Cada vez mais estudantes procuram cursos superiores EaD

Passar horas em sala de aula e ficar preso em engarrafamentos a caminho da escola. Nem todo mundo tem disponibilidade para ir e voltar de uma faculdade todos os dias. Mas na era da internet, mais e mais pessoas estão trocando a sala de aula pelo ensino a distância, conhecido pela sigla EaD. Segundo dados do Censo da Educação Superior, a porcentagem de estudantes que escolheram a modalidade EaD para fazer uma graduação passou de 15,4%, em 2007, para 33,3%, em 2017.

Os cursos de graduação a distância existem no Brasil desde a década de 1990. Mas foi a popularização do acesso à internet, por banda larga ou 4G, que possibilitou um boom nesse mercado. "A parte que mais me atende é a flexibilidade. Posso estudar de manhã, no ônibus ou no horário de almoço", diz Fabiana Maia, aluna de administração na Faculdade Arnaldo. O preço também é outro fator que atrai os estudantes, pois as mensalidades de cursos EaD são geralmente 50% mais baratas que as tradicionais.

Mas nem tudo é feito de casa. A distribuição de pontos é dividida entre as tarefas entregues pela internet e as provas, realizadas nos polos de ensino das instituições. Na PUC Minas, ensino a distância não é nenhuma novidade. No último mês de agosto, a universidade comemorou o aniversário de 20 anos da Diretoria de Ensino a Distância, também conhecida como PUC Minas Virtual. O departamento começou enviando CDs e apostilas pelo correio aos alunos, para compensar as limitações da época. Há duas décadas, apenas uma em cada cinco casas brasileiras tinha computador - e só 13% das residências tinham acesso à internet.

Em 2006, a PUC Minas criou seu primeiro curso de graduação a distância. Hoje, a universidade tem 1.200 alunos matriculados em administração e ciências contábeis. Todo o material didático, como apostilas de exercícios e videoaulas, é disponibilizado para os estudantes através da plataforma online da escola. "O portal também ajuda a identificar quais são os alunos que estão com dificuldade", diz o professor e diretor da PUC Minas Virtual, Marcos Kutova. Ele conta, ainda, que os estudantes costumam ter um perfil bem definido: pessoas com 30 anos ou mais, já inseridas no mercado de trabalho, principalmente em cargos de gestão. Mas, a característica mais requerida ao estudante não tem a ver com idade ou emprego: "Quem quer fazer um curso EaD na PUC precisa estar preparado para estudar", alerta o professor. "Tem de dedicar pelo menos 20 horas de estudo por semana."

As universidades federais também contam com cursos EaD. "A primeira oferta de graduação a distância da UFMG foi em 2008, com a criação da Universidade Aberta do Brasil", diz a professora Eliane Palhares, diretora do Centro de Apoio à Educação a Distância. "A utilização de novas tecnologias possibilitou o rompimento de barreiras geográficas, sociais e econômicas, trazendo várias pessoas que estavam afastadas das universidades para dentro do meio acadêmico." Atualmente, a UFMG oferta os cursos de ciências biológicas, química, geografia e matemática, com a realização de atividades em laboratórios nos polos de ensino, quando necessárias.

Novidade quando o assunto é a EaD, a Faculdade Arnaldo começou a disponibilizar cursos de graduação a distância no começo deste ano. Estão na grade as faculdades de administração, ciências contábeis, ciências econômicas e turismo. "Apesar de sermos uma instituição tradicional, também precisamos nos atualizar com o uso das novas tecnologias", afirma o professor e diretor João Guilherme Porto. Hoje, a Faculdade Arnaldo possui cerca de 300 alunos matriculados nos cursos EaD e está investindo pesado nas videoaulas, para tornar o aprendizado mais agradável. "Construímos o nosso próprio estúdio e contratamos um ator para ajudar a orientar os professores sobre como se portar diante de uma câmera", diz João Guilherme.

Especializado em pós-graduação, o Ipemig tem cerca de 60 mil alunos matriculados em seus 350 cursos, de áreas como direito, administração, pedagogia e saúde. "A ideia surgiu há 10 anos, quando eu trabalhava como supervisora da rede municipal em escolas de periferia", diz Lucimary Lage, presidente e fundadora do Ipemig. "Os professores queriam fazer pós-graduação, para avançar na carreira, mas não tinham tempo." E o projeto teve uma aceitação rápida: "No terceiro mês, já tínhamos 13 turmas montadas.

Há coisas que a internet, claro, não consegue substituir. "Para alguns alunos, o ensino presencial ainda é fundamental, por causa do convívio social e da possibilidade do networking da sala de aula", diz Marcos Kutova, da PUC Minas Virtual. Uma solução talvez seja a união dos dois mundos. Até 20% da carga horária dos cursos presenciais nas universidades pode ser composta por matérias a distância. Para Marcos, no futuro o ensino presencial também usará várias das ferramentas do EaD, como o uso de dados e de inteligência artificial para identificar as dificuldades dos alunos.