
Fundada em 1963, pelo pai de Marcelo, David Cohen, atualmente com 88 anos e ainda ativo nos negócios, a Belvitur logo se tornou a maior empresa de turismo de Minas Gerais. O sucesso dos anos iniciais é creditado à administração austera do patriarca, um legado que passa de geração em geração. "Ele sempre fez questão de segurar os custos", diz. "Foi isso que nos proporcionou chegar aonde chegamos." Reconhecido por seu feeling para os negócios, paixão por tudo o que envolve o turismo e gosto em lidar com gente, Marcelo mostra-se orgulhoso de ver no topo do setor uma empresa como ele, nascida e criada em Belo Horizonte. Formado em administração nos Estados Unidos, ele é o único dos três filhos de David a seguir os passos do pai na empresa de turismo. Diz que seu segredo foi, desde cedo, ter colocado a mão na massa. "Nunca fui um aluno exemplar, mas sempre foquei no trabalho. Minha sorte acorda cedo", afirma ele. Não é modo de falar. Para dar conta do recado, Marcelo salta da cama às 4h30 da madrugada todos os dias. Às 5 já está trabalhando e não chega no escritório depois das 6h30. Ultimamente, dá expediente de segunda a sexta na sede de São Paulo, que fica a 35 quilômetros do hotel onde mora durante a semana. Quando os compromissos permitem, dorme às 9 da noite. Casado há 22 anos com Gabriela - a quem faz questão de creditar parte de seu sucesso - e pai de duas filhas gêmeas, Vitória e Sofia, de 20 anos, é aos fins de semana que consegue estar com a família na capital mineira.
A junção da Belvitur e da Flytour resultou no surgimento da holding BeFly, que promete ser o maior "ecossistema de turismo da América Latina". A previsão é que em 2023 o faturamento da nova gigante chegue à casa dos 10 bilhões de reais. Mas, afinal, como uma empresa é capaz de comprar outra quase oito vezes maior? Seguindo o exemplo das formigas que durante o ano estocam alimento para quando o inverno chegar. E o tempo de escassez veio a cavalo. A pandemia afetou em cheio o setor de turismo e reduziu as vendas das empresas em 95%. Xeque mate! Era a hora certa de investir. Marcelo comprou 26 empresas e avalia a aquisição de outras 18. "O meu momento de acelerar é na crise. É nessa hora que aparecem as oportunidades", diz. "Sempre que o mercado dava barrigada no turismo, a gente investia. Nos tempos de fartura, capturava recurso e guardava."

Além da compra da Flytour, Marcelo investiu em uma série de startups, todas ligadas ao turismo. O desafio agora é integrá-las ao grupo, que conta atualmente com 1.350 funcionários. A saída é investir ainda mais em tecnologia para entender o passageiro e atender a todas as suas demandas. "Gosto de dizer que antigamente vendia-se passagem. Hoje, vendemos tecnologia", afirma. A aquisição recente de oito empresas digitais mostra que ele não está blefando. Entre as compras estão uma ferramenta para gestão de passagens aéreas e diárias de hotéis; uma "travel tech", que digitaliza o processo de vendas; e uma empresa de mobilidade que possibilita a cotação de custos de deslocamento dos passageiros, por exemplo, de casa para o aeroporto e vice-versa.

A Flytour - e agora a BeFly - é representante exclusiva da American Express Global Business Travel, sendo a maior correspondente Amex fora dos Estados Unidos. Isso significa que a empresa atende 70% das contas corporativas de multinacionais no Brasil, com um portfólio de cerca de 300 empresas globais, entre elas Google, Microsoft, Fiat e Ferrari. "Isso nos exige uma parte de compliance muito forte", diz Marcelo. Referência no mercado chamado de "B2B" (Business to Business), em que empresas prestam serviços para outras empresas, ele quer atacar o mercado "B2C"(Business to Consumer), em que empresas atendem o consumidor final. "Para isso contamos com um sistema robusto, capitalizado e com alta tecnologia." Apesar de no setor de turismo os ventos ainda soprarem devagar, com apenas 50% do volume das vendas registrado em 2019, Marcelo acredita que o futuro próximo será de bonança. Em suas previsões, os horizontes devem começar a se desanuviar no próximo mês de setembro. Mesmo que o tíquete médio do comprador ainda esteja baixo, o turismo nacional já voltou mais forte e o internacional deve retornar a todo vapor. De olho no futuro, o empresário já faz projeções e, em dois anos, pretende estar com capital aberto na bolsa de valores.

Com as "antenas sempre ligadas" em novas oportunidades, como ele mesmo gosta de frisar, Marcelo não deixou de notar outra carência no mercado. A crise sanitária e econômica, que levou várias empresas a fechar as portas, fez surgir a necessidade de locais para que elas recomeçassem ou dessem continuidade aos trabalhos. Ele investiu então no BClub Coworking, localizado no emblemático prédio que abrigou a primeira sede do Google em BH, na Avenida Bias Fortes. O que a princípio funcionava em apenas um andar, com 15 contratos iniciais, em menos de um ano ocupou oito andares e chegou a 460 contratos assinados. Apesar de a maioria ser de empresas ligadas ao turismo, o espaço também recebe clientes de outras áreas.
Marcelo lida o tempo todo com o paradoxo de voar cada vez mais alto, mas sem tirar os pés do chão. A compra da Flytour reforçou uma certeza: volume de vendas não é tudo. É preciso administração coesa e rentabilidade para se manter no mercado. "Aprendi muito com o meu pai. Temos de ter sempre gratidão e jamais perder a humildade", diz. "O mundo dá muitas voltas." Enquanto ele gira, Marcelo acelera. Seja ao volante do carro dos sonhos de sua juventude seja no comando de sua empresa campeã.

- Faturamento de R$ 10 bilhões até 2023 (previsão)
- Mais de 9 mil clientes atendidos
- Mais de 700 mil passageiros por mês
- 1.350 colaboradores
- Mais de 300 pontos de venda
Empresas que compõem a holding:
- Flytour
- Belvitur
- Queensberry
- Vai Voando
Alguns dos serviços prestados:
- Venda de passagens aéreas
- Hotelaria
- Assistência digital
- Câmbio
- Seguro viagem
- Parking
- Ferramenta para gestão de passagens aéreas e diárias de hotéis
Marcelo Cohen, que já visitou mais de 100 países, escolhe nove destinos em alta no mundo, no Brasil e em Minas Gerais. Confira:
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