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Estado de Minas CRÔNICA | PAULA PIMENTA

A linguagem dos bebês

Minha mãe conta que quando eu era pequena e ela tinha alguma reunião, eu perguntava 'reuleão'? Até que um dia ela me levou a uma dessas reuniões, para eu ver do que se tratava, e eu fiquei muito desapontada de não ver nenhum leão por perto


postado em 10/11/2020 01:00 / atualizado em 11/11/2020 01:57

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Antes de ser mãe eu pensava que a linguagem dos bebês se resumia a duas "sílabas": gugu-dadá. Agora que minha filhinha começou a tagarelar, porém, tenho observado que é bem mais que isso. Assim como uma pessoa que está estudando uma língua nova, ela presta atenção, se esforça, repete até acertar...

Acompanhando o desenvolvimento da Mabel, tenho me lembrado de estrangeiros tentando falar português. Algumas vezes ela para, pensa, percebo que está buscando a palavra, e então seu olhar se ilumina e ela diz o que quer, toda feliz!

Apesar do português não ser uma língua fácil, fico surpresa de ver como minha filha pegou a lógica naturalmente. Como uma aluna esforçada, ela usa o plural e os tempos verbais exatos e me admira muito que ela consiga essa façanha, já que ela escuta "mineirês" por todos os lados! Ou seja, o natural seria que ela dissesse: "os livro", "nós vamo"...  Mas não. Ela fala tudo certinho, dá até vergonha falar com sotaque perto dela.

A única coisa que a Mabel ainda não domina são os verbos irregulares. Ela é guiada pelo padrão regular da flexão, e por associação lógica diz "eu sabo", "eu podo", "eu fazo"... Dizem que não devemos corrigir os erros, apenas responder na forma verbal correta. Só que eu acho TÃO bonitinho, que acabo repetindo na forma errada mesmo, para prolongar aquela fofura por mais tempo. Porque o fato é que, quando ela acerta e passa a dizer algo do jeito que realmente é, considero um sinal de que ela está crescendo. Claro que isso é bom, mas ao mesmo tempo é triste... Ela tem só dois anos, mas eu já tenho saudade da minha neném!

Quando era pequenininha (quero dizer, mais pequenininha) ela falava o tempo todo "mam, mam"! Eu jurava que minha filha já tinha nascido poliglota, que estava me chamando de mãe em inglês (mom), e respondia feliz da vida. Até que de repente percebi que o tal "mam" na verdade era o jeito dela de falar "mais"! Ela deve ter ficado muitos meses pedido mais comida e eu crente que ela estava me chamando...

Outro exemplo, a "rá-rá". Talvez por ter me puxado, a Mabel desde muito novinha adora as princesas da Disney. Li contos de fadas para ela desde recém-nascida e o primeiro desenho que ela viu na televisão foi A Bela Adormecida. E foi amor à primeira vista. Ela passou a apontar para a TV e a dizer "rá-rá", "rá-rá"! Depois de muito pensar, entendi que ela estava se referindo à risada da Malévola, que queria assistir novamente! Mas aos poucos percebi que ela associou aquilo a qualquer princesa. Sempre que via alguma, já dizia "rá-rá". Ela foi crescendo e aprendendo os nomes reais de cada uma delas. Já tem bastante tempo que ela nomeia direitinho a Cinderela, a Bela, a Branca de Neve, a Ariel, a Jasmine... Apenas a Bela Adormecida permaneceu mais tempo como a "rá-rá". Até que uns dias atrás, ela me pediu para pegar a boneca Aurora dela. Fiquei um tempo parada, perguntei "quem?", e ela repetiu mais alto: "A Aurora, mamãe!". Confesso que quase chorei. Continuo dizendo "rá-rá" por aqui e agora é ela que volta e meia me corrige...

É por isso que deixo que ela fale do jeitinho que quiser, como por exemplo o "upa-balão" (em vez de upa-la-lão) que ela diz a cada vez que eu a carrego no colo. Sei que isso vai durar muito pouco e quando eu menos esperar não vai ter mais nenhuma palavra ou expressão de neném no vocabulário da minha filhinha.

Minha mãe conta que quando eu era pequena e ela tinha alguma reunião, eu perguntava "reuleão"? Até que um dia ela me levou a uma dessas reuniões, para eu ver do que se tratava, e eu fiquei muito desapontada de não ver nenhum leão por perto. Hoje em dia achamos muita graça dessa lembrança.

Exatamente por isso, anoto, filmo, repito e relembro cada peculiaridade da fala da Mabel. Porque sei que daqui a alguns anos nós duas também vamos rir disso juntas. Só espero que seja daqui a muitos anos mesmo!  Para que ela possa continuar com esse jeitinho fofo de neném por muito tempo ainda...

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