Publicidade

Estado de Minas MEDICINA

Como a Santa Casa de BH se transformou no maior pilar contra a Covid-19 em MG

Mais antigo hospital da cidade, com 122 anos,o centro médico que atende somente pelo SUS é o que mais recebeu pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave em Minas, sem deixar de lado tratamentos em que é referência, como os oncológicos


postado em 25/06/2021 18:34 / atualizado em 25/06/2021 18:34

Siga a Encontro no Twitter @encontrobh

Fachada do prédio principal da Santa Casa: mais de 5 mil funcionários, 35 especialidades, quase 40 mil internações por ano e mais de mil leitos, considerando aqueles destinados à Covid-19(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Fachada do prédio principal da Santa Casa: mais de 5 mil funcionários, 35 especialidades, quase 40 mil internações por ano e mais de mil leitos, considerando aqueles destinados à Covid-19 (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Quando foram divulgados os primeiros alertas sobre o novo coronavírus no mundo, o diretor de assistência à saúde da Santa Casa, Guilherme Riccio, começou a se preparar para o que estava certo de que seria uma situação grave e de forte impacto em todo lugar - inclusive em BH. Sua colega de equipe, a enfermeira Mara Moura, superintendente de serviços hospitalares, conta que, ainda em janeiro de 2020, ele convocou funcionários e pediu para pensarem em uma maneira de criar uma porta separada para a entrada de pacientes com a doença, ainda pouco conhecida. "Eu fiquei surpresa quando ele nos chamou, porque não acreditei que o cenário seria tão grave", diz Mara. Doutor Guilherme estava convicto. "Desde o início eu sabia o que ia acontecer, e o que começamos em janeiro foi o planejamento", afirma. "O mundo globalizado não permite outro comportamento que não esse da disseminação rápida e inevitável do vírus. Não em uma época em que a maior distância está a 24 horas de avião."

A operação de guerra da Santa Casa para receber pacientes com Sars-Cov-2 começava a ser montada. O desenho dos protocolos, o treinamento dos funcionários (todos, dos profissionais da saúde que assistiriam os doentes até o pessoal da limpeza, administração, recepção), previsão de aumento dos equipamentos de proteção individual (EPIs), a estruturação dos processos e do próprio espaço foram sendo implementados. Inicialmente, foi designado um Centro de Terapia Intensiva (CTI), com 10 leitos exclusivos. E já com a portaria e elevador separados. Foi nesse espaço que, em março, chegou o primeiro suspeito de Covid-19 à instituição. As barricadas já haviam sido montadas, mas a história estava apenas começando. "No início, a grande dificuldade era o medo", conta a infectologista Cláudia Murta, médica do serviço de controle de infecção hospitalar. "Os funcionários, como todas as pessoas, estavam (e ainda estamos) preocupados com o vírus." Segundo ela, o medo de contágio, que era enorme no início, foi se apaziguando à medida que foram realizados os treinamentos, ensinando sobre a melhor forma de atuar e como se prevenir. "Foi tudo feito com muita conversa, com a equipe de controle de infecção hospitalar muito presente e disponível para esclarecer dúvidas e angústias, tanto do ponto de vista técnico quanto emocional."

O diretor de assistência à saúde da Santa Casa, Guilherme Riccio, reuniu a equipe ainda em janeiro para designar uma portaria separada e começar a preparar o hospital para a Covid-19:
O diretor de assistência à saúde da Santa Casa, Guilherme Riccio, reuniu a equipe ainda em janeiro para designar uma portaria separada e começar a preparar o hospital para a Covid-19: "Desde o início eu sabia o que ia acontecer. O mundo globalizado não permite outro comportamento que não esse da disseminação rápida e inevitável do vírus. Não em uma época em que a maior distância está a 24 horas de avião" (foto: Paulo Márcio/Encontro)
Ao mesmo tempo em que os hospitais se estruturavam, o poder público também planejava estratégias, especialmente para o caso de não haver leitos disponíveis na cidade. Uma delas era montar um hospital de campanha, como se chama um centro de assistência médica construído durante emergências de saúde pública - criado originalmente em contexto de guerra. Em BH, o artifício foi cogitado pela prefeitura. Para doutor Guilherme, essa não era a melhor opção. "Não achei que faria sentido no caso dessa doença, cuja evolução é tão instável", afirma. "É uma doença gravíssima, sistêmica, inflamatória, com atingimentos orgânicos. Pode evoluir de forma moderada, mas também muito grave. Há pacientes que ficam 70, 80 dias internados em situação grave", completa. Por isso, Guilherme diz que as pessoas acometidas precisam estar em hospitais com estrutura diagnóstica, exames de imagem, tratamento intensivo, condições de lidar com tamanha complexidade de quadro clínico, que pode evoluir em poucas horas para a necessidade de processos invasivos. "No nosso caso, seria perder tempo, e para o doente talvez perder chance de recuperação."

Sendo assim, a decisão da prefeitura foi investir na ampliação de leitos dentro de hospitais já existentes. Isso foi feito no Odilon Behrens e Dr. Célio de Castro, ambos hospitais municipais, e nos demais hospitais com leitos SUS, como a Santa Casa. "Foi a decisão mais acertada que já tomamos neste período", explica o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto. "Ainda que tenha enfrentado momentos delicados, BH em momento algum experimentou colapso na estrutura de atendimento, e isso certamente se deve aos três hospitais que, juntos, atenderam 53% de todos os pacientes internados por Covid-19 na cidade." No auge do recebimento de pacientes, o número de leitos Covid-19 Santa Casa era de 466 no total, sendo 427 adultos e 39 pediátricos. A instituição foi a que mais recebeu pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em Minas Gerais - foram mais de 8 mil até agora. O secretário explica que, pela quantidade de leitos, o papel da Santa Casa é muito importante para a capital, mas não só. "É preciso ressaltar a qualidade do corpo clínico, que tem de ser comemorada", diz.

O provedor em exercício, Roberto Otto Augusto de Lima, ressalta a importância de doações da sociedade civil para a prestação de serviços com qualidade:
O provedor em exercício, Roberto Otto Augusto de Lima, ressalta a importância de doações da sociedade civil para a prestação de serviços com qualidade: "Temos aqui casos de pacientes que não têm regularidade em tratamento quimioterápico, por exemplo, porque não têm dinheiro para o vale transporte, e a Santa Casa tenta disponibilizar, tenta dar assistência integral" (foto: Paulo Márcio/Encontro)
A equipe de enfermagem, incansável no trato diário com pacientes em árduas rotinas e com pouco descanso, tenta manter acesos a alegria e o bom humor. Mas há, sim, momentos de profunda tristeza e desesperança. "Passamos por muitos altos e baixos", diz a enfermeira Nayara Damasceno, coordenadora CTI Respiratório. "Na segunda onda, muitos colegas ficaram tristes, com a sensação de que nadaram, nadaram e morreram na praia", completa.

Para quem precisa, a instituição oferece tratamento psicológico, além de ações realizadas com frequência para enaltecer e homenagear os profissionais que estão há mais de um ano nessa batalha. A árvore da vida, por exemplo, traz fotos de pacientes que receberam alta do CTI. Familiares ou os próprios doentes, depois da alta, enviam agradecimentos, cartas, que são afixadas perto no registro de ponto, para que todos vejam e se lembrem do propósito da dura missão. Também deu uma força extra à equipe o recebimento de cartinhas de alunos do colégio Logosófico em 2020. Estudantes desde o infantil (que enviaram desenhos ou vídeos) até o ensino médio produziram mensagens de agradecimento ao pessoal da linha de frente de diversos hospitais da cidade, entre eles, a Santa Casa. Referências a super-heróis, recados de coragem e incentivo, e sobretudo muito amor, fizeram com que o pessoal se sentisse acolhido no meio da batalha. "Nós distribuímos algumas das cartas, e os profissionais levavam como símbolo de gratidão, de reconhecimento", diz Cláudia Murta.

Segundo Cláudia Murta, médica do serviço de controle de infecção hospitalar, o medo foi a grande dificuldade no início, quando a doença ainda era pouco familiar para a equipe, e os treinamentos e diálogos eram constantes:
Segundo Cláudia Murta, médica do serviço de controle de infecção hospitalar, o medo foi a grande dificuldade no início, quando a doença ainda era pouco familiar para a equipe, e os treinamentos e diálogos eram constantes: "Foi tudo feito com muita conversa, com a equipe de controle de infecção hospitalar muito presente e disponível para esclarecer dúvidas e angústias, tanto do ponto de vista técnico quanto emocional" (foto: Paulo Márcio/Encontro)
Os momentos de maior felicidade, contudo, são aqueles em que pacientes superam a Covid-19 e suas complicações. Após semanas ou até meses, vê-los sair bem da instituição é o motivo pelo qual os profissionais se levantam da cama diariamente. Um caso marcante, conta Nayara, foi o de uma paciente de apenas 19 anos que ficou em estado grave e chegou a ser intubada. A alta de Vitória do CTI foi no seu aniversário, após 39 dias de internação. A dupla comemoração foi com o tema do Atlético, seu clube do coração, e teve direito até a vídeo do craque Éder Aleixo, ex-ponta-esquerda do Galo e da Seleção. O desejo da jovem foi tomar uma cervejinha, o que foi autorizado (na versão sem álcool, claro) pelo hospital. "Há um cansaço emocional, os profissionais se perguntam constantemente sobre a chegada de uma nova onda, quando vai terminar tudo isso", explica Nayara. "Mas tentamos levar para o outro lado, conversamos sobre o que já fizemos ao longo desses meses, sobre os recursos que temos aqui para conseguir salvar vidas e ressaltamos que com união, companheirismo, trabalho em equipe, vamos dar conta."

A taxa de mortalidade no CTI Covid-19 na Santa Casa de Belo Horizonte é de 36,56%, comparável à de hospitais de países desenvolvidos. Segundo pesquisa da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, essa média é de 66,3% no Brasil, quase o dobro da verificada por aqui. "Isso se deve a diversos motivos, como à grande dedicação da equipe, o cuidado constante com os pacientes e também à utilização de catéter nasal de alto fluxo (modalidade de apoio respiratório não invasiva), que evita intubação", explica Cláudia. Segundo Cláudio Dornas, superintendente de gestão e planejamento assistencial da Santa Casa, o CTI respiratório foi logo estruturado com os equipamentos necessários, inclusive aqueles de laboratório. "Foi o primeiro hospital SUS a fazer esse processamento internamente", explica. Assim, o paciente com suspeita de Covid-19 chega no hospital, e em duas a três horas, o resultado do exame já  está pronto. Isso ajuda até no fluxo para liberação de leitos.

Cláudio Dornas, superintendente de gestão e planejamento assistencial da Santa Casa, diz que o hospital respiratório foi estruturado desde o início com equipamentos necessários, como aqueles para processamentos de testes Covid-19:
Cláudio Dornas, superintendente de gestão e planejamento assistencial da Santa Casa, diz que o hospital  respiratório foi estruturado desde o início com equipamentos necessários, como aqueles para processamentos de testes Covid-19: "Foi o primeiro hospital SUS a fazer esse processamento internamente" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Depois de dez meses de árdua batalha contra o vírus, outro momento de comemoração e muita emoção foi a chegada da vacina para os profissionais que estavam na linha de frente, arriscando suas vidas pelas vidas alheias. A primeira pessoa vacinada no hospital foi a auxiliar de serviços gerais Edmê Ferreira, que trabalha na higienização da ala de isolamento. No mesmo dia, representantes dos médicos, técnicos de enfermagem e outros grupos se imunizaram. As vacinas chegaram à casa aplaudidas, e foram consideradas a "luz no fim do túnel." A partir daí, o medo pôde ser um pouco mais apaziguado, e a luta, enfrentada com novo gás.

Se este período árduo pelo qual estamos passando será histórico para a instituição, ele faz parte de uma vida centenária e cheia de acontecimentos. A Santa Casa de BH foi fundada em 1899, apenas dois anos depois da inauguração da capital mineira - que, na época, ainda era Cidade de Minas, pois só foi batizada oficialmente como Belo Horizonte em 1901. A instituição foi o primeiro hospital de BH, o que significa que a cidade tão conhecida por ter sido planejada não previa um centro de saúde estatal assim, de cara. Como as demais Santas Casas do país, foi criada por um grupo de cidadãos preocupados com a carência de assistência a pessoas menos favorecidas, especialmente indigentes. Em 1898 foi feita uma reunião para que se abrissem inscrições para sócios-fundadores, uma comissão de médicos e engenheiros aprovou o local mais apropriado para a construção junto à prefeitura, e assim surgiu, no ano seguinte, a Santa Casa.

Mara Moura, superintendente de serviços hospitalares, explica que o setor de transplantes continuou atuando na pandemia, inclusive com novos procedimentos, como o primeiro transplante cardíaco pediátrico:
Mara Moura, superintendente de serviços hospitalares, explica que o setor de transplantes continuou atuando na pandemia, inclusive com novos procedimentos, como o primeiro transplante cardíaco pediátrico: "Começamos sempre pelo procedimento no adulto, e aí desenvolvemos a expertise da equipe, do ambiente, para passar para o pediátrico, que é mais complexo" (foto: Paulo Márcio/Encontro)
O hospital funcionou inicialmente de maneira bastante improvisada, em barracas de lona, e teve sua primeira construção feita em um pavilhão na rua Ceará. Aos poucos, foram surgindo novos endereços para ampliação dos serviços, como o de oftalmologia e a Maternidade Hilda Brandão, inaugurada em 1916. Somente na década de 1940, por iniciativa do então provedor José Maria Alkmin, é que foi construído o atual prédio da Santa Casa, em estilo art déco. O projeto é do arquiteto italiano radicado no Brasil Raffaello Berti (autor também dos projetos da prefeitura, da sede social do Minas Tênis Clube e do hospital Odilon Behrens, entre outros conhecidos espaços da cidade). A construção foi pensada para privilegiar a luz do sol e a ventilação de quartos, corredores, enfermarias. Inaugurado em 1946, tem 14 pavimentos. Atualmente, além do hospital central, outros oito serviços e instituições fazem parte do grupo: o hospital São Lucas, a Funerária Santa Casa BH, a Faculdade Santa Casa BH, o Instituto Geriátrico Afonso Pena (IGAP), o Centro de Especialidades Médicas (CEM), o Centro de Nefrologia, a Clínica de Olhos e o Instituto de Oncologia. Entre figuras históricas que passaram pela casa estão Juscelino Kubitschek, que atuou como médico na instituição antes de se tornar político, e Hugo Werneck, que também trabalhou ali e depois foi provedor do hospital. Odilon Behrens (que deu nome ao hospital municipal) e o médico e escritor Pedro Nava também passaram por lá.

Desde sua fundação, a Santa Casa foi mantida por doações da sociedade civil, de instituições e também por auxílios do governo. Atendia tanto pessoas que podiam pagar pelos serviços quanto aqueles que não possuíam nenhuma renda. Os modelos de financiamento foram mudando ao longo dos anos, sendo que, em 2010, o hospital passou a ser 100% SUS. Atualmente, é o maior hospital em número de leitos de Minas Gerais. Em 2020, os números da instituição foram de 2,6 milhões de atendimentos, mais de 39 mil cirurgias, 283 mil consultas, 2,1 milhões de exames e 47 mil internações (é o hospital com maior número de internações do estado).

A enfermeira Nayara Damasceno, coordenadora CTI Respiratório, diz que o grande desafio neste ponto da pandemia é o cansaço:
A enfermeira Nayara Damasceno, coordenadora CTI Respiratório, diz que o grande desafio neste ponto da pandemia é o cansaço: "Mas tentamos levar para o outro lado, conversamos sobre o que já fizemos ao longo desses meses, sobre os recursos que temos aqui para conseguir salvar vidas e que com união, companheirismo, trabalho em equipe, vamos dar conta" (foto: Paulo Márcio/Encontro)
Se em sua origem a atuação do hospital era voltada para atenção primária e cuidados básicos da população que não tinha acesso a informações de prevenção, higiene e a atendimentos elementares, a instituição foi se tornando mais ampla nos serviços prestados e também na complexidade dos tratamentos oferecidos. Atualmente, é conhecida por serviços de alta complexidade que incluem transplantes, neurocirurgias, tratamentos oncológicos, entre outros - sem deixar de lado o atendimento básico a todos que precisam. Afinal, como diz a pediatra Filomena Camilo do Vale, a doutora Filó, figura conhecida dos belo-horizontinos e médica no CTI pediátrico há 32 anos, "a Santa Casa não escolhe, ela acolhe". Por lá são 19 salas cirúrgicas para procedimentos de média e alta complexidade. O secretário municipal de saúde, que é médico da instituição há 40 anos, diz que quando começou sua atuação, o atendimento já era muito bem feito, mas as condições de hotelaria eram muito pobres, e até faltavam medicamentos. "Então o hospital descobriu nova vocação nos procedimentos de alta complexidade, mais bem remunerados, e sem esquecer a atividade beneficente", explica Jackson Machado. "Hoje, as condições equivalem às de qualquer outro hospital da cidade, e sempre mantendo o foco no paciente."

No setor de transplantes, por exemplo, o hospital foi um dos únicos que conseguiram manter a realização dos procedimentos durante a pandemia. Atualmente, são feitos por lá transplantes de rim, fígado, coração e medula óssea, tanto em adultos quanto em crianças, além de córnea e ósseo. O primeiro transplante cardíaco pediátrico, aliás, foi feito durante a pandemia. "Começamos sempre pelo procedimento no adulto, e aí desenvolvemos a expertise da equipe, do ambiente, para passar para o pediátrico, que é mais complexo", explica Mara Moura. Em Minas Gerais, apenas a Santa Casa faz transplantes pediátricos desses órgãos. Existe, ainda, o plano de credenciamento para transplante de pulmão - que nenhum hospital mineiro realiza -, e, no futuro, também o de intestino, raríssimo no Brasil. "A sobrevida de nossos pacientes está dentro dos parâmetros de qualidade, e sempre prezamos pela segurança", conta Mara, referindo-se ao fato de que todos os pacientes são testados para Covid-19 antes da realização do procedimento, pois a intervenção, combinada com a doença, pode ser gravíssima e até fatal.

O CTI pediátrico acabou de completar 40 anos e já fez mais de 25 mil atendimentos ao longo de sua existência, muitos deles em casos de alta complexidade:
O CTI pediátrico acabou de completar 40 anos e já fez mais de 25 mil atendimentos ao longo de sua existência, muitos deles em casos de alta complexidade: "Condições que na literatura representam 1% dos casos, a gente atende todos os dias", diz a enfermeira Camila Adriana Barbosa Costa, gerente da unidade de cuidados maternoinfantis e agência transfusional (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
O CTI pediátrico, que acabou de completar 40 anos, já fez mais de 25 mil atendimentos ao longo de sua existência. Hoje conta com 20 leitos e admite cerca de 700 crianças e adolescentes por ano. "O serviço é referência para atendimento pediátrico de alta complexidade", explica a enfermeira Camila Adriana Barbosa Costa, gerente da unidade de cuidados maternoinfantis e agência transfusional. Ela, que está há doze anos na Santa Casa, cita como exemplos as cirurgias na neurologia, nefrologia e também cirurgia cardíaca - na qual o serviço é referência nacional. "Condições que na literatura representam 1% dos casos, a gente atende todos os dias." Camila explica que o perfil dos pacientes é de pessoas muito vulneráveis em termos socioeconômicos. "Temos um serviço social muito bem estruturado. Fazemos um trabalho com a psicologia, com a assistência social. Os casos são discutidos individualmente e pode até ser acionada a equipe do município de origem do paciente para que se garanta a continuidade do acompanhamento", diz.

As últimas décadas foram de organização da casa. Na gestão do provedor Saulo Levindo Coelho, que está afastado por motivos de saúde, houve uma verdadeira reestruturação da Santa Casa. "Quando ele entrou, há 21 anos, o hospital se encontrava desorganizado, com salários atrasados, sem ter as contas organizadas, não se tinha os números da assistência...", explica o provedor em exercício, Roberto Otto Augusto de Lima. "Ele conseguiu colocar as contas da instituição em dia, fez acordos com credores, e hoje a Santa Casa tem organização exemplar, com dados na palma da mão", Segundo Roberto Otto, o hospital ainda passa algum aperto financeiro, já que o financiamento do SUS, sabidamente, é insuficiente, com anos sem reajuste na maioria dos procedimentos. "Ainda se tem dificuldade de caixa relevante", diz. "E é a sociedade civil que vem ajudando a manter a assistência de qualidade." De acordo com ele, as pessoas podem pensar que um hospital de tamanho porte, com orçamento de 570 milhões de reais por ano, pode não precisar de doações pequenas, individuais. Mas não é verdade. "Temos aqui casos de pacientes que não têm regularidade em tratamento quimioterápico, por exemplo, porque não têm dinheiro para o vale transporte, e a Santa Casa tenta disponibilizar, tenta dar assistência integral, independente do poder público", explica. O provedor lembra que cerca de 50% dos pacientes do hospital vêm de fora da região metropolitana de Belo Horizonte.

Construção do prédio em estilo art déco da Avenida Francisco Sales, no bairro de Santa Efigênia: projeto do arquiteto italiano radicado no Brasil Raffaello Berti, responsável por outros edifícios icônicos da cidade, como o da Prefeitura e o da sede social do Minas Tênis Clube(foto: Santa Casa BH/Arquivo)
Construção do prédio em estilo art déco da Avenida Francisco Sales, no bairro de Santa Efigênia: projeto do arquiteto italiano radicado no Brasil Raffaello Berti, responsável por outros edifícios icônicos da cidade, como o da Prefeitura e o da sede social do Minas Tênis Clube (foto: Santa Casa BH/Arquivo)
Apesar do enorme esforço da instituição para se transformar, se adaptar e acolher pacientes com Covid-19 desde março de 2020, as demais atividades não pararam. E também se aprimoraram. Entre as novidades lançadas em meio à pandemia está o Instituto de Oncologia. Inaugurado no aniversário da Santa Casa, 21 de maio, o novo espaço - que possui 37 consultórios, 88 pontos para tratamento de quimioterapia, dois aceleradores lineares, quatro leitos de urgência, salas de observação - triplica a capacidade de atendimento de pacientes oncológicos. O projeto é muito especial para o hospital que, cheio de pioneirismo em tantas áreas, também foi a primeira instituição de saúde do estado a cuidar de pessoas com câncer. Só em 2020 foram mais de 63 mil atendimentos, fazendo da Santa Casa uma das dez maiores prestadoras de serviços oncológicos do Brasil. Seja no combate à Covid, seja nas demais assistências, a Santa Casa segue como um pilar da saúde na cidade e no estado - e tem tudo para continuar fazendo história por muitos anos.

O Grupo

Além da Santa Casa BH (prédio de 13 andares), fazem parte do grupo o Centro de Especialidades Médicas, Hospital São Lucas (saúde suplementar e particular), Faculdade Santa Casa BH e Instituto Geriátrico Afonso Pena.

Raio-x da Santa Casa de BH

  • Idade: 122 anos

  • Especialidades: 35

  • Funcionários: 5.076 efetivos (no hospital respiratório, são 564)

  • Orçamento anual: R$ 570 milhões

  • Área: As unidades ocupam terreno de 20.784 m2 com cerca de 52.526m2 de construção

  • Número de leitos: 1096 (sendo 185 de terapia intensiva)

  • Internações anuais: 39.093

  • Atendimentos por ano (dados de 2020): 2,6 milhões - mais de 39 mil cirurgias, 283 mil consultas, 2,1 milhões de exames e 47 mil internações

  • Fluxo de pessoas: 15 mil pessoas por dia circulam por lá diariamente

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade