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Estado de Minas ENTREVISTA

Conversamos com o presidente da Fundação Dom Cabral, Antônio Batista da Silva Junior

Executivo diz que instituição, de 45 anos, entra em nova fase, mirando empreendedores populares


postado em 16/09/2021 23:11 / atualizado em 16/09/2021 23:16

"Nossa grande contribuição agora é apoiar a base da pirâmide social com conhecimento" (foto: Divulgação)
Quando Dom Serafim Fernandes de Araújo (1924 – 2019) e o professor Emerson de Almeida criaram a Fundação Dom Cabral (FDC) o desejo era de contribuir com o desenvolvimento do país, por meio do apoio às empresas. O lema era oferecer instrumentos e metodologias para que as organizações da época pudessem crescer de maneira sólida. Hoje, aos 45 anos, a instituição, 9ª melhor escola de negócios do mundo, segundo a renomada publicação inglesa Financial Times, quer atingir outra parcela da sociedade. “Nossa grande contribuição, agora, é apoiar a base da pirâmide social com conhecimento”, diz o presidente executivo Antônio Batista da Silva Junior. Prova disso é que em 2020, ano em que a pandemia assolou o mundo, a instituição tirou do papel um antigo sonho dos gestores, o Centro Social Cardeal Dom Serafim, voltado para apoiar pequenos empreendedores populares, pessoas em situação de vulnerabilidade social e organizações do Terceiro Setor. “Escolas de negócio do mundo inteiro vão ter de caminhar para isso”, afirma. Em entrevista a Encontro, o presidente da FDC falou ainda sobre os desafios que o setor da educação vem enfrentando, os impactos da pandemia e o futuro da instituição.

1) O setor da educação é um dos que mais experimentou desafios e transformações ao longo dos anos?

De fato, o segmento da educação vem sendo impactado, mas assim como os outros. Ao mesmo tempo em que a educação provoca a transformação, ela é transformada pelas mudanças que a sociedade carrega. O mundo sempre mudou e de forma acelerada. Temos é uma sensação de que o nosso tempo, as mudanças são mais velozes, por causa da pandemia talvez, mas elas sempre ocorreram.

2) E quais transformações têm impactado a educação?

Estamos vivendo mais tempo e as taxas de natalidade estão caindo. As pessoas vão, portanto, permanecer no mercado de trabalho por mais tempo. E ainda há o dado de que a taxa de durabilidade do conhecimento é de cinco anos. Isso exige do aluno uma capacidade de reaprendizado permanente. Então, não vamos mais poder parar de aprender. Outra questão é a climática, que vai pautar a agenda econômica dos países nas próximas décadas. Precisamos entender o impacto econômico a partir disso. Há ainda a transformação digital. Riquezas vão mudar de mão rapidamente por conta disso. Negócios vão emergir, outros submergir. Outra questão é a da desigualdade social. Temos uma sociedade que não aceita mais os gaps sociais. Como escola temos de adaptar a essas mudanças e pautar discussões.

3) Qual foi o impacto da pandemia no dia a dia da FDC?

A pandemia, curiosamente, é prevista por todos os modelos preditivos de economistas, mas de baixíssima probabilidade, é claro. Só que um dia ela acontece. E a pandemia na saúde acabou desencadeando uma pandemia social. E essa última é dramática. É uma preocupação que a escola tem de ter. Logo quando a pandemia se instalou, em 2020, fechamos as atividades presenciais e iniciamos o processo de educação online. Tivemos três grandes atenções: com o nosso time; nossos clientes e parceiros, para quem disponibilizamos todo o nosso acervo para auxiliar a lidar com a crise; e o outro foco de atenção, com a própria sociedade. Nossa grande contribuição agora é apoiar a base da pirâmide social com conhecimento.

4) Isso tem relação com o lançamento do Centro Social Cardeal Dom Serafim? Como tem sido a atuação?

Sim. O professor Emerson de Almeida (fundador da FDC) costuma dizer que o Centro representa a maioridade da FDC. Já vínhamos fazendo atividades para esse público, mas hoje estruturamos para dar potência. Buscamos parceiros e financiamentos para desenvolver projetos. O centro tem alguns focos importantes: jovens em situação de vulnerabilidade social para quem a FDC procura articular a doação de bolsas de estudo de graduação e dos próprios cursos da instituição e os empreendedores populares. Afinal, grande parte dos subempregos estão alocados em pequenas empresas gerenciadas por pessoas que não tem acesso à educação de gestão, de finanças.

5) A ideia é empoderar as classes mais baixas?

A gente quer levar educação de gestão para empreendedores de baixa renda. Estamos lançando o Movimento Pra Frente, por meio do qual temos potencial de treinar 1 milhão de empreendedores, com o apoio do nosso ecossistema, por meio de uma plataforma digital. Vamos atuar lançando conhecimento e oferecer mentorias promovidas por voluntários cadastrados, criando um ecossistema de troca e networking.

6) Nesses 45 anos de história e com tantas transformações pelas quais o mundo passou, há algo que a FDC continua atenta desde o seu surgimento?

Sim. É a coerência com os valores da instituição. A Fundação Dom Cabral nasceu com o sonho de apoiar o desenvolvimento da sociedade. Queremos transformar pessoas, que transformam as organizações, que transformam a sociedade. Estamos em uma escola de negócios, mas não fazemos uma escola com negócio, mas com paixão. A necessidade do ser humano de aprender e mudar nunca vai acabar. O que muda são os métodos. Nenhum indivíduo ou organização passa por aqui sem sentir-se transformado nos seus valores, carreira ou em seus paradigmas. Mas é importante dizer que o conhecimento não está apenas aqui. Ele está na sociedade e é nosso papel codifica-lo e devolvê-lo a ela.

7) De acordo com o jornal inglês Financial Times, a FDC é a 9ª melhor escola de negócios do mundo. Como vocês receberam essa notícia?

Primeiro, eu chamaria atenção para a consistência do reconhecimento. Mais do que estar na 9ª posição, o interessante é a consistência de estar no ranking das 20 melhores escolas de negócio do mundo há 15 anos. E isso em um universo de 16 mil escolas de negócio. Portanto, traz um orgulho muito grande para Minas e para o Brasil, especialmente no segmento da educação que o país não é reconhecido. E outra coisa, o mais difícil é manter-se lá, pois temos de ter uma capacidade de renovação e coragem de nos reinventarmos permanentemente. Não queremos ser a maior escola de negócios do mundo, nosso sonho é estar entre as melhores escolas do mundo.

8) A FDC, hoje, atua em várias frentes, como a da gestão pública, por exemplo. Como você definiria o propósito atual da escola?

Estamos atuando na esfera da educação de grau acadêmico e social, em praticamente todos os estados e atendendo clientes, que vão desde o pequeno empresário às multinacionais. É uma instituição de educação que quer transformar o mundo, desenvolver líderes, empresários e indivíduos. A gente trata a questão social na prática, com soluções. As escolas de negócio do mundo inteiro vão ter de caminhar para isso.

9) Na sua avaliação, o que não pode faltar hoje em qualquer empresa?

A preocupação com o crescimento, com a produtividade e a eficiência. A empresa que não cresce, desaparece. É necessário inovar a todo momento. Agora, no século XXI, uma nova agenda se incorpora, que é a da sustentabilidade. Só sobreviverão empresas que forem legitimadas pela sociedade. A empresa que só olhar para a performance estará fadada a desaparecer. Elas não devem ser escravas dos resultados, mas serem agentes de transformação.

10) Aonde a FDC quer chegar?

Não queremos chegar a porto nenhum, pois se chegarmos a um destino final a história deixa de existir. Queremos fazer mais. Tudo que quisermos fazer está pouco. Os desafios vão se renovando. Queremos ser protagonistas e liderar discussões importantes da sociedade. z

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