Casas feitas com contêiner têm conquistado cada vez mais adeptos

A ideia de morar dentro de um contêiner assusta muita gente.  Apesar de ser um modelo de construção ainda pouco explorado no Brasil, há décadas o conceito é utilizado na Europa, Ásia e Estados Unidos. Para os entusiastas, não se trata apenas de ter uma casa. Trata-se de um estilo de vida, em que arquitetura e sustentabilidade permanecem em sintonia. Uma construção sustentável que busca amenizar os impactos ambientais, reduzir ao máximo a produção de resíduos e utilizar os recursos naturais com eficiência.

Ao contrário de serem descartados após anos de uso como meio de transporte de cargas marítimas, terrestres ou aéreas, os contêineres de aço ganham nova utilidade, se transformando em alternativa viável para a confecção de imóveis comerciais e residenciais. Entre seus principais diferenciais está a capacidade para suportar até 25 toneladas de carga, com até oito unidades empilhadas. Medindo 20 ou 40 pés, respectivamente 6 ou 12 metros de comprimento, com  largura padrão de 2,44 m e altura variável entre o modelo standard (2,59 m) e high cube (2,89 m), sua estrutura é autoportante, ou seja, se suportam de forma independente. Semelhante a um jogo de Lego, permite montar, desmontar e criar de acordo com a imaginação e necessidade de cada um.

Sua vida útil de até 100 anos, fora do mercado náutico, lhe confere grande durabilidade, tornando os containers uma atraente opção para aqueles que buscam uma construção rápida, limpa, segura e ecologicamente correta. Sem falar no custo-benefício. "Além da economia de recursos naturais e do não desperdício de materiais, a execução da obra é 60% mais rápida e 30% mais barata que a convencional", diz Klaus Bicalho, CEO da P Quattro Containers. A versatilidade das estruturas modulares atende tanto aos adeptos do estilo tiny house, para quem a máxima "menos é mais" é seguida à risca, quanto àqueles que gostam de espaços mais amplos.

A instalação pode valorizar a topografia original do terreno, necessitando, apenas, nivelar a altura das colunas da fundação. Não menos importante, é preciso verificar os possíveis acessos ao local onde o container será instalado, considerando que o mesmo será transportado por caminhão e descarregado por guindaste. Após a instalação, é hora de colocar a mão na massa. Uma caixa de aço não é um local em que se possa morar sem que as devidas adaptações sejam realizadas.

Os revestimentos internos são os mesmos utilizados nas demais construções: gesso, madeira, porcelanato, cerâmica, textura, papel de parede. A exceção fica por conta do revestimento termoacústico, feito com materiais como lã de rocha, lã de PET, EPS e poliuretano. Fundamental nesse tipo de projeto, é ele que vai garantir a estabilidade da temperatura e proporcionar proteção acústica. "Para evitar infiltrações, devemos nos atentar a furos na lataria e evitar o acúmulo de água da chuva", explica o arquiteto e urbanista Bernardo de Andrade Horta.

Na mostra CasaCor Minas 2015, em Belo Horizonte, Bernardo desenvolveu, em parceria com os escritórios Meius Arquitetura e Aerolito, o Estúdio Casulo. "É um espaço mutável, concebido em um container, onde queríamos mostrar como o habitar pode ser flexível", diz. "Nele, exploramos as diferentes formatações e layouts a partir do mesmo mobiliário fixo." Para ele, além da praticidade da construção a seco, a redução significativa do tempo de obra e a precisão orçamentária são outros atrativos.

O design exterior da casa-contêiner pode ser customizado ou manter a estética industrial. Uma das precauções que se deve ter é com o isolamento, que precisa ser feito com tinta apropriada para que não descasque ou enferruje. O procedimento deve ser repetido a cada cinco anos. Após visitar uma mostra de arquitetura em Lagoa Santa, a bancária Maria Aparecida Coutinho se encantou com a proposta. "As vantagens para mim foram o tempo, o preço e a não geração de lixo. O projeto ficou pronto em oito meses", diz. Com 75 metros quadrados de área construída, a Casa Azul, como é conhecida, foi montada em cinco contêineres de 20 pés cada um, distribuídos em três unidades térreas e duas no segundo nível. Ao todo, o projeto tem dois quartos - um deles com suíte -, além de banho social, sala, cozinha e varanda. Nas paredes externas foi usada tinta especial que reflete até 70% da luz solar.

Arquiteta e urbanista, em 2011, ao fazer uma viagem a Chicago, Cristina Menezes despertou o olhar para o novo conceito de construção. "Visitei vários prédios altos feitos com contêiner naval. Achei espetacular." Em 2013, ela apresentou o projeto da "Pocket House" na CasaCor Minas, em BH. A casa com quarto, sala, cozinha, banheiro e escritório foi planejada em dois módulos de 20 pés cada um.

O casal de empresários Leonardo Augusto Rocha e Ana Paula Meireles também decidiu fugir do convencional. À época, em 2015, a falta de mão de obra especializada os levou a executarem a obra eles mesmos. Em uma área construída de 150 metros quadrados, foram utilizados dois containers de 40 pés cada um e dois de 20 pés. "Mantivemos o exterior com a aparência original. Gostamos do contraste com os acabamentos utilizados na parte interna", diz ele. A casa principal possui suíte com closet, sauna, varanda, cozinha e banheiro, além de piscina na área externa. Seja em apenas um pavimento ou em vários, uma coisa é importante: o projeto arquitetônico deve sempre otimizar a entrada de luz e a ventilação natural.