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Estado de Minas ENTREVISTA

Secretário de Governo fala sobre desafios da gestão Zema

Igor Eto comenta sobre reforma da previdência, pandemia, déficit fiscal, privatizações e relação com Alexandre Kalil


postado em 07/02/2021 23:02 / atualizado em 07/02/2021 23:04

O secretário estadual de Governo, Igor Eto(foto: Pedro Chagas/Divulgação)
O secretário estadual de Governo, Igor Eto (foto: Pedro Chagas/Divulgação)
O cargo de secretário de governo, geralmente, é ocupado por figuras experientes no trato político, afinal, exige habilidade cirúrgica de dialogar com parlamentares a fim de pavimentar a estrada do executivo em uma casa legislativa. Por isso, já era esperada a resistência que Igor Eto, aos 28 anos, enfrentou, em março último, quando assumiu a pasta no governo de Romeu Zema (NOVO). Além da idade, Eto não tinha qualquer experiência política. Se isso não bastasse, o belo-horizontino sentou na cadeira da articulação política no mesmo dia em que Minas Gerais declarou Estado de Calamidade Pública devido à pandemia do novo coronavírus. "Foi um verdadeiro cavalo de pau na minha vida. Mas tem uma frase que sempre carrego comigo: Não importa o que aconteça, importa é a sua reação". Talvez, contradizendo a desconfiança inicial, foi a energia natural da idade que se impôs e ajudou Igor a contornar a turbulência e contribuir para que o governo tivesse algumas vitórias, dentre elas a aprovação da Reforma da Previdência. "Tínhamos de mostrar para as pessoas que estávamos mais prontos do que nunca para dialogar. O lema era destruir muros para construir pontes", afirma. Agora, Igor tem outra batalha: fazer com que mais pessoas, sobretudo jovens, participem da política. Cruzeirense de carteirinha e fã de meias coloridas, o secretário quer também dar maior leveza para o universo muitas vezes sisudo e cinza da política. Em entrevista à Encontro concedida no início de dezembro, Igor Eto falou sobre como o estado vem lidando com a pandemia, a relação com o governador Zema e sobre o maior desafio à frente da pasta.

Quem é: Igor Mascarenhas Eto, 29 anos
Origem: Belo Horizonte
Formação: Administração de Empresas, pelo Ibmec (2014)
Carreira: Atual secretário de estado de governo. Foi diretor financeiro do Partido Novo, em BH. Em 2018, assumiu a coordenação da administração da campanha que elegeu Romeu Zema governador de Minas Gerais. Antes de assumir a secretaria de estado de governo, foi secretário geral de Zema

Encontro - Você é secretário de uma pasta muito importante e bastante jovem. Acredita que gerou alguma desconfiança quando assumiu o cargo?

Igor Eto - Para ser sincero até eu desconfiava (risos). Não é normal um jovem de 28 anos (na época), sem experiência política, assumir um cargo tão importante, que é o coração político do governo. Contudo, cheguei aqui a convite do governador do estado de Minas Gerais. Se ele, que já teve a sua competência carimbada por tudo que já construiu, viu algo em mim, se ele acreditou no meu potencial, eu também tinha de acreditar. Mas, sendo muito franco, hoje nem lembro a idade que tenho. No final, o que conta é a capacidade de levar as pautas adiante. Acho que tenho muito a melhorar, muito a aprender e temos condições de ter uma articulação política melhor do que a que temos hoje. No entanto, consigo fazer uma análise de que entramos em um bom trilho. Conseguimos uma aproximação da Assembleia, o que pode ser comprovado pelas próprias pautas que aprovamos na casa. Um exemplo é Reforma da Previdência, pauta difícil e polêmica. Mas tivemos 54 de 77 parlamentares votando com o governo. Isso não nos deixa ainda em posição confortável, mas é um bom indício de que a articulação está funcionando.

Como você conheceu Romeu Zema?

Não conhecia o governador até a campanha eleitoral de 2018, época em que eu era o diretor financeiro do Partido Novo em BH. Fui também o coordenador de administração da campanha. Foi aí que comecei a ter mais contato com Zema. Quando terminou a eleição de 2018, já estava decidido a seguir a minha vida. Sou administrador e sempre trabalhei com consultoria empresarial. Mas, logo após a eleição, Zema me fez o convite para assumir, na época, a secretaria geral do estado, hoje, ocupada por Mateus Simões. Durante o trabalho nessa secretaria, fiquei muito próximo do governador e construímos uma relação de confiança e respeito, o que me respaldou para que ele me fizesse o convite para assumir a secretaria de governo e a articulação política.

"O prefeito (de BH, Alexandre Kalil) tem a liberdade de falar o que quiser, mas ele tem de comprovar o que está afirmando. E não há briga por parte do governador do estado" (foto: Pedro Chagas/Divulgação)
E você assumiu a secretaria no dia em que Minas Gerais decretou o Estado de Calamidade Pública provocada pela pandemia. Como se sentiu?

Olha, realmente foi uma mudança muito brusca. Foi um verdadeiro cavalo de pau na minha vida. Mas tem uma frase que sempre carrego comigo: "Não importa o que aconteça, importa é a sua reação". Não penso muito nos problemas. Penso muito em como vou solucioná-los. E acho que hoje alcançamos bons resultados. É claro que temos de lamentar as mortes, as vidas perdidas para o coronavírus em nosso estado, mas ainda sim, Minas vem colhendo um bom resultado na batalha contra a pandemia.

Qual a avaliação você faz do Minas Consciente? Há deputados que disseram que o programa determinou uma flexibilização exagerada...

Todo o resultado que estamos alcançando hoje no combate ao coronavírus está baseado no Minas Consciente. É um plano muito robusto. Mais de 600 municípios aderiram. Os indicadores são técnicos e objetivos. Não há interferência subjetiva. Sempre haverá opiniões de que houve flexibilização antes da hora. Mas o que importa é o resultado. Minas Gerais hoje ocupa a melhor posição no Brasil no ranking de estados com menos mortes a cada 100 mil habitantes. Alcançamos também 100 pontos, a pontuação máxima, no ranking de transparência da pandemia. Então, o programa demonstra que tem, sim, efetividade e eficácia.

Qual foi o momento mais tenso que você viveu à frente da secretaria de Governo?

Foi o início. Zema estava colocando alguém para fazer a articulação política de seu governo que não tinha uma bagagem política. Além disso, era do próprio partido. Desta forma, para muitos, a mensagem foi a de que o governo estava se fechando de vez para uma articulação com outros partidos e políticos. Tivemos de quebrar essa ideia, quebrar a desconfiança. Tínhamos de mostrar para as pessoas que estávamos mais prontos do que nunca para dialogar. O lema era destruir muros para construir pontes. A discussão da Reforma da Previdência foi muito desgastante, mas se não tivéssemos construído as pontes lá no início, seria muito mais difícil.

Zema assumiu o estado com problemas fiscais já conhecidos. E o déficit aumentou para 2021...

O problema do déficit é um problema estrutural nosso. É um problema que não está só na estrutura de gastos ou de receitas do estado. Precisamos gastar menos, mas precisamos arrecadar mais. E Zema já declarou desde o início de que não haveria aumento de impostos. Só no ano passado (2019) reduzimos em 50 mil o quadro de pessoal, o que resultou em quase 1 bilhão de reais em economia. A aprovação da Reforma da Previdência vai impactar em quase 2 bilhões de reais, ao ano, o caixa do estado. Mas ainda estamos falando de um déficit de quase 9 bilhões de reais. Em 2020, a gente estava trabalhando na ponta da receita com simplificação, desburocratização, facilitando a vida de quem quer produzir e gerar emprego no nosso estado. No ano anterior, chegamos a atrair 54 bilhões de reais em investimento, o dobro do que aconteceu nos últimos quatro anos. Em 2020, em janeiro e fevereiro, Minas estava com a projeção de crescimento de PIB maior do país, mas veio a pandemia e, com ela, a economia encolheu. É claro que isso impacta, o que acabou gerando um aumento de déficit no nosso estado.

Há alguma esperança para 2021?

Estamos acompanhando nos últimos meses a recuperação da economia. Somos o segundo estado em geração de emprego no país. Conseguimos atrair mais de 27 bilhões de reais em investimento no nosso estado e a economia está voltando a crescer. E queremos mais. Queremos um estado melhor, mais eficiente para o cidadão. Esse é o desafio da nossa pasta para o ano de 2021 e 2022.

Como vai a relação com o prefeito de BH, Alexandre Kalil? Ele andou criticando o governador Zema dizendo que não foi atendido em suas demandas...

O governador Zema tem uma visão de que o cidadão não pode sofrer as consequências de discussões políticas. O cidadão mineiro vai estar acima de qualquer coisa. O estado não ajudou o município? A realidade mostra o contrário. Temos uma cidade que está sendo bem atendida. Tivemos a construção do hospital de campanha em BH. Tivemos a oportunidade de construir outro hospital de campanha em parceria com a PBH, mas ela se recusou. E nosso hospital de campanha estava pronto para receber pacientes, mas não foi necessário abrir, pois reforçamos os leitos. Compramos mais de mil respiradores para o estado. Tudo o que está ao alcance do governador do estado está sendo feito. O prefeito tem a liberdade de falar o que quiser, mas ele tem de comprovar o que está afirmando. E não há briga por parte do governador do estado. Não sei qual é a intenção do prefeito.

"Eu me sinto um soldado para reerguer a estima da sociedade pela atividade política" (foto: Pedro Chagas/Divulgação)
É bandeira do governador Zema a desestatização de algumas empresas como Codemig, Cemig e Copasa. Essa discussão avançou?

Sobre a Codemig, está em tramitação na Assembleia. E acreditamos que a sua desestatização daria um fôlego para o estado colocar as contas em dia. A estrutura da Codemig, digamos, facilita a sua desestatização, já que, por exemplo, ela não presta serviço direto ao cidadão mineiro. Agora, sobre a Cemig e a Copasa é importante dizer antes de qualquer coisa que não há mais assunto proibido no estado. O governador Zema entende a complexidade do tema, mas temos de encarar a realidade. Copasa e Cemig precisam oferecer um serviço melhor para o cidadão. Esse é o tema. A proposta do governador é que se o setor privado entrar nessas companhias elas poderão oferecer um serviço de maior qualidade. É claro que há contrapontos. Há deputados que pensam diferente. O que estamos tentando construir é uma discussão sobre o tema. É muito maior do que privatizar ou não privatizar. É esta discussão que vamos encaminhar para a Assembleia no momento adequado.

Como você avaliou o desempenho do Rodrigo Paiva, candidato a prefeito pelo Partido Novo?

Foi uma eleição muito atípica por causa da pandemia e acabou prejudicando candidatos que não eram conhecidos do público. O próprio governador Romeu Zema não era conhecido em 2018, mas ele visitou mais de 200 cidades no estado. Em 2020, foi diferente. Mas na chapa de vereadores, o Novo cresceu muito na Câmara Municipal de BH. Elegemos três candidatos. É a terceira maior bancada da Câmara Municipal. O Partido Novo, em BH, foi o quinto partido mais votado na eleição.

O ambiente político, geralmente, é sério e com poucos jovens. Como você fez para se encaixar nesse universo?

Minha maior luta na política é para humanizá-la. Penso que a relação que a nossa sociedade construiu com os políticos é quase uma relação de idolatria. Existe a ideia de que política e sociedade são mundos separados. Toda a minha luta na política é para quebrar essas percepções e mostrar que sociedade civil e política são duas faces da mesma moeda. A política discute os rumos da nossa vida. É claro que tivemos um processo de desgaste da atividade política nos últimos anos, mas devemos nos envolver mais. Quero que as pessoas se envolvam mais com política. Goste ou não, você é político. E outra, sempre gosto de falar que sou cruzeirense, por exemplo. Para mostrar que sou humano e tenho uma vida normal. Tenho time e gosto de ir no Mineirão e comer tropeiro. Precisamos de maior leveza. Sempre que posso convido pessoas para se envolverem com a política. Eu me sinto um soldado para reerguer a estima da sociedade pela atividade política.

Foi ideia sua o perfil do Zema no TikTok?

(Risos) Não. Nem tenho TikTok. Fiquei sabendo de terceiros que ele tinha entrado. Mas é uma forma dele humanizar a política também. Acho divertido. Mas isso não se sobrepõe a seriedade e a responsabilidade que ele carrega para lidar com as questões do nosso estado.

E o Cruzeiro, você acha que o time vai se reerguer?

Faço um paralelo do Cruzeiro com o nosso estado. São duas instituições vencedoras, mas que passam por momentos de muitas dificuldades, fruto de decisões erradas ou não no passado. Então, sobre o Cruzeiro, o mais importante agora é reestruturar o clube para que ele volte a ser um dos times mais admirados do Brasil e vencedor. Hoje olho para a diretoria do Cruzeiro, com o presidente Sergio Santos Rodrigues e sua equipe, e me sinto representado.

"O prefeito tem a liberdade de falar o que quiser, mas ele tem de comprovar o que está afirmando. E não há briga por parte do governador do estado"

"Eu me sinto um soldado para reerguer a estima da sociedade pela atividade política"

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