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Estado de Minas ECONOMIA

Presidente do BDMG fala sobre ações do banco no combate à crise da Covid-19

Para Sergio Gusmão Suchodolski a doença traz desafios, mas também é uma oportunidade para testar novas tecnologias e implementar ideias


postado em 13/07/2020 16:52 / atualizado em 13/07/2020 17:42

"Queremos despertar o ânimo empreendedor em Minas Gerais" (foto: Marcus Desimoni/Nitro/Divulgação)
Quando tomou posse como presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), em abril de 2019, o paulistano Sergio Gusmão Suchodolski disse que um de seus objetivos era "criar um ambiente de negócios e segurança jurídica para gerar bons projetos e ajudar o estado a sair da crise". Mal sabia ele - aliás, ninguém poderia prever - que essa crise pela qual o estado passava seria agravada, e muito, pela pandemia do novo coronavírus e a paralisação da atividade econômica que significou um baque para as contas públicas e para as finanças dos brasileiros. O desafio ficou maior. Bem maior. A resposta de Sergio e do BDMG tem sido intensificar o aporte de recursos em empresas de todos os tamanhos. Só no primeiro semestre deste ano, o banco já desembolsou mais de 1 bilhão de reais em créditos. Só para se ter uma ideia, no ano passado inteiro esse valor foi de pouco mais de 1,3 bilhão.

Com larga experiência em bancos de desenvolvimento, Sergio já foi diretor-geral do New Development Bank, o banco dos BRICS, na China, e chefe de gabinete da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O executivo diz que o atraiu a Minas possibilidade de uma atuação com foco em eficiência e renovação. Para isso, investe tanto em plataformas digitais que aproximam a instituição dos clientes quanto em projetos com os olhos no futuro, como o de energia renovável. Casado e pai de três filhos pequenos, nascidos cada um em um ponto diferente de sua passagem profissional - "temos uma carioca, uma chinesa e um mineirinho, mas todos corintianos" -, Sergio mostra nesta entrevista ser daqueles que acreditam em um mundo melhor no pós-pandemia. "A doença traz enormes desafios, mas também está testando o uso de novas tecnologias, alternativas. Isso acaba trazendo à tona uma série de ideias."

  • Quem é: Sergio Gusmão Suchodolski

  • Formação: Bacharel em direito pela Universidade de São Paulo (USP), tem mestrado em comércio internacional pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris e em direito por Harvard

  • Carreira: Presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) desde abril de 2019. Foi diretor-geral do New Development Bank, o banco dos BRICS, na China; chefe de gabinete da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); chefe da Assessoria Internacional da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; e atuou no setor econômico da Embaixada do Brasil em Washington

Encontro - Você é de São Paulo e teve carreira internacional, o que lhe fez aceitar o desafio de presidir o BDMG?

Sergio Gusmão Suchodolski - Feijão tropeiro, né (brinca)? Falando sério, são questões de várias ordens. Primeiramente, uma questão de ordem pessoal. Sou neto de mineiros. Meu avô é de Belo Horizonte e minha avó de Juiz de Fora. Tenho família aqui em BH e em outras regiões do estado. Originalmente, somos do norte de Minas, da região do Vale do Jequitinhonha, da cidade de Itinga. Meu avô foi o primeiro prefeito da cidade, seu emancipador. Sempre tive relação com o estado, sempre visitei, principalmente na infância. Em segundo lugar, acompanhei com atenção, enquanto estava na China, a constituição do Partido Novo e o fenômeno da eleição para o governo mineiro, com muita esperança. Quando fui sondado e posteriormente convidado, fiquei muito animado com a possibilidade de ter uma atuação focada em desempenho, na performance, com uma equipe de perfil técnico. E por fim, mas talvez mais relevante, venho trabalhando em bancos de desenvolvimento há bastante tempo. Passei pelo BNDES e pelo banco de desenvolvimento dos Brics, o New Development Bank, em diferentes posições. E já conhecia o BDMG, por ter trabalhado com ele. Conhecia o valor da equipe técnica. Vir dirigir essa instituição em um governo com foco em eficiência, com foco na renovação, foi algo que me atraiu bastante. Minas é uma síntese do Brasil, com suas regiões diversas, com suas idiossincrasias, seu peso cultural e político. É o estado que mais fez presidentes da República, oito no total. Então, me pareceu a oportunidade perfeita para ajudar o governo Romeu Zema. Tenho buscado trabalhar com muito afinco entregando programas desde o ano passado e agora trabalhando de maneira anticíclica. Gosto e acredito em banco de desenvolvimento. Podemos ser não só provedores de crédito, mas estruturadores de projetos. Podemos ser uma plataforma de conhecimento. O BDMG é a joia da coroa do governo mineiro. Poucos estados brasileiros têm um banco de desenvolvimento atualmente.

A pandemia da Covid-19 fez com que diversas empresas pedissem socorro ao BDMG. Quais são as ações para tentar diminuir os impactos do novo coronavírus nas empresas mineiras?

Vínhamos acompanhando o que estava acontecendo na China desde o início deste ano e já imaginando que a crise chegaria no Brasil. Então começamos a nos preparar, no final de fevereiro, começo de março. No dia 16 de março lançamos o primeiro programa emergencial para micro, pequenas, médias e grandes empresas de 38 ramos de atividades do setor de saúde. Na sequência, no fim de março, lançamos um produto para a cadeia do turismo, para mais de 90 ramos de atividade muito afetada pela pandemia, com carência de 12 meses. No começo de abril lançamos um produto multissetorial para micros e pequenas empresas. Em maio, o banco desembolsou 400 milhões de reais, o recorde nominal para um único mês. Já ultrapassamos a marca de 1 bilhão de reais de desembolso. No ano passado inteiro o desembolso esse valor foi de 1,308 bilhão de reais. Isso significa que o dinheiro está chegando na ponta.

"Podemos ser não só provedores de crédito, mas estruturadores de projetos. Podemos ser uma plataforma de conhecimento. O BDMG é a joia da coroa do governo mineiro" (foto: Marcus Desimoni/Nitro/Divulgação)
A plataforma digital tem sido especialmente útil nesse período de isolamento?

Fomos o primeiro banco de desenvolvimento do Brasil a atuar por meio de uma plataforma digital, há oito anos. Nesta época, aliada aos mais de 350 correspondentes bancários espalhados pelo estado, ela tem sido especialmente útil. Somos o banco brasileiro que faz o maior volume de operações. Não o maior em recursos, mas em número de operações. Isso significa capilaridade. Chegamos no pequenininho. Dos 853 municípios mineiros, mais de 80% tem menos de 30 mil habitantes. A gente chega no pequenininho e isso tem um impacto fortíssimo. Estamos falando de operações de 1 milhão, 1,5 milhão de reais, mas que serão utilizadas para fazer saneamento, iluminação pública, viabilizar projetos de smart cities. A marca do BDMG é muito forte com eles. Também trabalhamos com a Fundação Renova nos 35 municípios mineiros que foram afetados pela tragédia de Mariana, na calha do Rio Doce, tanto no repasse de recursos para investimentos quanto na estruturação de projetos para saneamento.

Qual o perfil das empresas que buscam ajuda do banco?

O perfil é variado. Para micro e pequenas empresas, nós tivemos em maio mais de 60 milhões de reais desembolsados. É um recorde histórico do BDMG. Chegamos a junho a mais de 155 milhões de reais desembolsados no ano. Esse segmento emprega mais de 60% da força trabalhadora aqui em Minas Gerais. Por isso temos uma parceria muito forte com o Sebrae, do qual faço parte do conselho. Também estamos atuando com médias e grandes empresas. Damos atenção especial ao setor de saúde com o objetivo de prepará-lo para esse tempo de combate à pandemia. O universo de clientes que tem nos procurado é muito diverso. Criamos um programa de renegociação daqueles que já eram nossos clientes, para dar um fôlego extra durante esse período.

Atuar nas crises está, aliás, no DNA dos bancos de desenvolvimento...

O primeiro banco de desenvolvimento foi o Banco Mundial, que surgiu no acordo de Bretton Woods, com o nome oficial de Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). O objetivo era ajudar a reconstruir o mundo no pós-guerra. O BDMG bebe dessa fonte. Ele foi fundado em 1962 pelo governador Magalhães Pinto e desde então tem ajudado na diversificação da economia mineira e ajudado nos momentos de crise. O que a gente está tentando fazer é pegar essa instituição do século XX e transformá-la em uma instituição do século XXI. Um banco de alta performance, digital, alinhado com os temas de diversidade e sustentabilidade.

Muitos empresários tem se queixado da burocracia para conseguir um empréstimo. O que o banco tem feito para fazer o dinheiro chegar na mão de quem precisa?

A plataforma digital tem ajudado bastante. Fizemos algumas mudanças de desburocratização, diminuímos algumas exigências de documentação. Os próprios cartórios passaram a adaptar sua atuação, permitindo algum tipo de desburocratização. Mas nós precisamos sempre compatibilizar essa forte demanda por liquidez com uma gestão de risco sustentável. Somos supervisionados pelo Banco Central do Brasil e somos auditados por uma Big Four (como são chamadas as quatro maiores empresas de auditoria do mundo: Deloitte, Ernst & Young, KPMG e PricewaterhouseCooper) e pelo Tribunal de Contas do Estado. Além disso, temos vários parceiros internacionais na concessão de créditos que acompanham a utilização desses recursos. É uma responsabilidade muito grande encontrar o equilíbrio. Mas os números falam por si. Quando a gente tem mais de 1 bilhão de reais desembolsado, na mão dos empreendedores, eu acredito que a gente tem cumprido nosso papel de banco de desenvolvimento e de agente anticíclico nesse momento de grandes dificuldades. Muitos estados tiveram problemas com seus bancos de desenvolvimento, alguns chegaram a falir nas décadas de 1980 e 1990 por uma questão de gestão. A gente quer preservar esse patrimônio de Minas Gerais e preparar ele para os próximos 50 anos, se tudo der certo.

A taxa Selic chegou ao nível mais baixo da história, 2,25% ao ano. Como essa política interfere na taxa de juros praticada pelo BDMG?

Temos algumas captações, inclusive nacionais, com ancoragem na Selic. Essa notícia foi positiva, porque a gente repassa qualquer tipo de redução para o nosso cliente final. Acho que é uma medida acertada do Banco Central, do Copom, em tentar relançar uma economia que está numa situação difícil utilizando a taxa de juros. Essa não é a única ferramenta. Há outras, como programas de crédito. Vamos trabalhar em conjunto com o Pronampe, um fundo de garantia de 20 bilhões de reais. Ampliamos em 100 milhões de reais nossa participação no FGI do BNDES, que cobre empresas pequenas e médias. Além disso tivemos um aporte de capital da ordem de 100 milhões de reais que também vai aumentar a oferta de crédito nesses próximos meses.

Quando assumiu o banco, em abril de 2019, disse que seu objetivo era criar um ambiente de negócios e segurança jurídica para gerar bons projetos e ajudar o estado a sair da crise. De lá para cá, por causa da pandemia, as dificuldades foram agravadas. O que será necessário para sair da crise, que será ainda maior do que a que você encontrou quando tomou posse?

A gente tem de pensar no pós-Covid. A doença traz enormes desafios, mas também está testando o uso de novas tecnologias, alternativas. Isso acaba trazendo à tona uma série de ideias. Estamos com quase 100% dos nossos funcionários em home office. Mas não paramos de trabalhar. Pelo contrário, trabalhamos mais intensamente. Desembolsamos mais do que no ano passado. Isso traz várias lições e estamos preparando o pós-Covid. Somos também uma plataforma de conhecimento. No ano passado sediamos o Encontro Latino-Americano de Economistas-Chefes de Bancos de Desenvolvimento. Recebemos aqui em Belo Horizonte mais de 30 instituições, do Canadá ao Uruguai, que passaram mais de dois dias conosco, discutindo temas como inovação, fintech, blockchain, sustentabilidade, diversidade...

"Quando a gente tem mais de 1 bilhão de reais desembolsado, na mão dos empreendedores, eu acredito que a gente tem cumprido nosso papel de banco de desenvolvimento e de agente anticíclico nesse momento de grandes dificuldades" (foto: Marcus Desimoni/Nitro/Divulgação)
O banco também tem um trabalho importante na questão de energias renováveis, principalmente no norte de Minas.

Tomamos a maior linha da história do BDMG com o Banco de Desenvolvimento Europeu. Fui a Luxemburgo e assinamos uma linha de 100 milhões de euros, que hoje dá mais de 500 milhões de reais, para finanças climáticas. Energia renovável é o grosso da carteira. Assinei a linha em outubro e em fevereiro já fizemos desembolsos. É um tema que nos é muito caro. É um tema de futuro, de migração para uma matriz energética mais limpa. A insolação do Norte de Minas tem um potencial fantástico para essa indústria. Dá um futuro para a economia local e é uma excelente maneira de trazer investimentos para o nosso estado.

Na sua posse, você também disse que a responsabilidade do banco seria "relançar a economia de Minas". O que quis dizer com isso?

Queremos despertar o ânimo empreendedor em Minas Gerais. Relançamento significa, em um momento de grandes dificuldades, de queda do PIB, trazer linhas de crédito para que o BDMG não apenas seja um parceiro para financiar esses projetos, mas também para ajudar a estruturá-los.

Nesse momento em que essa a arte e a cultura estão tão prejudicadas qual a política do banco, por meio do BDMG Cultural?

Essa é uma área pela qual eu tenho especial apreço. Participo, inclusive, de alguns conselhos de museus e orquestras, aqui em Minas e fora. Para nós, é um enorme prazer ter a ferramenta do BDMG Cultural, com duas galerias no banco e vários concursos e festivais de músicas e outras áreas da arte. Trouxe para cuidar dessa área a Gabriela Moulin, que é mineira, mas estava há 20 anos em São Paulo trabalhando em várias instituições de cultura. Ela está fazendo uma série de ações por meio de eventos virtuais. E agora lançamos o BDMG Cultural Lab, que é um edital com bolsas para diversos setores e atividades. Cultura é desenvolvimento. Não vejo como ter desenvolvimento dissociado de cultura.

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