tratamento ortodôntico por meio de placas rígidas ou macias (de silicone), que devem ser usadas ao dormir, e, até mesmo, o uso de botox para paralisar o músculo do maxilar (em último caso), tratamentos complementares são sempre bem-vistos (confira quadro).

Perceber a existência dessa disfunção e a hora certa de procurar tratamento, no entanto, não é simples. Principalmente porque, na maioria do casos, as pessoas estão dormindo (bruxismo do sono) ou porque não notam um apertamento constante e discreto dos dentes quando estão acordadas (bruxismo em vigília). Isso faz com que os relatos de companheiros e familiares sejam parte importante do diagnóstico dos dentistas. Mas é no exame clínico que o profissional pode perceber o desgaste dos dentes e diagnosticar as diferentes variações para, então, determinar o tratamento adequado.
No caso de Mônica, o diagnóstico veio acompanhado de complementação de resina em muitos dos dentes já desgastados, além do uso da placa rígida e de acompanhamento médico para introdução de remédio controlado para ansiedade. A placa rígida, primeira opção dos dentistas, foi indicada para dormir, mas não funcionou bem e foi então substituída pela placa de silicone.
Uma terceira opção para quem não se adapta às placas, mas menos recomendada por dentistas, é o uso do botox. "O uso do botox é visto como uma opção porque paralisa a musculatura do maxilar, que é o responsável pelo ranger dos dentes. Mas isso requer reaplicações constantes e não é o mais indicado. É alternativa quando o paciente responde mal ao tratamento convencional", explica Eduardo Mascarenhas.
Até mesmo crianças sofrem dessa disfunção. É na faixa etária entre 5 e 8 anos que o bruxismo do sono alcança os índices mais altos na infância. Embora existam poucos estudos sobre o assunto, o dentista Victor Guimarães explica que a incidência costuma estar associada à erupção dos dentes incisivos centrais superiores.Também devem ser considerados outros fatores, especialmente relacionados à ansiedade. Crianças com bruxismo apresentam até 16 vezes mais chance de serem ansiosas. Nesse tipo de situação, a prática de esportes é indicada como boa alternativa para os pequenos.
