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Estado de Minas PERFIL

A revolução de Flávio Roscoe à frente da Fiemg

Reeleito para mais três anos, ele promete seguir revolucionando a entidade e manter sua política de modernização e corte de gastos


postado em 18/07/2022 22:37 / atualizado em 19/07/2022 11:14

Flávio Roscoe com as filhas Mariana, Carolina e Júlia (da esq. para a dir.) e a mulher, Dine Saliba Nogueira:
Flávio Roscoe com as filhas Mariana, Carolina e Júlia (da esq. para a dir.) e a mulher, Dine Saliba Nogueira: "Elas reconhecem que ausência do pai tem um propósito muito claro: realizar um trabalho voluntário para contribuir com a sociedade e construir um futuro melhor", diz Dine (foto: Paulo Márcio/Encontro)
Até o início de 2018, o empresário Flávio Roscoe Nogueira tinha um compromisso semanal: toda segunda-feira, por algumas horas, deixava de lado as questões que envolviam a fábrica de sua família, uma das principais fornecedoras de malhas do país, para desanuviar em meio a straight flushes, quadras e full houses em uma mesa de pôquer. Um hobby que, pelo menos por enquanto, ficou no passado. "De lá para cá, se consegui jogar umas três vezes, foi muito", diz Flávio. Desde que assumiu a presidência da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), em maio daquele ano, seus companheiros de carteado tiveram de arrumar outro jogador para ocupar seu lugar na mesa. No dia a dia do presidente da Fiemg sobra, realmente, pouco tempo para compromissos que não envolvam, de alguma maneira, a federação. "Quando temos um propósito, acabamos sacrificando a vida social e até a convivência em família", afirma. "Mas trabalhar pelo bem comum tem seus bônus e seus ônus."

Dine Saliba Nogueira, com quem Flávio é casado há 32 anos, conta que, quando o marido lhe confidenciou a ideia de se candidatar, ela já tinha em mente a certeza do que precisaria abrir mão, ainda que temporariamente: momentos de convívio com a família. Mas mesmo assim apoiou a decisão. "Eu sabia que ele tinha se preparado muito para isso", diz. Os dois têm três filhas: Carolina, de 23 anos, Mariana, de 22, e Júlia, de 12. "Elas sentem a falta do Flávio, mas reconhecem que os dias em que conseguimos ficar todos juntos são de muito carinho e que a ausência do pai tem um propósito muito claro: realizar um trabalho voluntário para contribuir com a sociedade e construir um futuro melhor." Para dar conta da rotina agitada, Flávio, de 50 anos, acorda todos os dias antes das 6h da manhã. Depois de correr na esteira por pelo menos uma hora, dá expediente rápido em sua fábrica de BH (a Colortêxtil também tem unidades em Itabirito e Sergipe). Chega na sede da Fiemg, nos Funcionários, por volta de 10h30 e fica até 21h30, normalmente. Isso quando não precisa comparecer a algum evento. Compromissos que envolvem a federação, aliás, não se restringem a dias da semana. Logo após a sessão de fotos para esta reportagem, em uma manhã de sábado, Flávio se despediu de sua mulher e filhas, da equipe da Encontro e saiu rumo a uma cerimônia. Estava sendo aguardado para falar no encerramento.

Flávio Roscoe (à dir.), com o governador Romeu Zema e o presidente Jair Bolsonaro, na cerimônia de posse da nova diretoria, no Minascentro:
Flávio Roscoe (à dir.), com o governador Romeu Zema e o presidente Jair Bolsonaro, na cerimônia de posse da nova diretoria, no Minascentro: "Sinto-me em casa", disse Zema (foto: Sebastião Jacinto Júnior/Divulgação)
Quando assumiu o comando da Fiemg, Flávio Roscoe - o mais novo presidente da história da entidade - encontrou uma situação financeira complicada. Em 2017, a federação havia apurado um déficit operacional de 150 milhões de reais. Já no primeiro dia de trabalho ele aprovou um pacote de 150 medidas de modernização da entidade em todos os setores em que atua no estado. Deu certo. "A estimativa é que seriam necessários 15 anos para pagar a dívida. Pagamos em dois", afirma. Ele ressalta que isso foi possível mesmo sem contar com os recursos do imposto sindical, extinto com a reforma trabalhista de 2017, e que representava cerca de 25% da receita das entidades patronais. "Ainda tivemos de socorrer muitos sindicatos que se viram em dificuldades ao perderem a contribuição." Para 2022, a Fiemg tem uma receita prevista de 1,6 bilhão de reais.

Um dos fundadores da Fiemg Jovem, Flávio participa da federação das indústrias mineiras há duas décadas. Sabia bem onde estava pisando quando decidiu concorrer à presidência com a proposta de revolucionar as estruturas da entidade. "Tinha um plano e plena consciência do que precisava ser feito", diz. Uma das ações mais emblemáticas foi a mudança no desenho da coordenação do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). No segundo semestre de 2019, Flávio chamou o então gerente de operações do Sesi, Christiano Paulo de Matos Leal, para uma missão: assumir a superintendência que iria cuidar da fusão entre sua área, que envolve da educação infantil ao ensino médio, e o Senai, com cursos profissionalizantes voltados à indústria. "Temos um olhar para o futuro e queremos trazer a tecnologia para a sala de aula, independentemente do nível em que o aluno está." As unidades do Sesi e do Senai atendem atualmente mais de 200 mil alunos em Minas.

Sergio Leite de Andrade, presidente do conselho de administração da Usiminas:
Sergio Leite de Andrade, presidente do conselho de administração da Usiminas: "O Flávio fez com que a Fiemg se tornasse protagonista não só nas discussões do estado, mas a nível nacional" (foto: Samuel Gê/Encontro)
Nos últimos anos a Fiemg esteve na linha de frente em diversas discussões que envolvem o interesse não apenas de seus associados, mas de toda a sociedade. "O Flávio fez com que a Fiemg se tornasse protagonista não só nas discussões do estado, mas a nível nacional", diz Sergio Leite de Andrade, presidente do conselho de administração da Usiminas, uma das principais empresas mineiras, e condecorado com o título de Industrial do Ano 2021. "Eu acompanho o trabalho de outras federações no Brasil e posso dizer que a Fiemg se destaca." Uma das características mais marcantes de Flávio é ele não se furtar de manifestar suas opiniões e esclarecer o que chama de "versões equivocadas" de temas que acabam "mexendo com o emocional da população". Foi assim na greve dos caminhoneiros, em 2018, quando ele percebeu que a paralisação poderia trazer sérios problemas de desabastecimento; no início da pandemia, quando foi uma das vozes contra o fechamento das indústrias; e mais recentemente na polêmica sobre a mineração na Serra da Curral, cujo projeto da Tamisa foi defendido pela entidade. "É necessário coragem para se posicionar", afirma Flávio. "Foi criada uma imagem de que o industrial é ganancioso e que fica defendendo seus lucros a qualquer custo, sentado em cima de uma montanha de dinheiro." Ele lembra que, no estado, a indústria é responsável pela geração de 1,2 milhão de empregos, que pagam entre 50% e 60% a mais que a média do mercado. As posições firmes de Flávio Roscoe fazem com que ele seja alvo de ataques e ameaças nas redes sociais. Uma delas, enviada pelo Instagram, chama a atenção pela agressividade. "Você é daquelas pessoas que deveria ter nascido morto (sic) no ninho. Você não tem família. O dinheiro que você está ganhando hoje não cobrirá mais o sepultamento de seus filhos e netos. Vai explorar minério na serra do Inferno, junto com Lúcifer", escreveu um usuário da rede social.

A boa convivência com o governo do estado é uma marca dessa gestão. O governador Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição, é assíduo na entidade, chegando a participar de reuniões do conselho estratégico. "Podemos dizer que somos, hoje, um dos  principais interlocutores do governador", afirma Flávio Roscoe. "Foi um casamento natural." A posse de Flávio para o segundo mandato estava, aliás, recheada de autoridades. Além de Zema, compareceram ao Minascentro o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente da Câmara, o deputado federal Arthur Lira (PP). Zema destacou sua proximidade com os presentes. "Sinto-me em casa ao participar de uma cerimônia como a do Dia da Indústria, dentro de um novo Minascentro revitalizado e junto a centenas de empresários que tanto contribuem para o desenvolvimento do nosso estado", disse. "Uma das marcas da nossa gestão é justamente a atração de investimentos. Trabalhamos para criar um ambiente de negócios atrativo e desburocratizado." Já Flávio aproveitou a presença de Bolsonaro para cobrar a recriação do Ministério da Indústria e Comércio: "A indústria precisa ter voz. Precisamos ter uma política industrial em nosso país".

Marco Antônio Tonussi, líder do Projeto Inspirar:
Marco Antônio Tonussi, líder do Projeto Inspirar: "O suporte da Fiemg foi essencial para a produção dos respiradores. Enquanto estávamos tentando resolver questões técnicas, o Flávio nunca deixou de nos ligar para dar forças, nem que fosse de madrugada." (foto: Divulgação)
Durante os momentos mais agudos da pandemia, a Fiemg não se limitou a pedir que o governo de Minas decretasse a indústria como atividade essencial - o que aconteceu em março de 2020 e permitiu a circulação, dentre outros itens, de medicamentos, insumos de saúde, alimentos, bebidas e combustíveis. A federação apadrinhou quase 300 municípios por meio do Unidos pela Vacina, movimento que levou auxílio a localidades que declararam dificuldades em relação à infraestrutura para aplicação dos imunizantes. Por meio do Senai foram produzidos e doados 180 mil litros de álcool gel, além de 1,6 milhão de máscaras cirúrgicas. "Saber que as ações coordenadas pela Fiemg, com o apoio das indústrias, puderam salvar, além de empregos, muitas vidas, me dá a certeza de que a gestão do Flávio à frente da entidade tem valido a pena", diz Dine.

Nenhuma ação de enfrentamento à pandemia foi mais importante do que a doação de respiradores em uma época em que estavam em falta não só no Brasil, mas no mundo todo. A Fiemg tentava comprar equipamentos para doar a hospitais do estado, mas não havia nem previsão de quando estariam disponíveis no mercado. Foi quando Flávio conheceu Marco Antônio Tonussi, %u200B%u200Bsócio de uma empresa de soluções tecnológicas para transporte público. Incomodado com as informações que chegavam pelos meios de comunicação no início da pandemia, Marco Antônio havia decidido criar um respirador que não utilizasse válvulas pneumáticas - exatamente o componente impossível de se encontrar à época. Surgiu assim o projeto Inspirar, que criou um ventilador pulmonar de baixo custo em impressionantes 21 dias. "A Nasa demorou 37 dias para criar o deles", lembra Marco Antônio, que em 2020 foi escolhido como Industrial do Ano pela Fiemg. "O suporte da federação foi essencial para a produção. Enquanto estávamos tentando resolver questões técnicas, o Flávio nunca deixou de nos ligar para dar forças, nem que fosse de madrugada." A Fiemg adquiriu e doou 1,7 mil respiradores para 300 hospitais do estado. "Se imaginarmos que cada respirador desses atendeu 10 pacientes - e certamente foi muito mais -, essa única iniciativa foi capaz de salvar pelo menos 17 mil vidas", diz Flávio. "São essas coisas que fazem todo o trabalho valer a pena."

Fachada do Centro de Treinamento e Desenvolvimento da Indústria 4.0, localizado em Contagem: espaço que visa atender à demanda das indústrias que desejam embarcar na chamada quarta revolução industrial(foto: Divulgação)
Fachada do Centro de Treinamento e Desenvolvimento da Indústria 4.0, localizado em Contagem: espaço que visa atender à demanda das indústrias que desejam embarcar na chamada quarta revolução industrial (foto: Divulgação)
O segundo mandato de Flávio como presidente da Fiemg vai até 2025. A entidade aprovou a mudança no estatuto e os novos mandatos foram reduzidos de quatro para três anos. Também foi aprovada a alternância de poder entre os diversos setores que compõem a federação. Se Flávio Roscoe representa o setor têxtil e de vestuário, o próximo presidente terá de vir de outra área. Até 2018, o setor elétrico havia ficado à frente da entidade por 24 anos consecutivos. Com a casa em ordem, Flávio Roscoe pretende implantar um cronograma pesado de investimentos. "Toda a sobra de caixa será reaplicada em projetos de inovação, novos serviços e mais formação, sempre com custos menores para os associados." Melhoria constante do ambiente de negócios e busca por tecnologia para suprir as demandas da indústria 4.0 são as palavras de ordem para os próximos três anos. Depois deles, Flávio não pretende deixar de atuar na entidade. Mas estará mais, digamos assim, em seus bastidores. Poderá então recuperar um pouco do tempo perdido com a família. E, claro, retomar seu lugar na mesa de pôquer com os amigos de segunda-feira.

Como as ações implantadas por Flávio Roscoe impactaram os números da Fiemg entre 2018 e 2021

  • 477,3% foi o crescimento operacional da entidade
  • 132,6% foi o crescimento do patrimônio líquido

Segundo a Fiemg, a defesa dos interesses da indústria foi responsável por: 

  • Impacto de 348 bilhões de reais no PIB mineiro
  • Impacto de 1,2 trilhão de reais no PIB nacional
  • Potencializar a criação de 590 mil empregos em Minas Gerais
  • Potencializar a criação de 2,73 milhões de empregos no Brasil

Crescimento registrado em 2021:

PIB da indústria de transformação
  • 9,4% Minas
  • 4,5% Brasil

Produção da Indústria de transformação
  • 8,7% Minas
  • 4,3 Brasil

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