
O Guaja, onde Samira fincou sua bandeira há um ano, é um dos 47 espaços na capital - entre 67 em Minas Gerais - detectados pelo Censo Coworking Brasil em 2017. Belo Horizonte aparece como a terceira cidade em quantidade de estabelecimentos, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro, e o número aqui praticamente dobrou em relação ao ano anterior. De acordo com o levantamento, temos 2.557 estações de trabalho em Minas, por onde circulam, em média, 25 mil pessoas por mês. Esses espaços movimentaram 10 milhões de reais em 2016. Em BH, esses lugares se concentram fortemente na região Centro-Sul, em bairros como Savassi, Funcionários e Lourdes. Apostam em arquitetura e decoração mais sóbrias, mais descoladas ou mais simples, em sintonia com a proposta e o público-alvo. A expectativa é de que no censo deste ano, que deve ser divulgado no segundo semestre, esse número cresça significativamente.

Atualmente, as comodidades dos coworkings podem incluir vaga de estacionamento, material de papelaria e pequenas bossas como café moído na hora, um bom queijo canastra ou vestiário. O ambiente comum custa geralmente entre 400 e 900 reais por mês, com a possibilidade de meio expediente. Salas para quatro pessoas, de 2 mil a 4 mil reais. Geralmente há ainda um pacote mais básico, o escritório virtual, que consiste em secretariado e endereço comercial, para quem trabalha em casa, em alguns casos com direito a uma cota de uso de sala de reunião. Com assinatura na faixa de 150 a 350 reais, essa modalidade não aproveita um benefício do modelo: o networking, ou seja, a construção de contatos profissionais com base na convivência.

No São Pedro, a fundadora da Aldeia Jabuticaba, centro de brincadeiras e desenvolvimento infantil, reservou uma área para um café anexo, ideia que surgiu depois de estar num lugar assim na capital paulista. "O propósito é poder acolher a família toda. Às vezes fica muito difícil trabalhar com criança em casa", observa Pollyanna Xavier. Ao lado das opções saudáveis de lanche, a dona do estabelecimento, Laurinda Roque, oferece banda larga e tomadas em todas as mesas. "Uma cliente com mudança marcada para a França fez o intensivo de idioma aqui, encontrando o professor e usando o notebook", diz. Ela estima que, nas férias, pais e mães representam mais de metade dos frequentadores. Só 3% dos espaços de trabalho compartilhado são kids-friendly, segundo o censo do Coworking Brasil.

Assim como o empreendedorismo, os espaços de trabalho compartilhados também costumam crescer em tempos de crise. "Em 2015, dobramos de envergadura", diz Bruna, da CWK. Naquele ano, a economia brasileira encolheu 3,77%. Dali até 2017, segundo o IBGE, o país fechou 2,88 milhões de postos formais e pela primeira vez o número de pessoas que trabalham por conta própria ou em vagas sem carteira assinada superou o de empregados. A expansão do compartilhamento, no entanto, não é meramente conjuntural, e veio para ficar, na onda de Uber, Airbnb e similares, apostam seus promotores e adeptos. "É o espaço físico seguindo as mudanças tecnológicas", diz Dante Righetto, um dos diretores executivos no Brasil da Regus, que divulga contar com uma cartela de 3 mil endereços em 120 países. "Hoje você não precisa de um computador enorme. Tendo uma conexão wi-fi, resolve-se tudo com um laptop e um celular." Quem contrata um plano da rede pode usar qualquer "porto" desses ao viajar. As instalações seguem o mesmo padrão no mundo todo, com salas privativas, uma recepção, um lounge e uma copa para todos os locatários. Ao lado de autônomos, o formato compartilhado vem sendo usado para downsizing (redimensionamento de estruturas) de grandes empresas e para pesos-pesados do PIB botarem o pé em novos mercados, abrindo filiais.

Os fundadores de outros espaços sinalizam na direção de intensificar, cada um do seu jeito, a vertente cooperativa. Maurício Martins, do MM, lista três iniciativas de cunho social que ele está formatando em torno do escritório partilhado: uma plataforma de educação para o empreendedorismo com o Sebrae; um curso de inglês, com refugiados como professores, para jovens que não têm condição de pagar uma escola particular de línguas; e um projeto de inclusão digital. Consolidar uma aceleradora com base em seu cartel de inquilinos/parceiros é a prioridade para Leonardo, da Synergyco, em 2018. "Desde o começo, meu objetivo não era trabalhar apenas com aluguel de salas, e sim fomentar e desenvolver negócios e aprimoramento."

