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Estado de Minas ENCONTRO DÉCOR | CAPA

Arquitetos de BH mostram como decoram suas próprias casas

Conheça os lares dos profissionais que assinam os projetos mais badalados da capital


postado em 21/11/2016 16:18 / atualizado em 21/11/2016 18:25

Um dos ambientes da sala do apartamento de 480 m2 de Luís Fábio Rezende de Araújo: clássico e contemporâneo em harmonia(foto: Samuel Gê/Encontro)
Um dos ambientes da sala do apartamento de 480 m2 de Luís Fábio Rezende de Araújo: clássico e contemporâneo em harmonia (foto: Samuel Gê/Encontro)
Dez quilos em pouco mais de um ano. Foi esse o peso que o arquiteto Luís Fábio Rezende de Araújo perdeu durante as obras de seu apartamento, no bairro Serra. "Não é fácil encarar uma reforma", admite ele, que derrubou as paredes do imóvel de 480 m2 e construiu um espaço totalmente novo. Já Patrícia Hermanny tenta, com bom humor, fugir da pergunta de quanto tempo levou para construir sua casa, na Lagoa dos Ingleses. "Tenho até vergonha de falar", diz. No total, foram mais de cinco anos. "É que estava sempre priorizando a obra dos clientes", justifica. Mãe de quatro filhos, Patrícia decidiu ter um imóvel grande, de 900 m2 e cinco suítes, para atender a família. "Quando ela ficou pronta, todos já tinham saído de casa", conta, rindo. Três deles já não vivem nem mais em BH. Morando sozinha, agora ela recebe a visita dos netos.

Profissionais consagrados, eles estão prontos para seguir os pedidos mais variados. "Construí uma casa de 2.000 m2 com um só quarto", lembra Carlos Alexandre Dumont, o Carico. E quais são seus pequenos luxos, suas próprias exigências? Como vivem os principais arquitetos da cidade? Sete profissionais abriram as portas de suas casas e mostraram que a velha máxima de que santo de casa não faz milagre, no caso deles, não funciona. Com estilos diferentes, cada imóvel conta um pouco da história de quem está acostumado a definir como nós moramos.

Entre cores e amores


Zilda Santiago | Formação: Instituto Metodista Izabela Hendrix | Tempo de carreira: 25 anos(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Zilda Santiago | Formação: Instituto Metodista Izabela Hendrix | Tempo de carreira: 25 anos (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
De todas as obras de arte que tem em casa, uma em especial faz o coração de Zilda Santiago acelerar. Com 1,50 x 1,50 m, o quadro colorido estampado com o Salmo 121 ocupa espaço nobre na sala. Ela o pintou com a ajuda das duas filhas, Maria Paula, de 13 anos, e Ana Vitória, já falecida. "Todas as telas foram pintadas por mim, mas as que tiveram a participação delas são, sem dúvida, as mais especiais", diz a arquiteta, que assinou o projeto da casa de 450 m2, localizada em um condomínio em Nova Lima. Há 13 anos, quando construiu o imóvel, a maior preocupação de Zilda era de que, apesar de ser moderna em seu exterior, a casa tivesse "vida" na parte interna. "Queria que as pessoas entrassem e não sentissem a frieza do moderno." Para isso, fez escolhas certeiras, como o piso de madeira e as portas altas e antigas em pinho de riga. "A madeira traz a ideia de aconchego", explica.

A decoração é pontuada por peças clássicas, como a poltrona Charles Eames, a mesa Saarinen e as cadeiras Le Corbusier na mesa de jantar. Mas são os "achados" e as peças herdadas que dão um toque pessoal. As cadeiras de jacarandá listradas em branco e azul vieram da antiga casa do pai, o arquiteto Ariel Santiago, na Pampulha. O lustre de pé art déco foi comprado em um antiquário de Paris e os dois patinhos de porcelana na entrada da cozinha são heranças da sogra, Zuleika Mendiciano. "Gosto de garimpar. Mesmo as peças assinadas são das décadas de 1970 e 1980", diz. Aos sábados, quando não está na piscina rodeada pela família e amigos, um de seus programas preferidos é dar um pulinho na feirinha de antiguidades do Colégio Arnaldo, na avenida Bernardo Monteiro, no Funcionários.

Direto do palácio

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Logo na entrada, a porta imponente, de 3 m de altura, é um dos grandes "achados" de Zilda. Ela veio do Museu Imperial
de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Há algumas décadas, o museu doou algumas delas para uma paróquia e o padre resolveu vender as que não foram usadas na obra da igreja. "Quando soube, não pensei duas vezes antes de comprar."

Casa de vidro

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Com pé-direito de 8 m de altura, a sala ganhou imensas janelas e portas de vidro, fazendo com que o interior e o exterior se tornassem uma só coisa. Quando se entra no imóvel, ainda no alto da escadaria, é possível ver a piscina que margeia boa parte da casa. Na decoração, Zilda não tem medo de cores. Na estante, uma coleção de murano chama a atenção. São treze vasos, com destaque para cinco vermelhos trazidos de Portugal.

Um piano para chamar de seu

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
A primeira vez que Zilda se deparou com um piano de 1/4 de cauda foi em um sábado, durante casamento em que sua filha seria
daminha. Foi amor à primeira vista. "Perguntei ao músico onde podia comprar um e ele me disse que aquele estava à venda", conta. No domingo, o instrumento já estava instalado em sua sala. "Eu tive aula quando criança e depois cheguei a fazer algumas e parei. Mas meu projeto é voltar", diz.

Lembranças coloridas

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Todas os quadros levam a assinatura de Zilda. Em grande parte deles, ela recebeu a ajuda das filhas, Maria Paula, de 13 anos,
e Ana Vitória, já falecida. Há cerca de onze anos, elas pintaram os dois que ocupam a parede perto da escada, em ponto nobre da sala. "Meu pai (o arquiteto Ariel Santiago, também já falecido) nos ajudou. São peças marcadas por  muitos sentimentos", afirma.

Tudo aqui tem design


Carlos Alexandre Dumont Carico | Formação: UFMG | Tempo de carreira: 35 anos(foto: Denis Medeiros/Encontro)
Carlos Alexandre Dumont Carico | Formação: UFMG | Tempo de carreira: 35 anos (foto: Denis Medeiros/Encontro)
Há 21 anos, Carlos Alexandre Dumont, o Carico, virou dono de seu próprio paraíso. Em um condomínio localizado a 7 km do BH Shopping está a casa de 250 m2 de um dos arquitetos mais conhecidos da cidade. "Era um sítio para passar os fins de semana. Aí percebi que era ótimo viver aqui, no mato", diz.

E é, literalmente, no meio do mato. Os jardins, repletos de bambu, canela-de-ema, íris e licuri, estão ali por puro capricho da natureza. "É mata nativa, não tem a mão de um paisagista", destaca. Apesar de o projeto do imóvel não ser seu, Carico fez com que o espaço tivesse a sua assinatura. A primeira coisa foi substituir grande parte das paredes de alvenaria por vidro. "A casa, se construída em outro lugar, poderia ter virado uma estufa. Mas isso não aconteceu porque ela fica encoberta e rodeada por verde." Ali, diz o arquiteto, a temperatura é sempre 4° C mais baixa que na região central de BH.

A natureza acabou fazendo parte da decoração. Por onde se olhe, lá está ela, imponente, colorindo o horizonte. Luxo também são os móveis e objetos de arte colecionados por Carico durante sua vida. "Não compro cópia. Os que tenho aqui são originais, o que os tornam clássicos e definitivos", afirma. Tudo ali parece ter nome e sobrenome. Em uma parte da sala, as cadeiras Le Corbusier fazem companhia para a sinuosa long chair projetada por Oscar Niemeyer. Há ainda Charles Eames, Philippe Starck, Kuramata e Castiglioni. "Não gosto de garimpar.

Antiguidade aparece apenas nos detalhes", diz. Carico escolheu, por exemplo, ter o piso todo de madeira antiga, resgatado de fazendas centenárias pela artista Isaura Callas. Da casa da mãe, Marta, de 96 anos, trouxe uma cadeira Thonet. Um objeto cheio de design e história.

A gente quer diversão e arte

(foto: Denis Medeiros/Encontro)
(foto: Denis Medeiros/Encontro)
Apesar de ter mudado praticamente toda a casa, inclusive trocando a escada de lugar, uma das coisas que sobreviveram às obras são as antigas janelas francesas. Diante de uma delas, Carico criou um espaço cheio de arte - e com um toque divertido. A cadeira Philippe Starck fica posicionada ao lado da mesa Liaigre, que exibe dois coloridos vasos Kosta Boda, comprados na loja L’Art de Vivre. "Até nos meus projetos, eu prefiro usar tons neutros. As cores entram nos objetos."

No meio do jardim

(foto: Denis Medeiros/Encontro)
(foto: Denis Medeiros/Encontro)
No quarto, há uma varanda fechada toda em vidro que funciona como um canto de relaxamento. É ali que, nos dias de folga, o casal toma um preguiçoso café da manhã ou passa horas lendo. Televisão é proibida. "E quando queremos dormir, é só clicar um botão que desce uma cortina blackout e veda completamente o ambiente", explica. Em um dos recantos, em cima do sofá, uma manta em lã de ovelha da Elisa Atheniense Home traz ainda mais aconchego ao lugar.

As curvas de Niemeyer

(foto: Denis Medeiros/Encontro)
(foto: Denis Medeiros/Encontro)
Contrastando com o piso de madeira vindo de antigas fazendas centenárias, uma long chair moderna, assinada por Niemeyer, chama a atenção. "Sou apaixonado por móveis. Essa cadeira não pode ser considerada um simples móvel, é uma obra de arte", diz o arquiteto. Para completar o ambiente, um quadro do artista plástico Thales e mesinhas Platner e Charles Eames. "Gosto de mudar as coisas de lugar. Os móveis estão sempre andando pela casa."

Tudo junto e misturado

(foto: Denis Medeiros/Encontro)
(foto: Denis Medeiros/Encontro)
Carico admite ser minimalista, mas precisou aprender a conviver com os objetos e acessórios incorporados à decoração pela mulher, a designer Elisa Atheniense. Peças trazidas de viagem retratam a vida do casal. Em um cantinho, uma coleção de pequenas estátuas do Cristo Redentor faz companhia para um vaso assinado pelo japonês Kuramata. Objeto de desejo dos apaixonados por design, a luminária Furtuny lembra uma sobrinha. "Era um sonho de consumo", assume.

Chique e sofisticado


Patrícia Hermanny | Formação: UFMG | Tempo de carreira: 35 anos(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Patrícia Hermanny | Formação: UFMG | Tempo de carreira: 35 anos (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Nada passa batido pelos olhos atentos de Patrícia Hermanny. Há alguns anos, ao sair de seu escritório, na Savassi, depois de uma chuva torrencial, ela viu uma árvore de pau-ferro no chão. Sua primeira ação foi ligar para um amigo paisagista, que lhe garantiu ser impossível o replantio. Entrou em contato com a prefeitura para saber o que fariam com a árvore. Descobriu que funcionários já estavam no local para cortar e descartar tronco e galhos. Patrícia não pensou duas vezes, foi até lá e encheu seu carro com vários pedaços de troncos que, hoje, fazem parte da decoração de sua casa, na Lagoa dos Ingleses. Eles compõem um cantinho charmoso, junto a um quadro do artista mineiro Daniel Bilac.

Para Patrícia, que é fã de obras de design e de arte, nem tudo precisa de assinatura. Mas, se não foi criada por um artista, a peça precisa fazer sentido na vida dos moradores da casa. Ela é expert em marcar a decoração com objetos cheios de significados. "E isso é muito pessoal, nenhum arquiteto pode escolher quais são as lembranças mais importantes de um cliente", explica. "Para mim, duas pedras trazidas de Ouro Preto fazem sentido, mas não faria na casa de outra pessoa", afirma. Além do tronco do pau-ferro da Savassi, a arquiteta tem um cesto com folhas secas da embaúba plantada em seu jardim e conchas trazidas da Patagônia chilena.

A sala com três ambientes ganhou imensas portas de vidro, que deixam à vista o jardim - com um espaço recoberto de lavandas - e a piscina de borda infinita. Artistas como Eduardo Sued, Gonçalo Ivo e Siron Franco colorem as paredes.

Concreto, vidro e pedra

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
O imóvel, de 900 m2, conta com cinco suítes. Assinado por ela, o projeto é rico em vidro, concreto e pedra. "Não gosto de definir estilo
de arquitetura. Mas, se tivesse de usar uma palavra, seria contemporâneo." Patrícia diz que, antes de tudo, fez questão de respeitar
o terreno, inclusive usando um suave declive. Como o sol bate direto no imóvel, ela conta com uma piscina sempre ensolarada.

Direto da natureza

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
"Eu gosto quando vou para uma cidade que não tem loja nenhuma por perto", diz Patrícia, que mesmo em lugares assim consegue achar "tesouros" que contam um pouco de sua própria história. Foi assim, por exemplo, quando ela achou um colar de conchas em meio à Patagônia chilena. Hoje, elas estão em sua estante, ao lado de uma luminária belga feita de fibras naturais, comprada durante uma viagem a Paris.

Integração total

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
A integração da cozinha com a área externa foi uma das soluções encontradas pela arquiteta. Ela lembra que, mesmo durante a obra, a família se reunia ali para preparar um almoço ou jantar. "A gente curtia a casa antes de ela ficar pronta", diz. Uma janela facilita no leva e traz de utensílios e pratos de um ambiente para o outro. Em tom de cinza chumbo, o espaço conta com uma grande bancada central e um lustre vindo diretamente da Maison & Objet de Paris.

Peça principal

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
A primeira peça que Patrícia escolheu para a casa foi a mesa feita de um catre antigo de casal, da loja Sandra e Márcio. "Para mim, essa mesa faz a sala, é a peça-chave. O resto é coadjuvante", diz. Além dos livros espalhados - de diversos assuntos, como arte contemporânea
e fotografia - sobre o móvel, ficam ali objetos de artes, entre eles uma escultura do Bruno Giorgi. O tapete é turco. "Encomendei durante
uma viagem à Capadócia. Eles fizeram do tamanho que eu queria e, algum tempo depois, me entregaram no Brasil."

Pousada rústica

Érika Steckelberg | Formação: Instituto Metodista Izabela Hendrix | Tempo de carreira: 18 anos (foto: Victor Schwaner/Encontro)
Érika Steckelberg | Formação: Instituto Metodista Izabela Hendrix | Tempo de carreira: 18 anos (foto: Victor Schwaner/Encontro)
O primeiro projeto assinado pela arquiteta Érika Steckelberg foi sua própria casa. Ela e o marido, o médico Angelo Pimenta Macedo, vieram de Teófilo Otoni para estudar na capital. "Uma das condições para continuarmos em Belo Horizonte era morarmos em uma casa, e não em apartamento", recorda-se. Depois de pesquisarem, encontraram um terreno de 1.800 m2 em um condomínio em Nova Lima. "Posso dizer sem medo que compramos por causa da vista", afirma. Dali é possível ver a Mata do Jambeiro, a Serra da Piedade e todo o mar de montanhas que a circunda. "A lua nasce de frente para o meu quarto, não há luxo maior que esse", diz. Érika, recém-saída da faculdade, foi "contratada" pelo marido. O principal pedido de Angelo era que a casa lembrasse uma pousada à beira-mar. "Ele queria se sentir em Arraial D’Ajuda", conta, rindo. Há 14 anos, eles começaram as obras. A casa, de quatro quartos, tem 430 m2 e recebeu algumas reformas com a chegada dos dois filhos do casal, Angelo Enrico, de 12 anos, e Angélica, de 10. A principal foi a construção da área de lazer, onde a família passa grande parte do tempo. É ali que eles preparam almoços para os amigos, principalmente bacalhau, uma das especialidades de Angelo. O forno e o fogão a lenha dividem espaço com a churrasqueira. Para completar, uma pequena piscina de hidromassagem. No local, além de uma dispensa, um quarto de hóspedes está sempre preparado para aqueles que resolvem esticar a diversão.

Aos pés da lareira


(foto: Victor Schwaner/Encontro)
(foto: Victor Schwaner/Encontro)
Nos dias mais frios, a área de lazer é substituída pela sala de estar, onde a lareira está sempre acesa. Logo acima dela, um quadro de Manfredo de Souzanetto dá um colorido especial ao espaço, onde predominam tons neutros. Além da cadeira Repos, de Antonio Cittero para Vitra, arandelas do designer Jader Almeida ficam posicionadas na estante e completam o visual mais clássico. "O que acho de mais mágico é que qualquer um se sente em casa aqui."

Brinquedo para gente grande

(foto: Victor Schwaner/Encontro)
(foto: Victor Schwaner/Encontro)
A poltrona Spun, do designer Thomas Heatherwick, é o ponto alto da área de lazer. Própria para ficar em ambientes externos, ela funciona como um pião em que a pessoa sentada roda de um lado para o outro sem cair. "Não há um amigo que venha aqui que não queira ter uma em casa. É uma farra", diz Érika, que escolheu para compor o ambiente um banco de madeira de demolição comprado em São João del-Rei, onde sua empresa, a CLS Arquitetura, também tem escritório.

Herança de família

(foto: Victor Schwaner/Encontro)
(foto: Victor Schwaner/Encontro)
Uma relíquia de família fica no quarto do filho mais velho da arquiteta, Angelo Enrico, de 12 anos. A antiga escrivaninha de madeira maciça pertenceu ao tio e ao pai do menino, quando tinham a idade dele. "Ele sempre diz que os dois tiveram uma carreira de sucesso, são bem-sucedidos e é o que Angelo deseja também para sua vida", diz Érika. "É uma peça que traz sorte para a família." Para dar um ar mais moderninho, ela pintou o móvel de azul-marinho.

Para o chef da casa

(foto: Victor Schwaner/Encontro)
(foto: Victor Schwaner/Encontro)
O marido de Érika, o médico Angelo Pimenta Macedo, adora cozinhar. Ele troca o jaleco pelo dólmã quase todos os dias. Às quartas, por exemplo, é dia de receber os amigos - só homens - em casa. A área de lazer, onde tem um espaço gourmet com churrasqueira e fogão e forno a lenha, conta também com uma geladeira para cervejas especiais. Na decoração, placas vindas de vários lugares do mundo, como Nova York, Paris e Madri, enfeitam as paredes.

A moderninha e o retrô

Ana Bahia | Formação: Universidade Fumec | Tempo de carreira: 17 anos(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Ana Bahia | Formação: Universidade Fumec | Tempo de carreira: 17 anos (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Desde que trocaram a casinha bucólica na Serra por um apartamento na Savassi, a vida do casal de arquitetos Ana Bahia e Silvio Todeschi mudou. A primeira coisa foi a venda de um carro. "Temos tudo pertinho, dá para viver a pé. Meu escritório fica a duas ruas. Venho almoçar em casa e ainda dá para dar uma dormidinha", conta Ana. Um dos motivos que os levaram à procura de um novo endereço foi a necessidade de mais espaço. "Meus pais são de Pará de Minas, e eu queria oferecer maior conforto quando eles precisam vir para cá", explica. Além disso, o casal queria garantir que Pedro, de 20 anos, filho de Sílvio, tivesse um espaço só dele.

O apartamento de 200 m2 fica em um prédio construído nos anos 1950 que ainda mantém o charme daquela década. No imóvel, a missão foi preservar o máximo possível. O banheiro cor-de-rosa e a cozinha amarela originais foram mantidos. As maiores reformas, no entanto, ficaram na sala. As paredes foram derrubadas, ampliando-se o espaço e garantindo uma luminosidade natural. A porta de treliça de madeira que divide a sala de estar com a de jantar foi preservada. "É uma peça muito marcante daquela época e que faz sentido com o estilo que escolhemos para a nossa casa", diz Ana. Junto há 10 anos, o casal vai adaptando seus gostos. "Ele é mais minimalista, se pudesse teria apenas um móvel de linha reta e pronto", explica a arquiteta. "Já eu gosto da mistura do kitsch com o moderno", diz, referindo-se ao estilo que tem como principal característica o exagero, a extravagância e o bom humor. Como exemplo, ela aponta a caveirinha vinda do México e o peixe Vista Alegre, comprado em Portugal. Cada peça ali representa um momento marcante da vida. "As coisas vão entrando de forma natural", explica ela, que achou o antigo tapete persa da sala de jantar em um antiquário de São Paulo. O quadro do fotógrafo Fábio Cançado foi presente de aniversário de casamento, assim como a xerografia de Liliane Dardot, que fica ao lado da coleção de frascos de vidro de farmácia de Silvio.

Sem cara de showroom

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
O clássico está presente na escolha das poltronas: uma Maggiolina, do italiano Marco Zanuso, divide espaço com o modelo Butterfly em pelo de vaca, criação do catalão Antoni Bonet e dos argentinos Juan Kurchan e Jorge Ferrari-Hardoy. Já os bancos vermelhos, de Charles Eames, colorem a sala. "Eu não queria um showroom. Os objetos carregam suas histórias e contam um pouco das nossas vidas."

Dos tempos de criança

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Ana cresceu entre linhas e agulhas. Sua mãe, Francisca, de 70 anos, sempre foi uma grande bordadeira. "Até hoje sou louca por qualquer coisa bordada, tenho toalhas mexicanas e outras em renascença, que herdei da minha sogra", diz. As peças mais queridas pela arquiteta são os dois primeiros vestidos que sua mãe bordou quando ela nasceu. As roupinhas foram colocadas em caixas de vidro e servem como quadros especiais na cabeceira da cama de casal.

O colecionador

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Nem mesmo o espírito minimalista de Silvio resiste aos detalhes que fazem a diferença em uma boa decoração. Há mais de 20 anos, ele coleciona antigos frascos de farmácia. "Alguns vieram de família, outros fomos comprando em antiquários." A maioria fica exposto em uma cristaleira no escritório, bem ao lado da coleção de porcelana de Ana. No entanto, oito potinhos são exibidos orgulhosamente na sala, ao lado de uma xerografia da artista Liliane Dardot.

Diário de viagem

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
No escritório, a parede atrás da mesa de trabalho ganhou objetos trazidos de vários lugares e que se transformaram em obras de decoração criativas na mão dos dois arquitetos. O cocar de índios veio de Trancoso, na Bahia. Já as máscaras são da África do Sul. "Os quadros foram presentes de amigos queridos", explica Ana. Os três na parte superior são do fotógrafo Marcelo Maia e os dois de baixo, de Carlos Teixeira.

Cheia de poesia


Angela Roldão | Formação: UFRJ | Tempo de carreira: 35 anos(foto: Leca Novo/Divulgação)
Angela Roldão | Formação: UFRJ | Tempo de carreira: 35 anos (foto: Leca Novo/Divulgação)
O segundo andar do dúplex de Angela Roldão, no Sion, é todo pensado no bem-estar de seus convidados. Um antigo blues toma conta do ambiente. Um bom vinho e bom bate-papo também não faltam. Detalhes carinhosos como as mantas  com estampas exclusivas da designer inglesa Tricia Guild estão sempre à mão para quando a noite chega, o tempo esfria e a conversa se estende pela madrugada.

Tem sempre algum amigo por ali. Apesar de estar na cidade, o clima é de casa de campo, com um clima acolhedor. Este era exatamente um antigo sonho da arquiteta, morar no meio do mato. "Não dirijo, por isso não podia me arriscar em ir para um condomínio", explica. Foi quase sem querer que ela achou o atual apartamento, em uma rua tranquila do bairro onde sempre morou. O imóvel, de 250 m2, dá de frente para uma pequena mata preservada. "Vira e mexe, acordo com miquinhos na minha janela. É a minha roça", comemora.

Um dos pontos altos da decoração é a imponente poltrona listrada Donna, do italiano Gaetano Pesce. Ela fica quase em frente ao escritório de Angela, que conta com uma prancheta de mais de 100 anos vinda de Mariana. Logo acima, um quadro de Fernando Lucchesi. "Eu quis só ter pintores mineiros contemporâneos nas paredes", diz Angela, apontando para um Amilcar de Castro, um Amadeo Lorenzato e um Angelo Marzano. O apartamento todo é pontuado com obras de arte. "Isso é a minha vida. Não tem nada aqui que eu poderia jogar fora, são peças que vão ficar para os meus netos", diz.

Perto da pequena cozinha gourmet, um antigo armário mineiro com mais de dois séculos guarda uma coleção de taças. As louças em art déco, localizadas na parte de cima do armário, foram compradas ao longo dos anos. "São esses detalhes que fazem a casa ficar com a cara do dono", explica.

Perfume oriental

(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
No pequeno escritório ao lado da janela, a prancheta antiga feita em pinho de riga está ao lado de um móvel vermelho da Brumol. Outro grande destaque fica por conta do biombo chinês que ocupa boa parte da parede da sala de estar. "Trouxe de uma viagem que fiz a Macao. É uma peça do século XVIII e talvez seja das mais valiosas que eu tenho", diz.

Carinho de anfitriã

(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
Guardadas em rolinhos na estante, à vista de todos, as mantas com estampas exclusivas da designer de interiores inglesa Tricia Guild estão sempre à mão para esquentar os convidados. No terraço, onde tem uma hidromassagem, uma cesta guarda toalhas de banho. "Isso de ter tudo por perto para os visitantes foi uma cliente que me ensinou. Eu aprendo muito com elas", diz.

Do século XVIII

(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
"Aqui ninguém tem medo de colocar o copo em cima de um móvel e manchar", diz. "A mesa de jantar foi feita com uma antiga porta de madeira, então, quanto mais manchada, mais história", explica. É assim também com o armário mineiro azul do século XVIII, onde a arquiteta guarda uma coleção de taças e louças. "Eu uso tudo no dia a dia. Adoro colocar uma mesa bonita e não tenho nada para ficar só guardado."

Pedra-sabão como estrela


(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
Com inúmeros prêmios conquistados em 35 anos de carreira, Angela costuma dizer que, antes da decoração, uma casa precisa de um bom projeto. "A arquitetura por si só é acolhedora", explica. A escolha do uso de materiais também é uma de suas marcas. No projeto do apartamento, a estrela é a pedra-sabão. "Eu coloquei em todo o piso e o banheiro inteiro é de pedra-sabão, da bancada às paredes", diz. Um detalhe também chama a atenção no lavabo. Logo acima do espelho, um trecho de Le Pont Mirabeau, do poeta francês Apollinaire, atrai os olhares: "Comme la vie est lente / Et comme l’Espérance est violente" (Como a vida é lenta/E como a esperança é violenta).

Essencialmente clássico

Luís Fábio Rezende de Araújo | Formação: Universidade Fumec | Tempo de carreira: 13 anos(foto: Samuel Gê/Encontro)
Luís Fábio Rezende de Araújo | Formação: Universidade Fumec | Tempo de carreira: 13 anos (foto: Samuel Gê/Encontro)
Foram precisos cinco homens para içar a porta de 2,40 x 2,40 m até o 10º andar do prédio na Serra. Luís Fábio Rezende de Araújo não mediu esforços para conquistar a casa dos seus sonhos. O resultado é de tirar o fôlego. Logo quando se cruza a tal porta, é difícil acreditar que estamos em um apartamento. "Derrubei absolutamente tudo e construí uma casa no lugar, só não fiz fundação e telhado", conta Luís Fábio, sobre o espaço de 480 m2 distribuídos em cinco quartos. "Tem vista definitiva graças ao Colégio Sagrado Coração de Maria, que fica aqui ao lado. É ventilado, amplo, com pé-direito alto e está todo em um único nível, ou seja, é um lugar para o resto da vida", explica Luís Fábio, que durante dois anos visitou inúmeros imóveis até encontrar um que o fizesse encarar uma obra pesada de mais de 18 meses. "A minha mulher (a psicóloga Herika Sadi Araújo) achou que eu tinha enlouquecido, porque o apartamento estava péssimo", lembra. "Por ela, íamos para um de 80 m2, mas já prontinho para entrar e morar", brinca.

Batalha ganha, Luís Fábio pensou em cada detalhe. "Sou extremamente organizado. E tentei aproveitar cada espaço", diz. Na copa, ele fez uma cristaleira, onde as taças são distribuídas por tamanho. Em vários pontos do imóvel há depósitos embutidos que ajudam a manter tudo no lugar. "Temos aqui o perfil de uma casa, tanto nas proporções quanto em sua funcionalidade."

A decoração de sua casa é clássica com toques contemporâneos. "É um projeto duradouro, não tem modismo." Como ponto inicial, ele escolheu um revestimento da Porto Belo que lembra mármore entalhado e tem um estilo da década de 1950, e colocou na parede da sala de descanso, onde também tem uma poltrona italiana Natuzzi. "A minha ideia é colocar um piano aqui e depois fazer algumas aulas", diz. Pelo visto, será preciso um monte de gente para içar mais um sonho de Luís Fábio.

Mistura certeira

(foto: Samuel Gê/Encontro)
(foto: Samuel Gê/Encontro)
A casa de Luís Fábio traduz muito do seu estilo. "O clássico traz requinte, sofisticação, mas ele sozinho deixa o ambiente carregado", explica. "O segredo é misturá-lo com o contemporâneo", completa. Para equilibrar os lustres de cristais, por exemplo, ele apostou em peças modernas como a poltrona do designer Marcelo Ligieri e retratos da fotógrafa Anna Neves. A mesa de centro em mármore, além de acender internamente, também conta com uma pequena lareira a álcool.

Impacto imediato

(foto: Samuel Gê/Encontro)
(foto: Samuel Gê/Encontro)
Logo quando chegam à porta, os convidados são recebidos em um hall. Lá, um aparador em carvalho assinado pelo próprio Luís Fábio guarda pequenas relíquias dos moradores, como porta-retratos com fotos do casamento. Logo acima, uma pintura chama a atenção. É Suzana Sadi, sogra de Luís Fábio, que foi retratada por Guignard em 1961. "Eles foram namoradinhos. Temos um xodó imenso por essa peça porque a Suzana morreu muito jovem, quando a Herika tinha 2 anos."

Cada coisa em seu lugar

(foto: Samuel Gê/Encontro)
(foto: Samuel Gê/Encontro)
Luís Fábio fez questão de atender a pequenos desejos de sua mulher, Herika. Um deles foi aterrar uma das varandas e plantar duas jabuticabeiras. "Ela fica disputando as frutas com os passarinhos." Trazer o verde para dentro dos ambientes é uma característica do arquiteto. "Tenho várias plantas espalhadas por aí e se pudesse teria mais. Elas trazem vida", defende.

A arte de compor

(foto: Samuel Gê/Encontro)
(foto: Samuel Gê/Encontro)
Quando não está no quarto, o casal adora passar o tempo na sala de TV. "Sou adepto do colorir em tons que não têm cor, como as variações de cinzas, beges, marrons e pretos", explica. Esse é um dos poucos ambientes que recebeu um tom diferente. O verde está tanto no sofá quanto nas almofadas. "Mesmo assim, sou discreto. Prefiro o neutro, que é mais homogêneo e não cansa", diz. Pouco antes da sala, a sinuosa cadeira La Chaise contrasta com uma composição de quadros de vários artistas, entre eles Eduardo Simas, Carlos Silvério e Anna Letycia.

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