A cervejaria Capapreta foi uma das primeiras do estado a enveredar 100% de seu portfólio de produtos para as latas. O primeiro teste ocorreu no final de 2015, com uma enlatadora terceirizada. Em agosto do ano seguinte, a empresa lançou a primeira lata, a Tropical Blonde, em uma série especial de 350 ml. No fim de 2017, começou o envasamento com equipamento próprio, em embalagens de 473 ml. Os donos da empresa não se arrependem da escolha. Atualmente, a marca mineira, com tentáculos no Rio de Janeiro e em São Paulo, oferece sete rótulos. “O mercado tinha um preconceito com as latas, mas isso vem se dissipando”, diz Lucas Godinho, sócio-fundador da Capapreta.
Em um passado recente, as latinhas que dominavam supermercados e distribuidoras eram representantes das chamadas “cervejas de massa”, ou seja, mais populares e bem menos complexas em relação a sabor e receita que as artesanais. A indústria do envase de bebidas em lata, por exemplo, só atendia à demanda de grandes quantidades – algo incomum para os fabricantes de cervejas artesanais. Agora, o jogo começou a virar.
Para Alexandre Bruzzi, um dos sócios da Krug Bier, os mineiros estão aprendendo que também é possível consumir cervejas de qualidade em lata. “Todos os produtos que envasamos neste ano foram vendidos no carnaval.” A marca com sede no Jardim Canadá, em Nova Lima, polo cervejeiro do estado, oferece quatro rótulos em latas de 473 ml. Dentre elas, está a Krug Dry Sout, cujo destaque é a presença de nitrogênio, que possibilita uma espuma mais volumosa, um deleite para os amantes do colarinho. Alexandre reforça que não há diferenças no sabor entre as cervejas em lata e garrafa, mas ressalta que a primeira preserva melhor as características da bebida. A lata permite ainda que os profissionais de design abusem da criatividade ao elaborarem estampas ousadas ou engraçadas.
Conforme especialistas, a lata protege 100% o líquido do contato com a luz, que, caso contrário, pode causar o fenômeno conhecido como lightstruck, que altera aroma e gosto da bebida. Portanto, mesmo as garrafas âmbar (as embalagens de cor marrom), se mal-acondicionadas ou expostas exageradamente à luz, podem sofrer esse problema. Célio Gutstein, mestre cervejeiro do Ateliê Wäls, diz que não se trata de uma onda passageira do setor. “É um caminho sem volta”, afirma. “As latas são mais práticas, gelam mais rápido, preservam o aroma e oferecem menos riscos de acidentes que a garrafa de vidro.” A Wäls lançou no ano passado seu primeiro rótulo em lata, a Wäls Lager.
De olho no carnaval, a cervejaria Albanos lançou em fevereiro também sua primeira cerveja enlatada, no estilo pilsen. Ao estrear nesse mercado, a marca também entrou em nova fase, com a meta de alcançar outros públicos. “Além de supermercados, como Verdemar e Supernosso, estamos comercializando as latas em 150 pontos especializados em BH”, diz Rodrigo Greco, diretor de marketing do Albanos. A pegada sustentável, de acordo com Rodrigo, é outro ponto que conta a favor das latinhas. “Temos uma parceria com uma empresa que recolhe o material para ser reciclado”, afirma. No mercado da reciclagem, a lata é considerada bem mais rentável que as garrafas.
Atento também à questão da sustentabilidade, a Sátira planeja para o segundo semestre lançar, de uma só vez, seis estilos enlatados (Lager, American Wheat, English Pale Ale, IPA, Double IPA e Brown Ale). “A lata é melhor em todos os aspectos. Além de vedar mais o produto, os custos são menores de envase e de transporte. “Em média, para quem produz cerveja, uma lata custa 30% menos que uma garrafa”, afirma Eduardo Gomes, sócio-fundador da cervejaria que recentemente adquiriu a enlatadora, com investimento na ordem de 250 mil reais.
Há três anos, pelo menos em terras mineiras, consumir cerveja artesanal na embalagem de alumínio era uma ideia que engatinhava. Foi quando a Backer lançou um lote especial da sua Capitão Senra em lata. Agora, Paula Lebbos, uma das sócias da cervejaria, planeja soltar outro rótulo, também em edição limitada. “Os clientes estão pedindo para enlatarmos a Tommy Gun e estamos estudando outros rótulos também”, diz Paula, que comemorou em março o título de Melhor Cervejaria do país, na categoria grande porte, no Concurso Brasileiro de Cervejas em Blumenau. Seja em lata ou em garrafa, a verdade é que Minas Gerais tem oferecido boas opções para os amantes da união entre malte e lúpulo.