
Profissionais consagrados, eles estão prontos para seguir os pedidos mais variados. "Construí uma casa de 2.000 m2 com um só quarto", lembra Carlos Alexandre Dumont, o Carico. E quais são seus pequenos luxos, suas próprias exigências? Como vivem os principais arquitetos da cidade? Sete profissionais abriram as portas de suas casas e mostraram que a velha máxima de que santo de casa não faz milagre, no caso deles, não funciona. Com estilos diferentes, cada imóvel conta um pouco da história de quem está acostumado a definir como nós moramos.
Entre cores e amores

A decoração é pontuada por peças clássicas, como a poltrona Charles Eames, a mesa Saarinen e as cadeiras Le Corbusier na mesa de jantar. Mas são os "achados" e as peças herdadas que dão um toque pessoal. As cadeiras de jacarandá listradas em branco e azul vieram da antiga casa do pai, o arquiteto Ariel Santiago, na Pampulha. O lustre de pé art déco foi comprado em um antiquário de Paris e os dois patinhos de porcelana na entrada da cozinha são heranças da sogra, Zuleika Mendiciano. "Gosto de garimpar. Mesmo as peças assinadas são das décadas de 1970 e 1980", diz. Aos sábados, quando não está na piscina rodeada pela família e amigos, um de seus programas preferidos é dar um pulinho na feirinha de antiguidades do Colégio Arnaldo, na avenida Bernardo Monteiro, no Funcionários.
Direto do palácio

de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Há algumas décadas, o museu doou algumas delas para uma paróquia e o padre resolveu vender as que não foram usadas na obra da igreja. "Quando soube, não pensei duas vezes antes de comprar."
Casa de vidro

Um piano para chamar de seu

daminha. Foi amor à primeira vista. "Perguntei ao músico onde podia comprar um e ele me disse que aquele estava à venda", conta. No domingo, o instrumento já estava instalado em sua sala. "Eu tive aula quando criança e depois cheguei a fazer algumas e parei. Mas meu projeto é voltar", diz.
Lembranças coloridas

e Ana Vitória, já falecida. Há cerca de onze anos, elas pintaram os dois que ocupam a parede perto da escada, em ponto nobre da sala. "Meu pai (o arquiteto Ariel Santiago, também já falecido) nos ajudou. São peças marcadas por muitos sentimentos", afirma.
Tudo aqui tem design

E é, literalmente, no meio do mato. Os jardins, repletos de bambu, canela-de-ema, íris e licuri, estão ali por puro capricho da natureza. "É mata nativa, não tem a mão de um paisagista", destaca. Apesar de o projeto do imóvel não ser seu, Carico fez com que o espaço tivesse a sua assinatura. A primeira coisa foi substituir grande parte das paredes de alvenaria por vidro. "A casa, se construída em outro lugar, poderia ter virado uma estufa. Mas isso não aconteceu porque ela fica encoberta e rodeada por verde." Ali, diz o arquiteto, a temperatura é sempre 4° C mais baixa que na região central de BH.
A natureza acabou fazendo parte da decoração. Por onde se olhe, lá está ela, imponente, colorindo o horizonte. Luxo também são os móveis e objetos de arte colecionados por Carico durante sua vida. "Não compro cópia. Os que tenho aqui são originais, o que os tornam clássicos e definitivos", afirma. Tudo ali parece ter nome e sobrenome. Em uma parte da sala, as cadeiras Le Corbusier fazem companhia para a sinuosa long chair projetada por Oscar Niemeyer. Há ainda Charles Eames, Philippe Starck, Kuramata e Castiglioni. "Não gosto de garimpar.
Antiguidade aparece apenas nos detalhes", diz. Carico escolheu, por exemplo, ter o piso todo de madeira antiga, resgatado de fazendas centenárias pela artista Isaura Callas. Da casa da mãe, Marta, de 96 anos, trouxe uma cadeira Thonet. Um objeto cheio de design e história.
A gente quer diversão e arte

No meio do jardim

As curvas de Niemeyer

Tudo junto e misturado

Chique e sofisticado

Para Patrícia, que é fã de obras de design e de arte, nem tudo precisa de assinatura. Mas, se não foi criada por um artista, a peça precisa fazer sentido na vida dos moradores da casa. Ela é expert em marcar a decoração com objetos cheios de significados. "E isso é muito pessoal, nenhum arquiteto pode escolher quais são as lembranças mais importantes de um cliente", explica. "Para mim, duas pedras trazidas de Ouro Preto fazem sentido, mas não faria na casa de outra pessoa", afirma. Além do tronco do pau-ferro da Savassi, a arquiteta tem um cesto com folhas secas da embaúba plantada em seu jardim e conchas trazidas da Patagônia chilena.
A sala com três ambientes ganhou imensas portas de vidro, que deixam à vista o jardim - com um espaço recoberto de lavandas - e a piscina de borda infinita. Artistas como Eduardo Sued, Gonçalo Ivo e Siron Franco colorem as paredes.
Concreto, vidro e pedra

de arquitetura. Mas, se tivesse de usar uma palavra, seria contemporâneo." Patrícia diz que, antes de tudo, fez questão de respeitar
o terreno, inclusive usando um suave declive. Como o sol bate direto no imóvel, ela conta com uma piscina sempre ensolarada.
Direto da natureza

Integração total

Peça principal

e fotografia - sobre o móvel, ficam ali objetos de artes, entre eles uma escultura do Bruno Giorgi. O tapete é turco. "Encomendei durante
uma viagem à Capadócia. Eles fizeram do tamanho que eu queria e, algum tempo depois, me entregaram no Brasil."
Pousada rústica

Aos pés da lareira

Brinquedo para gente grande

Herança de família

Para o chef da casa

A moderninha e o retrô

O apartamento de 200 m2 fica em um prédio construído nos anos 1950 que ainda mantém o charme daquela década. No imóvel, a missão foi preservar o máximo possível. O banheiro cor-de-rosa e a cozinha amarela originais foram mantidos. As maiores reformas, no entanto, ficaram na sala. As paredes foram derrubadas, ampliando-se o espaço e garantindo uma luminosidade natural. A porta de treliça de madeira que divide a sala de estar com a de jantar foi preservada. "É uma peça muito marcante daquela época e que faz sentido com o estilo que escolhemos para a nossa casa", diz Ana. Junto há 10 anos, o casal vai adaptando seus gostos. "Ele é mais minimalista, se pudesse teria apenas um móvel de linha reta e pronto", explica a arquiteta. "Já eu gosto da mistura do kitsch com o moderno", diz, referindo-se ao estilo que tem como principal característica o exagero, a extravagância e o bom humor. Como exemplo, ela aponta a caveirinha vinda do México e o peixe Vista Alegre, comprado em Portugal. Cada peça ali representa um momento marcante da vida. "As coisas vão entrando de forma natural", explica ela, que achou o antigo tapete persa da sala de jantar em um antiquário de São Paulo. O quadro do fotógrafo Fábio Cançado foi presente de aniversário de casamento, assim como a xerografia de Liliane Dardot, que fica ao lado da coleção de frascos de vidro de farmácia de Silvio.
Sem cara de showroom

Dos tempos de criança

O colecionador

Diário de viagem

Cheia de poesia

Tem sempre algum amigo por ali. Apesar de estar na cidade, o clima é de casa de campo, com um clima acolhedor. Este era exatamente um antigo sonho da arquiteta, morar no meio do mato. "Não dirijo, por isso não podia me arriscar em ir para um condomínio", explica. Foi quase sem querer que ela achou o atual apartamento, em uma rua tranquila do bairro onde sempre morou. O imóvel, de 250 m2, dá de frente para uma pequena mata preservada. "Vira e mexe, acordo com miquinhos na minha janela. É a minha roça", comemora.
Um dos pontos altos da decoração é a imponente poltrona listrada Donna, do italiano Gaetano Pesce. Ela fica quase em frente ao escritório de Angela, que conta com uma prancheta de mais de 100 anos vinda de Mariana. Logo acima, um quadro de Fernando Lucchesi. "Eu quis só ter pintores mineiros contemporâneos nas paredes", diz Angela, apontando para um Amilcar de Castro, um Amadeo Lorenzato e um Angelo Marzano. O apartamento todo é pontuado com obras de arte. "Isso é a minha vida. Não tem nada aqui que eu poderia jogar fora, são peças que vão ficar para os meus netos", diz.
Perto da pequena cozinha gourmet, um antigo armário mineiro com mais de dois séculos guarda uma coleção de taças. As louças em art déco, localizadas na parte de cima do armário, foram compradas ao longo dos anos. "São esses detalhes que fazem a casa ficar com a cara do dono", explica.
Perfume oriental

Carinho de anfitriã

Do século XVIII

Pedra-sabão como estrela

Essencialmente clássico

Batalha ganha, Luís Fábio pensou em cada detalhe. "Sou extremamente organizado. E tentei aproveitar cada espaço", diz. Na copa, ele fez uma cristaleira, onde as taças são distribuídas por tamanho. Em vários pontos do imóvel há depósitos embutidos que ajudam a manter tudo no lugar. "Temos aqui o perfil de uma casa, tanto nas proporções quanto em sua funcionalidade."
A decoração de sua casa é clássica com toques contemporâneos. "É um projeto duradouro, não tem modismo." Como ponto inicial, ele escolheu um revestimento da Porto Belo que lembra mármore entalhado e tem um estilo da década de 1950, e colocou na parede da sala de descanso, onde também tem uma poltrona italiana Natuzzi. "A minha ideia é colocar um piano aqui e depois fazer algumas aulas", diz. Pelo visto, será preciso um monte de gente para içar mais um sonho de Luís Fábio.
Mistura certeira

Impacto imediato

Cada coisa em seu lugar

A arte de compor
