No Bernoulli, o uso de celulares é permitido nos intervalos e, em sala de aula, para fins pedagógicos autorizados pelos professores. "Tem aluno que vai tirar o telefone da mochila quando não autorizado e dar uma olhada? Sim. Mas isso faz parte do processo educativo, e não podemos nos eximir dessa tarefa de convencer os alunos das regras", diz Marcos Raggazzi, diretor pedagógico executivo do Bernoulli Educação.
Para Ragazzi, a tecnologia digital na educação não pode se limitar ao desktop na escola ou mesmo aos tablets. "O smartphone é uma extensão corpórea, principalmente dos nativos digitais", afirma. "Além disso, tem utilidades muito além de acesso à internet para sites de busca, inclusive com uso de sensores, acelerômetros, etc." Aluna da 1ª série do ensino médio, Gabriela Dumont gosta de poder mexer no telefone na escola, mas admite que às vezes não é fácil se controlar e usar apenas para fins pedagógicos. "Concordo que a escola precisa ter uma política, porque às vezes a gente realmente se distrai", afirma. "Mas os vídeos me ajudam muito a estudar e podemos também acessar os apps do Bernoulli. Eu acho muito bom", explica.
O colégio Santa Dorotéia, desde o início deste ano, tem intensificado o uso da ferramenta a partir do 9º ano do fundamental. Lá também é permitido mexer no telefone durante os intervalos, e o uso com intenção pedagógica está em ascensão. "É com objetivo de dar um novo sentido àquele objeto que eles amam tanto", explica a supervisora pedagógica Rosalva Ribas. Segundo ela, a forma de evitar que os estudantes se desviem do propósito das tarefas em que são convidados a usar a ferramenta é fazer com que essas atividades sejam sempre bem orientadas, com objetivo definido e prazo para serem entregues. "Temos tentado, por meio do uso educacional, tirar essa ansiedade dos alunos para o uso inadequado do celular. E temos tido bons resultados", afirma.
Na contramão das escolas que tentam abraçar o aparelho que parece não se descolar da mão das crianças e adolescentes, o Instituto Educacional Ouro Verde, de pedagogia Waldorf, proíbe o uso do smartphone na escola, que vai até o fim do ensino fundamental, inclusive nos intervalos e recreio. "A nossa base pedagógica tem como premissa que as vivências são a fonte principal de aprendizado. E que a gente aprende no contato humano, no contato com a natureza, com o ambiente que nos cerca", diz Bartira Gotelipe, professora de classe do 7º ano. "Na pedagogia Waldorf, o uso tecnológico é deixado para o ensino médio, porque a gente vê que pode ser uma excelente ferramenta, desde que chegue depois do maior número de vivências reais possível", completa.
A aluna Rafaela Nogueira, de 13 anos, e várias de suas colegas de sala vieram de escolas em que o uso do aparelho era permitido. "Até o dever de casa eu acessava em um aplicativo, e na sala a gente podia usar o celular para pesquisas e ouvir música enquanto copiávamos a matéria", conta. Apesar de sentirem falta de poder dar uma conferida no que está rolando no mundo digital de seus aparelhos, um dos pontos positivos da proibição, contam as estudantes, é que quem não tem smartphone não fica de fora das atividades do recreio. Em vez de ser curtido com joguinhos e vídeos, o intervalo é passado com uma boa e velha conversa tête-à-tête.
Os prós e contras do uso do aparelho no ambiente educacional
Prós
- Pode motivar os alunos em sala de aula
- Tem potencialmente milhares de ferramentas úteis em termos pedagógicos
- Quanto aos momentos em que o uso é ou não permitido, há a possibilidade de se trabalhar a autonomia dos estudantes e a habilidade de seguir regras
Contras
- Alunos podem acessar aplicativos que fogem ao propósito da aula e se distrair facilmente
- A escola deixa de ser um espaço de "desintoxicação" de uma relação normalmente já intensa entre estudante e celular
- Nos momentos de uso livre do celular (como o recreio), os alunos que ainda não têm o aparelho podem se sentir excluídos