Estado de Minas ESPECIAL

Mineiros do Ano 2021 | Fernando Scheffer

Medalhista de bronze nos 200 metros livres nas Olimpíadas, nadador do Minas precisou treinar em piscinas improvisadas antes de desembarcar em Tóquio


postado em 24/01/2022 23:18

Fernando Scheffer também quebrou um jejum de 25 anos: o último nadador brasileiro a subir no pódio dos 200 metros livres havia sido Gustavo Borges, com a medalha de prata nos jogos de Atlanta, em 1996(foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA)
Fernando Scheffer também quebrou um jejum de 25 anos: o último nadador brasileiro a subir no pódio dos 200 metros livres havia sido Gustavo Borges, com a medalha de prata nos jogos de Atlanta, em 1996 (foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA)
Perfil:

  • Fernando Muhlenberg Scheffer, 23 anos
  • Solteiro, sem filhos
  • Atleta do Minas Tênis Clube. Medalha de bronze na natação nos 200 metros livres, nas Olimpíadas de Tóquio. Recordista sul-americano nos 200 metros livres, com 1min44s66. Recordista sul-americano nos 400 metros livres, com 3min40s87. Até o fechamento desta edição, era dono de outras 4 medalhas de ouro, 9 de prata e 7 de bronze em torneios internacionais

As câmeras registraram aquilo que o nadador Fernando Scheffer não conseguiu guardar na memória, na final dos 200 metros livres da Olimpíada de Tóquio, em 26 de julho. "Não me lembro muito bem do que aconteceu", conta. "Estava tudo tão programado na minha mente que, na hora, eu deixei fluir." Nascido na cidade de Canoas (RS), em 1998, ele procurou a natação logo cedo, levado por um impulso bem conhecido pelos irmãos mais novos: o desejo de competir e superar o irmão mais velho. "Ele era melhor do que eu em tudo, e sempre jogava na minha cara", diz. "Na verdade, ele foi a minha primeira inspiração. Isso me motivou a treinar cada vez mais forte, para tentar alcançá-lo nos treinos e competições." Com o tempo e muita dedicação, o que era uma rivalidade familiar se transformou em profissão. Em 2018, chamou a atenção de Sérgio Marques, treinador do time de natação do Minas Tênis Clube e futuro integrante da comitiva brasileira na capital japonesa, que o convidou para entrar na equipe de BH. "Esse convite foi muito bom para mim", afirma. "Foi um ano em que tive uma ascensão muito grande."

Pode-se dizer que "grande" é até certa modéstia de Fernando. Nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, realizados em março daquele ano, ele conquistou duas medalhas de ouro, nos 200 metros livres e no revezamento 4x200 metros livres, além de outra de prata, no revezamento 4x100 metros livres. Em abril, quebrou dois recordes sul-americanos, nos 400 e nos 200 metros livres. Quatro meses depois, ele abaixou ainda mais a marca dos 400 metros, no Troféu José Finkel. No Campeonato Mundial de Piscina Curta, a equipe de revezamento 4x200 chocou o mundo ao conquistar o primeiro lugar e definir o novo recorde para a categoria.

Um obstáculo freou a trilha de vitórias. Com a pandemia da Covid-19, os Jogos Olímpicos previstos para 2020 foram cancelados, assim como todos os torneios no ano. "Para quem é atleta de alto rendimento, superar desafios e dificuldades é algo que faz parte da nossa rotina. Mas esse ciclo olímpico veio com o maior desafio de todos", diz. Sem piscina e sem a estrutura necessária para treinar - o clube também ficou meses fechado -, Fernando teve de manter-se focado e continuar se preparando para um torneio que não sabíamos sequer se seria realizado. Após dois meses sem entrar na água, o nadador começou a retomar a prática dentro da tímida piscina do condomínio onde mora. Depois, passou a treinar em um açude no interior do estado, com outros atletas. "Tivemos de nos adaptar, usar as melhores ferramentas que tínhamos ao nosso alcance para tentar tomar o controle do que estava acontecendo."

Voltamos à cena da piscina japonesa, quando Fernando Scheffer se posicionava na raia de número 8 (destinada ao atleta com o pior desempenho nas eliminatórias entre os finalistas), pronto para pular na piscina. "Eu só tenho uma lembrança clara desse dia: de olhar para a cima e ver os arcos olímpicos", conta. "Só nesse momento eu me dei conta de que estava em uma final olímpica". Ele pulou na água e disputou braçada a braçada com rivais da Grã-Bretanha e Coreia do Sul. Após exatamente 1min44s66, era dono de uma medalha olímpica e da melhor marca entre sul-americanos nos 200 metros livres. Fernando pode até não recordar exatamente como tudo aconteceu. Mas quem estava ligado na TV, torcendo à distância, lembra bem. Foi emocionante.

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