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Estado de Minas ESPECIAL BAIRROS | SAVASSI E FUNCIONÁRIOS

Charme e localização privilegiada agradam os moradores da Savassi e do Funcionários

Os dois bairros se caracterizam por abrigarem lojas e gastronomia diversificadas, além de oferecerem fácil acesso a várias regiões da capital


postado em 22/08/2017 14:06 / atualizado em 22/08/2017 14:23

Os engenheiros Fausto Alves de Carvalho e Juliana Tavares Nogueira moram na rua Pernambuco com as filhas Ana Luiza e Manuela: escola, lazer, compras e serviços sem precisar sair do bairro(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Os engenheiros Fausto Alves de Carvalho e Juliana Tavares Nogueira moram na rua Pernambuco com as filhas Ana Luiza e Manuela: escola, lazer, compras e serviços sem precisar sair do bairro (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Com o cachimbo em mãos e soltando algumas baforadas, um senhor de estilo fashion e exótico circula diariamente durante horas pelos quarteirões da Savassi. A figura simpática e carismática é o aposentado e empresário Ponce de León, que conhece e cumprimenta lojistas, donos de bancas, brechós e floriculturas, além de mendigos e moradores de rua, que tem como seus fiéis escudeiros. "Ando tranquilo pelas ruas até de madrugada. Eles são meus guarda-costas", afirma Ponce. É nessas andanças que garimpa peças inusitadas para seu apartamento no bairro, que tem decoração única e criativa, com gravadores de fita cassete e rolo, toca-disco de vinil, telefones de manivela e máquina fotográfica de madeira com negativo de vidro. Em cada canto há uma memória. Objetos vintage misturam-se aos modernos e as frases em quadros na parede retratam o espírito de vida de Ponce, como "Felicidade é uma viagem, não é um destino".

Ele recebe com carinho amigos e parentes para lanches em seu apartamento. As conversas muitas vezes giram em torno da vida de Ponce e da própria região.  "Nos anos 1960 eu comia muito pão com  mortadela na Padaria Savassi", lembra. O estabelecimento ficava na esquina da avenida Getúlio Vargas com Cristovão Colombo, onde está atualmente uma loja de telefonia celular. Na época, Ponce estudava na Escola de Arquitetura da UFMG, na região. Era assíduo também do Cine Pathé, fechado em 1999 e que hoje abriga um estacionamento. Depois de morar por um longo período no Rio de Janeiro e no bairro Mangabeiras, Ponce decidiu há 17 anos retornar as caminhadas pela Savassi, mas como morador.

A médica Cláudia Cançado vive na agitada praça Diogo de Vasconcelos:
A médica Cláudia Cançado vive na agitada praça Diogo de Vasconcelos: "A Savassi tem suas dores e suas delícias" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Ele conta que os ares dos passeios mudaram. A rapazeada de camisa social, calça com bainha italiana e as garotas com saias plissadas e salto alto foram substituídos por hippies, skatistas, jovens de cabelos coloridos, tatuados e um público despojado que se mistura com os idosos, casais enamorados e crianças. A tecnologia tomou conta do quarteirão da praça Diogo de Vasconcelos, que hoje está rodeada por lojas de telefonia celular. Em lugar de muitas livrarias e boates, chamadas na época de inferninhos, entraram tatuadores e barbearias estilizadas.

As caminhadas tornaram-se cada vez mais frequentes depois que vendeu seu carro, há um ano. "Aqui tem tudo o que preciso. O meu carro ficou quatro anos na garagem sem uso. Decidi vender", afirma. Ele vai para o centro da capital, Praça da Liberdade e até ao Mercado Central a pé. As andanças levaram Ponce a observar também deslizes pelo bairro, como os buracos e a falta de cuidado nas calçadas, muitas destruídas. "Em alguns quarteirões, tenho de andar no asfalto", diz. Mas os percalços de longe fazem o aposentado desanimar com o bairro: "Tudo acontece por aqui, a efervescência da cidade. É como se fosse a Ipanema de Belo Horizonte", compara.

Os bairros Funcionários e Savassi marcam também a história do médico Luiz Carlos Teixeira e de sua mulher, Fernanda de Mello Teixeira. Foi lá que se conheceram e namoraram durante muitos anos. Hoje moram em apartamento na região com as filhas, Luiza, de 17 anos, e Júlia, de 12. O casal se viu pela primeira vez em julho de 1997, um dia depois da comemoração da formatura de Luiz Carlos. Ele saiu da festa com os colegas já ao raiar do dia. E estendeu a diversão pela manhã em um bar que ficava aberto 24 horas na região. Foi lá que encontrou Fernanda, que tomava café e lia jornal. O resultado da boemia foram as alianças nos dedos. "A energia daqui é boa", afirma Fernanda. "A Savassi é dinâmica, tem sempre coisa nova", diz Luiz Carlos.

A família não costuma sair do bairro e os passeios são sempre feitos a pé. Durante o dia, Fernanda caminha com a a yorkshire terrier Cacau Sweet Angels. Em fevereiro o casal vendeu um dos carros. "Vimos que não tinha sentido ter dois", diz o médico. As filhas estudam na vizinhança, no Colégio Logosófico. "Todo mundo passa pela Savassi. É o bairro de referência do belo-horizontino", completa.

O médico Luiz Carlos Teixeira, a mulher, Fernanda de Mello Teixeira, e as filhas Luiza e Júlia, com a Yorkshire Terrier Cacau Sweet Angels: namoro e casamento entre a Savassi e Funcionários(foto: Violeta Andrada/Encontro)
O médico Luiz Carlos Teixeira, a mulher, Fernanda de Mello Teixeira, e as filhas Luiza e Júlia, com a Yorkshire Terrier Cacau Sweet Angels: namoro e casamento entre a Savassi e Funcionários (foto: Violeta Andrada/Encontro)
As opções de lojas e serviços, na opinião do casal, são para todos os bolsos. "É ilusão achar que as coisas são mais caras aqui", diz Fernanda. "Temos desde restaurantes sofisticados a um PF bem econômico em lugares mais populares", afirma Luiz Carlos. A sua maior preocupação é com a violência, que segundo ele vem crescendo, principalmente no período da noite. "E o bairro não está preparado para receber grandes eventos, como o carnaval. Os jardins e canteiros acabam depredados", observa. Eles costumam ir a pé a shows no Chevrolet Hall e Luiz Carlos gosta de frequentar bares com cerveja artesanal, assim como tratar da barba em uma das diversas casas especializadas que pipocaram pela região nos últimos anos.

Os moradores da Savassi e do Funcionários raramente respondem com firmeza em qual dos dois bairros moram. Isso acontece porque nem o Correio sabe direito em que bairro estão. A família dos engenheiros Fausto Alves de Carvalho e Juliana Tavares Nogueira mora na rua Pernambuco e recebe correspondências no apartamento nomeadas em três bairros: Centro, Savassi e Funcionários. "Mas na hora que chega o IPTU, o bairro é Savassi", brinca Fausto.

Eles também se desfizeram de um dos carros há dois meses. "Só dirigimos no fim de semana", diz Fausto. As duas filhas do casal, Ana Luiza, de 11, e Manuela, de 7, estudam no colégio Santo Antônio, a um quarteirão do prédio onde moram. Elas vão para a natação e inglês a pé. Juliana trabalha a dois quarteirões de casa e Fausto, a quatro. "Fazemos tudo na região. Até médicos vamos por aqui. Tem de todas as especialidades", diz Juliana.  A família não arreda o pé do bairro nem na hora de ir a  salão de beleza, supermercado, bancos, farmácia e shopping. "É muito plano, facilita a locomoção", diz Juliana, que passeia diariamente pelas ruas com a cachorrinha Charlote, da raça shih tzu. A reforma da praça da Savassi, segundo Fausto, ajudou a movimentar mais a região e as lojas.

Se alguns moradores se confundem entre Savassi e Funcionários na hora de passar o endereço, a médica Cláudia Cançado não faz parte da regra. Não é para menos. Ela mora no coração da Savassi, na praça Diogo de Vasconcelos, entre as avenidas Getúlio Vargas e Cristovão Colombo. A escolha pela região aconteceu há 10 anos em função da escola do filho, Renato Gontijo. Na época, ele estudava no Colégio Santo Antônio. "A facilidade de locomoção fez com que ele ficasse independente aos 14 anos e não me prendeu tanto", diz. As aulas de vôlei e inglês também eram na vizinhança.

O aposentado e empresário Ponce de León passeava na região como estudante e hoje é morador:
O aposentado e empresário Ponce de León passeava na região como estudante e hoje é morador: "Tudo acontece por aqui, a efervescência da cidade. É como se fosse a Ipanema de Belo Horizonte" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Em função do ponto de fácil acesso, os trabalhos de escola e reunião de amigos aconteciam com frequência na casa de Renato. "Ele acabou ficando sob a minha supervisão sem que eu tivesse de fazer grande esforço na logística", lembra Cláudia. Hoje, Renato mora em Los Angeles, na Califórnia. Mas Cláudia decidiu continuar na região. "É um local de passagem para o centro, zona sul e área hospitalar. A conexão é boa com todos os bairros de BH", diz.

O ponto privilegiado e o lar acolhedor fazem com que Cláudia esteja com o apartamento sempre cheio de visitas, seja amigos seja familiares do interior. "É fácil pegar carona para cá. Tem sempre alguém passando perto", diz.  Admiradora de livros, a médica sente saudades das diversas livrarias tradicionais que fecharam as portas nos últimos anos. Na sua avaliação, a revitalização da praça foi boa, mas a segurança da região deixa a desejar. O barulho é outro incômodo forte. "No período da Copa do Mundo, parecia que estavam tocando o tambor dentro do meu quarto", diz. No carnaval, ela sempre viaja ou vai para a casa da mãe. "É inviável ficar em casa."

A sujeira é outra reclamação da médica. "Pelo menos duas vezes por mês tem evento grande aqui e não dá nem para sair de carro", diz. Aliás, a frente da garagem obstruída por motoristas é outro problema que ela enfrenta com frequência. A Savassi, diz, tem suas dores e delícias. E as delícias sempre falam mais alto, pois, seja no lazer, nas compras, seja nos encontros com os amigos, a opção dos moradores é a mesma: ficar nas redondezas da região boêmia, que tem histórias e diversidade de público, lojas, serviços e gastronomia.

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