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Estado de Minas

Em nova igreja há apenas um ano, padre Alexandre Fernandes atrai milhares de fiéis

Em 2018 ele inaugurou, num contêiner, a paróquia Bom Jesus do Vale, no Vale do Sereno, em Nova Lima. Hoje, ainda em templo provisório, seus eventos e missas tornaram-se impressionante sucesso de público e arrecadação


postado em 25/11/2019 14:03 / atualizado em 27/11/2019 16:26

Padre Alexandre Fernandes, sobre a transferência do Belvedere para o Vale do Sereno:
Padre Alexandre Fernandes, sobre a transferência do Belvedere para o Vale do Sereno: "Foram três dias de tristeza. Depois, decidi não olhar mais para trás. O sentido da vida do homem é contemplar o horizonte" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Na Bíblia, é possível encontrar a figura da águia em diversas passagens. O animal representa força, determinação e é símbolo, sobretudo, de renovação. Conta uma lenda que, na metade da vida, a ave sobe até o topo de uma montanha, perde todas as suas penas, unhas, renova-se e alça voo para viver outras décadas reinventada, mas tão forte quanto. Uma música religiosa gravada, entre outros, pelo padre Fábio de Melo, canta: "Posso até cair ou vacilar, mas consigo levantar, pois recebo Dele asas e, como águia, me preparo pra voar".

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Não à toa, essa é uma das músicas de louvor preferidas do padre abre-campense Alexandre Fernandes de Oliveira, com 52 anos - e 25 de sacerdócio completos em julho deste ano. Com voz serena, semblante tranquilo e leve sorriso no rosto, ele fala sobre o seu mais recente desafio, que recebeu no final de 2018: assumir uma nova paróquia após duas décadas na igreja Nossa Senhora Rainha, do Belvedere. A conversa com a equipe de Encontro se deu entre as várias reuniões do sacerdote, no escritório da paróquia Bom Jesus do Vale, que já está bem estruturada, com igreja provisória dotada de capela, salas administrativas, espaços para catequese e encontros de jovens - todos com ar condicionado - e até um café. Tudo muito diferente de como estava o espaço no fim do ano passado, quando as missas, reuniões e despachos com o padre eram feitos em um contêiner preenchido com 500 cadeiras de plástico. "Quando soube da transferência, passei por três dias de muita angústia. Imagine você trabalhando numa empresa por 20 anos e te falam que você vai ter de começar tudo de novo", conta. "Foram três dias de tristeza. Depois, decidi não olhar mais para trás. Não é esquecer o que passou, deixar de aprender com o que passou, mas não quis voltar atrás, só pensar no futuro. O sentido da vida do homem é contemplar o horizonte."

O empresário Alex Veiga faz questão de frequentar a missa, mesmo com o pé quebrado:
O empresário Alex Veiga faz questão de frequentar a missa, mesmo com o pé quebrado: "Padre Alexandre é o maior empreendedor que conheci nos últimos tempos. Poucas pessoas fazem acontecer de maneira tão rápida, tão eficiente e tão leve como ele consegue" (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Foi assim, com o olhar à frente, peito aberto e espírito de águia que padre Alexandre rezou a missa de posse na Bom Jesus do Vale, no Vale do Sereno, em 21 de outubro do ano passado. E, então, começou o trabalho "todo de novo". Mas, fortalecer e ampliar uma comunidade não é uma missão inédita para o pároco, que chegou ao Belvedere em 1998, quando cerca de 25 famílias frequentavam a igreja, que passou a ser "gerida" por ele e um funcionário. Na ocasião, arregaçou as mangas e trabalhou incansavelmente rumo a seu objetivo. Passou os primeiros anos batendo de porta em porta, visitando famílias e as chamando para a paróquia. Os anos seguintes, passou planejando e desenvolvendo encontros, atividades sociais, cursos, missas, convocando voluntários. Ao fim dos 20 anos, a paróquia era frequentada por 7 mil fiéis por fim de semana, contava com o apoio de 800 voluntários, tinha dois vigários paroquiais e 40 funcionários - inclusive um departamento de comunicação que produzia programas televisivos transmitidos em cinco canais, além de uma rádio e materiais impressos. O ambulatório atendia quase 7 mil pessoas de baixa renda por ano.

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Ainda em 2008, em meio aos quase incontáveis compromissos na Nossa Senhora Rainha, padre Alexandre idealizou outro projeto, que seria responsável pela reviravolta em sua vida. Ao perceber a necessidade de uma igreja para atender os fiéis da jovem região do Vila da Serra e Vale do Sereno, pensou em criar uma comunidade sob as asas da paróquia do Belvedere. Foi ele quem deu a ideia, reuniu moradores, propôs a criação do local, procurou empreendedores - que doaram o terreno - e reuniu voluntários que se dispusessem a se envolver. Em 2014, a comunidade foi oficialmente fundada. Por quatro anos, o espaço era usado para uma missa por semana, no domingo, às 10h, seguida de um café da manhã organizado pelos próprios frequentadores.

A frequentadora e voluntária Rachel Rennó:
A frequentadora e voluntária Rachel Rennó: "Padre Alexandre está encarando esse desafio maravilhosamente bem" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Em 2018, padre Alexandre recebeu a notícia do arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo: deveria sair da pujante comunidade do Belvedere para a pequena Bom Jesus do Vale, a cerca de quatro quilômetros dali. Ela viraria área pastoral independente e, depois, paróquia. O nome da nova igreja é apropriado - fica em um vale arborizado, tranquilo, silencioso, com os prédios da região visíveis no entorno, quando se olha para cima. De tão isolado, não havia linhas de ônibus chegando até lá, sinal de internet ou de telefone. Por isso, nos primeiros meses, o administrativo da paróquia teve de funcionar em uma sala emprestada em um escritório de posto de gasolina ali perto. Se muitos fiéis participassem das missas e encontros, não haveria onde recebê-los - como de fato aconteceu.

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A consultora imobiliária Cida Miranda, que mora e trabalha no Vale do Sereno há 20 anos, foi uma das pessoas que se prontificaram a ajudar na Bom Jesus desde o primeiro chamado. Ela estava entre os 72 fiéis presentes na reunião de fundação da comunidade e foi, aliás, quem conseguiu o escritório emprestado para o administrativo da igreja trabalhar, além de uma sala em uma galeria de arte para o encontro do Perseverança (grupo de mais ou menos 300 jovens, de 10 a 15 anos, que se reúne semanalmente e não cabia na paróquia na época do contêiner). "O trabalho que padre Alexandre faz é de pastor e as ovelhas reconhecem sua voz e vão atrás dele. Quando foi transferido, trouxe o rebanho com ele, para se juntar ao nosso grupo que já frequentava a comunidade", diz.

Moninha Quintero, que trabalha com padre Alexandre há mais de 20 anos:
Moninha Quintero, que trabalha com padre Alexandre há mais de 20 anos: "As obras da estrutura provisória começaram em dezembro passado, no meio do período chuvoso. Em março, as atividades já estavam todas funcionando dentro da paróquia" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Assim como bateu de porta em porta no Belvedere há 20 anos, o esforço maior de padre Alexandre, no início da Bom Jesus, foi o de fortalecer e ampliar o rebanho. Para a estilista Leninha Salomão, o pároco consegue conquistar fiéis de cara, desde os mais velhos até os jovens, com seu carisma e atenção. Ela conta que padre Alexandre conquistou toda sua família quando começaram a frequentar a Nossa Senhora Rainha. Seus filhos, na época ainda jovens, estavam um pouco afastados da religião e hoje são assíduos. "Ele nos deu muito apoio durante a doença do meu marido e fez uma missa de sétimo dia muito bonita. Foi, inclusive, em uma segunda-feira, dia em que normalmente não celebra missas", conta. Em junho último, Leninha fez parte da excursão anual de padre Alexandre para Israel, onde renovou o batismo no rio Jordão pelas mãos do sacerdote. "Foi uma viagem linda", diz. "Aliás, visitar a Terra Santa era um sonho do meu marido, que não pude realizar com ele, mas sinto que o realizei para nós dois."

O sacerdote se abriu para o desafio da renovação. Em seu discurso de posse como pároco da Bom Jesus, em outubro de 2018, comparou a paróquia a um barquinho de papel "a navegar tranquilo nas águas límpidas que correm na mata aqui atrás". Na mesma missa, compartilhou com os fiéis o seu desejo - ou melhor, plano - de que ela se tornasse "embarcação para mar aberto". Padre Alexandre conta que os últimos tempos têm sido de muito trabalho, muitos dos dias com expediente de mais de 12 horas. "Mas têm sido dias felizes. Os fiéis estão empenhados em ver a comunidade crescer. Eu estou os convidando para sonhar junto", afirma.

O coordenador do grupo de jovens Fanuel, Thacio Freitas (segundo, da dir. para a esq., em pé), vê de forma positiva o recomeço na nova paróquia:
O coordenador do grupo de jovens Fanuel, Thacio Freitas (segundo, da dir. para a esq., em pé), vê de forma positiva o recomeço na nova paróquia: "Fazíamos o louvor no meio da obra, os encontros aconteciam onde era possível. Isso nos trouxe um carinho muito grande ver a comunidade surgir" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Voluntária incansável na Bom Jesus, Rachel Rennó Góes acompanha as missas de padre Alexandre há 20 anos, desde que foi morar no Belvedere. O sacerdote casou seu filho e batizou seus netos. Para ela, se alguém está à altura dessa tarefa de tornar a nova paróquia apta para o mar aberto é o padre Alexandre. "Ele está encarando esse desafio maravilhosamente bem", diz. "Foi um baque para todos nós no início, para ele também, mas, quando se vê uma igreja provisória linda com esta, sabe-se que a confiança segue o padre Alexandre." Rachel está lá quase todo dia, disposta a ajudar no que for preciso: organização de eventos, ornamentação, eucaristia. E trabalho não falta.

Aliás, acompanhar o ritmo do abre-campense não é fácil. Reconhecido por bolar projetos ousados, concretizar ideias e também pelo talento de identificar o dom das pessoas, ele coloca para trabalhar todo mundo que estiver disposto a tal. "Padre Alexandre é o maior empreendedor que conheci nos últimos tempos. Poucas pessoas fazem acontecer de maneira tão rápida, tão eficiente e tão leve como ele", diz o empresário Alex Veiga, CEO da construtora Patrimar, frequentador da Bom Jesus junto com a mulher, Heloísa Veiga. "Ainda bem que ele não é incorporador, pois seria um concorrente e tanto", brinca. Alex ressalta a capacidade do sacerdote de ajudar na construção da comunidade, na orientação dos voluntários e doadores, identificando as pessoas certas para os lugares certos. "Dá o maior prazer poder ajudar, sabendo que o resultado é bem feito porque tem por trás uma liderança que sabe fazer", completa ele que, mesmo com o pé quebrado, esforça-se para ir à missa de domingo.

A analista contábil Íris Duarte, que mora no Buritis com os filhos Davi e Carol Duarte, acompanha o padre nas redes sociais:
A analista contábil Íris Duarte, que mora no Buritis com os filhos Davi e Carol Duarte, acompanha o padre nas redes sociais: "Não poderia deixar de ouvi-lo e vê-lo, ainda que não presencialmente" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Fato é que, logo nos primeiros meses após a transferência, já haviam se estabelecido horários de missas - são 10 por semana -, grupos de oração - três por semana -, encontros de jovens - seis por semana - e agenda de vagas para a catequese do ano seguinte. Em 2019, a rotina da paróquia continuou a andar em pleno vapor, e em meio a obras: o contêiner foi substituído por uma estrutura menos improvisada, ainda que provisória, pois estão em processo de arrecadação para o templo definitivo. "As obras da estrutura provisória começaram em dezembro, no meio do período chuvoso. Em março, as atividades já estavam todas funcionando dentro da paróquia", conta Moninha Quintero, que é relações públicas, amiga e colega de trabalho de padre Alexandre há mais de 20 anos. O templo atual tem espaço para 680 cadeiras, que às vezes não são suficientes para tanta gente. Do lado de fora foi colocada uma TV para quem não consegue um lugar - assim como acontecia na Nossa Senhora Rainha.

O projeto do templo definitivo é de Gustavo Penna, que propôs uma estrutura moderna, com uma grande janela de vidro para integrar a igreja à bela paisagem natural do entorno, um espelho d’água e uma ampla praça. O arquiteto conta que, quando foi convidado por padre Alexandre para realizar o projeto, ouviu do sacerdote o desejo de que a igreja convidasse ao convívio da comunidade. "Acho que o mais importante nele é essa fé e persistência, convicção de que tudo vai dar certo", afirma Gustavo. "Ele tem certeza de que as coisas caminham para o melhor e isso ele transfere para nós." A igreja ainda está sendo projetada, mas a ideia é que tenha 4 mil m² de área construída, capacidade para 940 lugares na nave, 220 no mezanino e 64 na capela.

A consultora imobiliária Cida Miranda, que ajudou a encontrar locais para o administrativo da igreja e o grupo de jovens no início da paróquia (na foto, com a filha Carol Miranda e o marido Matias Dias)
A consultora imobiliária Cida Miranda, que ajudou a encontrar locais para o administrativo da igreja e o grupo de jovens no início da paróquia (na foto, com a filha Carol Miranda e o marido Matias Dias) "O trabalho que padre Alexandre faz é de pastor e as ovelhas reconhecem sua voz e vão atrás dele" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Se a finalização do templo está ainda distante (a construção deve começar no ano que vem e durar 10 anos no total, dividida em duas etapas), as melhorias da estrutura provisória são constantes. Tudo graças a doações de amigos e ao trabalho voluntário dos fiéis. Padre Alexandre conta que apenas a instalação da estrutura de internet havia sido orçada em 200 mil reais, mas um fiel se dispôs a fazê-la sem custos. O ar condicionado, instalado há poucos meses, também foi doação de um empresário frequentador da paróquia. O mesmo com a capela.

Os voluntários também têm crescido em número. Hoje, são mais de 200. Passam pela paróquia aos domingos, no total das cinco missas, cerca de 2.500 fiéis. Segundo Thacio Freitas, coordenador do grupo de jovens Fanuel, o fato de a paróquia estar ainda no início fortaleceu a relação entre os frequentadores. "Fazíamos o louvor no meio da obra e os encontros aconteciam onde era possível. Isso nos trouxe um carinho muito grande, para mim e para os jovens, a questão de estarmos vendo o espaço surgir", diz.

A estilista Leninha Salomão (sentada) com a filha Valéria Salomão. Leninha renovou o batismo no Rio Jordão, em viagem de excursão com o padre Alexandre, em junho (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
A estilista Leninha Salomão (sentada) com a filha Valéria Salomão. Leninha renovou o batismo no Rio Jordão, em viagem de excursão com o padre Alexandre, em junho (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
A renovação de padre Alexandre foi acompanhada de reinvenção. Ao contrário da época do Belvedere, quando era o homem dos bastidores da comunicação, ele hoje é uma figura completamente presente nas produções da Bom Jesus. Não só isso, como tomou a decisão de não investir em televisão e rádio na nova paróquia e apostar integralmente no on-line. "É um dom que descobri agora, que posso estar com as pessoas também virtualmente, então eu mesmo estou à frente disso", afirma. Sua conta no Instagram, na qual publica diariamente, tem mais de 56 mil seguidores, que acompanham os posts com resumo da homilia, bastidores, fotos com fiéis, reflexões, a Hora da Misericórdia, eventos da igreja, voltas ao passado com fotos antigas e, nos stories, pílulas do seu dia a dia - da academia à bênção dos alunos da catequese. Seu canal no Youtube, ativo há mais ou menos um ano, tem 35 mil seguidores e é ele quem apresenta quase todos os vídeos (exceto os da pediatra Filomena Camilo do Vale, a doutora Filó, cujos grupos de oração semanais também são publicados lá). Tem, ainda, uma lista de transmissão no Whatsapp com 13 mil pessoas incluídas, para quem ele envia novenas em áudio, vídeos do santo do dia e comunicados gerais. Ao todo, são mais de 100 mil pessoas ligadas ao pároco nas redes sociais.

A analista contábil Íris Duarte, que mora no Buritis, frequentava com a família a Nossa Senhora Rainha por causa do sacerdote. Sua filha mais velha, Carol, de 14 anos, fez catequese lá. Desde a transferência, eles vão à igreja do próprio bairro, porque o Vale do Sereno fica fora de mão para manter a assiduidade desejada. Desde a mudança, eles só foram à Bom Jesus três vezes. No entanto, Íris segue padre Alexandre no Instagram, faz parte da lista no Whatsapp e vê a missa pelo Youtube. "Ele tem um conhecimento impressionante e uma homilia maravilhosa. Não poderia deixar de ouvi-lo e vê-lo, ainda que não presencialmente", diz.

O trabalho social não ficou para trás com a mudança de paróquia. A Bom Jesus ajuda a Apac (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado) de Nova Lima e, em parceria com a paróquia Mãe do Redentor, no Olhos D’Água, está construindo um ambulatório nesse bairro, nos moldes daquele do Belvedere, que deve começar a operar no ano que vem. "Quando entendemos que a comunidade paroquial não é do sacerdote, isso muda todo o sentido de como a encaramos", diz padre Alexandre. "Hoje, posso dizer que estou muito feliz aqui. Este está sendo um ano de celebração." Agora, depois de renovado, padre Alexandre colhe frutos de seus voos certeiros e se diz pronto para olhar para a frente e encarar desafios cada vez mais altos, como do templo definitivo da Bom Jesus do Vale. Exatamente como fazem as águias.

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