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Estado de Minas ESPORTE | PERFIL

Nadador mineiro está no hall da fama da natação mundial

Dono de uma medalha olímpica, Marcus Mattioli entrou, recentemente, para o International Masters Swimming Hall of Fame, considerado o maior reconhecimento internacional a um atleta da categoria


postado em 21/02/2019 16:42 / atualizado em 21/02/2019 16:55

O supercampeão Marcus Mattioli: após entrar na equipe de másters do Minas Tênis Clube, ele acumulou 20 recordes mundiais, 29 medalhas de ouro e três de prata(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
O supercampeão Marcus Mattioli: após entrar na equipe de másters do Minas Tênis Clube, ele acumulou 20 recordes mundiais, 29 medalhas de ouro e três de prata (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Ele ainda era bem pequeno quando começou a nadar, aos 3 anos de idade. O pai, seu primeiro técnico, nunca teve dúvidas do talento do caçula. Com o apoio da família, aos 5, Marcus Matiolli já seguia a trilha dos irmãos nadadores (Alexandre, Rodrigo e Ricardo) e ganhava sua primeira medalha, na categoria mini-mirim. Daí em diante o pódio se tornou um lugar bastante comum para ele. Nos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, aos 18 anos, o atleta do Minas Tenis Clube, conquistou a única medalha olímpica de Minas Gerais na natação. A prova era o revezamento 4x200 metros nado livre e a equipe brasileira levou o bronze. Este ano, aos 58, ele trouxe mais festa para a natação mineira ao entrar para o Masters Swimming Hall of Fame. A premiação ocorreu em setembro do ano passado, em Jacksonville, no estado da Flórida, nos Estados Unidos. O título é considerado o maior reconhecimento internacional dado a um atleta máster. Até então, a única nadadora brasileira a receber a honraria havia sido a paulista Maria Lenk, em 2008, um ano após sua morte.

Antes de se tornar um supercampeão na categoria máster, Marcus Mattioli ficou longe das piscinas por longos 16 anos. "Quando parei de nadar, no fim da década de 1980, criei uma resistência à água. Eu me afastei completamente." Foi um alerta da saúde que levou o campeão de volta aos treinos, em 2004. "Havia ganho muito peso, 35 quilos, e tive medo de ter algum problema com o coração." Seu irmão Rodrigo, ex-campeão mundial de natação, morreu aos 53 anos, em 2008, vítima de um infarto fulminante. Marcus lembra que voltou a nadar, a princípio, de leve, acompanhando a equipe mirim do Minas. Não demorou para estar novamente disputando campeonatos e colecionando pódios. Após entrar na equipe de másters do Minas Tênis Clube, acumulou 20 recordes mundiais, 29 medalhas de ouro e três de prata. E tem mais. Durante os últimos 15 anos ele lidera o chamado Top Ten da Fina (Federação Internacional de Natação), que registra os melhores tempos do mundo nas diferentes categorias do esporte.

Marcus na cerimônia do hall da fama, na Flórida: agora, ele se prepara para o mundial da Coreia do Sul(foto: International Masters Swimming Hall of Fame/Divulgação)
Marcus na cerimônia do hall da fama, na Flórida: agora, ele se prepara para o mundial da Coreia do Sul (foto: International Masters Swimming Hall of Fame/Divulgação)
O grande incentivador dos irmãos  nadadores foi o pai, Vicente Mattioli, morto em 1996. Como em muitas famílias, a aventura na água teve início devido a um problema de saúde. O filho mais velho (Alexandre, que morreu em um acidente automobilístico) começou a nadar para melhorar a capacidade respiratória. Deu tão certo que inpirou os demais.

Marcus treinou nos Estados Unidos, na Universidade de Indiana, com James Counsilman, considerado referência na biomecânica. "Tive ótimos técnicos e meu pai também sempre me corrigia observando a biomecânica, o que causou admiração quando cheguei aos Estados Unidos." Essa busca pela técnica perfeita nasceu de uma crença de Vicente Mattioli. "Ele tinha muita confiança nos filhos", lembra Marcus. "Se não atingíamos um determinado resultado, ele nunca pensava que estávamos aquém, mas que os outros estavam fazendo alguma coisa diferente da gente, e era isso que tínhamos de corrigir."

Aos 18 anos, no alto do pódio da seletiva para a Olimpíada de Moscou: equipe brasileira ficou com a medalha de bronze no revezamento 4x200 metros nado livre(foto: Arquivo pessoal/Violeta Andrada/Reprodução)
Aos 18 anos, no alto do pódio da seletiva para a Olimpíada de Moscou: equipe brasileira ficou com a medalha de bronze no revezamento 4x200 metros nado livre (foto: Arquivo pessoal/Violeta Andrada/Reprodução)
Inspiração para atletas másters e para a nova geração, Marcus acredita que sua medalha olímpica inaugurou um novo tempo na natação brasileira e abriu espaço para atletas que estavam surgindo. "Antes de Moscou, havia 20 anos que o Brasil não conseguia uma medalha olímpica", diz. "Nunca mais tivemos hiatos tão grandes." Aos 58, anos a ideia de deixar a natação não passa nem perto dos planos do atleta. Marcus treina diariamente no Minas Tênis Clube e se prepara para participar neste ano do mundial máster, na Coreia do Sul. Ele também é dono do centro de lazer Vila Mattioli e dá aulas no centro aquático Kaio Márcio, no Barroca Tenis Clube.

Ao olhar para sua carreira, Marcus diz que o melhor que a natação lhe trouxe foram os amigos. "As medalhas muitas vezes ficam esquecidas no armário, mas os amigos estão sempre ao nosso lado." Ele também se lembra de uma lição que trouxe dos Estados Unidos. "Quando pedimos algo para um brasileiro, ele costuma dizer: 'vou ver o que dá para fazer'". A situação muda quando o pedido é para um americano. "Eles sempre falam ‘I’ll do my best’ (farei o meu melhor, em português)." E este é o recado que ele da aos novos atletas. "Façam sempre o seu melhor." Tão bom quanto ser um campeão, independentemente do pódio, é ter a sensação do dever cumprido. E essa sensação Marcus tem de sobra.

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