É seguro fazer prova on-line?

Com a pandemia do novo coronavírus, estudantes de todos os estados brasileiros tiverem de deixar os bancos escolares para ter suas aulas no ambiente virtual. Professores se desdobraram para passar o conteúdo de forma inédita e os alunos, para não cochilar enquanto ouviam as explicações pelos fones de ouvido. Mas como saber se o ensino on-line cumpria seu papel a matéria estava sendo assimilada? A Covid-19 forçou, de uma hora para a outra, as escolas a transformarem seus processos de analógicos para digitais. Não só das aulas, mas as avaliações também. O CEO da empresa mineira Prova Fácil, especializada em software de gestão de processos avaliativos, Adriano Guimarães, diz que foram quebrados diversos tabus em relação ao ensino virtual e, principalmente, à avaliação à distância. "Sempre se acreditou que a presença física, seja para fiscalizar o aluno seja para sentir as reações em relação à prova, era imprescindível", afirma. "De uma hora para outra, nos vimos numa situação completamente nova, que derrubou esses mitos." Presente em todos os estados brasileiros, a Prova Fácil já realizou avaliações em 4 mil municípios. Desde março, mais de 3 milhões de alunos utilizaram os sistemas desenvolvidos pela companhia sediada em Belo Horizonte, no bairro Santa Lúcia. Para se ter uma ideia do futuro das provas on-line, o MEC anunciou que, em cinco anos, o Enem será totalmente digital. "Claro que o governo terá de trabalhar uma série de questões de infraestrutura e de tecnologia até lá, mas essa previsão é plenamente possível", diz Adriano.

O principal ganho é na gestão de suas avaliações. Com isso, as instituições podem dedicar mais tempo a enxergar o que mostram os indicadores que aquele processo avaliativo dá. Ela precisa ver, por exemplo, se aquele estudante avaliado tem capacidade de entrar na instituição. Depois, se o aluno está aprendendo. Enfim, se a instituição está desenvolvendo bem aquilo que ela precisa fazer, que é tornar o processo de aprendizagem mais fácil. A instituição só consegue fazer isso a partir de indicadores que um bom processo avaliativo traz. Mas se ela perde muito tempo e eficiência ao fazer isso manualmente, acaba não conseguindo enxergar os indicadores da melhor forma. Softwares tornam o processo mais eficiente, mais automatizado e mais rápido. Assim, ele traz mais rapidamente indicadores capazes de fazer a instituição tomar decisões a respeito de seus processos educacionais. Estou ensinando bem? O aluno está aprendendo?

Em sua grande maioria, as provas eram realizadas de maneira analógica. A escola  precisa imprimir a avaliação e o aluno precisa responder no papel. Mesmo processos seletivos grandes, como vestibulares, eram feitos presencialmente, apesar de existir tecnologia para permitir que esses processos fossem feitos de forma digital. Mas a pandemia forçou, da noite para o dia, as escolas a transformarem seus processos de analógicos para digitais. Não só das aulas, mas as avaliações também.

Essa questão é muito importante. Como você permite a um aluno fazer um vestibular on-line, sem que possa fiscalizá-lo, presencialmente, o tempo todo? Você precisa de tecnologia que permita, à distância, fiscalizar o aluno para saber se está tendo o comportamento adequado, sem colar, consultar... Uma prova on-line pode ser 100% segura. Nós trouxemos para o Brasil, há três anos, uma tecnologia de avaliações on-line com monitoramento. Por meio da câmera do computador ou de uma webcam, um software de reconhecimento facial e monitoramento de comportamento permite a realização de avaliação. O software monitora se o aluno ou candidato está olhando para a prova, se está tentando consultar, se está perguntando algo para alguém. Monitora o comportamento para saber se ele está fazendo uma avaliação focada, sem nenhum tipo de consulta. 

Sim. Vários tabus acabaram sendo quebrados por causa dessa alteração forçada do jeito de ensinar. Existiam muitos tabus sobre aprendizado on-line. Será que o aluno da educação básica pode ter uma educação on-line? Alguns tabus quebrados não voltam mais. O ensino remoto mostrou-se possível, mesmo para a educação básica. E em relação às provas, acredito que a quebra foi ainda maior. Sempre existiram, sobre avaliações, alguns tabus como a necessidade da presença física seja para fiscalizar o aluno seja para sentir as reações em relação à prova. Mas esse modelo dá trabalho. Em um vestibular ou vestibulinho é necessário juntar vários estudantes em uma sala, imprimir uma grande quantidade de provas e coordenar toda a estrutura.

Você pode fazer mais avaliações. A avaliação pode ser feita em qualquer momento. E quando a instituição avalia mais vezes, pode melhorar a medição de seus indicadores. Fica sabendo mais rapidamente o que precisa melhorar. Em se tratando de avaliações, ainda que fosse anunciada hoje a cura da Covid-19, a tendência para que continuem sendo feitas on-line é muito grande, por causa dos ganhos de produtividade para as instituições. Sem contar o quanto se economiza. Quando você fala de avaliação off-line, está falando de imprimir papel que depois de acabada a prova não vai servir para nada. Um desperdício. Quando a gente fala de realizar tudo on-line, a gente fala de uma economia de recursos muito grande. E tornar os processos mais eficientes melhora o desempenho educacional.

Muito mais. Mas mesmo na prova feita em papel a correção pode ser agilizada. A escola imprime cada prova com um código de barras, depois de o aluno responder, a folha é digitalizada e todas as questões de múltipla escola são corrigidas automaticamente. Se existirem questões discursivas, elas são enviadas para o professor, que na casa dele pode entrar na prova e corrigi-la. Não precisa ficar com aquele trânsito de papel debaixo do braço. As provas vão até o professor através da nuvem. Na prova on-line, melhor ainda. As questões objetivas são corrigidas imediatamente. As subjetivas continuam sendo corrigidas pelo professor sem necessidade de fotografar ou escanear o papel.

Não só é possível como esse é o plano do governo para os próximos cinco anos. E em janeiro já existirá o primeiro teste do Enem digital. Cerca de 100 mil estudantes farão a prova on-line. Será um Enem híbrido. A ideia é que até 2026 o Enem seja digital. Isso é muito factível. Claro que o governo terá de trabalhar uma série de questões de infraestrutura e de tecnologia até lá, mas é plenamente possível.