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Estado de Minas BEM-ESTAR

Você sabe o que é dieta intuitiva?

Conceito que prega o fim das dietas restritivas ganha força na pandemia


postado em 29/06/2021 16:51 / atualizado em 29/06/2021 16:53

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Fique atento ao momento de comer: crie um local agradável, livre de distrações, deixe o celular e a TV de lado(foto: Freepik)
Fique atento ao momento de comer: crie um local agradável, livre de distrações, deixe o celular e a TV de lado (foto: Freepik)
Enfrentar a dieta, seja ela qual for, é um desafio que parece eterno, para vida toda. A cada época uma nova solução surge como definitiva para controlar o peso e manter a saúde em forma. Nesse processo, alguns alimentos são questionados e investigados, outros são até banidos. Durante a quarentena, o isolamento social colocou a comida em um lugar de destaque. Ficar tanto tempo fechado em casa estimulou as mais variadas experiências gastronômicas. Até mesmo quem nunca pisou na cozinha decidiu aventurar-se nesse espaço, como forma de se reinventar. A busca por uma maior liberdade com a comida trouxe de volta o conceito da alimentação intuitiva, que teve seu protocolo criado no início dos anos 2000. A ideia voltou aos holofotes. Até fez surgir nas redes sociais a #undieting, uma alusão ao fim das dietas restritivas. Mas é possível se libertar? Escutar as vontades internas, identificar a fome real e a emocional, dosar as quantidades, comer devagar e assim incluir no cardápio o direito a todos os alimentos disponíveis? Até aqueles questionados, como o açúcar? Segundo o conceito da "alimentação intuitiva" sim, essa atitude é possível. É saudável comer o brigadeiro ou a fatia do bolo de aniversário sem culpa, com prazer.  Mas afinal qual o caminho para chegar lá?

Cássia Nascimento é nutricionista e professora da Faculdade Ciências Médicas:
Cássia Nascimento é nutricionista e professora da Faculdade Ciências Médicas: "Na quarentena as pessoas foram aos extremos" (foto: Divulgação)
Comer intuitivamente é um conceito criado na década de 1990 por duas nutricionistas americanas, Evelyn Tribole e Elise Resch. "A alimentação intuitiva nada mais é que o convite a perceber e ouvir as necessidades do corpo", explica a nutricionista comportamental Lydiane Bragunci, que tem experiência clínica em transtornos alimentares. Lydiane também é instrutora do chamado mindfulness eating, focado na alimentação com atenção plena. Além disso, ela é autora do livro "Em paz com a comida", que aborda os conceitos da alimentação intuitiva. Em vez de controlar as pessoas com regras externas, como comer de três em três horas, consumir uma determinada quantidade de calorias diárias ou pesar os alimentos, a alimentação intuitiva aprende a "escutar a fome". Assim, cada um encontra sua medida. Lydiane explica que em primeiro lugar esse estilo de alimentação elimina pensamentos consolidados, como dietas restritivas e da moda. Segundo a especialista temos de comer quando sentimos fome e parar de comer quando estamos saciados, mais ou menos como ocorria bem antigamente, na época das bisavós. "Comer é algo que já nascemos sabendo. Só precisamos resgatar esses sinais que nascem com a gente."  Algumas técnicas e o acompanhamento profissional ajudam nessa caminhada. A ideia é que nenhum alimento seja excluído do cardápio a menos que a pessoa tenha uma doença ou de fato restrição relacionada à saúde.

"A permissão incondicional para comer é que vai trazer tranquilidade para não exagerar", defende Lydiane. Segundo ela a regra da alimentação intuitiva é aprender a lidar com as emoções, comer com tranquilidade, "de tudo, sem precisar comer tudo". Nesse sentido é bom ficar atento às armadilhas. "Geralmente, o saco pequeno de pipoca só serve para mostrar como a porção gigante é barata. O mundo nos estimula a comer muito." Atitudes como estar atento ao sabor, à crocância e à gentileza consigo mesmo são ferramentas da alimentação intuitiva. Pesquisas cientificas realizadas nos últimos 20 anos mostram que pessoas adeptas ao modelo conseguiram manter o peso mais baixo do que aqueles que lançam mão de dietas restritivas. Na alimentação intuitiva não existe o conceito de vilões, existe o equilíbrio baseado em uma nutrição que prioriza os alimentos saudáveis.

Rafaela Peixoto, especializada em nutrição oncológica e facilitadora do mindfulness eating:
Rafaela Peixoto, especializada em nutrição oncológica e facilitadora do mindfulness eating: "A dieta restritiva pode aumentar a compulsão e levar ao aumento do peso" (foto: Marcia Ramos/Divulgação)
Outro motivo que trouxe de volta o conceito foram os efeitos perigosos da quarentena. "Durante o isolamento social as pessoas têm ido aos extremos", alerta Cássia Nascimento, nutricionista e professora da Faculdade Ciências Médicas. Segundo ela, com a ansiedade trazida pela pandemia, os exageros com a alimentação acabam ocorrendo e as pessoas tentam acertá-los com as restrições. "As dietas restritivas são cardápios difíceis de serem sustentados porque elimina da alimentação muito do que é cultural, dos alimentos do nosso dia a dia, que são possíveis de serem mantidos." Um exercício interessante que a nutricionista faz com os seus pacientes é levá-los a refletir sobre o que os fez engordar ou desequilibrar o peso. Geralmente não foi comer arroz e feijão diariamente, mas sim os excessos, como comidas muito calóricas, bebida alcóolica, doces em grande quantidade, sedentarismo. "A restrição gera comportamentos prejudiciais, medo de comer, culpa." O processo de exceder-se, sentir culpa e novamente compensar no alimento pode levar a transtornos alimentares. Mas comer de forma intuitiva não significa poder devorar tudo que aparece pela frente, inclusive alimentos muito calóricos. A base é a alimentação saudável, aliada a boas práticas, como a atividade física. "O comer intuitivo trata também a cabeça, para que o paciente identifique seus gatilhos emocionais, aprenda a se orientar pela intuição e hábitos saudáveis, se permitindo inclusive comer o que ele gosta, seja um fast food ou um doce, desde que ele saiba controlar essa quantidade e frequência."

Lydiane Bragunci é autora do livro
Lydiane Bragunci é autora do livro "Em paz com a comida", que ajuda a colocar em prática os princípios da alimentação intuitiva: "Comer é algo que já nascemos sabendo. Só precisamos resgatar esses sinais que nascem com a gente." (foto: Divulgação)
A nutricionista Rafaela Mota Peixoto concorda com a busca do equilíbrio. Ela trabalha com a alimentação intuitiva, além de ter especialização em nutrição oncológica e ser facilitadora do mindfulness eating. Rafaela diz que a restrição vem sendo questionada porque pode aumentar a compulsão e provocar ganho de peso, piorando a composição da massa muscular e gorduras. Ela lembra que o peso é um sintoma e a alimentação intuitiva quer enxergar o que está por trás da fome, que pode ser fisiológica, visual, olfativa ou emocional. "A alimentação intuitiva não é uma proibição, mas também não é uma liberação geral. Está no caminho do meio", alerta. Algo muito importante é ter paz e tranquilidade para fazer as refeições. Quem come além do que precisa come rápido, para não tomar consciência e assim aliviar a culpa. Ao reaprender a se alimentar com base no amplo guia alimentar da população brasileira é possível alcançar o equilíbrio. "Comer vai além da nutrição, é um hábito social, emocional, que traz uma memória afetiva", reforça Rafaela. Assim, comer o bolo de aniversário do filho é saudável, a chave está na quantidade. E vale sempre a dica, comer devagar, saboreando, é melhor. Com a quarentena muitas vezes os alimentos ocupam lugares vazios. A recomendação das especialistas é que novos hábitos sejam criados para facilitar o equilíbrio da relação. E no mais, esqueça a nutrição sem prazer. "As ferramentas para atingir uma alimentação saudável e intuitiva são individuais. A melhor estratégia é aquela que a pessoa consegue seguir todos os dias", diz Cássia Nascimento.

Alguns princípios da alimentação intuitiva

  • Faça as pazes com comida: dê a si mesmo a permissão incondicional para comer sem classificar alimento algum como proibido

  • Desafie a polícia alimentar: coloque limites em relação aos comentários e críticas sobre sua alimentação

  • Identifique seus sinais de saciedade. Se possível, faça uma pausa no meio da refeição para entender se ainda está com fome

  • Descubra o prazer e a satisfação de realizar uma refeição que você aprecia

  • Honre seus sentimentos sem usar comida: evite fome emocional. Encontre maneiras de obter conforto e resolver problemas sem envolver comida

  • Pratique exercícios para se sentir em movimento, energizado, sem focar na perda de peso

  • Opte por escolhas alimentares que te façam sentir-se bem

Estratégias que ajudam na mudança de comportamentos com a comida

  • Tente perceber como é sentir a fome no seu corpo. Você espera a fome chegar para comer? Consegue perceber quando é fome ou vontade de comer? Saiba diferenciar uma da outra

  • Esteja atento e presente no momento de comer. Torne o momento das refeições um ritual: crie um local agradável, livre de distrações, deixe o celular e a TV de lado. Aprecie o momento, comendo lentamente e percebendo todos os estímulos no seu corpo. Assim, você conseguirá perceber melhor quando é hora de parar

  • Busque apoio de um profissional para te ajudar a lidar com as emoções

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Fique atento ao momento decomer: crie um localagradável, livre de distrações, deixe ocelular e a TV de lado

Cássia Nascimento é nutricionista e professora da Faculdade Ciências Médicas: "Na quarentena as pessoas foram aos extremos"

Rafaela Peixoto, especializada  em nutrição oncológica e facilitadora do mindfulness eating: "A dieta restritiva pode aumentar a compulsão e levar ao aumento do peso"

Lydiane Bragunci é autora do livro "Em paz com a comida", que ajuda a colocar em prática os princípios da alimentação intuitiva: "Comer é algo que já nascemos sabendo. Só precisamos resgatar esses sinais que nascem com a gente."

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