
Na data, momentos antes de pegar a estrada para curtir o réveillon em Búzios com o namorado, foi atingida em cheio pelo carro conduzido por Diandra Morais de Melo, que admitiu ter ingerido bebida alcoólica. Ela guardava a última bolsa no porta-malas do veículo parado na porta de casa, na avenida Raja Gabaglia. "Fiquei acordada e me lembro de tudo, da dor, do desespero das pessoas, mas passou e estou muito feliz", diz. "Também nunca me perguntei por que isso aconteceu comigo."

Com tanto pensamento positivo e amparada pela legião de admiradores que foi conquistando por sua postura, de lá para cá, a vida da estudante deu uma guinada. Linda e com alguns trabalhos de modelo no currículo, sua história sensibilizou, alastrou-se com rapidez pelo país e trouxe a popularidade nas redes sociais, transformando-a em referência de superação e autoestima. E, principalmente, um exemplo de força para os amputados. Só no Instagram, rede social de compartilhamento de fotos e vídeos, ela ganhou quase 200 mil seguidores depois do acidente. Com o número expressivo, dignos de uma it-girl, Paola agora usa a fama para mostrar que sua vida e de muitos deficientes físicos pode ser normal. E mais: recheada de aventura e boas surpresas.

Quem está sempre por perto apoiando as novas peripécias de Paola é Arthur Magalhães, de 22 anos, com quem começou a namorar duas semanas antes do acidente. "Ela tenta se superar o tempo inteiro, mas no começo, como sempre foi muito vaidosa, ficamos preocupados de como reagiria à amputação. Acabou surpreendendo e, na verdade, foi quem colocou todo mundo para cima. E eu fiquei sempre por perto, para quando ela precisasse da minha força, mas estou aqui esperando até hoje", diz Arthur, achando graça. O último desafio, em outubro, foi de dar frio na barriga. Também ao lado do namorado, ela experimentou o Parasail, esporte que consiste num voo sentado de paraquedas, preso em uma lancha, que pode chegar a 80 metros de altura. "De fato, os amputados têm limitações, mas quero mostrar que a vida pode ser muito legal, muito divertida e que podemos fazer tudo o que realmente quisermos", diz Paola.

Com a superexposição, os convites para participar de eventos ou fazer parcerias comerciais não param de chegar. Um deles, que ela considera a maior emoção até aqui, foi para participar do desfile beneficente anual da ONG Proação, ocorrido em agosto. O evento, realizado há 10 anos, é famoso por reunir marcas de renome da capital e celebridades na passarela. Dessa vez, porém, não teve para ninguém: quando Paola deu os primeiros passos no palco do Palácio das Artes, o público de quase 2 mil pessoas ficou de pé para aplaudi-la. Poucos sabiam, mas naquela noite era a estreia da garota na passarela, que devido à estatura mediana só havia feito até ali trabalhos como modelo fotográfica. E, para completar o desafio, decidiu usar um discreto, mas temido, saltinho, que exigiu mais de um mês de treino. "Eu não conhecia a Paola, mas o acidente me chocou demais, tenho uma filha e também me coloquei no lugar daquela mãe", diz a diretora social da ONG, Márcia Prudente. "Fiquei com aquela imagem na cabeça e meses depois tive a ideia de chamá-la para o desfile. Ela achou o máximo e topou. A Paola tem uma alegria que impressiona e digo que agora ela tem cadeira cativa no desfile, será nossa garota-propaganda."

Ela também foi convidada pela cantora e amiga Manu Gavassi, musa teen que tem mais de 10 milhões de seguidores nas redes sociais, para estar em seu novo clipe, Camiseta, lançado em meados de novembro. No mesmo mês, participou também do programa Encontro com Fátima Bernades. Quem filtra e acompanha todos os convites que a garota recebe é a mãe, Diva Antonini. "Minha vida ficou um pouco mais tumultuada. Tenho uma loja, três filhos, marido, a casa para cuidar, mas adoro participar desses momentos. Agora, eu não sou mais a Diva, sou a ‘mãe da Paola’. As pessoas me param em vários lugares e perguntam: ‘É você a mãe da Paola?’", diz Diva.

Com processo criminal que o Ministério Público move contra a condutora que causou o acidente e apesar das ações indenizatórias em que a família ainda dará entrada, Paola diz não ter sede de fazer justiça nem quer guardar mágoas. Ela está engajada é em sensibilizar as pessoas que misturam álcool e direção de forma imprudente. Para isso, quer contar sua história em um livro e, futuramente, fundar uma ONG para ajudar crianças e adultos amputados por acidente ou câncer a resgatar a vontade de viver e a autoestima. "Quero falar, principalmente, para as crianças, pois é muito mais difícil elas entenderem por que aquilo está acontecendo. Mostrar que minha vida é superlegal e a delas também será", diz. Apesar da garra e euforia de quem teve a chance de nascer de novo, Paola não tem pressa para tirar os projetos do papel. Nada mais natural para quem precisa agora, com calma, dar um passo de cada vez.