
Às 5h da manhã, Sérgio checa a caixa de entrada de seu e-mail, as notificações do Whatsapp e se põe a disparar mensagens. "Só não começo antes porque tenho um compromisso comigo mesmo e com minha mulher de não ligar o celular antes das 5", confessa. "Precisamos estabelecer essa regra para quem eu conseguisse dormir um pouco mais", diz Maria Alice Coelho, com quem Sérgio está casado há 31 anos. "Também acordo cedo, mas não tão cedo assim." Para dar conta de pular da cama nesse horário, quando não tem jogo nem qualquer outro compromisso noturno já está deitado às 20h. "É claro que desde que assumi a presidência do Atlético eu precisei me adaptar. Mas faço questão de manter algumas rotinas, como a hora de acordar", afirma Sérgio. Assim que acaba de colocar as mensagens em ordem, toma café da manhã e sai para sua caminhada diária ("Não consigo andar todos os dias, mas minha média é de 280 dias por ano"). Caminha exatos 40 minutos, sempre da mesmíssima forma: turnos de 2 minutos a 6 quilômetros por hora seguido de um pique de 3 minutos a 8 quilômetros por hora.

Respeitado pela franqueza e exigência, Sérgio é, além de um homem de fé, conhecido pelas ações em prol dos mais necessitados. Há mais de 25 anos, preside a Associação dos Protetores das Pessoas Carentes (Assopoc), com sede em Crucilândia, cidade do interior de Minas onde ele nasceu. É a maior instituição de acolhimento do estado, com unidades para idosos, pessoas entre 18 e 59 anos, creche e um centro de equoterapia. Ao todo, são atendidas cerca de 500 pessoas em situação de vulnerabilidade social da zona rural e urbana da região. A Assopoc também é responsável pela manutenção financeira e administrativa da Apae de Crucilândia. Sérgio trouxe essa preocupação pelo outtro para a gestão do Atlético. Ter um braço que executasse ações sociais e ambientais já era uma exigência da prefeitura para a liberação da Arena MRV, mas sob o olhar de Sérgio Coelho, o Instituto Galo passou a fazer parte do planejamento estratégico do clube, uma iniciativa inédita no futebol brasileiro. "Vimos que podemos aproveitar o poder de mobilização que a Massa tem para trabalharmos por uma sociedade melhor, mais humana e solidária", afirma Maria Alice Coelho, que assumiu a presidência do instituto. Além de doações de pessoas físicas e jurídicas (inclusive com programas de isenção fiscal), o instituto irá contar com um percentual de toda a verba arrecadada na Arena MRV.
A temporada excepcional - além dos títulos do Brasileirão, que o Galo não ganhava desde 1971, e da Copa do Brasil, o triplete foi completado com o Campeonato Mineiro, no início do ano - pode ser considerada como uma redenção para Sérgio Coelho. Ele estava na diretoria do clube em sua época mais crítica, quando o Galo foi rebaixado para a série B do Brasileirão, em 2005. "Nós estamos juntos desde a época das vacas magras", lembra José Murilo Procópio. "Em 2003, eu era o primeiro vice do Ricardo Guimarães, e ele, o segundo. Depois da gestão, nós acabamos nos afastando da direção do Atlético e passamos a nos encontrar fora, como torcedores que somos." O advogado conta que só aceitou a missão de voltar à diretoria por ter sido uma eleição de chapa única, sem disputa, e celebra o bom relacionamento com Sérgio Coelho: "Nos falamos quase diariamente, tanto sobre as satisfações quanto sobre as insatisfações da equipe". Outro que comemora a "volta por cima" é o banqueiro Ricardo Guimarães, ex-presidente e hoje apoiador do clube. "Pelos 113 anos de história do Galo passaram muitos presidentes, todos deram seu melhor e tentaram deixar um legado", diz. "Não só por ter conquistado, já em seu primeiro ano, dois títulos nacionais, um feito inédito, mas pela pessoa que ele é, muito humilde e trabalhador, o primeiro nome que se eleva nessa trajetória é o do Sérgio."

Sérgio garante que não irá descansar sobre os louros dos títulos conquistados. "O desejo de ganhar é o mesmo. Quem está à frente de um clube do tamanho do Galo não pode parar nunca", afirma. "Se por algum momento o sentimento for de acomodação, pode deixar a missão para outro." Ao analisar o futuro do futebol brasileiro, Sérgio estima que já passou a era em que 10,15 agremiações começavam o ano com possibilidade de serem campeões. Nas próximas temporadas, por volta de cinco clubes estarão no que chama de "prateleira de cima". "E vamos trabalhar muito para que o Galo esteja sempre entre eles." Disso a Massa não tem a menor dúvida. Agora, mais do que nunca, a torcida fanática poderá continuar repetindo, a plenos pulmões, dois dos versos mais emblemáticos do hino do clube: "Nós somos campeões dos campeões/ Somos o orgulho do esporte nacional".
(Colaboraram Gabriel Marques e Marcelo Fraga)