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Estado de Minas ESPECIAL EDUCAÇÃO | TECNOLOGIA

Afinal, o uso do celular deve ser permitido dentro das escolas?

Smartphones invadiram a vida de adolescentes e até de crianças, que querem usá-lo também no ambiente escolar. Em BH, há desde instituições que se esforçam para incluir o dispositivo no aprendizado até as que preferem deixá-lo do lado de fora


postado em 25/09/2018 14:14 / atualizado em 25/09/2018 14:42

Luca Pires, Maria Julia de Castro, Ana Beatriz Moraes e Marianna França, alunos do ensino médio do Santa Dorotéia, usam o celular dentro de sala, em atividades pedagógicas:
Luca Pires, Maria Julia de Castro, Ana Beatriz Moraes e Marianna França, alunos do ensino médio do Santa Dorotéia, usam o celular dentro de sala, em atividades pedagógicas: "O objetivo é dar um novo sentido àquele objeto que eles amam tanto", explica a supervisora pedagógica Rosalva Ribas (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Virou lei. A partir deste mês de setembro, alunos de escolas públicas francesas de idades entre 6 e 15 anos estão proibidos de usar o telefone celular dentro das instituições de ensino. Aprovada em julho passado pelo parlamento, a regulamentação foi polêmica, trouxe muito debate e ainda não é consenso entre especialistas ou políticos no país. Concordando ou não com a medida, não dá para negar que a questão do smartphone se apresenta como um desafio no ambiente escolar. Ainda na França, por exemplo, o sindicato de diretores de escolas estima que entre 30% e 40% das sanções impostas contra alunos têm a ver com o uso dos aparelhos fora de hora. No Brasil, onde, segundo o IBGE, o percentual de usuários de celular para uso pessoal já é de 39,8% no grupo etário de 10 a 13 anos e de 70% entre 14 e 17 anos, não pode ser diferente. Assim, escolas têm precisado se posicionar quanto ao gadget. Em BH, os colégios particulares adotam posturas variadas, desde a proibição total até a tentativa de integrar o dispositivo como a ferramenta de aprendizado.

No Bernoulli, o uso de celulares é permitido nos intervalos e, em sala de aula, para fins pedagógicos autorizados pelos professores. "Tem aluno que vai tirar o telefone da mochila quando não autorizado e dar uma olhada? Sim. Mas isso faz parte do processo educativo, e não podemos nos eximir dessa tarefa de convencer os alunos das regras", diz Marcos Raggazzi, diretor pedagógico executivo do Bernoulli Educação.

A aluna Rafaela Nogueira (centro) com as colegas de sala Júlia Siqueira, Kauany Silva Xavier, Luiza Pacífico, Monique Souza Rocha (em pé, da esq. para a dir.), Tainá Oliveira e Júlia Araújo; (sentadas, da esq. para a dir.): recreio sem telefone é sinônimo de muito bate-papo real(foto: Violeta Andrada/Encontro)
A aluna Rafaela Nogueira (centro) com as colegas de sala Júlia Siqueira, Kauany Silva Xavier, Luiza Pacífico, Monique Souza Rocha (em pé, da esq. para a dir.), Tainá Oliveira e Júlia Araújo; (sentadas, da esq. para a dir.): recreio sem telefone é sinônimo de muito bate-papo real (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Para Ragazzi, a tecnologia digital na educação não pode se limitar ao desktop na escola ou mesmo aos tablets. "O smartphone é uma extensão corpórea, principalmente dos nativos digitais", afirma. "Além disso, tem utilidades muito além de acesso à internet para sites de busca, inclusive com uso de sensores, acelerômetros, etc." Aluna da 1ª série do ensino médio, Gabriela Dumont gosta de poder mexer no telefone na escola, mas admite que às vezes não é fácil se controlar e usar apenas para fins pedagógicos. "Concordo que a escola precisa ter uma política, porque às vezes a gente realmente se distrai", afirma. "Mas os vídeos me ajudam muito a estudar e podemos também acessar os apps do Bernoulli. Eu acho muito bom", explica.

O colégio Santa Dorotéia, desde o início deste ano, tem intensificado o uso da ferramenta a partir do 9º ano do fundamental. Lá também é permitido mexer no telefone durante os intervalos, e o uso com intenção pedagógica está em ascensão. "É com objetivo de dar um novo sentido àquele objeto que eles amam tanto", explica a supervisora pedagógica Rosalva Ribas. Segundo ela, a forma de evitar que os estudantes se desviem do propósito das tarefas em que são convidados a usar a ferramenta é fazer com que essas atividades sejam sempre bem orientadas, com objetivo definido e prazo para serem entregues. "Temos tentado, por meio do uso educacional, tirar essa ansiedade dos alunos para o uso inadequado do celular. E temos tido bons resultados", afirma.

Na contramão das escolas que tentam abraçar o aparelho que parece não se descolar da mão das crianças e adolescentes, o Instituto Educacional Ouro Verde, de pedagogia Waldorf, proíbe o uso do smartphone na escola, que vai até o fim do ensino fundamental, inclusive nos intervalos e recreio. "A nossa base pedagógica tem como premissa que as vivências são a fonte principal de aprendizado. E que a gente aprende no contato humano, no contato com a natureza, com o ambiente que nos cerca", diz Bartira Gotelipe, professora de classe do 7º ano. "Na pedagogia Waldorf, o uso tecnológico é deixado para o ensino médio, porque a gente vê que pode ser uma excelente ferramenta, desde que chegue depois do maior número de vivências reais possível", completa.

A aluna Rafaela Nogueira, de 13 anos, e várias de suas colegas de sala vieram de escolas em que o uso do aparelho era permitido. "Até o dever de casa eu acessava em um aplicativo, e na sala a gente podia usar o celular para pesquisas e ouvir música enquanto copiávamos a matéria", conta. Apesar de sentirem falta de poder dar uma conferida no que está rolando no mundo digital de seus aparelhos, um dos pontos positivos da proibição, contam as estudantes, é que quem não tem smartphone não fica de fora das atividades do recreio. Em vez de ser curtido com joguinhos e vídeos, o intervalo é passado com uma boa e velha conversa tête-à-tête.

Os prós e contras do uso do aparelho no ambiente educacional

Prós

  • Pode motivar os alunos em sala de aula

  • Tem potencialmente milhares de ferramentas úteis em termos pedagógicos

  • Quanto aos momentos em que o uso é ou não permitido, há a possibilidade de se trabalhar a autonomia dos estudantes e a habilidade de seguir regras

Contras

  • Alunos podem acessar aplicativos que fogem ao propósito da aula e se distrair facilmente

  • A escola deixa de ser um espaço de "desintoxicação" de uma relação normalmente já intensa entre estudante e celular

  • Nos momentos de uso livre do celular (como o recreio), os alunos que ainda não têm o aparelho podem se sentir excluídos

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