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Estado de Minas NEGÓCIOS

Commemorare volta ao mercado de locação de móveis para festas

A empresária Luciana Gontijo deixa para trás a doença e as cinzas do incêndio que devastou a filial do Rio para retornar com designs exclusivos, que a tornaram referência nacional


postado em 18/10/2019 14:39 / atualizado em 23/10/2019 12:17

Depois de enfrentar tumor no cérebro, vencer câncer de mama e ver metade de sua firma ser destruída por um incêndio, a empresária Luciana Gontijo decidiu reabrir a Commemorare:
Depois de enfrentar tumor no cérebro, vencer câncer de mama e ver metade de sua firma ser destruída por um incêndio, a empresária Luciana Gontijo decidiu reabrir a Commemorare: "Deus me mandou a tempestade para eu fazer um capote, tirar de letra e dar o exemplo" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
O galinheiro e a horta no quintal da casa da empresária Luciana Gontijo Vasconcelos Porto, em um condomínio em Nova Lima, são fora do comum. A estrutura de ferro do galinheiro é como a de um gazebo inglês e a horta tem os canteiros suspensos. "Eu falo que é horta de idoso. Passo o dia mexendo na terra sentada e não me canso, pois não preciso agachar-me", diz Luciana. A estrutura do galinheiro foi meticulosamente pensada. "Precisava de um espaço para relaxar, esquecer as preocupações. Queria ter um galinheiro, mas um galinheiro chique."

Proprietária da Commemorare, loja especializada em venda e aluguel de móveis para festas, Luciana, de 67 anos, encara a vida com otimismo, mesmo em situações extremamente delicadas. Foi assim no incêndio da filial da Commemorare no Rio de Janeiro, no final de 2016, em que as chamas devastaram 90% da empresa em três horas, depois do curto-circuito no ar condicionado que começou no almoxarifado e alastrou-se por todo o galpão. Muitos pensaram que ela desistiria do negócio. Enganaram-se. Luciana arcou com os compromissos e voltou revigorada.

Luciana no galinheiro que construiu no quintal de sua casa, em Nova Lima: mudança de hábitos após o câncer(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Luciana no galinheiro que construiu no quintal de sua casa, em Nova Lima: mudança de hábitos após o câncer (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Ela diz que nunca checou quantas peças foram perdidas com o fogo, embora tenha tudo quantificado no computador. Logo depois do acidente, sua urgência foi atender os pedidos dos clientes sem atraso e não deixar o mercado perceber a dimensão do transtorno. "Contabilizar seria uma forma de deixar o problema crescer", acredita. O incêndio no Rio aconteceu em uma tarde de sexta-feira. Na segunda-feira seguinte, chegaram 32 caminhões com o mobiliário que estava nas festas no fim de semana e não havia onde colocar tanta coisa. "A minha urgência foi conseguir um local para armazenar o que sobrou e atender os eventos agendados", diz Luciana. A meta foi cumprida.

Na época, a filial do Rio representava 60% dos negócios da empresa, que chegava a ter 42 eventos atendidos em um fim de semana. Referência em qualidade, pontualidade e design diferenciado, a Commemorare chegou a ter mais de 100 mil itens para locação no estoque. "Apesar do desastre, tentamos não passar o problema para o mercado. Nenhum evento foi cancelado", afirma o empresário Luiz Eduardo Gontijo Vasconcelos Porto, filho de Luciana, que foi gerente geral da Commemorare e trabalhou 10 anos na empresa. "Luciana é dinâmica e assertiva, mas escuta também muito os clientes e funcionários e aprende com os erros."

Com o marido Luiz Eduardo e a filha Ana Florença: festa de 15 anos com móveis exclusivos desenvolvidos pela mãe(foto: Alexandre Rezende/Encontro/Reprodução)
Com o marido Luiz Eduardo e a filha Ana Florença: festa de 15 anos com móveis exclusivos desenvolvidos pela mãe (foto: Alexandre Rezende/Encontro/Reprodução)
A solução encontrada foi trazer de volta parte dos móveis para a unidade de Belo Horizonte e vender o restante. O perfil da empresa mudou. Passou de locadora a vendedora de móveis. A comercialização de móveis com designs exclusivos e atemporais - 80% criados pela própria Luciana, que é autodidata e desenha tudo a lápis e papel - foi bem-sucedida no primeiro ano. Depois desse período, as peças começaram a ser copiadas e fabricadas pelos próprios clientes. A desventura fez com que Luciana se reinventasse mais uma vez. Em agosto deste ano, ela retornou ao aluguel. "Os clientes nos chamaram e o mercado me mostrou que esse era um bom caminho a seguir", diz Luciana.

Agora, a Commemorare atende não só profissionais de eventos, decoradores e cerimoniais, mas também o cliente final. No showroom, é possível fazer uma simulação da festa com os móveis disponíveis. Os clientes podem alugar de uma simples cadeira a um amplo mobiliário para casamento em um palácio na França ou evento de mais de 2 mil pessoas na Serraria Souza Pinto. Entre as peças exclusivas estão a banqueta Spoletto, de madeira com couro pergaminho; a cama Firenze, de bambu e madeira; a mesa Vercelli, com tampo Toscana; e o sofá Fiuggi, com tecido inspirado na coleção 2016 de Dolce & Gabbana, resistente ao tempo e à chuva.

Luciana no showroom da Commemorare:
Luciana no showroom da Commemorare: "Os clientes nos chamaram e o mercado me mostrou que voltar ao aluguel era um bom caminho a seguir" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Todos os móveis têm nome de cidades ou regiões da Itália, em homenagem ao avô de Luciana, Nello Selmi-Dei, nascido na terra da bota. Além do design diferenciado, os móveis são aconchegantes. "Ficam com a cara da casa da pessoa", diz Luciana (o nome é italiano também e pronuncia-se Lutiana). Depois do incêndio e das vendas, o  estoque ficou mais baixo, em torno de 25 mil itens. Mas vem ganhando novidades. A Commemorare acaba de lançar, por exemplo, a poltrona Trapani, para composição de lounges receptivos e boates. Ela é anatomicamente desenvolvida para a pessoa se manter ereta com o apoio dos braços, sempre elegante.

A filha caçula de Luciana, a economista Ana Florença Gontijo Vasconcelos Porto, trabalha com a mãe há 18 anos na empresa. "Flor", como é carinhosamente chamada pela família, é responsável pelo setor administrativo. "Nunca tivemos uma briga. Caminhamos juntas, porque reconhecemos o que a outra tem de melhor. A sua disposição é de dar inveja", afirma. A entrada de Flor na empresa, em 2001, foi, segundo Luciana, um divisor de águas. A filha ficou responsável por toda a informatização e deu respaldo para a Commemorare crescer e montar a filial no Rio, onde morou por cinco anos. "Quando cheguei, a empresa era tão pequena que eu nem tinha cargo. Todo mundo era tudo", lembra.

Luciana em dois momentos com os netos (na foto da direita, também com o marido Luiz Eduardo Porto): avó incansável, presente e atenciosa(foto: Arquivo pessoal)
Luciana em dois momentos com os netos (na foto da direita, também com o marido Luiz Eduardo Porto): avó incansável, presente e atenciosa (foto: Arquivo pessoal)
O filho mais velho, o empresário João Paulo Vasconcelos Porto, mora atualmente nos Estados Unidos e também já vivenciou a rotina de trabalho da Commemorare, quando a empresa foi lançada. "Eu era como um curinga, quando minha mãe precisava. Grampeava forro em cadeira e ajudava no transporte", diz. "O incêndio no Rio foi um baque, mas ela tocou o barco. É um exemplo de vida, alegria e determinação."

O incêndio não foi o único desafio que Luciana precisou vencer. Em 2007, quando tinha 55 anos, a empresária foi pega de surpresa com o diagnóstico de câncer de mama. Durante os sete anos, em que ficou envolvida nos procedimentos do tratamento, não deixou de trabalhar nem um dia. "Tratei como uma gripe forte", diz. O câncer de mama não foi a primeira má notícia relacionada à saúde que recebeu. Quando tinha 41 anos teve o diagnóstico de um tumor cerebral, retirado com cirurgia. Perdeu a audição no ouvido direito e o lado direito de sua face também ficou paralisado. Com fisioterapia, recuperou 70% das funções. É guerreira. "Penso que Deus me mandou a tempestade para eu fazer um capote, tirar de letra e ser exemplo", diz. Depois do câncer, Luciana mudou os hábitos alimentares e passou a consumir mais produtos naturais, frutas e legumes. Muita coisa cultiva na horta de sua casa. Se precisa fritar algo, usa banha. "O ovo e a couve ficam muito mais saborosos quando afogados na banha, no lugar do óleo", diz.

Amadeu Scarpelli, cliente e amigo:
Amadeu Scarpelli, cliente e amigo: "Luciana consegue inovar e misturar o clássico e moderno com muita habilidade, além de cumprir prazos e horários" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
No quintal é onde relaxa com seus hobbies e também se diverte com os oito netos, suas paixões. Quando o assunto são as crianças, a família faz coro: Luciana é uma avó incansável, presente e atenciosa. Faz questão de falar diariamente até mesmo com os três netos que moram nos Estados Unidos. Adora lambuzar-se e lambuzar os pequenos na lama. As mães das crianças sempre pediam para não sujarem as roupas. Luciana tratou de comprar uma "roupa de bagunça" (uma jardineira jeans e botas sete léguas vermelhas) para cada um. Aos domingos, quando chegam à sua casa, adivinhem qual é a primeira pergunta que fazem? "Vovó, vamos colocar a roupa da bagunça?"

Cliente e amigo de Luciana há mais de 20 anos, o decorador Amadeu Scarpelli diz que ela tem a capacidade rara de inovar e misturar o clássico e moderno, além de sempre cumprir prazos e horários, qualidades essenciais nos serviços em festas. "É uma pessoa que reúne qualidade moral, capacidade intelectual, dinamismo no trabalho e carinho com todos", afirma. Amadeu admira também o carinho que Luciana sempre teve com a mãe (a pintora e escultora Lêda Selmi-Dei Gontijo, que morreu em junho). "Foi uma filha fantástica e presente", diz. Curador de exposições de Lêda, o produtor de eventos Paulo Rossi reforça essa impressão: "Luciana era generosa com ela", lembra. "E essa mesma generosidade ela estende aos amigos." Paulo está há 40 anos no mercado e já levou móveis da Commemorare para diversas cidades do país.

O produtor de eventos Paulo Rossi lembra do carinho de Luciana com a mãe, Lêda:
O produtor de eventos Paulo Rossi lembra do carinho de Luciana com a mãe, Lêda: "Ela era muito generosa e essa mesma generosidade Luciana estende aos amigos" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
"Luciana é pura criação, a família dela é toda assim", afirma o marido da empresária, Luiz Eduardo Porto. No início das atividades, a Commemorare ficou instalada na empresa de andaimes de Luiz Eduardo. Luciana acredita ter herdado a criatividade da mãe: "Ela dizia para nunca sermos comuns, fazer sempre algo diferente." Dona Lêda morreu com 104 anos e parou de trabalhar aos 102. "Eu quero ser igual a ela, trabalhar pelo menos até os 90 anos. O trabalho nos mantém em pé", diz, com muita disposição. Sua cabeça é ligada no negócio o tempo todo. "Adoro colocar as ideias para fora e vê-las serem aceitas."

A trajetória da Commemorare em nove atos

  1. Março de 1995
    Luciana Gontijo
    comemora a festa de 15 anos da filha caçula Ana Florença no Automóvel Clube e desenvolve mobiliário exclusivo para o evento, com estofados dos sofás e poltronas do mesmo tecido das cortinas do luxuoso ambiente. A decoradora Helena Fonseca, da Flor de Estufa, vê os móveis, gosta, e pede para alugá-los. Luciana vê aí uma oportunidade de negócios

  2. Abril de 1995
    A Commemorare começa as atividades de aluguel de móveis para
    eventos no espaço onde era a empresa de locação de andaimes para construção civil do marido, Luiz Eduardo Porto, no bairro Planalto

  3. Julho de 1997
    A empresa ganha espaço próprio e se muda para o bairro Olhos d'Água

  4. Dezembro de 2001
    A economista Ana Florença, filha Luciana, começa a trabalhar na área administrativa da empresa e ajuda na implantação de sistema inteligente de controle de estoque, logística e entregas

  5. Agosto de 2004
    A informatização permite crescimento em escala e Luciana abre filial no Rio de Janeiro. A unidade inicial tinha 600 metros quadrados

  6. Setembro de 2012
    Empresa muda para um galpão de mais de 5 mil metros quadrados, no Centro do Rio. No auge, a Commemorare chegou a atender 42 eventos em um fim de semana, no Rio de Janeiro, e ter mais de 100 mil itens para locação. O quadro de funcionários chegou a  200 pessoas

  7. Dezembro de 2016
    A filial da Commemorare no Rio de Janeiro, que representava 60% dos negócios da empresa, é devastada por incêndio que queimou 90% da empresa em três horas

  8. Julho de 2017
    Luciana decide parar com o negócio de locação e vender móveis. No primeiro ano, o negócio deu certo, mas depois suas peças começaram a ser copiadas e fabricadas pelos próprios clientes

  9. Agosto de 2019
    Commemorare
    volta ao mercado de locação de móveis para festas

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