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Estado de Minas CRÔNICA

Inverno, por Paula Pimenta

"Fico checando dia após dia o aplicativo de clima no celular, para ver se finalmente alguma frente fria vai chegar"


postado em 24/07/2019 15:53 / atualizado em 25/07/2019 14:01

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Estamos em pleno inverno. Esta estação divide opiniões: uns esperam ansiosamente por ela, outros gostariam de poder cortar-lá do calendário. Eu sou do time que fica contando os dias para usar blusa de lã, cachecol e bota! Mais do que isso, fico checando dia após dia o aplicativo de clima no celular, para ver se finalmente alguma frente fria vai chegar. E, quando vejo o anúncio de dias mais frescos, saio anunciando, compartilhando minha alegria com todo mundo.

Infelizmente, nos últimos tempos parece que o inverno se esqueceu de BH. Meu aniversário, que é no começo de junho, sempre foi um dia notoriamente frio. Neste ano tive até que mudar o "look" que havia planejado usar na ocasião. Lembro que, alguns anos atrás, eu costumava fazer fondues, desfilar todo o meu guarda-roupa de frio e usar até um cobertor elétrico... Agora, é no máximo um moletom! E o edredom básico muitas vezes é, inclusive, deixado de lado.

Exatamente por ser tão apaixonada pelo inverno e por morar em um país tropical, já corri atrás dessa estação várias vezes...

Ao falarmos em lua de mel, a maioria das pessoas imagina uma praia paradisíaca, não é? Pois a minha foi na neve. Acho que nada é mais romântico do que um friozinho a dois.

Outro caso: todos os meus amigos, no verão, sonham com sol e mar. Eu sonho em ir para o Hemisfério Norte, para fugir do calor! E quando é inverno na América do Sul dou um jeito de viajar para nossos países vizinhos, que vivem esta estação em toda a sua plenitude. O Chile até foi cenário de uma das minhas histórias. Mas o que quase ninguém sabe é que uma das passagens desse livro foi inspirada em fatos reais...

Eu e meu marido fomos passar uns dias naquele país e uma das cidades do roteiro era Pucón. Eu não sabia o que esperar, mas ao chegar lá foi amor à primeira vista. O local é um vilarejo cheio de restaurantes e cafés charmosos, ao pé de uma montanha que abriga um vulcão e ao lado de um lindo lago. Eu me senti em um quadro, de tão lindo que era o cenário. Resolvemos reservar um dia para subir a tal montanha. Meu marido queria esquiar e eu, que estava terminando de escrever um livro, iria aproveitar a vista para ficar mais inspirada.

Antes de Pucón, havíamos passado uns dias no Valle Nevado, e quem conhece o vale sabe que o local possui uma superestrutura, com restaurantes e cafés com aquecedores potentes, que nos fazem até esquecer que do lado de fora a temperatura está abaixo de zero... Eu imaginava que aquela estação de esqui também seria assim e por isso não tinha ido tão aquecida. Mas, bastou pisarmos lá em cima para eu ver que estava enganada. Até tem uma lanchonete, mas lá dentro estava tão ou mais gelado do que a montanha! As mesas estavam todas sujas e ocupadas e logo vi que meu sonho de escrever apreciando o visual com uma caneca de chocolate quente não se realizaria! Passei umas três horas – o tempo em que meu marido explorou todas as pistas de esqui – tremendo e até sonhando em estar no Rio de Janeiro no auge do verão com seus 50 graus!

Quando ele finalmente se cansou, avisou que iria descer a montanha esquiando e me encontraria lá embaixo, no início do teleférico. Achei ótimo, eu só precisaria sentar naquela cadeirinha e em pouco tempo já estaria dentro do carro, com o aquecedor ligado à máxima potência. Eu só não contava com a nevasca que resolveu cair bem naquela hora. Enquanto o teleférico descia, a chuva de neve batia no meu rosto e, por mais que eu estivesse com gorro e casaco, o frio parecia que entrava pelos meus poros, até chorei de dor, pois minha luva – que eu imaginava ser impermeável – parecia estar furada, não serviu de nada para me aquecer. Cheguei a pensar que meus dedos cairiam, que minhas mãos iriam gangrenar!

Quando finalmente o percurso terminou, uns 20 minutos depois, descontei toda a raiva no meu marido, que morreu de rir do meu drama e só disse que nas próximas férias deveríamos ir para uma praia... Chorei e xinguei mais um pouco, mas depois de um banho quente a minha raiva acabou passando.

Para compensar o sufoco do dia, fomos jantar em um restaurante bem aconchegante. Assim que nos sentamos ao lado da lareira, vendo a neve cair do lado fora, eu entendi tudo. Eu não amo sentir frio e, sim, a atmosfera que ele proporciona. Bastou chegar o fondue de queijo e de chocolate, com um bom vinho, que eu instantaneamente voltei a amar a estação. 

Agora eu já sei onde devo ir quando quiser ter inspiração para novas histórias... 

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