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Estado de Minas CULTURA

Artistas inovam na tradicional arte mineira de confeccionar imagens de santos

Com cores vibrantes e materiais sustentáveis, santeiras levam mensagens de esperança e fé


postado em 22/11/2021 09:55 / atualizado em 22/11/2021 09:59

Os santos coloridos e monocromáticos de Luiza Ferreira são também imagens de design: espiritualidade aflorada durante a quarentena(foto: Divulgação)
Os santos coloridos e monocromáticos de Luiza Ferreira são também imagens de design: espiritualidade aflorada durante a quarentena (foto: Divulgação)
Pensou em Minas, algumas imagens vão logo ocupando o imaginário. As montanhas, a hospitalidade, a arquitetura... Não sejamos tão modestos, o bom gosto também, e certamente a religiosidade. Essa espiritualidade mineira tão marcante vem ganhando novas cores e movimentos contemporâneos que alegram os olhos e a alma pelas mãos de artistas que criam peças de devoção e design. Santeiras da terra do barroco inovam com cores vibrantes, materiais sustentáveis, e vão tecendo uma arte que arrebata, levando mensagens de esperança e fé. Durante a pandemia o mercado cresceu e as vendas dessas novas imagens não pararam. "O melhor é ficar em casa protegido", diz a designer Luiza Ferreira, que se especializou na arte sacra.

Nos últimos tempos, artistas se aperfeiçoaram em técnicas que levam modernidade à tradição no processo criativo. Mineira de Belo Horizonte, Kláucia Badaró faz os devotos e amantes da arte suspirarem com a alegria e sensibilidade transmitida pelos seus santos coloridos, cheios de estampas delicadas e ao mesmo tempo marcantes, com muita personalidade. Um convite à oração. Ela, que já fez parte da equipe de criação de marcas como a Arezzo e integrou o Grupo Mineiro de Moda, agora se dedica exclusivamente à sua arte, que tem nas imagens o maior destaque.  Formada em Belas Artes, Kláucia começou a pintar santos coloridos e monocromáticos no início dos anos 2000, como uma novidade para decorar vitrines de sua antiga loja na Savassi, a Rose is Rose. "Nessa época, eu viajava muito. Um dia, quando retornei me surpreendi: os santos que eram apenas uma nova ideia para decorar estavam todos vendidos." Hoje, Kláucia sente que encontrou um caminho que além de agradar ao público lhe traz prazer, gratidão e paz. Suas peças sacras fazem sucesso não só no Brasil. Já estão viajando o mundo e foram presenteadas a estilistas como Domenico Dolce, responsável pela marca Dolce & Gabbana. As peças são cuidadosamente feitas em decoupagem e pintadas a mão em cores alegres, com rostos primorosos. Em meio a uma profusão, cores que se harmonizam O Menino Jesus dourado e branco é carregado por um Santo Antônio florido, e Nossa Senhora pode ter seu manto coberto por rosas em cores expressivas. Um trabalho de expertise e sentido apurado, para despertar o coração. "Observo que as pessoas muitas vezes recorrem às orações em sofrimento ou com algum problema ou angústia. A imagem feliz e colorida traz um sentimento de conquista, de vitória e gratidão", diz Kláucia. Por mais que a imagem seja a mesma, de Jesus, São Francisco ou Nossa Senhora das Graças, cada obra de arte é sempre um trabalho único com expressões faciais diferentes, que surpreendem até mesmo a artista. O ateliê funciona a todo vapor no bairro da Serra e as pinturas ganham novas formas, estampando ainda roupas e telas.

Patrícia Schettino deixou a Economia para criar peças únicas com pedras, tecidos, cores e cristais: inspiração surgiu durante orações na igreja do Belvedere(foto: Divulgação)
Patrícia Schettino deixou a Economia para criar peças únicas com pedras, tecidos, cores e cristais: inspiração surgiu durante orações na igreja do Belvedere (foto: Divulgação)
A arte sacra também foi um caminho descoberto pela artista Patrícia Maranhão. Ela desenvolveu uma linha de peças sustentáveis feitas de madeira, com pegada que une o moderno ao lúdico, o industrial ao artesanal. A primeira imagem feita por Patrícia foi em 2007, um São João para sua mãe. A partir daí ela trocou o setor calçadista onde atuava para se dedicar à concepção das peças, que usam marchetaria, ferro, aço inox e detalhes em cores. Pela grande aceitação do público Patrícia percebeu que estava no caminho certo. Sua intenção é mostrar um jeito novo de expressar a fé sem abrir mão da estética muito apurada e de uma linguagem mais contemporânea no uso das formas. "É um trabalho que me traz um grande prazer." Junto com sua equipe, Patrícia produz além dos santos também animais, monumentos como a igrejinha da Pampulha, igrejas de Ouro Preto e Trancoso (BA). As imagens lembram presentes afetuosos. Segundo ela, a demanda já existia antes, mas com a pandemia e a ideia de que a vida está sempre por um fio, cresceu. Os presentes são mais um nicho que suas peças atendem em todo o Brasil.  O senso de estética acompanha a artista desde a infância o que explica a naturalidade e sucesso da sua transposição como empresária do mundo dos calçados para a inovação no jeito de pensar, criar e produzir arte sacra. Em Belo Horizonte ela lembra que conviveu com vários estilos. Morou em casas nos bairros Cruzeiro, Cidade Jardim e Lourdes, cada uma delas construída e decorada de acordo com uma época escolhida por seu pai, que era arquiteto. Uma das casas foi inspirada em ideias Bauhaus, outra tinha estilo Luis XV e a última era totalmente barroca. Uma rica diversidade criativa que lhe acompanhou desde a adolescência. "Gostava muito da casa barroca, do rococó, mas meu trabalho segue a linha contemporânea e industrial."

Outra santeira mineira, Patrícia Schettino, também entrou no mundo da arte sacra respondendo a um chamado. A partir daí, começou a pintar especialmente Nossa Senhora em suas diferentes versões, da virgem de Guadalupe à Nossa Senhora Aparecida, mas também o Menino Jesus, além de figuras bíblicas como Maria Madalena. Antes de moldar as formas em seu Ateliê Arte do Céu, Patrícia trabalhava como economista. Ao buscar novos caminhos teve uma inspiração durante orações na igreja do Belvedere. Patrícia constrói suas imagens em um processo intuitivo usando, além da pintura, adereços delicados, como cristais, fios, pérolas, tecido, rendas, flores e pequenas coroas. A ideia é que os santos remetam à beleza e pureza do espírito, à alegria, daí também o uso de cores que não seguem um padrão tradicional. O ateliê cresceu e diversificou o trabalho. Um exemplo é a linha de peças sacras para mesa posta. Patrícia diz que segue a mesma ideia que teve ao começar a se dedicar à pintura há 20 anos. "É muito intuitivo, tenho a inspiração no momento e cada peça é única." Os elementos que compõe seu trabalho representam de alguma forma algo que será alcançado por quem recebe a imagem.  "Elas trazem a força dos novos tempos, o semblante sofrido dá lugar à plenitude e à paz."

Patrícia Maranhão comemora o sucesso da sua transposição como empresária calçadista para a inovação no jeito de pensar, criar e produzir arte sacra: além dos santos, ela produz também animais e monumentos como a igrejinha da Pampulha(foto: Divulgação)
Patrícia Maranhão comemora o sucesso da sua transposição como empresária calçadista para a inovação no jeito de pensar, criar e produzir arte sacra: além dos santos, ela produz também animais e monumentos como a igrejinha da Pampulha (foto: Divulgação)
Assim também são os santos de Luiza Ferreira. As palavras para eles poderiam ser apaixonantes e animados. Pintados em cores de neon vibrantes ou em tons pastéis ou ainda terrosos monocromáticos, eles são afixados em madeira como uma marca registrada da designer. Atrás levam uma medalhinha banhado a ouro, com a marca Santo Design. Luiza também desenvolveu uma linha baby, com santos para bebês, assim como livrinho de orações e álbuns para o batizado. "Comecei a pintar os santos há mais de 10 anos, mas foi depois de uma temporada que passei na Irlanda que voltei cheia de ideias e desenvolvi a Santo Design", conta a artista. Com uma linguagem jovial, Luiza percebeu que a espiritualidade ficou aflorada durante a quarentena. Em evento especial de artesanato e design on-line ela chegou a vender 182 santos em cinco dias. "Decidi, no entanto, seguir um caminho mais artesanal, onde a minha presença no trabalho é muito importante." Durante a quarentena ela notou o crescimento da procura pelos seus santos e criou a campanha que acompanha suas peças: "Fica em casa protegido."

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