
"Não sou contra o tombamento, mas acho que os proprietários mereciam mais contrapartidas, já que a manutenção dessas edificações é muito cara", diz Breno Donato, vice-presidente das Corretoras de Imóveis da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi-MG). Atualmente, o proprietário de imóvel tombado é isento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e pode comercializar o seu potencial construtivo. Os benefícios, entretanto, não são suficientes para compensar os prejuízos, segundo alguns representantes do segmento.

Quem compartilha da mesma crítica é José Francisco Cançado, vice-presidente da Área Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). "Essas edificações pertencem a pessoas comuns que cuidaram do imóvel a vida toda e que não são recompensadas por isso", diz ele. De acordo com José Francisco, a lei que rege os bens tombados deveria ser revista.

Enquanto isso, casarões no Santo Antônio, entre as ruas Congonhas, Santo Antônio do Monte e Leopoldina, estão à espera de uma definição. Desde 2014, o quarteirão está coberto por tapumes de metal para evitar invasões. A construtora Canopus tem um projeto de erguer torres no lugar. Entre as casas, está a que abrigou o escritor e médico João Guimarães Rosa.

Esse é o negócio da Decisão Engenharia, especializada em restauração de imóveis tombados. Foi ela também que criou o primeiro banco de UTDCs de BH. O diretor executivo Maurílio Duarte Câmara explica que esse instrumento foi criado para "recompensar a desvalorização que o imóvel sofre com o tombamento". Funciona da seguinte maneira: como o imóvel tombado não pode ser demolido, o potencial construtivo que seria usado no terreno pode ser comercializado para empreendedores do setor da construção. As construtoras podem, a partir das UTDCs, aumentar em até 20% o tamanho das suas obras. Mais de 900 UTDCs já foram comercializadas pela Decisão Engenharia. Para que o imóvel gere a unidade de potencial construtivo, ele deve ser restaurado. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Palácio Cristo Rei, que pertence à Arquidiocese de BH.
Ernane Borba, presidente da Decisão Engenharia, está à frente também da Associação Brasileira de Propriedade de Bens Móveis e Imóveis Tombados ou de Interesse Cultural e Ambiental (Abrapit). Ele conta que o papel da entidade é criar uma voz coletiva nos órgãos públicos "para que possam existir mais políticas urbanas para a preservação desses bens". Em outras palavras, a batalha é para que possuir um bem tombado signifique, também, um bom negócio.