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Estado de Minas ARTE

Única bilíngue do Brasil, escola de teatro de BH inova durante a pandemia

Bambina Trupe mantém as atividades com aulas on-line e adaptação de espetáculo dos palcos para vídeo


postado em 23/08/2020 23:07 / atualizado em 23/08/2020 23:07

As sócias Carol Duarte (esq.) e Júlia Galindo.
As sócias Carol Duarte (esq.) e Júlia Galindo. "Um dos principais desafios foi seguir com o nosso trabalho sem o nosso espaço, que é um dos elementos que mais ajudavam a cativar os meninos. É um local que construímos com muito carinho, e que é muito acolhedor e inspirador", diz Carol (foto: Arquivo pessoal)
Foi há três anos que as sócias Júlia Galindo e Carol Duarte fundaram a Bambina Trupe, uma escola de teatro que se diferencia das demais, principalmente, por ser a única bilíngue do país, com aulas ministradas por elas em português e inglês ao mesmo tempo. Além disso, a dupla de educadoras belo-horizontinas pode se orgulhar de outro diferencial, pois, em meio à pandemia do novo coronavírus e respeitando o distanciamento social, não paralisaram as aulas nem a apresentação dos espetáculos produzidos por seus alunos. É um feito considerável, afinal, se fizermos um breve exercício de imaginação, o teatro talvez seja um dos setores mais improváveis de seguirem funcionando sem proximidade de uma pessoa com outra, uma vez que o contato direto é uma das premissas dessa arte, desde sua origem, na Grécia antiga, no século VI a.C.

Assim que a pandemia chegou ao Brasil, em março, o espaço onde fica a escola, no bairro Santa Lúcia, na região centro-sul de Belo Horizonte, teve de fechar suas portas temporariamente, assim como ocorreu com diversos outros locais. Mas Júlia e Carol, apesar das muitas incertezas que a crise sanitária trouxe, trataram logo de buscar soluções para não deixar "abandonados" os 90 alunos atualmente matriculados na Bambina Trupe. "Um dos principais desafios foi seguir com o nosso trabalho sem o nosso espaço, que é um dos elementos que mais ajudavam a cativar os meninos", diz Carol. "É um local que construímos com muito carinho, e que é muito acolhedor e inspirador."

Aulas de expressão, voz e interpretação on-line: alunos da Bambina e pais aprovam a metodologia adotada durante a pandemia(foto: Bambina Trupe/Divulgação)
Aulas de expressão, voz e interpretação on-line: alunos da Bambina e pais aprovam a metodologia adotada durante a pandemia (foto: Bambina Trupe/Divulgação)
Júlia Galindo lembra que as turmas haviam sido formadas em fevereiro, um mês antes do novo coronavírus chegar ao país. Espaço de tempo curto, mas, segundo ela, o suficiente para que os alunos já tivessem estabelecido um vínculo entre si. Isso, ainda de acordo com educadora, foi um dos fatores determinantes para que as aulas não fossem interrompidas. Sendo assim, a solução encontrada pelas sócias foi migrar as atividades do espaço físico da escola para o ambiente virtual, com aulas on-line de 1h30min, uma vez por semana, para os alunos que têm acima de 10 anos de idade; e duas vezes por semana para os pequeninos, que têm entre 5 e 9 anos, com duração de 45 minutos.

(foto: Bambina Trupe/Divulgação)
(foto: Bambina Trupe/Divulgação)
E foi aí que a criatividade das sócias entrou em cena para que as aulas não perdessem qualidade e, mais do que isso, que os alunos se mantivessem motivados para seguir com o objetivo final, que é produzir e ensaiar peças que são apresentadas a cada semestre. Por causa da mudança radical no processo de montagem dos espetáculos, saindo dos encontros presenciais para os ensaios virtuais, Júlia e Carol ampliaram o tempo para apresentação dos espetáculos, que, em situação normal, seriam mostradas ao público agora. A ideia é que no final do ano seja possível realizar as apresentações, seja presencialmente ou por meio de transmissão online, o que a situação sanitária permitir. "Infelizmente, ainda é tudo muito incerto, mas pensamos em fazer uma apresentação com público bastante reduzido e, claro, com todos respeitando o distanciamento e utilizando máscaras, além de seguirmos todas as normas recomendadas pelas autoridades de saúde", comenta Carol.

Outro exemplo de reinvenção foi transformar em filme a peça Peter Pan, que estava em processo de produção para o palco. Como não é possível os alunos se reunirem nesse momento da pandemia, Júlia e Carol criaram um roteiro no qual os pequenos atores gravaram suas participações individualmente em um estúdio. Após o trabalho de edição do vídeo, que já está concluído, o resultado final vai passar para o espectador a impressão de que os personagens estavam interagindo simultaneamente. "Apesar da nossa experiência com audiovisual, levar uma montagem do teatro para um filme foi algo novo para todos, inclusive para os alunos", diz Júlia. "Foi um grande desafio, mas nós gostamos bastante do trabalho e os meninos ficaram superempolgados. Os pais também se mostraram felizes com a produção."

Cena de Toy Story, espetáculo apresentado antes da pandemia: clássicos e adaptações inusitadas fazem parte dos desafios propostos aos futuros atores(foto: Bambina Trupe/Divulgação)
Cena de Toy Story, espetáculo apresentado antes da pandemia: clássicos e adaptações inusitadas fazem parte dos desafios propostos aos futuros atores (foto: Bambina Trupe/Divulgação)
O sucesso da Bambina não é por acaso, e passa principalmente pela experiência das sócias Júlia e Carol com educação internacional e as artes. Ambas trabalharam na Escola Americana de Belo Horizonte por quase uma década, onde ministravam aulas de teatro para os alunos como atividade extracurricular. Foi a partir da parceria que nasceu o sonho de fundar a Bambina Trupe.

Júlia Galindo morou na Inglaterra quando criança, onde foi alfabetizada em inglês e tinha aulas de teatro na escola. "Foi aí que surgiu minha paixão pelos palcos", conta a educadora, formada em Comunicação e Artes do Corpo pela PUC-SP e com graduação ainda em pedagogia. Carol Duarte também estudou teatro fora do Brasil, na Children’s Theatre, em Palo Alto, na Califórnia, onde surgiu uma das inspirações para o método de ensino aplicado na. Ao retornar para o Brasil, após morar seis anos nos Estados Unidos, ela estudou teatro na Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes) e se formou em Letras na UFMG. "Foi aí que, assim como a Júlia, uni a docência e o teatro, e deu muito certo", comemora Carol.

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